Imortalidade
por Vianna de Carvalho
Reformador
(FEB) Janeiro 1920
Passa-se fenômeno singular nas contraditas
que as velhas crenças religiosas movem ao Espiritismo.
As bases da nova fé estão firmadas
na existência de Deus e na continuidade do ser
após a morte. Não discutamos, por agora, o máximo arcano da ciência, isto é, a realidade de uma Causa produtora das manifestações naturais - corpos, forças e
espíritos.
Consideremos apenas o problema da
perpetuação da alma através da mutabilidade das formas que ela verifica em inumeráveis
estádios de incoercível evolucionismo.
Desde as primeiras idades do homem
sobre a Terra, essa noção exigiu intuitivamente na caligem de inteligências
rudimentares.
Assombro do desconhecido, desejo de
permanência egoística, reflexo de operações mentais elaboradas sob o espetáculo
das coisas exteriores ... não importa.
O fato em si pode escapar à
decifração da filosofia mas não deixa de constituir um dos aspectos fundamentais
da atividade consciente.
A extensão da vida além das
fronteiras visíveis deste mundo, era um pressentimento diluído nas imaginações
das raças primitivas.
Antes de haver religião organizada,
lampejava nos cérebros obtusos a ideia vaga de outro destino colocado fora do
tenebroso limiar do túmulo.
Só muito mais tarde, os credos
tecidos com a inspiração de iluminados, deram corpo a esses estremecimentos da psique.
Todavia, as respectivas teorias
foram se disseminando lentamente: germinaram nas Índias, Egito, Grécia, Roma...
com diversas tonalidades de empréstimo, consoante a índole dos povos, costumes,
tradições e feitios intelectuais que lhes eram peculiares.
Chegaram assim, conservadas na pura esfera
das abstrações, à segunda metade do século XJX.
Até aí, proclamou-se a imortalidade
sem demonstração objetiva. Tudo consistia em argumentos muitas vezes
brilhantes, em teses defendidas ao sabor da lógica e da experiência introspectiva.
De provas reais, palpáveis,
contundentes, quase se não cogitava. Apesar da intervenção
ostensiva de entidades extra terrenas nos acontecimentos humanos, as leis
de tais manifestações permaneciam repudiadas por todas as formas do ensino dogmático.
Fez-se necessária uma revolução nas
opiniões tradicionalistas. O Espiritismo promoveu
métodos especiais assegurando o conhecimento exato da sobrevivência de nossa
individualidade.
Pois bem: os credos de outrora procedem
de maneira absolutamente contrária às regras do bom senso.
Em vez de acolherem os subsídios que
lhes trariam as documentações da nova ciência,
- armam contendas e perdem terreno a cada investida agitada pela intolerância.
Eles mesmos cavam assim a própria ruína;
precipitam a desagregação das forças que até agora os mantiveram no regime
social.
E, enquanto definham como árvores ressequidas,
a vaga do liberalismo abre caminho para o futuro e submerge na passagem os
erros alimentados por um conservantismo absurdo.
Tal é a lei: ou modificar-se ao
influxo do progresso ou morrer dentro dos moldes incompatíveis
com as aspirações de nossa época.
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