Finados
Editorial
Reformador
(FEB) Novembro 1978
Desde
as mais remotas civilizações, o homem se dobra reverente ante o mistério dos
sepulcros, para cultuar os seus mortos. Em face dos esquifes fechados, deixa escorrer
o pranto sentido das suas saudades, enquanto guarda no coração o difuso pavor
dos enigmas do desconhecido. Nem sempre, porém, é o amor que inspira o preito
aos que partiram. Não foi, decerto, a piedade que levou Artemísia a erguer a
Mausolo, rei da Cária, monumento tão faustoso que se tornou uma das maravilhas
do mundo antigo. Nem foi a devoção sincera e humilde que pagou a Miguel Ângelo
para projetar e construir os admiráveis túmulos dos Médicis. Mas a Grande
Pirâmide de Gizé, mandada erigir por Quéops, filho de Snefru, com seus cento e
quarenta e seis metros de altura, fala, no silêncio da sua linguagem de pedra,
da solene certeza da vida eterna.
Meio
às mais contrastantes demonstrações de carinho e de vaidade, os cemitérios do mundo inteiro guardam desde as mais singelas
covas rasas, das multidões de anônimos, até as suntuosas tumbas dos abastados e
dos vencedores. Entretanto, nem os vilões nem os heróis, nem os criminosos nem
os santos, habitam essas brancas cidades consagradas à morte. As sepulturas não
conseguem reter o Espírito imortal que, liberto das constrições do corpo
físico, ressurge, na glória das suas vestes perispiríticas, para novo ciclo de
existência, em dimensão maior, mais vivo do que nunca, com os seus sentidos
mais aguçados e com muito maior capacidade de pensar e de agir, de gozar e de
sofrer.
Perante
o triunfo da vida, que se afirma vitoriosa para além da decomposição das vísceras abandonadas, soa sem sentido a lamentação
das carpideiras e restam inúteis as cerimônias do luto exterior, convencional e
vazio. Átropos, a Parca fatal, não tem, na verdade, o poder de cortar o fio da vida humana,
porque o falecimento do corpo carnal é tão-só o rompimento do casulo da alma, puído e
imprestável, substituível por outro, novo, embora igualmente temporário. De encarnação
em encarnação, e de desencarnação em desencarnação, o Espírito vai realizando
as suas experiências evolucionárias, na sua longa trajetória para a angelitude,
meta de perfeição e de felicidade que todos consciente ou inconscientemente
buscam. Por isso, não é raro de ver-se, aqui e ali, quem cultue a si mesmo, na
imagem e na lembrança de um venerado antepassado ou de outro morto ilustre.
Abrindo
janelas novas ao entendimento humano e soprando com vigor milenares cinzas de ignorância, o Espiritismo trouxe aos
homens da Terra não somente a mensagem consoladora da imortalidade, mas a da
comunicação permanente entre os habitantes dos diversos planos da vida
planetária. Com isso, ampliaram-se e melhoram incessantemente as oportunidades
e as condições para esse tipo de intercâmbio, cada vez mais franco e decisivo,
em benefício de toda a Humanidade.
Agora,
são os próprios mortos redivivos que vêm dizer e repetir aos vivos da carne, aos seus irmãos ainda encarnados, que realmente
ninguém morre, que a morte é simples transferência de plano, provocada pelo
falecimento de um corpo físico provisório e substituível, e que, além e acima dos cadáveres e
dos sepulcros, a vida palpita, radiosa e sublime, invencível e sem fim...
Finados! - quem são eles? Não existem. Não
há finados, porque tudo o que realmente existe é vida, e vida em abundância, no Espírito de Deus
que, como afirmam sabiamente as Escrituras, não é Deus de mortos, mas de vivos!
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