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Em Atos 22:17 e seguintes, no seu discurso aos irmãos da raça, em Jerusalém, quando é preso e salvo por Cláudio Lísias, Paulo conta que, certa vez, estando em prece no templo, teve a visão do Cristo que lhe dizia:
- Apressa-te e vai a Jerusalém, pois não aceitarão ali o teu testemunho a meu respeito.
Paulo respondeu ao Cristo manifestado que os de Jerusalém sabiam que ele perseguira cristãos e tomara parte na execução de Estevão, mas Jesus o esclareceu:
- Vai, porque eu te enviarei para longe, aos gentios.
No capítulo seguinte, ainda preso em Jerusalém, depois dos agitados embates com os seus irmãos de raça, que juraram sua morte de qualquer maneira, Paulo é novamente visitado por Jesus que lhe diz:
-Ânimo! pois assim como deste testemunho de mim em Jerusalém, também deves dá-lo em Roma.
Na viagem por mar a Roma, Paulo pressente os perigos dos mares agitados e tenta convencer o comandante a esperar a passagem do inverno, mas a viagem prossegue. Quando o temporal se desata, como Paulo previra, e a pequena embarcação joga perigosamente à matroca, o terror toma conta de toda a tripulação e passageiros. A luta contra os elementos enfurecidos prolonga-se já há vários dias, quando Paulo lhes declarou:
-Amigos, teria sido melhor que me houvesses escutado e não tivéssemos saído ao mar em Creta; teríamos evitado estes perigos e teríamos poupado tantas perdas (muita carga havia sido jogada ao mar). Mas agora lhes recomendo que tenham bom ânimo; nenhuma de suas vidas se perderá; somente o navio, pois está noite apresentou-se a mim um anjo do Deus a Quem pertenço e a Quem rendo meu culto e me disse: ‘Não temas, Paulo; tens que comparecer diante de César; e olha, Deus te concedeu a vida de todos os que navegam contigo.’ Portanto, amigos, ânimo! Tenho fé em Deus que sucederá tal como me foi dito. Iremos dar em alguma ilha (Atos 27: 9-25).
Aí está como se passaram as coisas e mais uma vez Lucas é testemunha ocular, pois viaja em companhia de Paulo e Timóteo para Roma. Os Espíritos trouxeram a Paulo a certeza de que ele ainda teria que defrontar-se a Paulo a certeza de que ele ainda teria que defrontar-se com Nero, e, enquanto isso, nada aconteceria capaz de tirar-lhe a vida. Também se salvariam os que partilhavam o seu destino naquele instante. E assim foi.
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Também nas epístolas surgem referências aos aspectos mediúnicos das tarefas apostolares.
Na primeira, aos coríntios, capítulo 2, Paulo informa aos seus amigos que não se dirigiu a eles da primeira vez com o prestígio da sua oratória, nem da sua sabedoria.
- Minha palavra, diz ele, e minha pregação não tiveram nada dos persuasivos discursos da sabedoria, senão que foram uma demonstração do espírito e do poder, para que vossa fé se fundasse, não na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus (versículos 4 e 5).
No capítulo 10 volta a informar sobre a origem dos seus conhecimentos:
- Porque a nós revelou Deus, por meio do espírito e o espírito a tudo sonda, até as profundidades de Deus.
Quem poderia tentar sondar as verdades superiores do universo ‘até as profundidades de Deus’ senão o espírito?
No capítulo 12 da segunda Epístola aos Coríntios, Paulo narra a sua singular experiência de desdobramento, quando foi ‘arrebatado até o terceiro céu’. As visões e revelações que ali recebeu – contava ele 14 anos depois – nem sequer poderia expressá-las em linguagem humana.
Aos gálatas, desviados do roteiro que traçara e recaídos na inútil observância de alguns preceitos da lei antiga, interpela indignado (Gal. 3:1-5):
- Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou a vós a cujos olhos se apresentou Jesus crucificado? Quero saber de vós uma coisa: recebestes o espírito pelas obras da lei ou pela fé na pregação? Tão insensatos sois? Começando pelo espírito terminais agora em carne? Haveis passado em vão por essas experiências? Pois bem, tudo seria em vão! O que vos outorga, pois, o espírito e opera milagres entre vós fá-lo porque observais a lei ou por que tendes fé na pregação?
Depreende-se, pois, que a Igreja da Galácia, depois de experimentar tantos fenômenos mediúnicos notáveis, recai na prática antiga, voltando à observação das ‘obras da lei’. Para que, se já tem um testemunho muito superior que é a manifestação mediúnica, o intercâmbio com os amigos da espiritualidade?
Na primeira carta a Timóteo, Paulo dá notícia de uma observação colhida no mundo espiritual:
- O Espírito diz claramente – escreve ele no capítulo 4, versículos 1 e seguintes – que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé entregando-se a espíritos enganadores que têm marcada a fogo sua própria consciência (I Tim. 4:1-2).
E como estava certo o espírito que que transmitiu essa mensagem!
Aliás, Timóteo também fora iniciado na prá tica mediúnica e conhecia bem os mecanismos da mediunidade abençoada pela fé. Também recebera orientação espiritual quanto à sua vida. É o que diz Paulo, ainda na primeira Epístola, capítulo 1, versículos 18 e seguintes:
-Esta é a recomendação, filho meu. Timóteo, que te faço de acordo com as profecias pronunciadas sobre ti anteriormente.
Na segunda Epístola ao discípulo amado, já nos últimos dias da sua vida terrena, consta ainda a recomendação extrema para que continue a prática mediúnica:
Por isto te recomendo que reavives o carisma de Deus que está em ti pela imposição de minhas mãos (II Tim. 1:6).
Em linguagem moderna, Paulo diria: recomendo que pratiques a mediunidade com Deus, o qual despertei em ti por meio de passes.
Aos hebreus, lembra Paulo que, nos tempos bíblicos da lei antiga, os anjos que anunciavam acontecimentos futuros e traziam advertências e ensinamentos não eram senão ‘espíritos servidores com a missão de assistir os que hão de herdar a salvação’. (Hebr. 1:14). A não ser o conceito de salvação que o Espiritismo reformulou, a expressão é do mais perfeito e atualizado contexto espírita: os antigos anjos são Espíritos servidores com a missão de assistir os homens... Aliás, a palavra grega correspondente a anjo quer dizer mensageiro.
Só isso bastaria pata testemunhar o profundo conhecimento que Paulo alcançou dos mecanismos da mediunidade, mas há mais, muitíssimo mais. Este repositório, de enorme valor histórico e doutrinário, está contido nos capítulos 12, 13 e 14 da sua notável Epístola aos Coríntios, a primeira. Esse texto foi, na realidade, o precursor de ‘O Livro dos Médiuns’, que aparece mil e novecentos anos depois, sob a responsabilidade de Allan Kardec.
Ao que se depreende da sua epístola, as práticas mediúnicas na Igreja de Corinto estavam ficando tumultuadas. Paulo resolve então fixar cuidadosamente as normas, no que revela um conhecimento extraordinariamente avançado para aqueles tempos. Essa experiência somente poderia decorrer da longa prática e atenta observação por parte de seu penetrante espírito.
Quanto aos dons espirituais, não quero, irmãos, que estejais na ignorância – começa ele o capítulo 12.
Previne contra os Espíritos que desejam semear a dúvida e a discórdia, dizendo que nenhum mensageiro ‘sob o influxo do espírito de Deus’ falaria contra Jesus e nenhum reconheceria a autoridade dele, se não viesse da parte de Deus.
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