19b
“À Luz
da Razão”
por Fran Muniz
Pap. Venus – Henrique Velho & C. – Rua Larga, 13 -
Rio
1924
E
nem é outro o Consolador prometido para ensinar todas as coisas, senão a
intervenção espiritual exercida no nosso meio, quando a época é a do apogeu
para as conquistas intelectuais, e a do perigeu para os sentimentos morais.
Propícios
tempos, portanto, são estes para recebermos os mensageiros do Senhor. Lúcida
está a nossa razão para apreendermos os seus ensinamentos e deles sentimos
necessidade premente olhando o fundo do abismo a que iríamos de roldão parar,
se a fúria dos nossos ímpetos de besta humana não tivesse de ser contida e
sofreada.
“Eu
vou mandar-vos o dom que vos está prometido por meu “Pai”, disse Jesus aos apóstolos.
Não
é claro que eram os espíritos superiores que viriam assistir aos discípulos em
suas missões? Não será isso um “dom” do Pai?
O
próprio Lucas afirma que escreveu o seu Evangelho por inspiração “dos que desde o principio viram as coisas
com seus próprios olhos e foram os ministros da palavra”. Esses espíritos,
pois, seriam demônios que inspiraram o evangelista sobre as narrações dos
ensinos do Mestre?
Quando
os discípulos foram enviados a pregar a lei, Jesus lhes disse: “Não vos inquieteis
com o que ides responder à presença dos governadores e dos reis porque o Espírito Santo falará em vós o que
haveis de dizer”. Não é claro que os discípulos eram médiuns que seriam influenciados pela assistência
dos bons espíritos?
O
Espírito Santo, tem-se que admitir
por força de lógica, é um nome coletivo para exprimir a falange de espíritos
luminosos, que são os anjos. Considera-lo Deus ou um terço de Deus que baixasse
às paragens terrestres para vir ditar palavras aos apóstolos, seria presumir
que o Senhor dos mundos, Todo Poderoso, fosse o mais pobre de poderes, que em
ninguém mandasse, que de um servo, ao menos, não dispusesse para transmitir as
suas ordens.
A
Escritura Sagrada nos diz ainda que, no
devido tempo, os velhos profetizariam, os filhos teriam visões, os moços
sonhariam, etc. É a mediunidade servindo de veículo às comunicações entre
os vivos e os mortos que se está dando por toda a parte do mundo, porque
estamos nos tempos preditos.
Militas
outras provas da lei de comunicação podem ser verificadas no Evangelho, por
isso deixamos de cita-las aqui. Estas são bastantes para fazer compreender que
se Jesus, os anjos, os profetas e os mortos se revelaram em aparições ou visões,
falando e ensinando aos homens, fica definitivamente provada a comunicação
entre o mundo visível e o invisível; portanto os que asseveram ser somente o
diabo que se comunica procedem de má fé e faltam com o respeito até mesmo para
com espíritos superiores.
Essa
descortesia tem concorrido para afastar os sensatos das doutrinas incoerentes,
pois não é possível ser a inteligência de hoje equiparada a da época em que se
organizou a igreja de Roma.
Demais,
começa o tempo do progresso a substituir o do atraso e a protervia (petulância) cede lugar à ciência.
Na
Espanha, um grupo de padres abandonou a igreja romana e constituiu uma
Associação Espírita dando publicidade a todas as hipocrisias eclesiásticas no
livro “Roma e o Evangelho”.
Por
toda parle sucede o mesmo, quase diariamente, com os que, ávidos de liberdade e
fartos de servir ao papa, mandam a religião às urtigas.
Aqui,
nas plagas de Santa Cruz, o Catolicismo caminha num declínio espantoso. É que o
povo vai perdendo a fé nos sacramentos remunerados. Os homens vivem cansados de
dar dinheiro à igreja, e as mulheres, entediadas de ouvir latim, desertam os
templos.
Os
seminários permanecem às moscas, porque a mocidade atual é animada por espíritos
clarividentes que buscam a liberdade e o progresso pelo trabalho. A batina é o
ergástulo da inteligência e o padre já se torna um motivo de chufas e pilherias
para os próprios que vão às igrejas.
É
surpreendente o número de sacerdotes romanos que, atualmente, frequentam
centros espíritas.
São
os que, confundidos por se verem ministros de Deus, preferem se tornar agora
discípulos de Cristo.
À
proporção que o Espiritismo intensifica as suas fileiras, a religião de hóstias
e rosários vê, atônita, debandar o seu exército. É a vitória da luz contra as
trevas, “separando o joio do trigo” e “os bodes das ovelhas.”
De
todos os lados. atritam-se as armas do progresso com as do atraso e, de quando
em vez, estrondeia do Vaticano a voz de comando:
Avante!
Firam! Firam com a palavra escrita e falada, visto não ser mais possível matá-los
com o veneno e a fogueira!
Então
cresce o fervet opus. O pavor domina
e encoleriza todas as batinas e batinistas. Sua eminência resolve esmagar o “Colosso”
atirando-lhe bulas ou bolas de papel. Irrisão! O “Colosso” sobe sempre, o “Colosso”
se tornará infinitamente grande e um dia, símbolo realizado da escada de Jacó,
ligará terra e céu - o homem e Deus.
Em
todos os templos ribombam as vozes iracundas dos vassalos do papa, que
esquecendo as palavras e os exemplos de amor e perdão do Cristo, atassalham (fazer em pedaços) a honra e a dignidade dos
espíritas, chamando-os de bandidos, ladrões e quejandos (similar) epítetos (postos de
lado).
Outros
publicam “Catecismos anti espíritas” para derrocar a nova doutrina, mas em vez
de combate-la com a ciência e o raciocínio, apresentam estas armas ferrúginas e
bolorentas: Adão e Eva, serpente do Paraiso, diabos e milagres.
O
livro é trocista e mal educado, pois nele, os espíritas são também acoimados de
broncos, estúpidos, desonestos e até de coiceiros (pessoa grosseira que responde com maus modos) . É um vocabulário próprio do seu autor de batina. Em todo caso, pode
estar certo de que alguma coisa conseguiu: Acumulou a compaixão de todos os detratados.
Os
beatos obedecem, também, é imposição romana e entram na liça.
Aparece
para logo os ”Casos reais a registrar” com o fim de demolir a Ciência de Luz. O
autor, porém, não foi mais comedido que o seu colega de estola: distrata, igualmente,
os espíritas e faz pilhéria de pantomina. Contudo alguma coisa do opúsculo se
aproveita, ficando como se fica sabendo de proclamar o autor! “que os seus
talentos são já bastante conhecidos”, que é erudito em latim e “sobrinho
de um bispo”. Retire a maior utilidade desse parentesco e, dos outros dons, são
os nossos votos e ainda nos sirva o ensejo para louva-lo na habilidade revelada
do aproveitamento do tempo quando se inculca sumidade médica para melhor reclamo do seu consultório.
Mas,
apesar dessa pugna ingente, titânica, encarniçada, o Espiritismo recrudesce,
avulta, fortifica-se, irrompe, e, por toda a parte se estende: invade templos,
devassando trevas e mistérios, penetrando até no próprio Vaticano onde foi
levado por um médico de Sua Santidade -
o Dr. Lapponi.
*
É
o sinal dos “tempos” preditos. E o Brasil está inscrito entre as nações para
ser um dos pioneiros no advento espiritual. Proclamamos isto, sem ligação
alguma a ideais nacionalistas, que nos seria vedado possuir pelos conhecimentos
que temos da reencarnação; mas porque não há negar que nenhum
outro povo nos excede em sentimentalismo - o que já quer dizer Espiritualismo.
Dentro em pouco o nosso caro país dará o exemplo ao mundo, mostrando que não é
por acaso que se acha sob a égide de um CRUZEIRO DE ESTRELAS.
*
Mas,
elevemos os nossos corações!..
Ofertemos
este livro aos irmãos de todos os credos.
Há
de nossa parte a maior sinceridade na dedicatória. Uma ou outra vez, sentimos
bem, a nossa voz aumentou de timbre. Teve exaltações. Que nos perdoem estes
excessos e os atribuam só à imperfeição humana que se deixou tomar de assomos
de vaidade, arrogando-se primazia de irmão mais velho, a quem os outros devem
ouvir os ralhos.
Dos
sumos pontífices da igreja católica não há que apelar para a sua misericórdia:
Excomungados somos por atos e pensamentos.
Louvado
seja o Senhor por tanta graça! Louvado seja o Amantíssimo Pai que permite ao
mais obscuro dos filhos executar os seus conselhos, humilhando-se no amor aos
inimigos: Por eles roga, por eles intercede a sua fraca súplica.
Claridade,
Pai, em nossos espíritos e possa em breve chegar até Vós o cântico de amor
desferido em prece, uníssono de sentimento, acorde na harmonia do texto bíblico
“Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!”
Fim
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