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“À Luz
da Razão”
por Fran Muniz
Pap. Venus – Henrique Velho & C. – Rua Larga, 13 -
Rio
1924
A COMUNICAÇÃO DOS ESPÍRITOS
A
comunicação do mundo espiritual com o da matéria produzindo o encadeamento perpétuo
entre o visível e o invisível, constitui a causa eficiente do nosso progresso
moral e intelectual.
As
descobertas, os inventos e as ciências de hoje e de todos os tempos, a ela
devem o grande desenvolvimento atingido.
No
entanto, ainda existe quem repudie as manifestações espirituais, em obediência às
ordens impostas pelos papas e seus prepostos.
Ai
deste nosso planeta se, de outros mais adiantados, não lhe chegassem notícias
instrutivas através das comunicações espirituais. Quando de um a outro país é
necessário o intercâmbio de ideias, que extensão terá essa necessidade, pois,
de um a outro mundo?
Felizmente,
porém, todas as leis de Deus foram instituídas, em exclusivo beneficio de suas
criaturas. Por isso, os submissos à igreja de Roma, enfastiados já de bater no
peito e desfiar rosários, sem conseguir coisa alguma substancial com que saciem
a sede de progresso dos seus espíritos, vão, dia a dia, desertando a religião
em busca da verdadeira Fonte de Luz.
A
esses, pois, é que nos dirigimos, visto já estarem aptos para o raciocínio e
para a boa vontade de progredir:
Sabendo-se
que a alma é inteligente e age por si só, é evidente que pense nos que amou na
terra; podendo estar em toda a parte, pode também achar-se junto de nós; sendo
possível atuar sobre a matéria, em virtude do seu corpo fluídico, o perispírito,
é racional que ele se comunique com os vivos e os faça escrever, falar e transmitir-lhes
pensamentos.
É
irrisório que os negadores sistemáticos achem de ver néscios ou beócios em
todos os sábios que aceitaram, como verdades irrecusáveis, os fenômenos espíritas
obtidos e estudados nos Congressos científicos, exclusivamente organizados para
esse fim; e, mais interessante é ainda que esses negativistas tenham um
argumento que consideram arrasador: não creem.
Além
disso, a razão nos dita que uma crença não poderia ter aceitação por toda a parte
do mundo, se não tivesse por base um sólido fundo de verdade cujas provas estão
sobejamente conhecidas até pelos próprios livros sagrados que as sancionam.
Antes
de penetrarmos o âmago da doutrina das comunicações espirituais, diremos que
todos tem aptidões para a mediunidade, porque ela é uma faculdade inerente ao
ser humano e que se revela de modos diferentes, apresentando também diversas
ordens de fenômenos. Todavia, há médiuns mais ou menos desenvolvidos, segundo a
organização de cada um.
O
médium perfeito, portanto, deve ser despido de orgulho, egoísmo, vaidade e de
todas as más paixões e viver saturado da boa moral, visto que tem
responsabilidade perante o Criador, a quem deve essa faculdade auxiliadora do
seu próprio aperfeiçoamento.
Não
obstante, há ainda muito abuso entre alguns médiuns, assim como em sociedade,
encontram-se homens que não se prezam; mas nem por isso se devem julgar todos
os que a constituem pelo mesmo padrão.
A
própria igreja de Roma estaria incursa na desmoralização total se todos os seus
componentes fossem igualados ao que ela tem de pior.
Todavia,
ninguém poderá negar que há espíritas verdadeiros, cujo caráter está acima de
qualquer suspeita.
Conhecida
que foi a natureza dos espíritos, as propriedades semi materiais do perispírito
e a ação que exercem os espíritos sobre a matéria, resta saber como podem eles
produzir os fenômenos que o Catolicismo assoalha de milagrosos.
Os
espíritos superiores explicam isso de maneira racional e muito diferente da que
se julgava: Sendo o fluido universal um
elemento do fluido elétrico, é encontrado no espaço mais ou menos simples
em estado que chamamos fluido magnético animal porque ele só dá vida à matéria,
mas não inteligência.
Assim,
o espírito, combinando uma parte desse fluido universal com o que retira do
médium, consegue a formação e transporte de objetos.
Esse
mesmo fluido não só nulifica o peso dos objetos e os oculta às nossas vistas mas
também produz sons secos, uníssonos ou articulados, imitando a voz humana e
qualquer ruído.
A
ciência dos que se julgam sábios na Terra, será um dia confundida, porque os
homens estão ainda muito longe de conhecer todas as leis da natureza; mas, assim
mesmo, não abandonam o orgulho, apesar de serem todos os dias advertidos por
Deus, a que desconfiem de sua ignorância.
Há
quem julgue derrogação da lei de gravitação o fato de um objeto se manter
suspenso, sem contado visível; no entanto, a bala que sobe ao ar, expelida pelo
canhão, não derroga essa lei? E não se dá o mesmo com os aviadores que viajam
no espaço?
Dirão
que as causas destes exemplos já estão conhecidas: é, pois, um incentivo para
procurar conhecer as que ainda ignoram.
Sempre
que um acontecimento sensacional se realiza aparecem logo opiniões divergentes
que pretendem demonstrar a verdadeira causa que o determinou: foi o que se deu
com o Espiritismo.
Admitidos
os fenômenos espíritas, visto não ser mais possível nega-los, os adversários
dividiram-se em sistemas, cada qual mais antagônico entre si e, afora o poder
inventivo exercitado na criação de um ou outro termo técnico, com que aumentaram
o mealheiro da já multimilionária tecnologia científica,
nada mais conseguiram que pudesse desvirtuar a verdade das manifestações
espiritas.
Mas
há também os que se não filiam a nenhum sistema e decidem a priori: Espiritismo é loucura. Estes seriam para nós motivo de
risos, se não fosse de lástima a sua ignorância.
Com
isso fogem a toda e qualquer discussão séria no terreno da ciência. Os espíritas,
porém, consolam-se com o apoio dos homens de merecimento incontestável que tem
por companheiros.
Demais, é preciso ter pouco escrúpulo
e menos raciocínio, para acreditar que a loucura ataque de preferência a classe
ilustrada que constitui a maioria adepta do Espiritismo. Se é verdade que têm ocorrido casos de
alienação entre os adeptos dessa doutrina, não se deve negar que os houve
sempre e muitos em qualquer meio religioso.
Nem
sequer, ao menos, cabe à religião, seja ela qual for, o privilégio de conferir a
loucura aos seus adeptos. O materialismo terá feito, talvez, maior número de
alucinados. Materialista profundo, fazedor de escola até, foi Niestche - o Super Homem, e acabou imbecil.
Se
quiserem, porém, dizer que o fanatismo nas religiões conduz à demência,
concordamos, mas isto entra como modalidade nos casos vários de monomania ou ideia
fixa.
Há
quem tenha ensandecido, julgando-se anjo ou santo, mas há também os que
regridem a gato, cachorro e outros irracionais e até a estátuas, pote de barro.
etc. De inventores está o manicômio cheio e, mesmo a fortuna e o amor, coisas
muito gratas ao sentimento humano, estão constantemente aumentando o número dos
monomaníacos.
Por
mais que se quisesse encobrir a intervenção do espírito no mundo corporal, não
foi possível, diante da evidência dos fatos. Era preciso, pois, procurar
afastar os não conhecedores dessa doutrina e traze-los contidos pela ignorância.
Destarte,
apegaram-se os interessados ao sistema diabólico, e afirmam: só o diabo é que
se pode comunicar com os homens. Esses propagandistas vieram trazer, inconscientemente,
grande auxílio ao Espiritismo, pois, embora a princípio tivessem inúmeros
adeptos, mais tarde foram eles diminuindo, em virtude da persuasão de que, se
os demônios se comunicam, sendo eles
seres incorpóreos, já com isso fica provado existir, de fato, a comunicação do
mundo visível com o invisível.
Daí
a destruir a invencionice das manifestações diabólicas, era um passo, apenas,
que precisava dar o raciocínio. Dado tal passo, chegou-se à conclusão de que
sendo o diabo inimigo do Criador e
dos homens, não seria esperto e nem sabido trabalhasse ele contra si próprio,
cometendo a tolice de nos dar bons conselhos, pedir que orássemos pela nossa
salvação e nos submetêssemos a Deus, praticando todos os preceitos evangélicos,
etc. Ora, em tais condições, bem seria preferível lidar com o diabo, a ouvir os que ensinam ser Deus
mau e vingador.
Depois,
a própria igreja católica reconhece como verdadeiras certas manifestações da
Virgem e dos Santos, nas aparições, comunicações orais, etc. Ora, sendo os
santos, espíritos dos que viveram na Terra, ou a igreja não merece fé quando
tal afirma ou se deixa apanhar em contradição se tem como certo que só o diabo
se comunica.
Sendo
a comunicação uma lei que une o mundo espiritual ao corpóreo, é preciso que o
seu conhecimento seja generalizado entre o ser humano a quem ela mais
aproveita. Sua existência é revelada desde o princípio do nosso planeta.
Moisés
proibiu a invocação dos mortos. Portanto está provado que eles se comunicavam
sem o que seria absurdo proibir ele fazer uma coisa que não existisse.
Deve-se,
porém, esclarecer que, se Moisés a proibiu foi tendo em vista a época de
aspirações baixas do povo hebreu que invocava os espíritos inferiores visando a
prática do mal.
Todos
os profetas, pítons e pitonisas da Escritura, nada mais eram do que médiuns que
recebiam ensinos e previsões dos espíritos.
Os
Evangelhos do cristianismo estão pejados de provas da existência das
comunicações. Vejamos se, ao menos, eles merecem fé por parte dos incrédulos.
O
anjo que apareceu a Maria para avisa-la do nascimento de Jesus; o que ele viu
quando foi ao sepulcro do Cristo; os que apareceram, em sonho, a José e, no
templo, a Zacarias; os que avisaram os magos do nascimento do Menino, não foram
manifestações espíritas? Estes anjos não eram deuses, nem santos da igreja e
nem cremos que o Catolicismo afirme fossem demônios; logo, a igreja não é
sincera com os seus fieis, ensinando-lhes que só o diabo dá comunicações.
As
aparições do anjo a Jesus em Getsêmane e de Elias e Moisés no monte Tabor, como
se devem compreender? Os dois últimos não eram espíritos de mortos? Então os
que morrem podem comunicar-se. Logo, a igreja vive a enganar a sua gente quando
afirma que só o diabo se comunica.
O
próprio Jesus aparecendo diversas vezes aos apóstolos e a Paulo no caminho de
Damasco, prova que o espirito pode se comunicar. Os mortos que foram vistos a
andar pela cidade, quando Jesus ressuscitou não eram os espíritos dos que
viveram? Não se tornaram visíveis para provar o júbilo de haver o Mestre
completado a sua obra de regeneração? Portanto, os espíritos podem se
manifestar, logo, a igreja abusa da boa fé porque não ensina a verdade.
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