Da
Alma Humana
Ernani
Cabral
Reformador
(FEB) Janeiro 1958
A
Federação Espírita Brasileira fez publicar, agora em 2ª edição, a excelente
obra do médico português - Dr. Antônio
J. Freire - intitulada "Da Alma
Humana", livro muito interessante e instrutivo e que deve fazer parte
da biblioteca de todo espírita estudioso.
A
doutrina dos Espíritos, que Allan Kardec codificou, afirma que o ser humano é
composto de três partes ou elementos: corpo, perispírito e espírito.
O
perispírito, também chamado alma, mediador plástico, corpo astral, fluídico,
sutil, aéreo ou etéreo, é componente de nosso "eu", de transcendental
importância, servindo de ligação entre o corpo e o espírito, mas cuja
existência é negada pelas religiões dogmáticas.
É
ele - o perispírito - uma realidade cientificamente demonstrada, porém aquelas
religiões, repudiando a opinião dos primitivos cristãos de cultura, chamados
também de "primeiros doutores da Igreja", entenderam de negar,
categoricamente, sua existência. Assim procedem porque, limitando o estudo da alma
e afirmando que o ser humano é composto apenas de um binômio (corpo e
espírito), ficarão de pé seus dogmas, que são armas de terror, como o inferno,
servindo tal doutrina aos seus interesses subalternos de dominação espiritual e
política. Com efeito, o estudo profundo da alma leva à prova da reencarnação, da palingenesia ou das vidas
sucessivas, o que seria a derrocada de toda a concepção religiosa católica ou
protestante, que se baseia apenas em teorias despidas de cunho científico. Por
isto, é proibido o livre exame dos dogmas e a investigação experimental sobre
afirmativas religiosas! A mente humana fica adstrita a um círculo fechado e os teólogos ainda declaram que
"Fora da Igreja não há salvação". É a escravidão completa das
consciências, que faz lembrar o mesmo sentimento dominador e exclusivista dos
césares romanos, e jamais a liberdade de Jesus, a que São Paulo se refere com
palavras tão significativas: “Ora, o
Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade” (II
Cor., 3:17). Vale
dizer a contrario sensu que, onde não
há liberdade, aí não está o Espírito do Senhor.
Mas a verdade é que o apóstolo dos
gentios, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, 4: 23,
fala em "espírito, e alma e corpo",
reconhecendo que o ser humano é composto de três partes e não de duas somente,
como as igrejas de Roma, da Inglaterra e dos Estados Unidos hoje em dia
proclamam.
Orígenes,
Tertuliano, Santo Hilário, S. Basílio de Cesareia, S. Cirilo de Jerusalém, S.
Cirilo de Alexandria, Santo Ambrósio, Metodius, Atanásio, Félix, Fulgêncio, Arnóbio, Santo Agostinho, etc. "não consideravam o espírito como
absolutamente material, admitindo todos eles o ternário humano : espírito (pneuma), uma alma vital com aparência
de corpo fluídico (psique) e um
corpo físico, carnal (soma)".
Remetemos
o leitor ao livro supra citado, que se refere às fontes que comprovam tal
afirmativa (págs. 76 a 79).
Mas
vale a pena esta pequena transcrição, de fls. 79, daquela excelente obra do Dr.
Antônio J. Freire:
"Ainda no século XVIII, ,no segundo Concílio
de Niceia, João de Tessaloníca declara: "Os anjos, os arcanjos e também as almas são, na verdade,
espirituais, mas não completamente privados de corpos. São dotados dum corpo
tênue, aéreo, ígneo. Nos últimos doze
séculos, algumas religiões ocidentais, para fins inconfessáveis, procurando
incutir um obscurantismo ardiloso para fundamentar os seus abstrusos dogmas e
melhor dominar consciências, a dentro de uma crassa ignorância, renegaram o
ternário humano das gloriosas idades primitivas do Cristianismo para se
petrificarem num binário insustentável, para assim, mais facilmente, fazer
desaparecer o ensino do Cristo sobre o reencarnacionismo ou vidas sucessivas,
que daria o golpe de misericórdia sobre o poder espiritual da Igreja, em
especial na graça, na predestinação e nas indulgências, pingues fontes de
oblatas que tem abarrotado as arcas dos seus cofres."
A
fim de tornarmos bem claro o que seja o perispírito (pedindo perdão àqueles que
já conhecem o assunto sobejamente), vamos transcrever ainda um pequeno trecho
de "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, que trata, nas perguntas
93 a 95, do perispírito.
"P.
- O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem ou, como pretendem
alguns, está sempre envolta numa substância qualquer?
R.
- Envolve-o uma substância, vaporosa para os vossos olhos, mas ainda bastante
grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na
atmosfera e transportar-se aonde queira.
Nota
- Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma
substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório
ao espírito propriamente dito.
P.
- De onde tira o Espírito seu envoltório semimaterial?
R.
- Do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os
mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais
de roupa.
P.
- Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um perispírito mais grosseiro?
R.
- É necessário que se revistam da vossa matéria, já o dissemos.
P.
- O invólucro semimaterial do Espírito tem formas determinadas e pode ser
perceptível?
R.
- Tem a forma que o Espírito queira. É
assim que este vos aparece algumas vezes, quer em sonho, quer no estado de vigília, e pode
tomar forma visível, mesmo palpável."
Mas
o que existe de interessante nessa matéria é que, grandes cientistas, conforme
frisam diversas obras espíritas, como "O
Problema do Ser, do Destino e da Dor", de Léon Denis, erudito
escritor de França, e aquela do notável médico português, servindo-se do
hipnotismo ou do magnetismo, já conseguiram exteriorizar o perispírito, o que
vem derrubar, fragorosamente, as assertivas das religiões dogmáticas a respeito
de tão transcendental assunto. As experiências e os fatos comprovados são
autoridades que desmentem quaisquer teorias, por mais ardilosas ou inteligentes
que pareçam... Com efeito, a verdade constatada esmaga as concepções
em contrário! Contra a "prova provada" não pode haver mais argumento:
Só o do sofisma, em sua palidez cadavérica, fácil de ser destruído pela lógica.
As
experiências do Coronel Albert de Rochas d’Aiglun, diretor da Escola
Politécnica de Paris, foram as que primeiro enfrentaram o problema. Foi ele o
criador do metapsiquismo experimental, que veio revolucionar a Psicologia,
"arrancando a alma humana dos
domínios obscuros da abstração e da metafísica, fazendo-a entrar no campo da
abstração e da análise direta, com a imortal descoberta da exteriorização do
duplo, no fim do século passado". Mas os estudos prosseguiram por
outros cientistas, por outros investigadores da verdade, como Hector Durville e
L. Lefranc, Dr. H. Baraduc e Charles Lancelin, para citarmos apenas alguns
dentre os maiores.
Todavia,
o que há de Impressionante nesse profundo estudo é que vieram a ser
comprovadas, não as teorias dos padres, mas as esotéricas, teosofistas e
rosacrucianas, que afirmavam ser o perispírito composto de sete almas ou de
sete envoltórios, que puderam ser separados pelo hipnotismo.
Todos
esses experimentadores conseguiram também obter o fenômeno da regressão da
memória, em sensitivos que observaram, os quais, em estado hipnótico,
descreveram algumas de suas reencarnações anteriores, citando nomes, vidas e fatos,
em certos casos investigados e comprovados, o que faz afastar a possibilidade
da fraude ou da simples sugestão.
Experiências
recentes, realizadas por hipnotizadores nos Estados Unidos e na Europa, vieram
reiterar a realidade de tais fenômenos, o que importa em afirmarmos que a reencarnação
está hoje cientificamente comprovada, sendo bem manifesta a verdade contida no
versículo de João, 3:3, onde Jesus já revelara a existência das vidas
sucessivas, que os ortodoxos negam, torcendo a clareza
meridiana do texto.
Mas
voltando àqueles múltiplos aspectos da alma, também já desdobrados, é oportuno
esclarecermos que, consoante comunicação de um Espírito, ao Conde Albert de
Rochas: "o perispiríto é constituído
por uma série de invólucros, mais ou menos eterizados, de que os habitantes do
Mundo astral se vão desfazendo, sucessivamente, à "medida que se elevam na escala da evolução, não sendo embutidos uns sobre os
outros como os tubos de um telescópio, mas Interpenetrando-se em todas as suas
partes".
Somente
a leitura "Da Alma Humana"
poderá convencer-nos das cautelas tomadas pelos cientistas investigadores; de
sua paciência beneditina; de seu conhecimento profundo da matéria e de seu
domínio das forças ocultas; do esforço continuado e
persistente em prol da verdade; e do êxito que obtiveram
para coroar sua boa vontade, cultura e denodo, sendo de destacar-se, sobretudo,
Charles Lancelin, que conseguiu, prosseguindo nas experiências de De Rochas e
de Hector Durville, através de processos hipnomagnéticos de análise e de
síntese, tornar visíveis os sete envoltórios da alma humana e que são: a alma vital, a alma sensível, a alma
mental, a alma causal, a alma moral, a alma intuitiva e a alma consciencial.
Atrás desta, invisível, eteno, sublime, perfectível e divino, está o espírito,
o qual, através das múltiplas reencarnações ou de vidas sucessivas, lutando, sofrendo, falindo,
emendando-se ou soerguendo-se, mas evoluindo sempre, marcha com firmeza e com
esperança para o foco centrípeto de cuja mente sublime emanou, em sua marcha
constante para o Alto, ou seja, para Deus, o Pai Celestial de amor e de
misericórdia.
Ele,
que é a suprema bondade, nunca jamais haveria de permitir que um filho seu se
perdesse, razão pela qual o dogma do inferno eterno é uma legítima heresia,
pois fere a noção da misericórdia divina, erro crasso que devemos repelir com
toda a convicção de nosso Espírito, que foi criado para a perfeição, vale
dizer, para a felicidade eterna! Só assim poderemos compreender porque Jesus, cujaspalavras
jamais passarão, disse em Mateus, 19:17, em Marcos, 10:18 e em Lucas, 18:19,
que "não há bom senão um só, que é
Deus".
Ele
é bom porque quer que, pelo nosso próprio esforço, pelo nosso próprio mérito,
através de vidas sucessivas, sejamos perfeitos algum dia, quando alcançaremos a
felicidade eterna, que a todos nós está reservada pelo seu grande, pelo seu
admirável, verdadeiro e paternal amor!
Nenhum comentário:
Postar um comentário