ÚItimas
disposições de Tolstoi
Leon
Tolstoi
Reformador
(FEB) Janeiro 1920
Com a epígrafe – “O meu testemunho”
– nosso colega “Revista de Espiritismo” de Curitiba, em sua edição de Novembro último,
transmite aos seus leitores a seguinte página que constituem as últimas
disposições firmadas por Léon Tolstoi.
“Eu não poderia mais contemporizar.
Inútil hesitar e refletir mais tempo sobre o que tenho a dizer. A vida não me
espera. A minha existência já declina e pode desaparecer de um momento para o outro.
Se eu posso ainda alguns serviços aos homens, se posso fazer perdoar os meus
erros, a minha vida ociosa e material, só o conseguirei ensinando aos homens, meus
irmãos, aquilo que me foi dado compreender mais nitidamente do que eles; aquilo
que me tortura e magoa o coração há muitos anos.
Todos os homens sabem, como eu, que
a nossa vida não é o que deveria ser e que nós nos tornamos mutuamente desgraçados.
Nós sabemos que para ser felizes e tornar
felizes os outros, devemos amar o nosso próximo como a nós mesmos e que, se nos
é impossível fazer lhe aquilo que queremos para nós, a menos, não lhe devemos fazer
o que para nós não desejaríamos.
É o que ensinam as religiões de
todos os povos e ordenam a razão e a consciência de cada um ele nós.
A morte do envoltório carnal, que nos
ameaça continuamente, lembra-nos o caráter efêmero de todos os nossos atos e,
assim, a única coisa que podemos fazer para conseguir a ventura e a serenidade
é obedecer a cada instante ao que ordenam a nossa razão e a nossa consciência, se
não cremos na revelação, ou nos ensinamentos do Cristo.
Por
outras palavras, se não podemos fazer ao nosso próximo o que desejamos para nós,
ao menos não lhe façamos o que para nós não queremos.
Embora conheçamos todos há muito
tempo esta verdade, em vez de n realizar, os homens matam, roubam, violentam.
Por isso, isso, em vez de viver na alegria,
na tranquilidade e no amor, eles sofrem, Pensam
e não sentem uns pelos outros senão ódio ou medo. Por toda a parte sobre a Terra
os homens procuram dissimular sua vida insensata, esquecer, abafar o seu sofrimento,
sem O conseguirem; o número de homens que perdem a razão e se suicidam aumentam
de ano para ano, porque está acima de suas forças o suportar de uma vida contrária
à natureza humana.
Mas, dir-se-á talvez, que é necessário
que assim seja, necessária a existência dos imperadores, dos reis, dos governos,
dos parlamentos, que comandam milhões de soldados armados de fuzis e canhões, prontos
a cada instante a se atirarem uns sobre os outros; necessárias as fábricas e as
usinas que produzem objetos inúteis e nocivos, onde milhões de homens, de mulheres
e de crianças são transformados em máquinas, penando 10, 12 e 15 horas por dia;
necessário, o despovoamento crescente das aldeias e o acúmulo progressivo das
cidades com os seus cabarés, os seus albergues noturnos, seus asilos de crianças
e seus hospitais; necessário, o encarceramento de centenas de milhares de homens.
Talvez seja necessário que a doutrina
de Cristo, ensinando a concórdia, o perdão das ofensas, o amor do próximo, do
inimigo, soja inculcada nos homens pelos sacerdotes de seitas inumeráveis, em
lutas contínuas, e isto sob a forma de fábulas estúpidas e imorais sobre a
criação do mundo e do homem, sobre o seu castigo e a sua redenção pelo Cristo,
e sobre o seu castigo e a sua redenção pelo Cristo, e sobre tal e qual rito,
tal ou qual sacramento.
Talvez esse estado de coisas seja
natural a homens, como é o próprio das formigas e abelhas a viverem em seus formigueiros e
colmeias em lutas contínuas e sem outro ideal. É assim, com efeito, que alguns
se exprimem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário