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sábado, 8 de dezembro de 2012

18. "À Luz da Razão' por Fran Muniz






18
“À Luz da Razão”

por   Fran Muniz

Pap. Venus – Henrique Velho & C. – Rua Larga, 13 - Rio
1924


A REENCARNAÇÃO


            A reencarnação, lei sublime do Criador, reveladora da sua infinita bondade, tem suscitado dúvidas e controvérsias, não obstante a clareza do seu texto e não obstante, mais, estar o Evangelho cheio de parábolas que a ela fazem alusão.

            Sem o conhecimento de tal lei, que hoje temos revelada pelo Espiritismo, permaneceriam essas parábolas com o seu sentido obscuro.

            E é bem de notar que, em todas elas e só nelas pôs Jesus a observação: Ouçam os que tem ouvidos para ouvir.

            Nem foi por menos que a igreja se viu embaraçada para explicar a passagem em que se apresenta a Jesus um cego de nascença...

            A igreja católica, que desconhece a reencarnação, saiu-se desastradamente a esclarecer estas palavras ela que admite só uma alma novinha para cada corpo) e afirmou:  horresco referens! (tenho horror em ter que dizê-lo) que aquela criança vinha assim punida por haver pecado no ventre materno!         

            Para o Catolicismo, especialmente, essa Lei é um terrível escolho de que ele procura afastar-se por todos os meios, a fim de evitar que a sua nau afunde com toda a carga de dogmas e sacramentos.

            Não se atemorize, porém, a igreja de Roma, porque o seu barco há de soçobrar, fatalmente, não sobre o parcel da reencarnação, mas, de encontro ao recife da própria consciência dos seus adeptos. Não está longe esse naufrágio: aguarde-o com calma e resignação.

            Mas, em quanto a doutrina espírita não começa a prestar o salvamento desses náufragos, colhidos pelas ondas vorazes da ambição e da ignorância, tentemos, em breve resumo, esclarecer as vantagens e a justiça da reencarnação, e vejamos se, ao menos, os católicos criteriosos podem compreende-la:

            Deus na sua infinita bondade, “não quer que nenhum dos seus filhos se perca”; por isso estabeleceu a Lei da reencarnação, para que os perdidos, hoje, possam ser salvos, amanhã. Chamando a todos “seus filhos”, não pode permitir que a dor se perpetue para uns enquanto desfrutam outros a felicidade eterna. A crença de semelhante iniquidade só podia germinar no cérebro dos que desconhecem os infinitos atributos do Criador.

            A alma que não atingiu o grau de aperfeiçoamento numa existência, reencarna tantas vezes quantas forem precisas para o complemento da purificação inerente a cada planeta. Isso é justo e racional; um pai não atira ao fogo o filho que tiver defeitos, mas procura meios de corrigi-lo e aperfeiçoa-lo.

             A reencarnação tem por fim lapidar o espírito. É a lei da evolução a que tudo obedece.

            De reencarnação em reencarnação, sempre se avança um passo na longa estrada do progresso; destarte, o que mais se esforça, mais depressa termina as provações num planeta para galgar a outro e assim sucessivamente, até chegar a espírito puro ou bem aventurado.

            O espírito embora reencarnado em mundo superior, pode voltar a reencarnar na Terra, não só para desempenhar uma missão que é, aliás, um progresso próprio, como também por expiação. É precisamente isso a figura do Paraíso perdido por Adão, e cujo sentido real consiste em ser o espírito, que prevarica,  expulso de um planeta superior para encarnar na Terra ou outro mundo equivalente; todavia, pode o espírito deixar de habitar todos os mundos, visto que, sendo estes muitos e solidários entre si, o que não se realiza nuns, pode se realizar em outros.

            Para atuar sobre a matéria, os espíritos são revestidos de matéria. É o corpo astral, no dizer de S. Paulo e a que chamamos perispírito, o qual é conservado em todos os mundos onde estiverem os espíritos; mas essa matéria é sempre relativa á atmosfera de cada planeta, isto é, mais ou menos material.

            “Há muitas moradas na casa de meu Pai”,  mas não podemos ainda conhecer o estado físico e moral de cada uma; a nossa inferioridade nos perturba a inteligência ao tentarmos penetrar nesse segredo para o qual não dispomos de sentidos suficientes.

            Nessas moradas que são os mundos em diversos graus de superioridade, a matéria que serve de corpo aos espíritos, é menos densa e eles não se arrastam na superfície do solo, para se locomoverem; as necessidades físicas são menos grosseiras e não há destruição de seres vivos para o alimento; os espíritos são mais livres e tem percepções que nos são desconhecidas.

            As paixões animais desaparecem e o egoísmo é substituído pelo sentimento fraternal. As guerras são desconhecidas; os ódios e as discórdias não existem, porque os espíritos vivem em sociedades mais perfeitas.

            Os espíritos que habitam mundos elevados, podem se transportar a outros planetas, desde que isso lhes seja permitido pelo seu respectivo grau de elevação.

            Em urna nova encarnação, pode o espírito sofrer um estacionamento, mas nunca, retrogradar. Assim, a alma de um homem de bem jamais poderá revelar sentimentos de bandido; mas pode, ao contrário, a alma deste revestir-se de qualidades superiores. Neste caso, dá-se uma recompensa do arrependimento.

            Os espíritos elevam-se gradualmente na hierarquia e nunca descem do ponto a que chegaram. Nas diferentes reencarnações, a alma que tivesse animado um soberano na Terra, pode, mais tarde, animar o mais humilde operário e vice versa; temos disso a mais eloquente prova na disparidade entre Herodes, que era rei e Jesus, simples carpinteiro.

            O espírito de uma criança é, às vezes, mais adiantado do que o de um adulto; vemos a cada passo, crianças com discernimento superior ao dos próprios pais. As que morrem em tenra idade podem pertencer ou não aos graus superiores: depende do adiantamento que possuíam antes da última existência. Não quer isso dizer, porém, que se achem isentas das provações que tiverem de sofrer, pois voltarão novamente, se tanto for necessário ao seu aperfeiçoamento.

            A morte da criança pode ser o complemento de uma existência anterior interrompida ou causada por descuido ou livre arbítrio próprio ou de outrem, mas é sempre uma provação para os pais ou para quem deva merece-la.

            A teoria de uma única existência, ficando a alma com a sorte futura para sempre fixada, tiraria o mérito de uma parte da espécie humana que morre na infância, para gozar, sem nenhum custo, da felicidade eterna, quando a outra parte, para fruir as mesmas regalias, é submetida a duros sofrimentos. Tal condição não se poderia coadunar com a  justiça de Deus. Não. A lei da reencarnação distribui um futuro comum, porque há igualdade para todos, sem exceção nem favor para ninguém. Os retardatários só podem queixar-se de si mesmos.

            Vemos, por toda a parte, crianças que, precocemente, demonstram o instinto da astúcia, da hipocrisia, da perfídia, do latrocínio e até do homicídio, não obstante os bons exemplos que as cercam. Isso é uma prova evidente de que tais perversidades são o estigma da inferioridade do espírito, provindo de existências anteriores, visto que a educação atual nada influiu no caso.

            Esses espíritos pouco adiantados, porém, com a nova encarnação, sofrem as consequências dos seus vícios de outrora e ao mesmo tempo se aperfeiçoam à proporção que se vão desfazendo dos seus erros passados e presentes.

            Assim a lei é a mesma para todos e a justiça de Deus se estende com perfeita igualdade.

            Os espíritos não tem sexo como nós o entendemos, porque, entre eles, o amor e a simpatia são sentimentos superiores ao amor fraterno, que nós conhecemos. Pouco importa se os espíritos encarnaram homem ou mulher: isso depende da espécie de provação que tem de passar. Além de que, eles devem progredir em tudo, evoluir por todos os meios.

            A teoria de que a doutrina da reencarnação destrói os laços da família, é o maior dislate que tem sido proclamado pelos detratores do Espiritismo, pois bem, ao contrário disso, a lei das sucessivas existências, estreita mais esses laços e concorre para a fraternidade universal. O nosso parentesco remonta a quem e além da nossa atual existência: as simpatias que experimentamos por certas pessoas que nos parecem estranhas, demonstrem perfeitamente a possibilidade de que houvessem sido nossos parentes em outras existências.

            Ao homem orgulhoso não convém admitir que tivesse sido irmão, filho ou pai de um indigente atual: isso lhe traria rubor às faces; mas quer queira quer não, assim tem de ser porque Deus não lhe virá pedir opinião para organizar suas leis.

            Os pais transmitem aos filhos a semelhança física mas não moral porque os espíritos de ambos são individuais e diferentes; o corpo provém do corpo, mas o espírito não procede do espírito. Quando, há, porém semelhança moral - entre pai e filho, é que ambos são espíritos simpáticos que se atraem pela afinidade de sentimentos.

            O espírito do pai tem por missão desenvolver o do filho, pelos exemplos e pela educação: aqueles que prevaricam nessa tarefa serão culpados e portanto, responsáveis.

            Se a aproximação dos espíritos se faz por simpatia, a vida em comum, para eles, torne-se feliz. Daí a identidade de caráter que existe entre irmãos. Quando, porém, entre diversos irmãos existe dissemelhança de sentimentos, indica isso que espíritos perversos ou atrasados quiserem também vir lutar juntos na vida terrena, para tirar maior proveito da boa aproximação, mas que não resistiram às suas mais tendências.

            A afinidade de caráter reúne em grandes famílias as diversas nações; eis como se explica a semelhança de costumes que distingue cada povo de per si.

            Durante a encarnação, os espíritos podem esquecer. a principio, os conhecimentos obtidos em cada existência: mais tarde, porém, tem dessa aprendizagem a intuição para os auxiliar no progresso e, em cada nova existência, tomam por ponto de partida o último grau de conhecimento deixado na anterior, sem o que estariam sempre a recomeçar e, portanto, sem progredir.

            Não é, porém, imprescindível haver constante analogia entre duas existências sucessivas, podendo o espírito vir muito mais adiantado, visto que haverá aprendido no intervalo de uma a outra encarnação.

            Diz-se, falando de certas criaturas, com aprendizado fácil para determinados conhecimentos, que tem a ‘bossa’ da ciência, das artes, etc.

            Que significação poderia ter isso, se não dispuséssemos da lei da reencarnação?

            De fato, quem mais facilidade encontre em aprender é que está apenas recapitulando a lição. O consagrado artista de hoje, foi um medíocre poeta na existência última.  E o benemérito descobridor de um serum, e o genial inventor de um grande benefício para a humanidade, há quantos séculos viriam preocupados com essas ideias?

            O instinto que tem o selvagem da existência de um Deus é uma recordação do que ele conservou como espírito, antes da encarnação. Devidas ainda à recordação, são certas crenças da doutrina espírita que é tão velha como o mundo: essa consciência da vida espiritual é, porém, falseada pelo orgulho e conveniências interesseiras.

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