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domingo, 20 de março de 2011

A médium Zilda Gama





Zilda Gama
Centenário de nascimento
(1878 - 11 de Março - 1978)



Reformador (FEB) Março 1978


            Zilda Gama nasceu a 11 de março de 1878, em Três Ilhas, município de Juiz de Fora (MG), filha de Augusto Cristiano da Gama, escrivão de paz, e de Elisa Emilia Klörs da Gama, natural do Rio de Janeiro. Era, como sua mãe, professora pública, diplomada pela Escola Normal de São João del Rei (MG). Exerceu o magistério no município de Além-Paraíba, tendo assumido, por diversas vezes, a direção dos Grupos Escolares “Castelo Branco” e “Sales Marques”, na mesma cidade, após ter obtido duas promoções. Em 1929, tendo a Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais posto em concurso aulas-modelos, obteve o primeiro lugar na classificação oficial e foi inscrita na Escola de Aperfeiçoamento, de Belo Horizonte, onde concluiu o curso, a 6 de dezembro de 1929.
            Em 1927 tomou parte no Congresso de Instrução, como membro permanente; e em 1931, no Congresso Feminino presidido pela Sra. Elvira Komel, apresentou uma tese sobre o direito do voto feminino, que, pouco tempo depois, teve a aprovação oficial. Passando a residir em Belo Horizonte, continuou a exercer o magistério primário, agora no Grupo Escolar  “Afonso Pena”, daquela cidade, até 1938, ano em que se jubilou. Era culta e, jovem ainda, colaborou, com poesias e contos, em vários jornais de Juiz de Fora, Ouro Preto, São Paulo e Rio de Janeiro, dentro deles o “Jornal do Brasil”, a “Gazeta de Notícias” e a “Revista da Semana”, periódicos da então Capital Federal.
            Zilda Gama foi, porém, grande sofredora, tendo sido duramente provada com os testemunhos que foi chamada a apresentar às leis de Deus. No espaço de apenas cinco meses, pelos anos de 1902/1903, perdeu os pais. Como sua irmã primogênita desencarnara em 1901, ela foi por isso mesmo chamada a assumir o governo da família, contando apenas vinte e quatro anos de idade. Criou e educou os cinco irmãos menores, tornados órfãos qual ela própria, e, mais tarde, em 1920, cinco sobrinhos, filhos de sua irmã Adélia, também tornados órfãos, sem jamais esmorecer na sua coragem e na sua fé em Deus e na dedicação àqueles que, de todas as formas, dependiam dela.
            Por volta de 1912, Zilda Gama já era adepta da Doutrina Espírita ‘embora não ostensivamente’, disse ela própria no prefácio de “Na Sombra e na Luz”. Em fins do mencionado ano, combalida por íntimos dissabores, sentiu que alguma entidade do mundo invisível desejava corresponder-se com ela. Pegou do lápis e prontamente lhe veio, pela psicografia, salutar conselho dado por seu pai (desencarnado em 1903) e outro por sua adorada irmã, poetisa e violonista, Maria Antonieta Gama, nome acatado pela imprensa mineira. Ambos esses Espíritos a orientaram por alguns dias, fazendo-a tomar deliberações que lhe não haviam ocorrido à mente.
            Pouco depois, passava ela a grafar mensagens de Mercedes, entidade que lhe foi de inexcedível dedicação, consócia de todos os seus instantes de dor e de raras alegrias, enfim, um dos mais desvelados Guias espirituais e que lhe revelara a importante missão que o Alto lhe reservara no Espiritismo.
            “Intensa foi a minha emoção, que me sensibilizou até as lágrimas, e, mentalmente, disse-lhe que me não considerava na altura de desempenhar a contento a excelsa quão arriscada incumbência de que me dera conhecimento a piedosa Mercedes. Ele ponderou sobre a responsabilidade dessa  missão espiritual; prometeu coadjuvar-me para que eu a executasse satisfatoriamente, terminando, com austeridade, a sua inolvidável mensagem datada de 27 de dezembro de 1912:

                        “Sobre a tua fronte está suspenso um raio luminoso, que te guiará através de todas as dificuldades, de todos os obstáculos, e será a tua glória ou tua condenação - conforme o desempenho que deres aos teus encargos psíquicos. Cinge-te de coragem, fé, benevolência, cumpre sem desfalecimentos, e sem deslizes, todos os teus deveres sociais e divinos, e conseguirás ser triunfante.”[1]

            Durante pelo menos quinze anos, segundo declara a própria Zilda Gama, o Espírito de Allan Kardec assumiu a direção dos seus labores espirituais, orientando, aconselhando, esclarecendo, tendo sido várias as provas que vieram confirmar a sua supremacia espiritual sobre as demais entidades comunicantes. Assinadas por ele, há algumas comunicações no livro “Diário dos Invisíveis”, publicado pela Editora “O Pensamento”.
            Em 1916 ou 1917, as entidades do Além informaram à médium que ela iria psicografar uma novela, fato que a deixou perplexa e meio descrente. Mas, no dia e hora aprazados Zilda Gama, sentindo-se como que impelida, passou a transportar para o papel, celeremente, tudo quanto constituía os pródomos de um romance. Não menor foi a sua surpresa quando o Espírito manifestante se assinou Victor Hugo.
            Sob o impulso vibratório desse genial escritor francês do século passado, glória da literatura mundial, dentro de pouco tempo estava concluída, recebendo o título - “Na Sombra e na Luz”. No In Limine a essa novela, a médium relata curiosos e interessantíssimos pormenores a respeito do recebimento e da revisão das páginas psicografadas.
            Sob a tutela do Espírito de Victor Hugo, vieram à publicidade, além de “Na Sombra e na Luz”, considerada pela crítica a sua obra-prima, traduzida para o esperanto pelo saudoso Prof. Porto Carreiro Neto, os seguintes romances editados pela Federação Espírita Brasileira, todos eles com sucessivas reedições: “Do Calvário ao Infinito”, “Redenção”, “Dor Suprema” e “Almas Crucificadas”.
            Outros livros psicografados foram impressos por editoras diferentes, como o já citado “Diário dos Invisíveis” permanecendo inéditos alguns poucos mediúnicos, bem como várias obras poéticas e pedagógicas de sua própria lavra.
            Os livros mediúnicos de Zilda Gama fizeram grande época na literatura espírita e ainda hoje são grandemente procurados e acatados pelos leitores sedentos de aprendizado moral-espírita, consolando corações, abrindo roteiro de esperanças para os sofredores de boa-vontade.  Foi ela, no Brasil, a primeira médium feminina a obter do Espaço uma vasta literatura espírita, tendo causado sensação as suas obras mediúnicas quando apareceram, quer nos meios espíritas, quer entre os leitores leigos, apreciadores da boa leitura. Numerosos foram os seus discípulos de Espiritismo, aqueles cujos corações e mentes ela soube instruir e orientar para uma vida nova, vida de ressurgimentos e disciplinas renovadoras, tão necessárias ao verdadeiro adepto da Doutrina dos Espíritos. Zilda Gama foi, pois, grande trabalhadora da seara espírita e soube bem cumprir o seu dever de mediadora entre a Terra  e a Espiritualidade, não obstante as grandes lutas morais e materiais que sustentou, os grandes sofrimentos e decepções que lhe atingiram o coração.
            Zilda Gama transferiu-se para a cidade do Rio de Janeiro, em junho de 1940; em março de 1955 mudou-se para Mesquita (RJ), e, em 1957, retornou ao Rio. Nos últimos dez anos, vivia numa cadeira de rodas, ou presa ao leito, após o dramático derrame cerebral que lhe prejudicou o raciocínio, antes iluminado pelos fachos da inspiração espiritual, residindo então em companhia de seu dedicado sobrinho Mário Ângelo de Pinho, cercada pelo afeto dos familiares e a admiração e o respeito de quantos a conheceram, pois, integralmente consagrada aos serviços do Senhor, Zilda Gama não contraiu matrimônio.
            No dia 10 de janeiro de 1969, foi chamada de regresso à Pátria Espiritual, desligando-se do alquebrado corpo carnal após o dever cumprido e depois de haver sorvido até o fim, resignada e heroicamente, como verdadeira cristã e verdadeira espírita, o cálice dos testemunhos terrenos. Desencarnou na avançada idade de 91 anos de vida útil, consagrada ao bem, e seus despojos foram sepultados, no dia seguinte, no Cemitério de São Francisco Xavier. A Federação Espírita Brasileira fez-se representar nos funerais da sua antiga médium por vários de seus membros, rendendo homenagens ao Espírito fiel que retornou à Vida Mais Alta para colher os louros de uma encarnação vitoriosa.          





[1] Zilda Gama, “Diário dos Invisíveis”, 1929, páginas VI e VII.



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