sexta-feira, 17 de maio de 2019

Divagações



Divagações
J. Paixão
Reformador (FEB) Janeiro 1920

Para o Luiz de Oliveira

            Pode haver esperança onde não existe fé.  A esperança é mais objetiva que a fé; aquela, está no plano terrestre; esta, no plano celeste. A esperança entusiasma; a fé alegra; a primeira, coroa os heróis; a segunda, os mártires; aquela, incinera uma cidade, reedifica-a porque é o amor, e o amor aliança e fortalece. A esperança conquista o realizável; a fé prossegue, vai além: opera o milagre. A esperança pode derivar na inteligência, da vontade estóica, fé, porém, deriva da região mais serena, mais pura, mais distanciada do mundo cheio de imperfeições, de orgulho e de ambição.

            Todos os espíritos que se têm imortalizado, por suas descobertas úteis e necessárias ao bem humano, foram uns inspirados pela fé. Como prova-lo? Com o exílio, com as fogueiras, os calabouços, as terras inóspitas, onde pela nostalgia, pela mingua de carinhos do lar, deixaram de pulsar tantos corações, humildes, resignados; leiam-se os anuários da ciência; leiam-se a história dos predestinados.

            Quando a esperança arma-se de punhal, a fé arma-se do perdão; e quando aquela ri do que baqueia exânime; esta pensa-o com o bálsamo de seu carinho e o envolve e aquece com o manto de seu amor. A esperança planejou e construiu a Torre de Babel, a fé edificou a ermida na aba da montanha. Babel esboroou-se, ruiu, porque o orgulho não tem alicerces; a ermida desafia os séculos porque a humildade é a máxima das fortalezas. A Babel, porque era o ódio, a tirania, dividiu e dispersou os povos; o templo, o altar atraiu-os e unificou-os pelos mesmos sentimentos, pelo mesmo destino, porque o templo é o amor. Há casos em que a esperança volve em fé: o Messias e Jesus.

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