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quinta-feira, 14 de julho de 2011

'Animais'




 Sobre os Animais


Emmanuel por Chico Xavier
mensagem recebida em 02.10.1936.
 Reformador (FEB) 16.01.1937
               
            Com o advento das idéias espiritistas no mundo, torna-se um estudo obrigatório  e para todos os dias o grande problema que implica o drama da evolução anímica.
            Será a alma criada no momento da concepção na mulher, segundo as teoria anti - reencarnacionistas? O Espírito já é criado, pela Potência Suprema do Universo, apto a ingressar nas fileiras humanas? E os pensadores se voltam para os vultos eminentes do passado. As autoridades católicas valem-se de Tomás de Aquino que acreditava na criação da alma no período de tempo que precede ao nascimento de um novo ser, esquecendo-se dos grandes padres da antigüidade, como Orígenes, cuja obra é um atestado eterno, em favor da verdade da preexistência.
            Outras doutrinas religiosas buscam a opinião falível da sua ortodoxia e dos seus teólogos, relutando em aceitar as realidades luminosas da reencarnação.
            Pascal, escrevendo em tenra idade o seu tratado sobre os cones e inúmeros Espíritos de escol, laborando com a sua genialidade precoce nas grandes tarefas para que foram chamados à Terra, constituem uma prova eloqüente, aos olhos dos menos perspicazes e ao estudo de mentalidades tardas no raciocínio, a prol da verdade reencarnacionista.
            O homem atual recorda instintivamente os seus labores e as suas experiências do passado. A sua existência de hoje é a continuação de quanto efetuou nos dias do pretérito. As conquistas de agora representam a soma dos seus esforços de antanho. E a civilização é a grande oficina onde cada um deixa estereotipada a sua própria obra. Contempla-se, porém, até hoje, a sombra dos princípios, como noite insondável sobre abismos. Os desencarnados da minha esfera não se acham, por enquanto, indenes do socorro das hipóteses. A única certeza obtida é a da imortalidade da vida e, como não nos é possível absorver a essência da sabedoria sem iniciativas individuais e sem ardorosos trabalhos, discutimos e estudamos as nobres questões que, em Terra, escaldaram o nosso pensamento. Um desses problemas, que mais assombram pela sua singular transcendência, é o das origens. Se, na terra, o progresso humano vem através de dois caminhos: o da ciência e o da revelação espiritual, ainda não encontramos, em nossa evolução relativa nenhuma estrada estritamente científica para determinar o Alfa do Universo senão dentro das hipóteses plausíveis. Contudo, saturados da mais profunda compreensão moral, copiosa é a nossa fonte de revelações, a qual representa para nós um elemento granítico, servindo de base à sabedoria de amanhã.
            Se bem que haja, no próprio círculo dos estudiosos do espaço, o grupo dos opositores das grandes idéias de evolucionismo do princípio espiritual, através das espécies, sou dos que o estudam carinhosa e atentamente. Eminentes naturalistas do mundo, como Charles Darwin, vislumbraram grandiosas verdades, levando a efeito preciosos estudos que, aliás, se prejudicaram pelo excessivo apego à ciência terrena, que se modifica e transforma como os próprios homens.
            Mas, posso afirmar, sem laivos de dogmatismo que, oriundos da flora microbiana, em séculos remotíssimos, não poderemos precisar onde se encontra o cume das espécies ou da escala dos seres, no pentagrama universal. E, como o objetivo desta palestra é o estudo dos animais, nossos irmãos inferiores, sinto-me à vontade para declarar que todos nós já nos debatemos no seu acanhado círculo evolutivo.
            Eles são nossos parentes próximos, apesar da teimosia de quantos persistem em não os reconhecer como tais. Considera-se, às vezes, uma afronta ao gênero humano a aceitação dessa verdade. E pergunta-se: poderíamos admitir um princípio espiritual nas arremetidas furiosos das feras indomesticadas? Poderia haver um raio da luz de Deus na serpente venenosa, ou na astúcia traiçoeira dos carnívoros? Semelhantes inquirições contudo, são filhas de um entendimento pouco atilado. Atualmente, precisamos modificar todos os conceitos acerca de Deus, porquanto nos falece autoridade para defini-Lo e individualiza-lo. Deus existe. Eis a nossa luminosa afirmação, sem podermos, todavia, classificá-lo em sua essência. Os que nos interpelam dessa forma olvidam as histórias das calúnias, dos homicídios, das perversidades humanas. Para que o homem se conservasse nessa posição especial de perfectibilidade única, deveria representar a entidade irrepreensível dentro do orbe, onde foi chamado a viver. Tal não se verifica e, diariamente comentais os dramas dolorosos da humanidade, os assassínios, os nefandos infanticídios, efetuados em circunstâncias nas quais, muitas vezes, as faculdades irracionais operariam com maior benignidade, clemência e conhecimento das leis que regem o mundo.
            Os animais têm a sua linguagem, os seus afetos, a sua inteligência rudimentar com atributos inumeráveis. São os irmãos mais próximos do homem, merecendo por isso a sua proteção e o seu amparo.
            Seria difícil ao médico legista determinar, nas manchas de sangue, qual o que pertenceu ao homem ou ao animal, tal identidade dos elementos que o compõem. A organização óssea de ambos é quase a mesma, variando apenas na sua conformação observando-se diminuta diferença nas vértebras.
            O homem está para os irracionais simplesmente como um superior hierárquico.
            Nos animais, desenvolvem-se igualmente as faculdades intelectuais. Os sentimentos de curiosidade é, na maioria deles, altamente avançado e muitas espécies nos demonstram as suas elevadas qualidades, exemplificando o amor conjugal, o sentimento de paternidade, o amparo ao próximo, as faculdades de imitação, o gosto da beleza. Basta que se possua um sentimento acurado de observação e de análise.
            Eminentes Espíritos trouxeram à luz o fruto de suas interessantes pesquisas, que para vós todos são de inigualável valor. Entre muitos, citaremos Darwin, Gartiolet e inúmeros outros estudiosos, dedicados a esses notáveis problemas. Os animais, mesmo os mais ferozes, têm para com a sua prole ilimitada ternura. Aves existem que se deixam matar, quando não se lhes permite a defesa das suas famílias. Os cães, os cavalos, os macacos, os elefantes deixam entrever apreciáveis qualidades de inteligência. É conhecido o caso dos cavalos de um regimento que mastigaram o feno para um dos seus companheiros inutilizado e enfermo. Conta-se que uma fêmea de cinocéfalo, muito conhecida por sua mansidão, gostava de recolher macaquinhos, gatos e cães, dos quais cuidava com admirável carinho.  Certo dia, um gato revoltou-se contra a sua benfeitora, arranhando-lhe o rosto; mãe adotiva, revelando a mais refletida inteligência, examinou-lhe as patas e lhe cortou com os dentes as unhas pontiagudas. Constitui um fato observável a sensibilidade dos cães e dos cavalos ao elogio e às reprimendas.
            Longe iríamos com as citações.
            O que podemos assegurar é que sobre os mundos, laboratórios da vida no universo, todas as forças naturais contribuem para o nascimento do ser. De milênios remotos viemos todos nós, em pesados avatares.
            Da noite, ainda para nós insondável, dos grandes princípios, emergimos para o concerto da Vida. A origem constitui para nós um mistério cuja solução nos é, por enquanto, inacessível, mas sabemos que todos os seres inferiores e superiores participam do patrimônio da Luz universal.
            Em que esfera estivemos um dia esperando o desabrochamento de nossa racionalidade? Desconheceis ainda os processos, os modismos dessas transições, dessas passagens pelas espécies, evoluindo sempre, buscando a perfeição suprema e absoluta; mas, um laço de amor nos reúne a todos diante da Entidade Suprema do Universo. É certo que o Espírito jamais retrograda, constituindo uma infantilidade as teorias da metempsicose dos egípcios, na antigüidade.
            Porém, se é impossível o regresso da alma humana ao círculo da irracionalidade, recebei como obrigação sagrada, como alto dever amparar os animais, não obstante a sua posição inferior no planeta.
                Estendei até eles a vossa concepção de solidariedade e o vosso coração compreenderá, mais profundamente, os grandes segredos da evolução, entendendo os maravilhosos e doces  mistérios da Vida.




Animais e Sofrimento


Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador Jan 1971

                Se os animais estão isentos da lei de causa e efeito, em suas motivações profundas, já que não têm culpas a expiar, de que maneira se lhes justificar os sacrifícios e aflições?
            Assunto aparentemente relacionado com injustiça, mas a lógica nos deve orientar os passos na solução do problema.
            Imperioso interpretar a dor por mais altos padrões de entendimento.
            Ninguém sofre, de um modo ou de outro, tão somente para resgatar o preço de alguma coisa. Sofre-se também angariando os recursos preciosos para obtê-la.
            Assim é que o animal atravessa longas eras de prova a fim de domesticar-se, tanto quanto o homem atravessa outras tantas eras para instruir-se.
            Que mal terá praticado o aprendiz a fim de submeter-se aos constrangimentos da escola?  E acaso conseguirá ele diplomar-se em conhecimento superior se foge às penas edificantes da disciplina?
            Espírito algum obtém elevação ou cultura por osmose, mas sim através de trabalho paciente e intransferível.
            O animal igualmente para atingir a auréola da razão deve conhecer benemérita e comprida fieira de experiências que terminarão por integrá-lo na posse definitiva do raciocínio.
            Compreendamos, desse modo, que o sofrimento é ingrediente inalienável no prato do progresso .
            Todo ser criado simples e ignorante é compelido igualmente a lutar a fim de burilar-se devidamente.
            O animal se esforça para obter as próprias percepções e estabelecê-las.
            O homem se esforça avançando da inteligência para a sublimação.
            Dor física no animal é passaporte para mais amplos recursos nos domínios da evolução.
            Dor física, acrescida de dor moral no homem, é fixação de responsabilidade em trânsito para a Vida Maior.
                Certifiquemo-nos, porém, de que toda criatura caminha para o reino da angelitude, e que, investindo-se na posição de espírito sublime, não mais conhece a dor, porquanto o amor ser-lhe-á sol no coração, dissipando todas as sombras da vida ao toque de sua própria luz.


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