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Com Luís XI o poder real na França assume um aspecto tirânico, a par de uma fase marcada pela confusão.
Os Estados Gerais não são mais convocados. Os impostos tornam-se permanentes e sumamente pesados. Do ponto de vista do judiciário, outros parlamentos progridem ou surgem ao lado do Parlamento de Paris. Em relação à Igreja, a realeza procura tirar partido do Grande Cisma para impor sua direção. Tendo renunciado explorar suas reservas de solo desde os Grandes Arroteamentos, os nobres passam a arrendá-las. A desvalorização da moeda os empobrece. O desaparecimento acidental das grandes famílias de apanágio priva-os de seus chefes políticos. Os camponeses obtêm melhores condições para tornar a cultivar as terras devastadas pela guerra. A burguesia, em plena ascensão, aceita o absolutismo que sufoca as liberdades municipais.
É exatamente apoiado nessa burguesia, a quem concedera títulos e privilégios, que Luís XI - um rei pouco religioso e extremamente supersticioso - governa.
Commines, um de seus historiadores[1], chama-o de universal aranha, tais as teias que o soberano sempre teceu durante todo o tempo de seu reinado. (E nelas repetidas vezes ficou preso...)
Filho de Carlos VII e de Maria de Anjou, nasceu ele em Bourges, em 3 de julho de 1423.
Antes dos 14 anos foi casado com Margarida da Escócia, filha do Rei Jaime I.
Aos 17 anos começaram as divergências e lutas com seu pai, com o risco de perder o delfinato.
Toda a sua ação, antes e depois de subir ao trono, é caracterizada pelas traições, intrigas, lutas inglórias, até mesmo com os parentes - pai e irmão.
De seu segundo casamento com Carlota de Sabóia deixou os filhos: Ane, casada com o Sr. de Beaujeu; Jeanne, esposa do Duque de Orléans (o futuro Luís XII) e Carlos VIII.
Mas, apesar de toda a confusão de seu reinado, a verdade é que não se pode negar-lhe o mérito de alguns empreendimentos de vulto.
A criação do correio utilizando cavalos, o desenvolvimento da milícia, a tentativa de organização da marinha, a inamovibilidade dos funcionários da justiça, a introdução da imprensa em Paris, a promoção de uma especialização agrícola, o estímulo ao comércio e à indústria, a melhoria das estradas, a criação de parlamentos em Grenoble, Bordéus e Dijon, assinalaram a sua administração. Mas, segundo seus biógrafos, nenhum soberano de seu tempo conheceu e utilizou melhor as manhas da política e os meios de dominar os homens, explorando-lhes as ambições. Foi, de fato, cruel, governando sem escrúpulos, cercando-se unicamente de homens capazes de todos os servilismos, sabendo obrigar à obediência todos os príncipes, entre os quais a França estava dividida. Conseguiu até tirar-lhes uma parte do poder, desapossá-los, aumentando consideravelmente o território da coroa. Por tudo isso, afirma-se, deve Luís XI figurar entre os fundadores da unidade da França.
Sua desencarnação, ocorrida em seu castelo de Plessiles-Tours, envolvida por superstições e terrores que o próprio São Francisco de Paula não conseguiu dissipar totalmente, mereceu um comentário de Commines.
Na verdade, um comentário sucinto e vago:
-Era um rei!
[1] Philippe de la Clyte Commines (1445-1509) era também um político de rara finura, tendo-se tornado conselheiro e confidente de Luís XI. Como escritor, deixou apenas suas ‘Memoires’ - incompletas -, nas quais analisa, com grande poder de observação, a luta política entre Luís XI e Carlos, o Temerário.
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