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domingo, 24 de julho de 2011

Figner e Chico Xavier


Não é inédito mas que é bom de recordar... ah... isso é...


      "Em carta enviada ao então presidente da Federação Espírita Brasileira, Wantuil de Freitas, desabafou:
      
     "- Uma pessoa importante é sempre perigosa. Se pode trazer muito bem, pode trazer igualmente muito mal". E revelou sua postura diante dos poderosos: a de funcionário do Itamaraty. Com diplomacia, ele evitava atritos e conquistava aliados.

      O empresário carioca Frederico Figner, proprietário da Casa Edison e introdutor do fonógrafo no Brasil, era um deles. Tão rico quanto espírita, ele trocou cartas com Chico Xavier dezessete anos seguidos. E o ajudou muito. Sem suas doações, o datilógrafo da Fazenda Modelo não conseguiria atender tanta gente.

      A cada mês, o filho de João Cândido gastava o correspondente a três vezes o seu salário só com assistência social. Para Chico, os ricos deveriam ser considerados "administradores dos bens de Deus". Ao longo de sua vida, ele ajudaria muitos milionários "benfeitores" a canalizar os "tesouros divinos" para a caridade.

     
Numa de suas idas a Pedro Leopoldo, Figner perguntou a Chico qual era o seu ideal. Ouviu dele a resposta espiritualmente correta:
    
       - Meu ideal é viver o Evangelho de acordo com Nosso Senhor Jesus Cristo e servir humildemente ao homem.

     Figner insistiu:
      
     - Está certo, está certo. Esse é o seu ideal espiritual. Mas eu queria saber se há aqui no nosso mundo mesmo, o material, algum objetivo que você gostaria de alcançar.

      O empregado de Rômulo Joviano foi franco:
     
      - Ora, meu caro, se dependesse de mim, eu gostaria de ter uma renda de trezentos mil-réis mensais para poder me dedicar aos necessitados livre e despreocupado em relação à vida material.

      Figner nunca mais tocou no assunto. Continuou acumulando milhões, enquanto escrevia artigos em jornais espíritas contra o catolicismo e a favor do espiritismo.

      Em 1947, ele morreu. Antes de se retirar para o outro mundo, deixou para as filhas, em testamento, 35 mil contos de réis e reservou cem contos para Chico. A quantia tinha razão matemática: se o funcionário da Fazenda Modelo depositasse o dinheiro no banco, a soma renderia, em juros, exatos trezentos mil-réis mensais.

      Quando Chico abriu o envelope enviado pelo advogado da família Figner e encontrou o cheque, ficou em pânico:
 
    - Senhor? Que será que este dinheiro quer fazer comigo? A herança chegou logo após uma reunião de família das mais tensas.

       João Cândido não tinha como pagar o imposto da casa onde moravam. Deviam oito mil-réis ou seja, 7% do total mensal que estavam prestes a receber apenas de juros. O escrevente da Fazenda Modelo nem pensou duas vezes. Enfiou o cheque num envelope e o mandou para o endereço de origem. João Cândido se arrependeu amargamente de não ter internado o filho enquanto era tempo. Já não dava mais. O garoto tinha 37 anos.

        Dias depois, os cem contos voltaram às mãos de Chico Xavier, acompanhados de uma carta das filhas de Figner. Não aceitariam o dinheiro de volta, iriam cumprir as ordens do pai, apesar de serem católicas. Afinal de contas, foi o último desejo dele.

      Chico já sabia dizer "não". E insistiu na recusa. Nova devolução. Nova carta. O toma-lá-dá-cá só terminou quando Chico Xavier sugeriu às filhas de Figner que elas enviassem o dinheiro direto para a Federação Espírita Brasileira. A quantia ajudaria na instalação de novas oficinas para o livro espírita.

      Em carta a Wantuil de Freitas, ele comunicou a doação e ainda se deu ao trabalho de tranqüilizar o presidente da FEB: Nada me falta e não é sacrifício nenhum da minha parte, porque, providencialmente, Jesus me aproximou do nosso amigo Manoel Jorge Gaio, que tem me auxiliado a sustentar a luta.

      Se os deveres aumentaram para mim, aumentou a sua proteção, porque o Sr. Gaio me provê do que preciso. Sua senhora, D. Marietta Gaio, chama-me 'filho", ajudando-me também com sua ternura e abnegação.

      Chico pedia apenas um favor ao amigo: discrição. Obedecia a uma orientação de Emmanuel: "Fazer com uma mão o bem, de tal forma que a outra mão não veja". O segredo vazou. E Chico foi "recompensado" com uma série de cartas anônimas endereçadas contra sua decisão de dispensar a herança. Os adjetivos mais educados eram "pedante", "ingrato", "orgulhoso".

     
O destinatário já estava acostumado. E se consolava:
 
  
      - O que eu preciso é de um bom travesseiro na consciência para dormir com tranqüilidade, e esse tesouro, graças a Jesus, não me tem faltado. 

      Quatro meses depois, Chico recebeu a visita de Frederico Figner. O ex- milionário apareceu do além, pronto para colocar no papel suas primeiras impressões sobre o outro mundo. Já tinha até um título na cabeça para suas memórias: Voltei.

      Voltou para o "outro mundo" decepcionado. Chico recusou a missão e pôs a culpa em Emmanuel. Seu guia considerava o projeto prematuro. Só dois anos mais tarde o livro chegou às lojas. Mas, antes, o escritor submeteu os originais às filhas do empresário. Uma medida de segurança para evitar um "caso Humberto de Campos II".

      Sorte dele. As herdeiras do ex-milionário ficaram revoltadas com o texto. Não acreditaram numa só palavra sobre o dia-a-dia do pai no outro mundo. O morto vibrava com a bênção de ter se libertado das "correntes materiais" e comemorava o fato de estar mais vivo do que nunca. Para elas, tudo não passava de invenção de Chico.

     O livro foi publicado.

     O título continuou o mesmo, mas o nome do autor mudou bastante. Virou Irmão Jacob. Figner não conseguiu mostrar aos amigos empresários o quanto era imortal, indestrutível. Chico Xavier fechava os olhos para os Céticos e jogava no papel frases assinadas por mortos ilustres."

Fonte:


2 comentários:

  1. Que bela história... deve ser contada sempre que se quiser dar exemplo de um homem de bem... E que tinha muitos bens... Que bom que a FEB está homenageando Figner nos 150 anos de seu nascimento... E em 19 de janeiro próximo, de 2017, lembraremos os 70 anos de sua desencarnação... No além, lemos em Voltei, que sua aura se agigantou, o que o surpreendeu sobremaneira....

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  2. Sem dúvida, um grande personagem do Espiritismo brasileiro no século XX. Enfrentou a riqueza e suas armadilhas como quem já sabia de seu caráter provacional.

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