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domingo, 27 de março de 2011

26/50 'Crônicas Espíritas'




Meu caro padre Dubois:

             Falando com toda a franqueza, não fiquei satisfeito com a sua última carta, pois vejo que o amigo está fugindo ao assunto.
            Queria que lhe provasse a falibilidade dos apóstolos, pois, a seu ver, desta prova dependia a falibilidade dos papas.
            Dei-lhe, e o amigo nem sequer tocou no assunto na sua última carta, e agora diz que a falibilidade doutrinal dos apóstolos depende a falibilidade doutrinal dos papas. Nada tem que ver uma coisa com a outra. E tudo isso demonstra quer o amigo, não tendo outra saída, quer sofismar.
            Sendo católico, creio que não quer que de novo cite os decretos em que os diversos papas revogaram os decretos doutrinais de outros papas, e no discurso do bispo Strossmayer o senhor teve a prova da falibilidade documentada. E se um papa revogou o decreto doutrinal de outro, um deles, por certo, havia de ser falível, se ambos não o foram.
            No Horto das Oliveiras, Jesus proclamou a falibilidade dos apóstolos, quando, depois de lhes pedir que com Ele vigiassem, os encontrou dormindo. E disse-lhes: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.”
            Se os apóstolos eram falíveis, como podiam, pois, ser infalíveis os papas, seja em que for, se na sua grande maioria só estavam preocupados com os bens da Terra, com a política e o domínio das consciências, à força?!
            O amigo, porém, saltou a conclusões que absolutamente não formulei. Eu não disse que as outras narrações apostólicas, os “Atos e Epístolas”, eram destituídas de qualquer valor, absolutamente não! Disse, sim, que não gosto de discutir com elas, porque em muitos pontos existem interpretações errôneas das palavras de Jesus.
            E tanto assim é que a Igreja Protestante, baseando-se nas palavras de Paulo, crê na salvação pela graça e pelo sangue derramado na cruz, na propiciação. No entanto, Jesus ensina que dos mandamentos “Amarás a teu Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” depende toda a lei. E resumindo os seus ensinos, no cap. 25 de São Mateus, vers. 31-46, Jesus declara que a salvação só provém da prática da caridade.
            Mais ainda: Jesus o disse e os Espíritos, seus mensageiros, o confirmam, que “Entre os nascidos de mulher, nunca se levantou varão maior que João Batista”, do que se depreende que, sendo Jesus maior que João, não nasceu de mulher, isto é, o seu corpo era de composição diversa da do corpo carnal gerado segundo a lei da procriação e que o seu corpo era apropriado à sua estatura moral. E nada há de admirar nisto, pois hoje a materialização dos Espíritos é um fato provado e constatado aí mesmo, em Belém.
            Em contraposição ao ensino de que o maior nascido da carne era João, escreveu o apóstolo Pedro, na sua 1ª Epístola, cap. 3, v. 18: “Porque também Cristo uma vez morreu pelos nossos pecados, o justo pelo injusto, sim, morto na carne, ressuscitado pelo espírito”.
            E João, na sua 1ª Epístola, cap. 4:2, falando das manifestações dos Espíritos que, então, também se produziam, escreveu: “Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne, é de Deus.”
            Como se pode conciliar o ensino de Jesus com o que os apóstolos escreveram?
            Se o amigo analisar o versículo da 1ª Epístola de Pedro, acima citado, há de chegar à conclusão de que todo ele está errado se a salvação se efetiva segundo o Evangelho, isto é, pelo esforço individual na prática da caridade, do bem pelo bem, da abnegação, do esquecimento da própria dor pela dor do próximo. Foi isto que Jesus exemplificou para servir de farol de salvação à Humanidade.
            No cap. 5 da Epístola aos Romanos, diz Paulo: “Assim como por um homem entrou o pecado no mundo...” referindo-se a Adão; ora, sabido é que a história de Adão é uma história mal contada, pois que a geração humana não provém de um homem. Se o fosse, como teria ido Caim arranjar uma mulher na terra de Nod, na banda do oriente do Éden, onde parece ter sido Nod, já naquele tempo, o proprietário dela?
            Que a graça é um fato, sei-o por experiência própria, mas, o próprio Paulo ensinou que a letra mata e o espírito vivifica (II Cor., 3:6); quem, pois, não tirar o espírito da letra, mesmo dos escritos de Paulo, anda errado.
            O fato, porém, a que me referi no último artigo que lhe dirigi, não dependia de interpretação. Aí, Paulo narra que teve ocasião de repreender Pedro por ter dissimulado, por ter sido um fraco. Eis o que me cabe dizer-lhe, e, até lá, no mundo da verdade.

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