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terça-feira, 22 de março de 2011

Inquisição - Parte 3

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Respigas da História
   Túlio Tupinambá*
 Reformador (FEB)  Novembro 1961
* Indalício Mendes ? 

            De quando em quando é interessante rever páginas marcadas de livros lidos, respigando aqui e ali conceitos que merecem ser divulgados.
            Segundo A. S. Turberville, “A Inquisição medieval foi essencialmente uma instituição ideada pelo Papado e por ele dominada; mas, na França, de todas as maneiras. teve que contar com o poder da Coroa.”  Na Espanha, a Inquisição adquiriu requintes satânicos. Embora muitos defensores da Igreja afirmem que esta não teve papel saliente no sacrifício de milhares e milhares de... hereges, demonstra a História que semelhante argumento não passa de um artifício. Onde quer que a Igreja estivesse forte, forte estava a inquisição.
            Diz o autor citado, inA Inquisição Espanhola”:  “Em 1232, Gregório IX publicou uma bula (“Declinante”), dirigida ao Arcebispo de Tarragona, ordenando-lhe a busca e o castigo dos hereges compreendidos em sua diocese. É digno de nota que essa bula parece ter sido publicada sob a influência de um espanhol, Raimundo de Peñafort, o maior dominicano de sua época, o qual gozava de grande poder nas corte papal e foi até o principal inspirador da política de perseguições seguidas por Gregório e, portanto, o criador original da Inquisição medieval. No ano seguinte, Jaime, aconselhado pelos eclesiásticos reunidos em Tarragona, promulgou uma lei que castigava com o confisco de seus bens a todos os senhores que protegem herege”, etc. A matança de não cristãos, muçulmanos e judeus, foi terrível. Enquanto precisavam do dinheiro dos judeus, estes eram tolerados e até protegidos pelos Reis Católicos Isabel e Afonso. Logo, porém, que ficou decidida a expulsão dos mouros, já não se fazia necessário o auxílio financeiro dos judeus e estes seguiram o mesmo caminho. Os Reis Católicos usufruiam as vantagens possíveis. A Igreja via tudo e era como se nada visse...
            “Torquemada - diz Turbeville -, que bem depressa se tornaria famoso como primeiro Inquisidor, instigava constantemente a Rainha Isabel sobre o dever de livrar os seus domínios da corruptora presença dos crucificadores do Cristo. É bem conhecido o episódio de que, ao correr o rumor de que os judeus seriam expulsos, o Dr. Isaac Abravanel e outro rico judeu ofereceram 300 mil ducados com a esperança de evitá-la. O Rei Fernando achava que deviam aceitar a oferta, quando repentinamente se apresentou Torquemada diante dos soberanos, com um crucifixo nas mãos  e exclamando: “eis aqui o Crucificado a quem o malvado Judas vendeu por 30 moedas de prata! Se elogiais esse acontecimento, vendei-o por maior preço!”
            Nem o famoso Padre Antônio Vieira escapou à Inquisição. Esclarece Antônio Baião, em “Episódios Dramáticos da Inquisição Portuguesa” (3 volumes): “No dia 1º de Outubro de 1665, deu entrada nos cárceres da Inquisição de Coimbra o maior vulto do Portugal de então, o jesuíta Antônio Vieira. Recluso durante 44 dias, tanto gemeu e penou que não teve remédio senão pedir que o transferissem para o seu colégio ou o internassem em qualquer convento de religiosos. O cárcere do Santo Ofício de Coimbra era úmido e frio, muito exposto ao vento norte, e Vieira tinha sido preso ainda convalescente. Lá dentro tivera três ameaças de recaída, com febre e hemoptises e, quando assim era no outono, que faria em chegando os rigores do inverno?!”
            Mas porque Vieira fora preso? Outro jesuíta, Martim Leitão, “lente de véspera de teologia, no Colégio Santo Antão, já em 19 de Janeiro de 1649 o havia denunciado porque, em conversa com ele e com o Padre Francisco Soares, lente de prima de teologia do colégio de Coimbra, o célebre doctor eximius dissera possuir dois livros de profecias, um dos quais intitulados ‘Vates’, que ele não lia por não serem católicos”.
            Vieira foi várias vezes acusado de haver feito ‘proposições avançadas’. “E a 13 de Abril de 1660, o jesuíta André Fernandes, bispo do Japão, era intimado a mostrar no Santo Ofício o escrito do Padre Antônio Vieira, intitulado “Esperanças de Portugal”, que este lhe remetera do Maranhão. Com efeito, no dia 16 era o manuscrito remetido à Inquisição com uma carta em que André Fernandes dizia que o seu autor ‘falou só segundo sua opiniam ou afeiçam, que lhe avaliar ao Bandarra por profeta de El-Rey Dom Joam, como a outros de El-Rey Dom Sebastiam’. Tal foi a base do inquérito e da acusação inquisitoriais.”
            Depois de preso, mais duas denúncias foram feitas contra Vieira. E ainda o ‘interrogaram vagamente se tinha escrito alguma coisa acerca da ressurreição de certa pessoa defunta e de vários sucessos futuros em que tinha de intervir a dita pessoa defunta, ressuscitada antes da Ressurreição universal.’
            A sentença foi proferida em 23 de Dezembro de 1667 e ele ‘privado para sempre de voz ativa e passiva e do poder de pregar, e recluso no colégio ou casa de sua religião que o Santo Ofício lhe assinar, de onde, sem ordem sua, não sairá’, etc.
            São ‘as histórias que a História conta’. E não estamos mais do que colhendo trechos, aqui e ali. Iríamos longe, muito longe, porque assunto não falta, e bem atraente.
            Eis porque concordamos com Léon Tolstói, que diz: “A verdade não pode entrar na alma humana senão pela razão; portanto, os que crêem reconhecer a verdade graças à fé, e não à razão, atribuem a esta um papel contrário à sua natureza, o de julgar com toda a independência para saber em que a doutrina, que se faz passar por certa, se deve crer. A razão não pode julgar o que é preciso crer ou não crer, mas pode, e este é seu verdadeiro papel, comprovar a exatidão do que afirma.”
            Diante disso, cresce de expressão a frase de Allan Kardec, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.”
            Essa é a fé que o Espiritismo faz crescer no espírito do homem esclarecido e iluminado pela razão. Essa é uma das forças que tornam o Espiritismo invencível.

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