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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

19. 'À Luz da Razão' por Fran Muniz


19
“À Luz da Razão”

por   Fran Muniz

Pap. Venus – Henrique Velho & C. – Rua Larga, 13 - Rio
1924


A COMUNICAÇÃO DOS ESPÍRITOS

            A comunicação do mundo espiritual com o da matéria produzindo o encadeamento perpétuo entre o visível e o invisível, constitui a causa eficiente do nosso progresso moral e intelectual.

            As descobertas, os inventos e as ciências de hoje e de todos os tempos, a ela devem o grande desenvolvimento atingido.

            No entanto, ainda existe quem repudie as manifestações espirituais, em obediência às ordens impostas pelos papas e seus prepostos.

            Ai deste nosso planeta se, de outros mais adiantados, não lhe chegassem notícias instrutivas através das comunicações espirituais. Quando de um a outro país é necessário o intercâmbio de ideias, que extensão terá essa necessidade, pois, de um a outro mundo?

            Felizmente, porém, todas as leis de Deus foram instituídas, em exclusivo beneficio de suas criaturas. Por isso, os submissos à igreja de Roma, enfastiados já de bater no peito e desfiar rosários, sem conseguir coisa alguma substancial com que saciem a sede de progresso dos seus espíritos, vão, dia a dia, desertando a religião em busca da verdadeira Fonte de Luz.

            A esses, pois, é que nos dirigimos, visto já estarem aptos para o raciocínio e para a boa vontade de progredir:

            Sabendo-se que a alma é inteligente e age por si só, é evidente que pense nos que amou na terra; podendo estar em toda a parte, pode também achar-se junto de nós; sendo possível atuar sobre a matéria, em virtude do seu corpo fluídico, o perispírito, é racional que ele se comunique com os vivos e os faça escrever, falar e transmitir-lhes pensamentos.

            É irrisório que os negadores sistemáticos achem de ver néscios ou beócios em todos os sábios que aceitaram, como verdades irrecusáveis, os fenômenos espíritas obtidos e estudados nos Congressos científicos, exclusivamente organizados para esse fim; e, mais interessante é ainda que esses negativistas tenham um argumento que consideram arrasador: não creem.

            Além disso, a razão nos dita que uma crença não poderia ter aceitação por toda a parte do mundo, se não tivesse por base um sólido fundo de verdade cujas provas estão sobejamente conhecidas até pelos próprios livros sagrados que as sancionam.

            Antes de penetrarmos o âmago da doutrina das comunicações espirituais, diremos que todos tem aptidões para a mediunidade, porque ela é uma faculdade inerente ao ser humano e que se revela de modos diferentes, apresentando também diversas ordens de fenômenos. Todavia, há médiuns mais ou menos desenvolvidos, segundo a organização de cada um.

            O médium perfeito, portanto, deve ser despido de orgulho, egoísmo, vaidade e de todas as más paixões e viver saturado da boa moral, visto que tem responsabilidade perante o Criador, a quem deve essa faculdade auxiliadora do seu próprio aperfeiçoamento.

            Não obstante, há ainda muito abuso entre alguns médiuns, assim como em sociedade, encontram-se homens que não se prezam; mas nem por isso se devem julgar todos os que a constituem pelo mesmo padrão.

            A própria igreja de Roma estaria incursa na desmoralização total se todos os seus componentes fossem igualados ao que ela tem de pior.

            Todavia, ninguém poderá negar que há espíritas verdadeiros, cujo caráter está acima de qualquer suspeita.

            Conhecida que foi a natureza dos espíritos, as propriedades semi materiais do perispírito e a ação que exercem os espíritos sobre a matéria, resta saber como podem eles produzir os fenômenos que o Catolicismo assoalha de milagrosos.

            Os espíritos superiores explicam isso de maneira racional e muito diferente da que se julgava: Sendo o fluido universal um elemento do fluido elétrico, é encontrado no espaço mais ou menos simples em estado que chamamos fluido magnético animal porque ele só dá vida à matéria, mas não inteligência.

            Assim, o espírito, combinando uma parte desse fluido universal com o que retira do médium, consegue a formação e transporte de objetos.

            Esse mesmo fluido não só nulifica o peso dos objetos e os oculta às nossas vistas mas também produz sons secos, uníssonos ou articulados, imitando a voz humana e qualquer ruído.

            A ciência dos que se julgam sábios na Terra, será um dia confundida, porque os homens estão ainda muito longe de conhecer todas as leis da natureza; mas, assim mesmo, não abandonam o orgulho, apesar de serem todos os dias advertidos por Deus, a que desconfiem de sua ignorância.

            Há quem julgue derrogação da lei de gravitação o fato de um objeto se manter suspenso, sem contado visível; no entanto, a bala que sobe ao ar, expelida pelo canhão, não derroga essa lei? E não se dá o mesmo com os aviadores que viajam no espaço?

            Dirão que as causas destes exemplos já estão conhecidas: é, pois, um incentivo para procurar conhecer as que ainda ignoram.

            Sempre que um acontecimento sensacional se realiza aparecem logo opiniões divergentes que pretendem demonstrar a verdadeira causa que o determinou: foi o que se deu com o Espiritismo.

            Admitidos os fenômenos espíritas, visto não ser mais possível nega-los, os adversários dividiram-se em sistemas, cada qual mais antagônico entre si e, afora o poder inventivo exercitado na criação de um ou outro termo técnico, com que aumentaram o mealheiro da já multimilionária tecnologia científica, nada mais conseguiram que pudesse desvirtuar a verdade das manifestações espiritas.

            Mas há também os que se não filiam a nenhum sistema e decidem a priori: Espiritismo é loucura. Estes seriam para nós motivo de risos, se não fosse de lástima a sua ignorância.

            Com isso fogem a toda e qualquer discussão séria no terreno da ciência. Os espíritas, porém, consolam-se com o apoio dos homens de merecimento incontestável que tem por companheiros.

            Demais, é preciso ter pouco escrúpulo e menos raciocínio, para acreditar que a loucura ataque de preferência a classe ilustrada que constitui a maioria adepta do Espiritismo.  Se é verdade que têm ocorrido casos de alienação entre os adeptos dessa doutrina, não se deve negar que os houve sempre e muitos em qualquer meio religioso.

            Nem sequer, ao menos, cabe à religião, seja ela qual for, o privilégio de conferir a loucura aos seus adeptos. O materialismo terá feito, talvez, maior número de alucinados. Materialista profundo, fazedor de escola até, foi Niestche - o Super Homem, e acabou imbecil.

            Se quiserem, porém, dizer que o fanatismo nas religiões conduz à demência, concordamos, mas isto entra como modalidade nos casos vários de monomania ou ideia fixa.

            Há quem tenha ensandecido, julgando-se anjo ou santo, mas há também os que regridem a gato, cachorro e outros irracionais e até a estátuas, pote de barro. etc. De inventores está o manicômio cheio e, mesmo a fortuna e o amor, coisas muito gratas ao sentimento humano,  estão constantemente aumentando o número dos monomaníacos.

            Por mais que se quisesse encobrir a intervenção do espírito no mundo corporal, não foi possível, diante da evidência dos fatos. Era preciso, pois, procurar afastar os não conhecedores dessa doutrina e traze-los contidos pela ignorância.

            Destarte, apegaram-se os interessados ao sistema diabólico, e afirmam: só o diabo é que se pode comunicar com os homens. Esses propagandistas vieram trazer, inconscientemente, grande auxílio ao Espiritismo, pois, embora a princípio tivessem inúmeros adeptos, mais tarde foram eles diminuindo, em virtude da persuasão de que, se os demônios se comunicam, sendo eles seres incorpóreos, já com isso fica provado existir, de fato, a comunicação do mundo visível com o invisível.

            Daí a destruir a invencionice das manifestações diabólicas, era um passo, apenas, que precisava dar o raciocínio. Dado tal passo, chegou-se à conclusão de que sendo o diabo inimigo do Criador e dos homens, não seria esperto e nem sabido trabalhasse ele contra si próprio, cometendo a tolice de nos dar bons conselhos, pedir que orássemos pela nossa salvação e nos submetêssemos a Deus, praticando todos os preceitos evangélicos, etc. Ora, em tais condições, bem seria preferível lidar com o diabo, a ouvir os que ensinam ser Deus mau e vingador.

            Depois, a própria igreja católica reconhece como verdadeiras certas manifestações da Virgem e dos Santos, nas aparições, comunicações orais, etc. Ora, sendo os santos, espíritos dos que viveram na Terra, ou a igreja não merece fé quando tal afirma ou se deixa apanhar em contradição se tem como certo que só o diabo se comunica.

            Sendo a comunicação uma lei que une o mundo espiritual ao corpóreo, é preciso que o seu conhecimento seja generalizado entre o ser humano a quem ela mais aproveita. Sua existência é revelada desde o princípio do nosso planeta.

            Moisés proibiu a invocação dos mortos. Portanto está provado que eles se comunicavam sem o que seria absurdo proibir ele fazer uma coisa que não existisse.

            Deve-se, porém, esclarecer que, se Moisés a proibiu foi tendo em vista a época de aspirações baixas do povo hebreu que invocava os espíritos inferiores visando a prática do mal.

            Todos os profetas, pítons e pitonisas da Escritura, nada mais eram do que médiuns que recebiam ensinos e previsões dos espíritos.

            Os Evangelhos do cristianismo estão pejados de provas da existência das comunicações. Vejamos se, ao menos, eles merecem fé por parte dos incrédulos.

            O anjo que apareceu a Maria para avisa-la do nascimento de Jesus; o que ele viu quando foi ao sepulcro do Cristo; os que apareceram, em sonho, a José e, no templo, a Zacarias; os que avisaram os magos do nascimento do Menino, não foram manifestações espíritas? Estes anjos não eram deuses, nem santos da igreja e nem cremos que o Catolicismo afirme fossem demônios; logo, a igreja não é sincera com os seus fieis, ensinando-lhes que só o diabo dá comunicações.

            As aparições do anjo a Jesus em Getsêmane e de Elias e Moisés no monte Tabor, como se devem compreender? Os dois últimos não eram espíritos de mortos? Então os que morrem podem comunicar-se. Logo, a igreja vive a enganar a sua gente quando afirma que só o diabo se comunica.

            O próprio Jesus aparecendo diversas vezes aos apóstolos e a Paulo no caminho de Damasco, prova que o espirito pode se comunicar. Os mortos que foram vistos a andar pela cidade, quando Jesus ressuscitou não eram os espíritos dos que viveram? Não se tornaram visíveis para provar o júbilo de haver o Mestre completado a sua obra de regeneração? Portanto, os espíritos podem se manifestar, logo, a igreja abusa da boa fé porque não ensina a verdade.


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