Espiritismo:
Ciência ou Religião
Redação
Reformador (FEB) Julho 1896
Reformador (FEB) Julho 1896
Há entre os espíritas quem acredite
não ter a nova revelação caráter religioso.
Não compreendemos os fundamentos de
tal opinião.
A base essencial da revelação espírita
é a explicação do Evangelho em espírito e verdade, e parece-nos que o carater
de uma doutrina assente sobre tal base é incontestavelmente religiosa.
Temos ouvido dizer que não é tal,
porque não tem culto eterno, como tem as religiões conhecidas, mas quem se vale
de tal fraco argumento, esquece uma circunstância do mais alto valor.
É ela: que o Espiritismo vem expor
os princípios religiosos, consubstanciados no Evangelho, em espírito e verdade,
o que quer dizer: veio ensinar uma religião mais pura, que estabelece as
relações da criatura com o Criador pelo pensamento, pelo espírito.
Enquanto o ensino divino era sob o
véu da letra, compreendendo-se a necessidade do culto exterior e até,
rigorosamente, o jugo da igreja como tutora, pois que a humanidade era na
menoridade.
Desde, porém, que esta se acha
emancipada, já pode por si mesma realizar seu destino; para que mais culto
eterno? Para que mais tutores?
O culto externo denuncia, não um caráter
essencial da religião mas sim atraso, quer da religião, quer da humanidade.
Rasgada de meio a meio o véu do Templo,
feita a luz sobre os ensinos divinos, erguida a humanidade às alturas de
compreender a lei divina em espírito e verdade, a subsistência do culto externo
valeria por um borrão no quadro sublime da religião do futuro, da religião
espiritual.
E nota-se no Evangelho que é esta a
linha traçada pela sabedoria infinita, atentando-se para as palavras de Jesus à
samaritana:
“Dia
virá em que não mais se adorará a Deus em Jerusalém ou no templo Garizim mas no
íntimo dos corações, porque Deus é espírito e quer ser adorado em espírito.”
Como enxertar aqui o culto externo,
como repelir-se o caráter religioso do Espiritismo, porque não tem culto
externo?
Não é das divinas palavras que a
religião há de chegar (um dia) ao grau de elevação de dispensar todas as formas
que falem aos sentidos corpóreos?
Se o Espiritismo não tem culto
externo, não é isto razão para se lhe negar caráter religioso, é sim razão, a
fundamental, para se lhe reconhecer superioridade sobre todas as religiões,
para se conhecer que nele e por ele, se realizam as palavras do divino Jesus.
É chegado o dia anunciado de ser a
religião desligada de cultos e de templos, consistindo unicamente nas relações
espirituais entre o homem e Deus.
E esta religião sublimada é o
Espiritismo.
Concorre a esta conclusão a oração dominical,
com a recomendação de ser feita em retiro e concentração, como mais preparatória
dos Espíritos para o advento da religião espiritual.
Além do exposto, que nos parece
substancial, ocorre ponderar que ao Espiritismo foi dado ao mundo pelos
processos da revelação religiosa progressiva, na medida do progresso humano.
A ciência nunca teve revelações
pelos moldes da espirítica.
Qual a razão, pois, para se inverter
a ordem até agora estabelecida, fazendo-se à ciência uma revelação que tem o
puro caráter das que tem tido a religião?
O que importa que o Espiritismo
desenvolva questões científicas de par com as religiosas?
Isto vem a provar o alto cunho da
nova revelação que, assim como dispensa o culto externo, também compreende em
si as leis da ciência.
Isto vem a provar que as religiões
ou revelações incompletas se destacam da ciência, mas que a perfeita abrange os
dois elementos do aperfeiçoamento humano: o moral e o intelectual.
Quem diz pois, Espiritismo, diz alta
religião que atende ao progresso moral e ao intelectual do ser humano, como
deve ser a verdadeira religião, a religião dos dias preditos por N. S. Jesus
Cristo.
Se estamos em erro, estamos com a
razão e a consciência.
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