quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Efeitos da Primeira Queda



Efeitos da
Primeira Queda

            Dois anos depois de sua desencarnação, o Padre Lacordaire fez um sermão profético que, infelizmente, se está cumprindo. Disse o grande pregador, em mensagem espírita publicada por Allan Kardec em "O Evangelho segundo o Espiritismo":

            “Vimos preparar os caminhos para que as profecias se cumpram. Quando o Senhor vos der uma manifestação mais retumbante de sua clemência, que o enviado celeste já vos encontre formando uma grande família; que os vossos corações, mansos e humildes, sejam dignos de ouvir a palavra divina que ele vos vem trazer; que ao eleito somente se depare em seu caminho as palmas que aí tenhais deposto, volvendo ao bem, à caridade, à fraternidade. Então, o vosso mundo se tornará o paraíso terrestre. Mas, se permanecerdes insensíveis à voz dos Espíritos enviados para depurar e renovar a vossa sociedade civilizada, rica de ciências, mas, no entanto, tão pobre de bons sentimentos, ah! então, não vos restará senão chorar e gemer pela vossa sorte."

            Realmente permaneceram insensíveis à voz dos Espíritos todos os povos da velha Europa e, precisamente oitenta anos depois dessa profecia de Lacordaire, todo o Velho Mundo se achava envolto nas trevas e ouvindo o ranger de dentes de verdadeiro inferno. Era o 1943, com os maiores horrores a que a Humanidade já assistiu. E só Deus sabe quando serão lá ouvidos os Mensageiros do céu, ou até quando o progresso tenha que ser impulsionado pelas mais penosas calamidades sociais.

            Com o imenso trabalho realizado pelos Espíritos superiores por ocasião da missão de Allan Kardec, toda a França poderia ter-se transformado e continuar liderando uma nova civilização; mas não foi o que se deu: o Espiritismo regenerador transformou-se pela vaidade humana em simples ciência experimental, cheia de dúvidas e negações, polêmicas e lutas... Finalmente vieram as grandes dores fazer a sua obra e esta continua... Mas virá nova onda de misericórdia divina em tempo oportuno e então, já trabalhados pela dor, os homens terão ouvidos de ouvir e olhos de ver.

            A substituição do Espiritismo evangélico pela orgulhosa metapsíquica foi a primeira queda do homem ao receber a Nova Revelação e, em seu enfatuado orgulho, pretender transformar a Revelação em simples ciência experimental para satisfação da curiosidade de um intelectualismo estéril.

            A obra imensa de um grande Missionário foi desdenhosamente abandonada na pátria de Joana d'Arc, sem mesmo se cogitar de sua alta significação moral e social. Até a palavra Espiritismo pareceu, à comunidade francesa, indigna de pronunciar-se, e tratou-se, ali, de cunhar novos vocábulos mais "científicos" ou pelo menos mais pretensiosos.

            Mas Deus não abandona seus filhos. Virá, em tempo oportuno, nova chuva de bênçãos, nova ocasião de se aprenderem as mesmas verdades que foram reveladas de 1857 a 1869.

            Acha-se hoje conosco no Brasil a grande responsabilidade que em 1870 pertencia aos nossos irmãos franceses. Teremos a mesma desdita de repelir a misericórdia divina e nos enveredarmos pelo processo horrível das dores coletivas? Esperemos que não; o Espiritismo, no Brasil, conserva seu caráter essencialmente evangélico e já produz alguns frutos de amor ao próximo. O "cientificismo" estéril não encontrou ambiente entre nós. Várias vezes anunciaram os Espíritos superiores que o Espiritismo cristão desenvolverá sua missão futura partindo do Brasil e o desenvolvimento que vai tomando em nosso país o Esperanto, entre os espíritas, confirma aquelas previsões, pois que o Brasil só poderá cumprir grande missão mundial depois que estiver em pleno funcionamento uma língua neutra internacional, pois que o nosso idioma nacional dispõe de possibilidades de projeção internacional como o francês no século 19.

            Oremos e vigiemos para que possamos restituir à França o patrimônio imenso que lhe devemos. Por mercê de Deus, já estamos remetendo aos esperantistas franceses as primeiras páginas de Kardec impressas em Esperanto. "O Livro dos Espíritos" será lido em muitas cidades francesas por pessoas que nada sabem de Espiritismo, além do que dizem os adversários da doutrina. Tais pessoas terão a surpresa de notar que o Espiritismo não é nada do que dizem seus inimigos, porém a mais sublime Doutrina que o homem já possuiu. Não tenhamos ilusão de êxitos rápidos. Muitos esperantistas continuarão indiferentes ao nosso trabalho ou o hostilizarão. O tempo tem de fazer a sua obra para realizar-se a esperança do Padre Lacordaire: "formar a Humanidade uma grande família". Os dois instrumentos necessários são o Espiritismo e o Esperanto, o pensamento e a linguagem.


Marcílio Gonzaga
Reformador (FEB) Maio 1946



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