12CM
Relativamente ao que a Igreja ensina, conforme diz o meu amigo padre Dubois
“que todos os dogmas foram a ela revelados por Deus e,
a quem não crer, anátema”, creio ter à saciedade demonstrado que a ela,
desde que se constituiu Igreja de Roma, nenhuma revelação
foi dada e a razão é simples:
ela se divorciou por completo de Jesus.
Veja, meu amigo, como se operou lentamente esse divórcio:
Foi o bispo Aniceto quem começou a modificar os usos
estabelecidos pelos apóstolos,
pretendendo a primazia sobre os outros bispos e fiéis em geral.
A fraternidade, que devia existir entre os discípulos de Jesus,
desapareceu por completo, como também a humildade,
que era o apanágio dos apóstolos.
O conselho do Cristo – “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” –
foi esquecido e a excomunhão e os cismas
tomaram o ligar dos ensinos do Divino Mestre.
Foi o bispo Aniceto quem inventou a tonsura dos padres
em forma de coroa, e isto 130 anos depois da ascensão do Senhor.
Veja quão depressa se olvidaram os ensinos de Jesus.
O bispo Vitor aceitou a heresia montanista e também,
arrogando-se o predomínio,
ameaçou com excomunhão os bispos
e os fiéis do Oriente (de onde, aliás, veio o Cristianismo),
por não quererem eles submeter-se à data
por ele consignada para a celebração da Páscoa,
que os judeus comemoram pela passagem do Mar Vermelho.
Como naquele tempo (195-202) os outros bispos,
mesmo os da Itália, não se sujeitassem às decisões do bispo de Roma,
Vitor teve de recuar e engolir as suas ameaças.
Cornélio, 22º bispo, era um homem severo e reto: no entanto,
não se livrou de que Novaciano fosse também eleito bispo de Roma.
“Estevão I, 24º bispo, foi acusado por S. Cipriano de “homem arrogante,
teimoso e inimigo dos cristãos,
defensor da causa dos heréticos contra a Igreja de Deus
e de preferir as tradições humanas à inspiração divina.
“Firmiliano, bispo de Cesareia, em carta dirigida a S. Cipriano,
assim fala de Estevão I: “Quem se há de convencer que em
tal homem possa haver uma alma?
O seu corpo está já de si mal formado e aquela é perversa.
Estevão não tem vergonha de chamar falso cristão,
falso apóstolo e obreiro fraudulento ao seu irmão Cipriano;
e, para não dizê-lo de si mesmo,
tem a audácia de dizer de outrem!”
(“História dos Papas”, pág. 90, 1º vol.).
“Marcelino, 30º bispo, por medo,
abjurou solenemente a religião cristã
e ofereceu incenso aos ídolos pagãos
(que no fim vieram a ser os mesmos dos católicos,
posteriormente introduzidos nas igrejas)
no templo de Ísis e de Vesta no ano 300.
O historiador, falando do reinado de Marcelino,
diz na história deste papa:
“Mas o excesso de liberdade produziu
o quebrantamento da disciplina, e foi começada a guerra
por meio de palavras ofensivas:
os padres e os bispos, excitados uns contra os outros,
provocaram rixas e desordens;
finalmente, quando a maldade, a traição e a perfídia
chegaram aos últimos excessos,
a justiça divina ergueu o braço para punir, e permitiu que os fiéis,
que faziam profissão de armas, fossem perseguidos em primeiro lugar...
Os padres nunca se emendaram; sempre avaros, ambiciosos,
debochados, soberbos, vingativos, desordeiros;
sempre inimigos do sossego e da verdadeira piedade,
sempre dissimulados e pérfidos...
É isto que deles diz Platínio”. (“História dos Papas”, pág.104).
O padre Dubois, concordando que “a quem não crer, anátema”,
parece desconhecer a história da Igreja e julga os outros por si;
mas a Deus não engana e,
lançando o anátema, colocou-se fora do Evangelho,
visto que Jesus, pelo exemplo e pela palavra, ensinou:
“Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem,
fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam”.
(Mat., 5:44) Assim, pois, se ela fosse de Jesus,
obraria segundo os seus ensinos, o que,
segundo o pequeno histórico acima citado,
ela não fez então, nem mais tarde, nem nunca,
e, se não o fazendo, não é igreja de Jesus.
Medite sobre mais isso, meu amigo,
e veja se descobre uma saidinha desse beco.
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