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sábado, 23 de julho de 2011

'A Samaritana'


            A Samaritana
                                   
         4,1  O Senhor soube que os fariseus tinham ouvido dizer que Ele recrutava e batizava mais discípulos que João. 4,2  (Se bem que não era Jesus que batizava, mas seus discípulos) 4,3  Assim Ele deixou a Judéia e voltou a Galiléia. 4,4 Ora, devia passar pela Samaria. 4,5 Chegou, pois, a uma localidade da Samaria, chamada Sicar, junto das terras que Jacó dera a seu filho  José. 4,6 Ali havia o poço de Jacó. E Jesus, fatigado da  viagem, sentou-se à beira do poço. Era pelo meio dia. 4,7 Veio uma mulher da Samaria tirar água. Pediu-lhe Jesus: “ -Dá-Me de beber!” 4,8  (pois os discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos) 4,9 Aquela Samaritana disse-Lhe: -Sendo Tu judeu, como pedes de beber a mim que sou samaritana? 4,10  Respondeu-Lhe Jesus: “ -Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que Te diz: “ -Dá-Me de beber!”, certamente Lhe pedirias tu mesma, e Ele te daria água viva.” 4,11 -És, porventura, maior do que nosso pai Jacó, que nos deu esse poço, do qual ele mesmo bebeu e também os seus filhos e os seus rebanhos? 4,12 Respondeu Jesus: “ -Todo aquele que beber desta água, tornará a ter sede. 4,14 mas, o que beber da água que Eu lhe der, jamais terá sede. Mas, a água que Eu lhe der virá a ser nele fonte de água, que jorrará até a vida eterna.”

                Para  Jo (4,1-14), -O que beber da água que Eu lhe der, jamais terá sede - leiamos a Bittencourt Sampaio por Frederico Jr., em “ Jesus perante a Cristandade”:

            “Dá-Me de beber! - disse o Divino Mestre; e a mulher, cheia de assombro, pergunta-lhe como, sendo ele judeu, pedia água a uma samaritana.

            “ -Se  tu  soubesses  quem te pede de beber, tu Me pedirias, e Eu te daria da água viva ”.

            -Como, Senhor - diz a mulher - o poço é fundo e não tens com que tirá-la! Serás Tu, porventura, maior que nosso pai Jacob, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, sua família e seu gado?

            “-Aquele que beber dessa água terá sede” - responde o Divino Mestre, “mas aquele que beber da água que Eu dou nunca mais terá sede, e essa água virá a ser nele uma fonte que salte para a vida eterna.”

            Como se vê, essa cena do Amantíssimo Cordeiro não foi mais do que um pretexto para ensinar aos homens os princípios da verdadeira fraternidade; não foi mais do que um pretexto para dizer aos povos daquele tempo, como aos de hoje, que, para o culto de Deus, não existem lugares determinados, nem na montanha dos samaritanos, nem nos templos de Jerusalém.

            Jesus buscou esse ensejo para, sob o véu da letra, dizer a toda a humanidade que o verdadeiro templo, a verdadeira igreja é o coração do homem, sendo os seios da alma o verdadeiro tabernáculo donde a criatura tira o incenso das orações, no aroma da flor dos belos sentimentos, para elevar-se ao seu Criador, a N.S. Jesus-Cristo, o guia, o protetor, o governador deste planeta.

             Não; Jesus não compreendia, nem nós podemos compreender, que as criaturas, rendendo culto e homenagem a um Criador, odiassem a seus pares, a seus iguais, por uma simples divergência de exterioridades religiosas.

            Ele não compreendia que aquele que crê sinceramente em Deus, faltando aos preceitos da verdadeira fraternidade, pudesse, pelas simples fórmulas da sua crença, anatematizar e condenar a seus irmãos, em vez de se lhes procurar impor pelas virtudes, pela moral evangélica, enfim, por todos esses sentimentos que atraem para a criatura a atenção, a admiração e o respeito dos seus semelhantes.

            Jesus, judeu, pediu água à mulher samaritana, isto é, Jesus condenou em absoluto a divergência que existia então entre os dois povos; e assim, logicamente, ele hoje não pode deixar de condenar a divergência das igrejas existentes, porque de duas uma: ou essas igrejas não contam em seu seio com os verdadeiros fiéis que, acima das exterioridades do culto, colocam a santa doutrina de N.S. Jesus Cristo; ou elas estão vazias do sentimento evangélico e, por consequência, tendem a desaparecer, para darem lugar à verdadeira igreja de que falou o Divino Mestre à samaritana, dizendo:

             “Tempo virá em que, nem em Jerusalém, nem no alto da montanha, os povos adorarão a Deus, mas compreenderão que Deus é espírito e que só em espírito deve ser adorado.”




 4,15  A: mulher suplicou Senhor, dá-me dessa água, para eu já não ter sede nem vir aqui tirá-la. 4,16 Disse-lhe Jesus: “ -Vai, chama teu marido, e, volta cá! 4,17 A mulher respondeu: -Eu não tenho marido. Disse Jesus: “ -Tens razão em dizer que não tens marido. 4,18  Tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu, nisto disseste a verdade!” 4,19  Senhor, disse-Lhe a mulher, vejo que és um profeta! 4,20  Nossos pais adoraram neste monte (Monte Garizim, em cima do qual havia um templo samaritano), mas Vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar. 4,21 Jesus respondeu:
“ -Mulher, acredita-Me, vem a hora em que não adorareis o Pai, nem neste monte nem em Jerusalém. 4,22 Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. 4,23  Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja 4,24 Deus é Espírito e os seus adoradores devem adorá-Lo em Espírito e verdade.” 4,25  Respondeu a mulher: -Sei que deve vir o Messias (que se chama Cristo); quando, pois, vier, Ele nos fará conhecer todas as coisas. 4,26  Disse-lhe Jesus: “-Sou Eu, quem fala contigo.” 4,27 Nisso, seus discípulos chegaram e maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher. Ninguém, todavia, perguntou: Que perguntas? Ou... Que falas com ela?
                        
        A ‘Revelação da Revelação’  nos aclara, de forma bastante completa, essa passagem do Evangelho de João...

Colóquio de Jesus
com a Samaritana

            “O colóquio de Jesus com a samaritana é da mais alta importância, de um duplo ponto de vista; do da compreensão das palavras do Mestre, segundo o espírito, e do das explicações que dessas palavras, como órgãos do Espírito da Verdade, temos que vos dar, daquilo que temos para vos dizer, de acordo com o que agora podeis suportar.

            Ao que refere a narração evangélica, Jesus, por estar fatigado da caminhada, se sentou à borda do poço para repousar. Isto reflete a apreciação humana dos narradores do fato, dos quais o evangelista foi eco fiel e que, como este, consideravam Jesus do ponto de vista humano. Porque, não o esqueçais, Jesus, para a Samaritana, como para todos, era um homem igual aos outros, revestido do corpo material do homem planetário, sujeito, portanto, às necessidades, às contingências da existência humana.

            Ele ali se sentou, porque previa a vinda da Samaritana, do mesmo modo que só lhe pediu de beber para entabular a conversação. Notai que não se vos diz que Samaritana lhe deu de beber, nem que Ele bebeu. O colóquio se trava imediatamente e Jesus o dirige de maneira que o ensinamento decorre dele, como da rocha a água viva.

            Tudo, o lugar, a pessoa e o ato que esta vinha executar, tudo, naquele momento, de acordo com os preconceitos e as tradições da época, tinha que servir de base, de elemento e de meio para o diálogo e para os ensinamentos que dele haviam de derivar, de conformidade com as necessidades de então e do futuro, ensinamentos destinados a só se tornarem evidentes, claros, para as gerações vindouras, para aquelas, sobretudo, que teriam de receber a nova revelação, a revelação da revelação.

            O primeiro ensino de Jesus está nos vv. 9-15. Tendo-se em vista as últimas palavras da Samaritana: Sei que virá o Messias, chamado Cristo; quando vier, ele nos anunciará todas as coisas, e o que Jesus lhe responde: Eu o sou, eu que te falo, verifica-se que as respostas do Mestre às diversas perguntas da mulher tiveram por fim ensinar, fazer compreender aos homens o seguinte: que, perante Deus, aos olhos do pai, não há heréticos, nem ortodoxos, mas tão-somente filhos mais ou menos ternos, mais ou menos submissos, aos que ele transmite suas instruções, sejam quais forem suas pátrias, suas crenças, contanto que seus corações os encaminhem para ele e que se mostrem prontos a receber os ensinos, os benefícios que ele lhes manda; que o Cristo, seu enviado Celeste, vosso Messias, Espírito protetor e governador do vosso planeta, dá a todos os homens de boa vontade, que lhos peçam, sejam eles o que forem, quaisquer que sejam seus cultos, crenças, nacionalidades, aqueles ensinos, aqueles benefícios, que abrem ao Espírito as sendas do progresso, de ordem física, de ordem moral e de ordem intelectual, e os encaminham para a perfeição.

            Para os Judeus, que os perseguiam com seu ódio e seu desprezo, os Samaritanos eram heréticos. Eles, os Judeus, se consideravam os únicos filhos do Senhor, os únicos com direito a herdar o reino de Deus. Eram os ortodoxos.

            Essa a razão por que, ao lhe dirigir Jesus, com  o  fito  de  travar o colóquio, estas palavras:
 “Dá-me de beber ”,  a  samaritana  lhe   observa:

           "Como é que, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou samaritana, pois que os Judeus não se comunicam com os samaritanos?

            Jesus que, como judeu, representa, para a Samaritana, a ortodoxia e que era tratado de Samaritano pelos judeus, que usavam, para com ele, desse tratamento, como expressão suprema do ódio, da injúria e do desprezo que lhe votavam, responde, sendo o Messias: “Se conhecêsseis o dom de Deus e quem é o que te diz: “Dá-me de beber, talvez lhe houvesses pedido e ele te teria dado da água viva”

            Suas palavras eram “espírito e vida”. Tomando-as, porém, no sentido literal e material, a Samaritana lhe pondera: “Senhor, não tens com que a tires e o poço é fundo; donde haverias então essa água viva? És porventura maior do que nosso pai Jacob, que nos deu esse poço, que dele bebeu, assim como seus filhos e seus rebanhos?”

            Jesus, continuando, lhe responde: “Todos aquele que bebe desta água tornará a ter sede; mas o que beber da água pura que eu lhe der jamais terá sede. Ao contrário, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte que jorrará até a vida eterna.”

            Assim, em nome do Pai de quem é ele o representante direto perante vós, de quem é  enviado, Jesus, vosso Messias, dá  de beber da água viva a todo aquele, Judeu ou Samaritano, que conheça o dom de Deus e o conheça a ele; a todos os homens, sejam quais forem suas pátrias e suas crenças. Se a Samaritana conhecesse o dom de Deus e se o conhecesse a ele, talvez a tivesse pedido, Jesus lha houvera dado.

            Para os Hebreus, o dom de Deus era o dom do Espírito Santo, isto é, a inspiração, o amparo, o concurso dos bons espíritos, coisas que Deus concede a todo homem cujo coração o encaminha para ele e que se mostra pronto a receber seus ensinos, seus benefícios. O dom de Deus é a assistência, a inspiração, o amparo, o concurso dos bons Espíritos, que o homem recebe consciente ou inconscientemente e que lhe abrem ao Espírito, à inteligência e ao coração as sendas do progresso e o encaminham para a perfeição.

            O que chamais a inspiração, o gênio da ciência e da caridade, e que o homem, na sua ignorância e no seu orgulho, atribui exclusivamente a si mesmo, é “o dom de Deus.”

            Conhecer o “dom de Deus” é saber que a assistência, a inspiração, o amparo, o concurso dos bons espíritos podem ser dados por Deus ao homem. Conhecer o Messias, isto é, o Cristo, é conhecer a moral que ele personifica, que declarou ser toda a lei e os profetas,  que veio sancionar na Terra e que é a lei divina, eterna e imutável como Deus, escrita na consciência de todas as criaturas e deposta no fundo de todos os corações.

            A água do poço de Jacob era o símbolo da matéria que alimenta o corpo. A água viva, que Jesus teria dado à Samaritana se, conhecendo “o dom de Deus” e, conhecendo-o, ela lha houvesse pedido, e que dá a todo aquele que o conheça e conheça o dom de Deus, é o símbolo das verdades eternas, do progresso moral, que alimentam a alma e a elevam, que asseguram a predominância do espírito sobre a matéria, de tal maneira que aquele nunca mais se tornará escravo desta.

            Assim, pois, despojado da letra o espírito, a resposta de Jesus à Samaritana exprime o seguinte:

            “Pedindo-te de beber, provei que eu, o Messias, isto é, o Cristo, sou enviado a todos os homens, quaisquer que sejam suas pátrias e suas crenças, sejam eles samaritanos, Judeus ou Gentios; que, portanto, Deus não nenhuma exceção faz de pessoas, que ele é o pai de todos; que todos os homens são seus filhos. Se soubesses que Deus pode dar ao homem a assistência, a inspiração,  o auxílio e o concurso dos bons espíritos, se conhecesses a moral que eu personifico, talvez me houvesses pedido de beber; e, se fosses assistida, inspirada, auxiliada pelos Espíritos do Senhor ter-me-ias, com o concurso deles, pedido de beber e eu te teria dado da água viva, isto é, da “água espiritual”, que emana da fonte das verdades eternas e que dessedenta a alma, abrindo à inteligência e ao coração do homem as sendas de todo “progresso.”

            Tornará a ter sede quem quer que beba água idêntica à do poço de Jacob. Aquele que vive pelo corpo e para o corpo, sob o império da matéria terá sempre sede das coisas da matéria.  “Ao contrário, aquele que beber da água que eu lhe der, que dessedentar a alma com a água espiritual que eu lhe der, tirada por mim à fonte das verdades eternas, aquele que a saciar, praticando a moral que personifico, nunca mais terá sede das coisas da matéria. Ainda mais: a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte que jorrará até à vida eterna, isto é: será nele uma fonte de progresso moral, que jorrará até a perfeição, pois que todos os progressos são inseparáveis e solidários, se prestam, por assim dizer, apoio mútuo na senda da perfeição, a fim de que o Espírito a esta chegue.”

            A Samaritana, não tendo compreendido, segundo o espírito que vivifica, o sentido e o alcance das respostas de Jesus, lhe pediu: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem volte a tirá-la daqui.”

            Quão poucos dos que se dizem representantes do Cristo na Terra compreenderam aquelas respostas do divino Mestre! Em vez de esperarem que os irmãos, a quem chamavam heréticos, lhes pedissem a “água viva” e em vez de darem dessa água aos que lha houvessem pedido, eles, para com esses irmãos, aos quais deviam amar, usaram de intolerância, os perseguiram moral e fisicamente, condenando-os às torturas, aos suplícios, à fogueira, à morte!

            Ainda hoje, quão poucos, dentre os vossos sacerdotes, levitas e “doutores da lei”, compreendem, segundo o espírito que vivifica, aquelas respostas do Mestre e praticam o ensino que delas decorre!

            Os Vv. 19-26 encerram muitos ensinamentos que vos devam ser explicados de modo distinto e especial.

            Diante das impressões que, do seu ponto de vista e de acordo com a sua inteligência, a Samaritana recebera por efeito das respostas de Jesus às suas perguntas, o divino Mestre, dando desde logo uma prova de suas faculdades extra-humanas à mulher, prepara a continuação do diálogo, que a nova questão por ela formulada provocaria e que lhe abriria ensejo para os ensinamentos que ele queria e tinha de dar aos homens.

            A mulher, conforme se deduz da sua linguagem quando diz: nosso pai Jacob, que nos deu este poço, pertencia a uma família de israelitas, que se associara ao culto dos Samaritanos, originários da Caldeus. Assim sendo e tendo em vista a autoridade do marido sobre a mulher entre os Israelitas, Jesus, em resposta ao pedido que ela lhe faz da água viva, para não mais voltar a tirar da do poço, lhe ordena: “Vai, chama teu marido e volta aqui” . Ao que ela responde:  “Não  tenho  marido.”  Diz-lhe Jesus: “Disseste bem, dizendo que não tens marido, porque cinco maridos tiveste e o que agora tens não é teu marido; nisto falaste a verdade.”

            Deu-lhe desse modo o Mestre uma demonstração de suas faculdades extra-humanas e, diante de tal prova, ela o considerou desde logo um “inspirado por Deus”, tanto que lhe disse: “Senhor, vejo que és um profeta.”

            Muito espantada de que Jesus, sendo Judeu e, ainda mais, profeta, qual ela o considerava, entrasse “em relações com os Samaritanos”, a mulher lhe dirige esta observação, que dá lugar a que ele lhe declare ser o Messias, isto é, ser o Cristo em pessoa que lhe falava: “Nossos pais adoravam neste monte e vós outros dizeis que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.”

            As respostas do Mestre a essa observação foram de natureza a só serem compreendidas em espírito e verdade, pelas gerações vindouras, em tempos ainda para vós futuros, como fruto e conseqüência da nova revelação.

            “Mulher, crê-me”, diz ele, virá tempo em que não será nem neste monte, nem em Jerusalém que adorareis o pai.” 

            Referindo-se tanto àquela época como ao futuro, Jesus prediz a cessação, o desaparecimento de todos os cultos externos, que já então dividiam  e separavam os homens, que haviam de surgir e de separá-los nos tempos que se seguiriam. Prediz a adoração do Pai, abstraindo-se de todos os cultos que existiam e existiriam, praticados “nos templos construídos pelos homens” em qualquer parte, fosse “no monte, fosse em Jerusalém”, mediante a celebração de cerimônias materialistas. Prediz a adoração do pai no íntimo dos corações que, quando puros, são o seu único e verdadeiro templo, servindo-lhe de santuário a consciência e consistindo a adoração na homenagem a ele prestada pelo pensamento e pelos atos de justiça, de amor e de caridade praticados também na prece espiritual, que é o culto interior da alma, único e verdadeiro culto que os homens prestarão ao pai, elevando-se por essa forma até ele, em espírito e em verdade

            As palavras de Jesus eram ditas para o futuro e ainda o são para muitos dentre vós.

            Não continuam os homens a adorar a Deus “no monte e em Jerusalém”? Não continuam divididos e separados pelos diversos cultos externos ainda existentes? Não há ainda “Judeus e Samaritanos”, heréticos e ortodoxos?

            Desprezando, assim os ensinamentos, como os exemplos do Mestre, afastando-se da linha que os apóstolos traçaram  ao prepararem os caminhos para a Igreja, una, universal, não continuou a Igreja a manter os preconceitos e as pretensões dos Judeus e dos chefes da sinagoga? E, subordinada a esses preconceitos e pretensões, não atirou os Judeus para a categoria dos Samaritanos, dos heréticos? Apropriando-se do privilégio de ortodoxia que os Judeus se arrogavam, não declarou heréticos, não perseguiu, não condenou mesmo à morte, como tais, todos os que professavam crenças contrárias a seus dogmas humanos, a suas interpretações humanas?

            Não afirma que somente os que lhe pertencem à grei são filhos do Senhor, que só esses hão de herdar o reino de Deus?

            Não adora “em Jerusalém” e não repele todos os que adoram no monte?

            Homens, por Jesus e com Jesus vos dizemos: “Crede-nos, aproxima-se o tempo do desaparecimento e da cessação de todos os cultos externos que vos dividem e separam; o tempo em que, reunidos pela tolerância e pela fraternidade, em nome do que constitui toda a lei e os profetas, reunidos sob uma bandeira única que tem por exergo - Amor e Caridade - adorareis o Pai em todos os lugares onde vos encontrareis, “no monte”, como “em Jerusalém” .

            Vós adorais, disse Jesus, o que não conheceis; NÓS PORÉM, adoramos o que conhecemos, pois dos Judeus é que vem a salvação.

            De acordo com o pensamento do Mestre, estas palavras tinham um sentido especial com relação à Samaritana e se aplicavam àquela época. Mas, ainda de acordo com o seu pensamento, tinham um sentido geral, como ensinamento dado aos homens, e se estendiam ao futuro.

            A última frase - “pois dos Judeus é que vem a salvação” - leva à compreensão delas, segundo o espírito que vivifica, desse duplo ponto de vista. Proferindo a frase citada, Jesus aludia às encarnações de messias de ordem inferior, relativamente a ele, a fim de manter puro o pensamento de Deus e preparar o advento do Verbo.

            Quanto à Samaritana e a todos os homens entre os quais o pensamento puro de Deus se alterara por efeito de erros grosseiros, ou de cunho idolátrico, esses todos “adoravam o que não conheciam”, porque entre eles o pensamento de Deus não se conservara puro. “Nós, porém, os Judeus, adoramos o que conhecemos”, por isso que entre os filhos da Judéia os profetas mantiveram puro o pensamento de Deus.

            Essas palavras de Jesus se dirigem, ainda hoje, a todos os que, depois de sua missão terrena, se afastaram da idéia pura de Deus, conservada pelos profetas entre os Judeus, e multiplicaram a divindade, o Pai,  o Deus uno, indivisível, tentando encerrar na unicidade a pluralidade.

            Elas se aplicam à igreja romana, como a todas as seitas cristãs dissidentes, que, por meio  do  dogma  humano  das  três  pessoas,  adoram,  não  somente  o  pai,  mas  também
o filho” e o “Espírito Santo”, pois que não  sabeis  quem  é “o filho”, nem quem é o “Espírito Santo”. Adorais o filho, que é uma criatura de Deus, filho bem amado do pai, seu filho único pela sua superioridade, porque superior a todos, relativamente ao planeta terreno, pela sua pureza e pelo poder que o pai lhe outorgou. Adorais ao filho, que é um Espírito de pureza perfeita e imaculada, vosso Messias, vosso protetor, mas também vosso irmão, porquanto, em sua origem, partiu do mesmo ponto inicial que vós outros, para chegar onde haveis de chegar, isto é, à perfeição, e que a ela chegou sem jamais haver falido, momento esse que se oculta na noite das eternidades.

            Adorais o ‘Espírito Santo’, como se fora uma individualidade, quando essa expressão figurada designa um conjunto de criaturas de Deus, nas quais a vontade divina se reflete, o conjunto dos Espíritos do Senhor, dos puros espíritos, encarregados de executar as vontades do pai, de transmitir até vós, mesmo até mais abaixo - aos planetas inferiores ao vosso, a inspiração divina; compreendendo-se também naquela designação simbólica os messias, os protetores e governadores de planetas, como Jesus, primeiros ministros do pai, e todos os outros enviados ou missionários, seus ministros ou agentes, dentro da ordem hierárquica que lhes assina a elevação espírita.”   


         4,28  A mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: 4,29 Vinde e vede um Homem que me contou o que tenho feito. Não seria Ele, porventura, o Cristo? 4,30  Eles saíram da cidade e vieram ter com Jesus. 4,31 Entretanto, os discípulos lhe diziam: Mestre, come! 4,32 Mas  Ele lhes disse: “ -Tenho um alimento para comer que vós não conheceis!” 4,33 Os discípulos perguntaram uns aos outros: Alguém Lhe teria trazido de comer? 4,34  Disse-lhes Jesus: “ -Meu alimento é fazer a vontade daquele que Me enviou e cumprir a Sua obra! 4,35 Não direis vós que ainda há quatro meses e vem a colheita? Eis que vos digo: Levantai os vossos olhos e vede os campos, porque já estão brancos para a ceifa. 4,36 O que ceifa recebe o salário e ajunta o fruto para a vida eterna; assim o semeador e o ceifador se regozijarão 4,37 Porque eis que se pode dizer com toda a verdade: Um é o que semeia, outro é o que ceifa 4,38  Enviei-vos a ceifar onde não tendes trabalhado; outros trabalharam e vós entrastes nos seus trabalhos.

            Para  Jo (4,34), -Afirmação e Ação  - leiamos Emmanuel  por Chico Xavier em “Vinha de Luz”:

            Aqui e ali, encontramos crentes do Evangelho invariavelmente prontos a alegar a boa intenção de satisfazer os ditames celestiais. Entregam-se alguns à ociosidade e ao desânimo e, com manifesto desrespeito às sagradas noções da fé, asseguram ao amigo ou ao vizinho que vivem atendendo às determinações do Todo-Poderoso. Não são poucos os que não prevêem, nem providenciam a tempo e, quando tudo desaba, quando as forças inferiores triunfam, eis que, em lágrimas, declaram que foram obedecidas as ordens do Altíssimo.

            No que condiz, porém, com a atuação do Pai, urge reconhecer que, se há manifestação de sua vontade, há, simultaneamente, objetivo e finalidade que lhe são consequentes.

            Programa elevado, sem concretização, é projeto morto. Deus não expressaria propósitos a esmo.       Em razão disso, afirmou Jesus que vinha ao mundo fazer a vontade do Pai e cumprir-lhe a obra.

            Segundo observamos, não se reportava somente ao desejo paternal, mas igualmente à execução que lhe dizia respeito.

            Não é razoável permanecer o homem em referências infindáveis aos desígnios do Alto, quando não cogita de materializar a própria tarefa.

            O Pai, naturalmente, guarda planos indevassáveis acerca de cada filho. É imprescindível, no entanto, que a criatura coopere na objetivação dos propósitos divinos em si própria, compreendendo que se trata de lamentável abuso muita alusão à vontade de Deus quando vivemos distraídos do trabalho que nos compete.”



        Para  Jo (4,35),-Levantai os Vossos Olhos ...-  leiamos ainda em “Vinha de Luz”:

            “O mundo está cheio de trabalhos ligados ao estômago.

            A existência terrestre permanece transbordando emoções relativas ao sexo.
            Ninguém contesta o fundamento sagrado de ambos, entretanto, não podemos estacionar numa ou noutra expressão.

            Há que levantar os olhos e devassar zonas mais altas. É preciso cogitar da colheita de valores novos, atendendo ao nosso próprio celeiro. Não se resume a vida a fenômenos de nutrição, nem simplesmente à continuidade da espécie. Laborioso serviço de iluminação espiritual requisita o homem. Valiosos conhecimentos reclamam-no a esferas superiores.

            Verdades eternas proclamam que a felicidade não é um mito, que a vida não constitui apenas curto período de manifestações carnais na Terra, que a paz é tesouro dos filhos de Deus, que a grandeza divina é a maravilhosa destinação das criaturas; no entanto, para receber tão altos dons é indispensável erguer os olhos, elevar o entendimento e santificar os raciocínios.

            É imprescindível alçar a lâmpada sublime de acima das sombras.

            Irmão muito amado, que te conservas sob a divina árvore da vida, não te fixes tão-somente nos frutos da oportunidade perdida que deixaste apodrecer, ao abandono... Não te encarceres no campo inferior a contemplar tristezas, fracassos, desenganos!...

            Olha para o alto!... Repara as frondes imortais,  balouçando-se ao sopro da Providência Divina! Dá-te aos labores da seiva e observa que, se as raízes ainda se demoram presas ao solo, os ramos viridentes cheios de frutos substanciosos, avançam no infinito, na direção dos Céus.” 



         4,39  Muitos foram os samaritanos daquela cidade que creram nele por causa da palavra da mulher, que lhes declarara: -Ele me disse tudo quanto tenho feito! 4,40  Assim, quando os samaritanos foram ter com Ele, pediram que ficasse com eles. Ele permaneceu ali dois dias.  4,41  Ainda muitos creram Nele por causa de suas palavras. 4,42 E diziam à mulher: -Já não é por causa da tua declaração que cremos, mas sim por nós mesmos. Ouvimos e sabemos ser Este verdadeiramente o salvador do mundo! 
        
               Mais uma vez, nos valemos de “Os quatro Evangelhos”  - Vol 4º -  que nos legou o que se segue:

Jesus
como Salvador
 do Mundo

            ”Estes versículos encerram duas ordens distintas de ideias e de fatos perfeitamente distintos: uns dizem respeito à Samaritana e aos Samaritanos, outros a Jesus e aos discípulos.

            Com relação à Samaritana (v. 28), o que a impressionara fora o testemunho que Jesus lhe dera das faculdades extra-humanas que possuía. Muito menos a havia impressionado a afirmação do Mestre quando lhe declarara ser o Messias, isto é, o Cristo, dizendo: “Eu o sou, eu que te falo.” Isso não bastara para convencê-la; ela continuara a duvidar. Raça de incrédulos, tereis dificuldade em compreender a dúvida daquela mulher?

            Com relação aos Samaritanos (vv.30, 39,40,41 e 42), será preciso vos expliquemos o  que  com  eles  se  passou? Não vedes ainda hoje, nos dias que correm,muitos “Samaritanos” que, para crerem, necessitam do testemunho de fatos a que chamais "adivinhação,” enquanto que outros, tocados pela moral suave, simples e pura, nada mais pedem nem procuram para se tornarem crentes?

            Dentre vós, os que deveriam ser os primeiros a crer são os primeiros que se curvam diante da verdade? Não. Os primeiros a crer são os repelidos pelos que julgam ter o privilégio da fé. São os “réprobos” os que primeiro se reúnem ao derredor do Mestre, para lhe dizerem: “Senhor, a tua palavra penetrou, em meu coração, a luz me deslumbrou, eu creio.”

            Com os homens de hoje se dá e se dará ainda mais o que se deu com os Samaritanos. Muitos há que creem e muitos virão a crer na revelação espírita pelo que tenham dito ou disseram pessoas que lhe mereçam crédito, relatando manifestações físicas ou fatos mediúnicos, que atestam necessariamente uma ação extra-humana, oculta ou patente; ou, então, por que hajam pessoalmente observado essa manifestações e fatos mediúnicos. Muitos acreditarão, depois que, nas manifestações mediúnicas inteligentes, tiverem ouvido falar os Espíritos do Senhor. Esses dizem ou dirão: “Já não é pelo que nos fora narrado, pelo que vimos, que acreditamos neles; mas porque os ouvimos e sabemos que eles são verdadeiramente os órgãos do Espírito da Verdade

            Quanto às palavras de Jesus, constantes dos vv. 31-38, foram ditas com o objetivo de mais uma vez, como sempre, atrair o espírito dos discípulos para as coisas do céu, mostrar-lhes que era mister continuassem a tarefa que lhes cumpria desempenhar, mostrar-lhes a recompensa reservada a seus esforços.

            Aquelas palavras o Mestre as disse sobretudo com o propósito de provar aos discípulos que ele só tinha um objetivo, um pensamento - prosseguir na obra de regeneração que empreendera. Ele se nutre com um alimento de que ninguém mais senão ele dispõe, porquanto a pureza é o que o coloca acima de tudo o que é humano, acima de toda a necessidade. Dai-vos, portanto, pressa em receber esse alimento divino, que sacia e nutre o Espírito que busca a vida e a verdade.

            (Vv.31, 32 e 34) Na resposta que deu a seus discípulos, quando estes, dizendo: “Mestre, come”, lhe pediam que se alimentasse, Jesus afirma, veladamente, não estar sujeito às necessidades e contingências materiais da humanidade. Afirma, pois, veladamente, sua natureza extra-humana.

            Confirmando o que dissemos no comentário dos três primeiros Evangelhos, essa resposta mostra que Jesus não fazia realmente refeições, como os homens o supunham; que só as fazia aparentemente, quando era necessário, ou para convencê-los de que de fato tinha a natureza humana que lhe atribuíam e na qual era preciso que acreditassem, a fim de que a sua missão fosse aceita e produzisse frutos; ou para lhes dar um ensinamento, um exemplo de caridade, de perdão, de amor.

            Dando aquela resposta, o Mestre também obedeceu ao propósito, repetimos, de prova, a seus discípulos, que um só objetivo tinha, um único pensamento - prosseguir na obra de regeneração que empreendera.

            (Vv.35, 36, 37 e 38) Os campos, de que fala Jesus aos seus discípulos, já alvejantes e prontos para a sega, representam os países aonde ele os mandava adiante de si e nos quais se encontravam homens preparados a receber a boa nova, a ouvir e guardar a palavra de verdade, a se lhes grupar e a segui-lo a ele.

            Jesus era “o que semeia”, os discípulos eram “o que colhe.” Trabalhando pelo progresso de seus irmãos, eram recompensados pelo progresso pessoal que realizavam. Neste progresso estavam os frutos que colhiam e que lhes aparelhavam o caminho para a perfeição.

            Eu vos enviei, disse-lhes Jesus, a segar aquilo que não é fruto do vosso trabalho. Outros trabalharam e vós entrastes nos seus trabalhos.

            Segundo o espírito que vivifica, Jesus, por essas palavras, exprime um duplo pensamento. Alude, primeiramente, à influência espírita que, por sua ação oculta sobre os homens e sem que estes tivessem dela consciência, os preparava a escutar e receber a palavra dos discípulos. Os espíritos preparavam “os campos” onde Jesus mandava que seus discípulos “segassem.”

            Alude também aos Espíritos que, ou errantes, ou encarnados em missão, trabalharam, antes dos discípulos, pelo progresso do espírito humano, prepararam o advento do Verbo, executando obra que aos mesmos discípulos tocava continuar. Mais longe ia ainda o pensamento de Jesus. Alcançava o futuro, os tempos da era nova do Cristianismo do Cristo, a era espírita que se inicia. Ele é ainda agora o que semeia. Fá-lo por intermédio dos Espíritos do Senhor, órgãos do Espírito da Verdade.

            Apóstolos da nova revelação, vós todos que caminhais nas pegadas do Mestre, que vos esforçais por difundir a fé e reconduzir ao aprisco as ovelhas tresmalhadas, todos vós semeais com Jesus, que é o Espírito da Verdade, por sois “o que sega”  e partilhais da alegria do Mestre, ao virdes que surgem as espigas da próxima colheita.

            “Os campos que já branqueiam e se mostram prontos para a ceifa” são todos os homens que, escutando as palavras de verdade, as pesam e comentam e volvem à fé pura e adoram em espírito e verdade. E esses, a quem tal acontece, não se rejubilam e vós não partilhais da sua alegria? Sim, que eles, por sua vez, se tornam “o que semeia com Jesus e sega.”

            Mas, sobretudo, diante do pai de família é que experimentareis arroubos de ventura e de reconhecimento, vendo ali agrupados os que semeiam e os que colhem, a entoarem, estritamente unidos, louvores ao Senhor.

            Que assim seja com relação a vós, ó bem-amados. Essa a bênção que vos enviam os que velam por vós.” Esta mensagem, bem como a que a antecede em Jo 4,15-27 vem assinada por João Evangelista”


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