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quinta-feira, 10 de março de 2011

01/50 'Crônicas Espíritas'



No ano de 1920, a FEB publicou, em 2ª edição, o livro 'CRONICAS ESPIRITAS' onde registra-se a polêmica religiosa que se estabeleceu entre o padre Florêncio Dubois e Fred Figner (o espírita não o espírito) num comparativo entre os fundamentos religiosos do Espiritismo e os do Catolicismo.  Apesar de expressar o profundo conhecimento evangélico do Figner, o livro não recebeu novas edições. Entendemos que as diferentes diretorias da FEB que sucederam a do presidente Leopoldo Cirne optaram, umas sim e outras não, a evitar o confronto de idéias com a igreja de Roma ou mesmo com as igrejas reformadas. Além dessa possibilidade, some-se a enxurrada de livros do Chico Xavier que colocaram enorme pressão seja nos revisores dos textos emanados de sua pena seja na  gráfica da FEB, por décadas. O livro foi digitalizado com total fidelidade ao texto original a menos da necessária atualização ortográfica. Será postado progressivamente aqui. A numeração que constará das postagens não existe no original. 
Ela é necessária apenas para ordenar as postagens. 
Quanto a biografia do Figner, ela pode ser encontrada (em diferentes versões) no Google.
Recomendamos, em especial, o link  

http://www.centroespiritafxs.com.br

                 Sem dúvida, Figner é um personagem notável do movimento espírita no Brasil a quem prestamos nossa homenagem e a quem manifestamos nossa profunda admiração. Como Zaqueu, soube sobreviver a maior das provas a que podemos estar submetidos: a prova da riqueza.    Aron


“Resposta ao Padre Dubois

Polêmica com o padre Florêncio Dubois na “Folha do Norte”, do Pará, em 1921, e coletânea de artigos publicados no “Correio da Manhã”, em 1920, com a inclusão do discurso do Bispo Strosssmayer, no Concílio do Vaticano, em 1870. Conforme 2ª edição do livro publicado pela FEB.


Do livro ‘Crônicas Espíritas’ de Fred. Fígner (Ed FEB).

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ARTIGOS PUBLICADOS NA “FOLHA DO NORTE” DO PARÁ

                                                          
Meu caro padre Dubois:

            De passeio por esta minha amada Belém, tive ocasião de ler na “Folha” de 13 de Março deste ano o seu artigo e fiquei satisfeito por saber que servi de instrumento para folguedo de V. Revma. com o meu choro de crocodilo defendendo a causa dos médiuns curadores contra as perseguições do Departamento de Saúde Pública.
            Se citei o célebre professor Hyslop, é porque ele é autoridade no assunto, como poderia ter citado outros autores talvez mais conhecidos de vossa ver. Por exemplo: Gabriel Delanne, Coronel De Rochas, Camilo Flammarion, Paul Gibbier, Asakof e Dr. Gustavo Geley, atualmente Diretor do Instituto Metapsíquico Internacional, e que acaba de publicar a obra de grande êxito intitulada “De l”Inconscient au Conscient” livro baseado nas experiências de materialização com a médium Eva C. Todos eles são espíritas convictos como o declaram publicamente nas suas obras.
            Naturalmente, V. Revma., como padre, fatalmente também acredita na sobrevivência da personalidade depois do fenômeno chamado erroneamente morte. Se assim não fosse, por certo não seria padre.
            Disse V. Revma. que “o raciocínio do Figner enverga casaca mas anda de pé no chão”. Está V. Revma. enganado. O raciocínio do Figner é o Figner e eu ando com os pés no chão porque ainda não aprendi a voar, mas ando tão bem calçado que, de acordo com o meu raciocínio, no dia 28 de Março p.p. o Dr. Juiz da 4ª Vara Criminal, a quem estava afeto o processo que o Departamento da Saúde Pública movia contra o médium Inácio Bittencourt, mandou arquivar os autos porque neles não encontrou fundamento para a denúncia, visto que para ele não havia crime nem criminoso. É esta a alviçareira notícia que trago para regalo dos nossos adversários.
            Se, porém, como sustenta V. Revma. é crime curar o seu semelhante sem o competente pergaminho, o maior criminoso foi o próprio Cristo, pois foi Ele quem começou as curas fluídicas quem mandou e deu poder a todos aqueles que n’Ele cressem para fazer o mesmo.
            E tanto assim é, que, no Evangelho traduzido da Vulgata Latina pelo padre Antonio Pereira de Figueiredo, Jesus diz o seguinte, no Evangelho de S. João, cap. 14, v. 12: “Crede-o ao menos por causa das mesmas obras.Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, esse fará as obras que eu faço, e fará outras ainda maiores.” E no cap. 10, v. 8, S. Mateus: “curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expeli os espíritos imundos (maus); daí de graça o que de graça recebestes.”
            E disse ainda, momentos antes da sua ascensão (S. Marcos. Cap. 8, v. 17 e 18): “E estes sinais seguirão aos que crerem: Expulsarão demônios em meu nome; falarão novas línguas, manusearão as serpentes; e se beberem alguma potagem mortífera não lhes fará mal; porão as mãos sobre os enfermos e os sararão.”
            Claramente se depreende daí que quem crer em Jesus, deve, ipso facto, possuir o dom de curar e fazer as obras preconizadas por Ele e praticadas pelos apóstolos e seus sucessores, os quais ressuscitaram mortos, curaram paralíticos e enfermos de toda classe de moléstias, como se vê dos “Atos dos Apóstolos”, e que deram sempre de graça o que de graça receberam. Nada cobraram pelo batismo dos adultos, pois que a crianças inconscientes nunca batizaram. Não cobravam pelas preces e não diziam missas, nem receberam para celebrar casamentos, pois este era um ato puramente civil. Não encomendaram corpos já em estado de decomposição, porque sabiam que estes nenhum valor tinham e que só o espírito era a realidade eterna.
            Quanto à sua pergunta: “Por que os nababos a quem os médiuns curam não pagam a multa?” Esta foi cabalmente respondida pela “A Noite”, do Rio, que abriu em suas colunas uma subscrição, com a dádiva de 200$000 enviada à sua redação por uma parenta (cunhada, creio) do Dr. Bonifácio, médico que multou e processou o médium Inácio Bittencourt, subscrição que em poucos dias alcançou mais de 7 contos de réis.
            O fato mais interessante de tudo isso foi que nenhum jornal do Rio, exceção feita de “O País”, deixou de verberar o procedimento da Saúde Pública, o que prova que as curas espíritas já têm foros de cidade em nosso país, e ainda mais: poucos dias antes da minha partida, o Dr. Augusto de Lima, deputado federal por Minas, membro da Academia e católico praticante, publicou vibrante artigo n’“A Notícia”, defendendo os médiuns e particularmente a Inácio Bittencourt, dizendo, entre outras coisas, que as curas por seu intermédio praticadas deviam servir-lhe de pergaminho.
            Defendendo os médiuns, defendo os princípios e os ensinos emanados do divino Mestre que, aliás, disse que não eram seus e sim d’Aquele que o enviou e que era maior do que ele. Não ataco crenças nem pessoas, mesmo porque sei que cada um pensa como pode e não como quer.
Não faço aos outros o que não desejo que se me faça.
            Os fatos se encarregarão de demonstrar quem está com a razão. Os fatos nunca se transformaram em ficção e tempo virá em que v. ver. se curvará diante deles, pois a eternidade também pertence à V. Revma.
            A verdade não se destrói com sofismas, pois ela é de Deus.

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