O Santuário
da Memória
Emmanuel por Chico Xavier
em “Emmanuel” (pág 130 da 4ª Ed.
FEB)
"A Igreja romana não relegou para segundo plano o pai, fazendo do filho o objeto exclusivo de seu culto de adoração? E o culto prestado a Maria já não ameaça substituir o que ela, a Igreja, presta ao filho? "Mas virá o tempo, e já veio, em que os verdadeiros adoradores adorarão o pai em ESPÍRITO E VERDADE; esses são os adoradores que o pai quer. " "Os Quatro Evangelhos" de J.-B. Roustaing, à pág. 221 - Vol 4 - 7ª Ed. (FEB) 1990.
O Santuário
da Memória
Emmanuel por Chico Xavier
em “Emmanuel” (pág 130 da 4ª Ed.
FEB)
Dogmas e mais dogmas
por I. Pequeno (Antônio Wantuil de
Freitas)
Reformador
(FEB) Novembro 1946
- Após uma encarnação fluídica num planeta mais adiantado que a Terra, encarnação sofrida como consequência de pequenina falta, retomou aquele Espírito o caminho simples e reto do progresso e até hoje o trilha, pois que ainda não chegou ao cume, à perfeição sideral. (1-333) ,
- Conquanto não se ache ainda na
categoria dos Espíritos puros, suas atuais encarnações estão de tal forma acima
de nossas inteligências, que não podemos fazer dela do que sejam.
Sabemos, porém, que Maria é um
Espírito inferior, muito inferior a Jesus. (1-331).
- O Senhor estava com Maria, mulher
entre todas bendita, por ser, entre todas, Espírito muito puro no desempenho de
uma missão na Terra. (1-369).
- Recomendando João a Maria e esta aquele,
Jesus deu o testemunho da sua solicitude pelos encarnados e homenageou os
sentimentos que devem animar os filhos com relação aos pais, sentimentos que
devem ligar a grande família humana. (IV-498).
Como vemos, apesar do muito respeito
e da muita estima que nos merece o elevado Espírito de Maria, ao qual temos
recorrido muitas vezes, não podemos concordar com os dogmas da Igreja, dogmas
que tendem a fazer da Virgem o que já fizeram com o Cristo, deificando-a igualmente.
Os espíritas também dirigimos preces a Maria, como o
fazemos igualmente aos nossos guias e protetores; porém, entre a nossa
veneração à Virgem e a outros grandes Espíritos e a divinização que lhe quer
dar a Igreja, vai um infinito, um abismo quase igual ao que existe entre a
criatura e o Criador, ou entre um planeta e o Universo.
Se assim continuarem, dentro de mais alguns séculos já
não mais terão a Trindade, visto que se tornará necessário criar um novo termo,
ao qual possam incluir as atuais três pessoas e mais o Espírito de Maria e
talvez mesmo o de João Batista.
Até lá, porém, o mundo já estará
recristianizado. Os Espíritos já terão levado a verdade a todos os cantos da
Terra, e os dogmas já não impressionarão a coletividade.
Olá meu
irmão!
Humberto
de Campos
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Novembro 1943
- A disposição antiga, acentuava Cipriano Neto - é verdadeiro tônico espiritual. Não raro, envenenamos o coração, a força de insistir na máscara sombria. Má catadura é moléstia perigosa, porquanto as enfermidades não se circunscrevem ao corpo físico. Quantos negócios de muletas, quantas atividades nobres interrompidas, em virtude do mal humor dos responsáveis! Claro que ninguém se deixe absorver por malandros de esquina, mas o respeito e a afabilidade para com as criaturas honestas, seja onde for, constituem alguma coisa de sagrado que não esqueceremos sem ferir a nós mesmos.
E, frente à pequena assembleia, toda
ouvidos, Cipriano, com a graça de sua privilegiada inteligência, continuou,
após longa pausa:
- Na Terra, o preconceito fala muito
alto, abafando vozes sublimes da verdade superior. Nesse capítulo, tenho minha
experiência pessoal, bastante significativa.
Meu amigo
vagueou o olhar muito lúcido, através do horizonte longínquo, como a vasculhar
o passado, calou-se por alguns momentos e prosseguiu:
- É quase inacreditável, mas o meu
fracasso em Espiritismo não teve outra causa. Não ignoram vocês que meu coração
de pai, dilacerado pela morte do filho querido, fora convocado à doutrina dos
Espíritos, ansioso de esclarecimento e consolação,
Banhado de conforto sublime, senti
que minhas lágrimas de desesperação se transformaram em orvalho de
agradecimento à bondade de Deus, Meu filho não morrera. Mais vivo que nunca,
endereçava-me carinhosas palavras de amor. Identificara-se de mil modos. Não
havia lugar a dúvidas. Inclinei-me, então, à doutrina renovadora. Saciado pela água
de santas consolações, não sabia como agradecer à fonte. Foi aí que recordei
minhas possibilidades intelectuais. Não seria justo servir ao Espiritismo,
através da palavra? Poderia escrever para os jornais ou falar em público,
Fundamente reconhecido à nova fé, atendi à primeira sugestão que um amigo me
ofereceu e dispus-me a fazer uma conferência. Anunciou-se
o feito e, no dia aprazado, compacta assistência esperou-me a confissão.
Seduzido pela beleza do Espiritismo cristão, falei longamente sobre a caridade.
Aplausos, abraços, sorrisos, felicitações. No círculo de meus companheiros de
literatura, porém, o assunto fizera-se obrigatório. Voltando à Avenida, no dia
imediato ao acontecimento, meu esforço foi árduo por convencer aos confrades de
letras que não me achava louco. Infelizmente, contudo, minha decisão não se falava
senão à vaidade. Pronunciara a conferência como se o Espiritismo necessitasse
de mim. Admitia, no fundo, que minha presença honrara, sobremaneira, o auditório,
que a codificação kardeciana encontrara em mim prestigioso protetor. Desse
modo, alardeava suma importância em minhas novas palestras, citava a
antiguidade clássica, recorria aos grandes filósofos, mencionava cientistas
modernos. Quando nos encontrávamos, meus colegas e eu, no ápice das discussões
afetuosas, eis que surge o Elpidio, velho conhecido meu e antigo tintureiro em
Jacarepaguá. Sapatos rotos, calças remendadas, cabelos despenteados, rosto
suarento, aproximou-se de mim e estendeu-me a destra, exclamando alegre:
Olá meu irmão! Meus parabéns!... Fiquei muito satisfeito
com a sua conferência!
Entreolharam-se
meus amigos, admirados. E confesso que respondi à saudação efusiva, secamente,
movimentando levemente a cabeça e sentindo-me profundamente humilhado. Face ao
meu silêncio, o tintureiro, despediu-se, mostrando enorme desapontamento. “É de
sua família?” - Indagou um companheiro mais irônico. “Estes senhores espiritistas
são os campeões da ingenuidade!”, exclamou outro circunstante , Enraiveci-me.
Não era desaforo de semelhante homem do povo chamar-me irmão ali em plena
Avenida, frente aos colegas de tertúlia literária? Estaria, então, obrigado a
relacionar-me com toda espécie de vagabundos? Não seria aquilo irmanar-me a rebotalhos
de gente, na via pública? O incidente criou em mim vasto complexo de inferioridade.
Cegavam-me, ainda, velhos preconceitos sociais, e a ironia dos companheiros
calou-me, fundo, no espírito. A ausência de afabilidade, a incompreensão grosseira
dominaram-me por completo, O fermento da negação trabalhou-me o íntimo, levedando
a massa de minhas disposições mentais. Resultado? Voltei à aspereza antiga e,
se cuidava de doutrina, confinava-me a reduzido círculo doméstico. Não estimava
a companhia ou a intimidade daqueles que considerava inferiores. Os anos, todavia,
correm metodicamente, alheios à nossa vaidade e ignorância, e impuseram-me a
restituição do organismo cansado ao seio acolhedor da terra. Sabem vocês por
experiência própria, o que nos acontece a essa altura da existência humana, Gritos
estentóricos de familiares, pavor de afeiçoados, ataúde rescendendo aromas de
flores das convenções sociais. Em meio da perturbação geral, senti que um sono
brando apoderava-se de mim. Nunca pude saber quantos mas gastei nesse repouso
compulsório. Despertando, porém, debalde clamei por meu filho bem amado. Sabia perfeitamente
que abandonara a esfera carnal e ansiava por encontrar-lhe o carinho. Deixei a
residência antiga, ferido de amargurosas preocupações, Atravessei ruas e
praças, de alma opressa. Atingi a Avenida, onde me dava ao luxo de palestrar
sobre ciência e literatura. E ali mesmo, junto ao café aristocrático, divisei
alguém que não me era estranho às relações individuais. Não tive dificuldades no
reconhecimento. Era o Elpídio, integralmente transformado, evidenciando nobre
posição espiritual, trocando ideias com outras entidades da vida superior. Não
mais os sapatos velhos, nem o rosto suarento, mas singular aprumo, aliado à
expressão simpática e bela, cheia de bondade e compreensão. Aproximei-me,
envergonhado. Quis dizer qualquer coisa
que revelasse minha angústia, mas obedecendo a impulso que jamais soube explicar,
apenas pude repetir as antigas palavras dele: "Olá meu irmão! Meus parabéns!"
Longe, todavia, de imitar-me o gesto, grosseiro e tolo
de outro tempo, o generoso tintureiro de Jacarepaguá abriu-me os braços,
contente, e exclamou com sincera alegria:
- Ó meu amigo! Que satisfação! Venha
daí, vou conduzi-lo ao seu filho!
Aquela bondade espontânea, aquele
fraternal esquecimento de minha falta eram por demais eloquentes e não pude
evitar as lágrimas copiosas...
Nossa pequena assembleia de
desencarnados estava igualmente comovida, Cipriano calou-se, enxugou os olhos úmidos
e terminou:
- A experiência parece demasiadamente
humilde, entretanto; para mim, representou lição das mais expressivas. Através
dela, fiquei sabendo que a afabilidade é mais que um dever social, é alguma coisa
de Deus que não subtrairemos ao próximo, sem prejudicar a nós mesmos.
Em oração
Manoel Philomeno de
Miranda
por Divaldo Franco
in “A Prece segundo os
Espíritos”
LEAL
Editora – Salvador – Bahia – 2ª Edição 1995
Senhor – ensina-nos a respeitar a
força do direito alheio na estrada do nosso dever.
Ante as vicissitudes do caminho,
recorda-nos de que no supremo sacrifício da Cruz, entre o escárnio da multidão
e o desprezo da Lei, erigiste um monumento à justiça, na grandeza do amor.
Ajuda-nos, assim, a esquecer todo o
mal, cultivando a árvore generosa do perdão.
Estimula-nos à claridade do bem sem
limites, para que o nosso entusiasmo na fé não seja igual a ligeiro meteoro
riscando o céu de nossas esperanças, para apagar-se depois...
Concede-nos a felicidade ímpar de
caminhar na trilha do auxílio porque, só aí, através do socorro aos nossos
irmãos, aprendemos a cultivar a própria felicidade.
Tu que nos ensinaste sem palavras no
testemunho glorioso da crucificação, ajuda-nos a desculpar incessantemente,
trabalhando dentro de nós mesmos pela transformação do nosso espírito, na
sucessão do tempo, dia a dia, noite a noite, a fim de que, lapidado, possamos
apresenta-lo a Ti no termo de nossa jornada.
Ensina-nos a enxergar a Tua
Ressurreição sublime, mas permite também que recordemos o suplício da Tua
solidão, a coroa de espinhos, a cruz infamante e o silêncio tumular que a
precederam, como lições incomparáveis para nós, na hora do sofrimento, quando
nos chegue.
Favorece-nos com a segurança da
ascensão aos Altos Cimos, porém não nos deixes olvidar que após a jornada
silenciosas durante quarenta dias e quarenta noites, entre jejum e meditação,
experimentaste a perturbação do mundo e dos homens, em tentações implacáveis
que, naturalmente, atravessarão também nossos caminhos...
Dá-nos a certeza do Reino dos Céus,
todavia não nos deixes esquecer que na Terra, por enquanto, não há lugar para
os que te servem, tanto quanto não houve para Ti mesmo, auxiliando-nos,
entretanto, a viver no mundo, até a conclusão da nossa tarefa redentora.
Ajuda-nos, Divino Companheiro, a
pisar os espinhos sem reclamação, vencendo as dificuldades sem queixas, porque
é vivendo nobremente que fazemos jus a uma desencarnação honrada como pórtico
de uma ressurreição gloriosa.
Senhor Jesus, ensina-nos a perdoar,
ajuda-nos a esquecer todo o mal, para sermos dignos de Ti! ...
Ilusões da
Propriedade
Cristiano
Agarido (Ismael Gomes Braga)
Reformador
(FEB) Dezembro 1946
Esse conhecimento ajuda-nos a
libertar-nos da avareza que tantos males tem causado à Humanidade.
Se na realidade da vida eterna é
assim, o rico de hoje pode tornar-se o miserável de amanhã pela morte ou pela
desapropriação imprevisível. Outro aspecto ainda existe, no domínio dessa
ilusão, que merece nossa reflexão e vamos tentar esboçá-lo num rápido artigo.
A vida moderna complicou a primitiva ideia de
propriedade, positiva questão de força entre os antigos, tornando-a de tal
complexidade que desafia a inteligência dos mais argutos e a força dos mais
violentos. Em vez do saco de ouro foram criados os papéis simbólicos do ouro,
confiados à guarda dos governos e sujeitos a desvalorizações parciais ou
totais. Vemos um país inteiro arruinado,
com a moeda reduzida em seu poder aquisitivo a tão ínfimo valor que todas as
rendas se tornam insuficientes à subsistência.
O preço de um prédio, poucos meses
depois de vendido, não basta para pagar o aluguel de outro por um mês; os juros
dos títulos, com os quais vivia confortavelmente uma família, tornam-se
insuficientes e tem-se que vender tais papéis e seu produto desaparece
rapidamente. É essa a situação hoje de muitos países europeus, mesmo de um dos
vencedores da guerra.
Além dessas calamidades de ordem nacional,
independentes da vontade de um povo inteiro, outra existem de natureza privada
que merecem exame filosófico. As ações de sociedade anônima apresentam uma
dessas modalidades. Há neste momento no Brasil muitas sociedades anônimas,
cujas ações dentro de 24 horas perderam todo o seu valor positivo e passaram a
representar valor negativo, isto é, são símbolo de dívidas a pagar e ninguém as
quer em suas mãos, quando 24 horas antes mesmas ações tinham 300% de ágio. São
empresas falidas por força de Decretos que determinaram sua proibição, em
oposição a Decretos anteriores que as estabeleceram. Não interessam pormenores
nem crítica a nenhum dos dois Poderes, um que criou, outro que exterminou tais
empresas; só interessam os fatos positivos que produziram prosperidade
passageira e ruína completa de alguns milhares de pessoas.
Há em nosso tempo pessoas que passam
pela vida inteira em grandes negócios, em plena ilusão de riqueza, mas que na
verdade nunca possuíram um ceitil. Todas as suas operações são financiadas por
bancos e particulares, sob caução de papéis que realmente nada de duradouro
representam, e tais e tantas são as operações de crédito que o autor do
movimento chega à ilusão completa de que é rico e como tal vive muitos anos ou
a vida toda e não raro constrói prédios, monta fábricas, torna-se um fator do
progresso, elemento útil da sociedade em que vive. Em qualquer momento de sua vida, porém, que a
sua situação real fosse analisada, ele estaria insolvável. Viveu, trabalhou,
fez muito bem ou muito mal, baseado em ilusões e cultivando esperanças de
lucros que lhe permitissem tornar-se proprietário real e não somente
depositário de bens alheios.
Toda essa confusão moderna contribui para nos
esclarecer sobre a ilusão da vida material. Só os bens espirituais realmente
nos pertencem e dentro dessa babel temos que ouvir a ressonância daquela
advertência descida do céu: “Ajuntai
tesouros no céu, onde nem a traça, nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões
não minam nem roubam.” (Mat. 6:20)
E, no entanto, não podemos fugir da sociedade em que
vivemos e de submeter-nos às suas ilusões e complicações, sem nos tornarmos
inteiramente inúteis a nós mesmos e aos outros! Existem grandes serviços a
prestar, obras necessárias ao progresso do mundo e dos homens e só as podemos
realizar dentro da situação existente. Por mais contraditória que seja a
sociedade moderna, é ela o laboratório de grandes realizações. É ela o nosso
campo de trabalho e não podemos fugir a todas as suas complicações e perigos
sem cairmos na situação de servo infiel que enterrou os talentos com receio de
perdê-los.
A propriedade é uma ilusão, não podemos apegar-nos a
ela, porque nos será retirada quando menos esperarmos; no entanto, sem ela não
podemos realizar as obras que nos foram confiadas. Como sair do dilema?
Parece-nos que o mal tem sido apenas de considerarmos
efetivo o que é passageiro e de nos escravizarmos à propriedade em vez de
empregá-la como serva, como instrumento de prestar serviços. Se a nossa
finalidade clara for a de servir, todas as coisas em nossas mãos oferecerão
meios de prestar serviços; não mais nos julgaremos proprietários de coisa
alguma – o que seria funesta ilusão – mas somente administradores provisórios
dos bens da Providência. Quando chegarmos à compreensão clara dessa função da
propriedade, tornar-nos-emos administradores fiéis do tesouro do Pai,
sentindo-nos responsáveis no emprego de toda e qualquer parcela dos bens que
passam pelas nossas mãos. Seremos, então, instrumentos da Providência, e o
mundo se transformará em paraíso. Longa será ainda a nossa luta para
realizarmos essa mudança de mentalidade. Muitos serão os Missionários que terão
que descer à Terra para nos ensinar e serem incompreendidos por nós em nossa
timidez diante da pobreza. Essa timidez, essa falta de fé nos homens, sulcou
fundamente o nosso Espírito durante muitas encarnações penosas e só com longos
abalos, muita dor, conseguiremos libertar-nos de nós mesmos e vivermos para a
obra divina.
De qualquer sorte não nos insulemos
num claustro, vivamos e lutemos na sociedade humana com todos os seus riscos e
perigos.
Sobre a
graça e a predestinação
A Redação Reformador (FEB) 16 de Janeiro de 1917
As igrejas impõem, como dogmas, o
pecado original, que maculou a humanidade, proveniente da suposta falta do
casal edênico, ocasionada pela intervenção do diabo, sob a forma de réptil, e o
resgate dessa falta, após alguns milênios, pela imolação, na Judeia, do próprio
Deus Onipotente, sob a forma humana, como vítima propiciatória.
Para a educação das almas exigem a
observação de certos ritos e cerimônias.
Não bastam.
Torna-se ainda necessário a graça,
que é um dom gratuito e sobrenatural, com diferentes classificações.
A graça e a predestinação foram
objeto de numerosas e renhidas discussões entre teólogos católico-romanos e
protestantes, entre ortodoxos e heterodoxos.
Roma entendeu, em oposição a certo
fanatismo tacanho, que N. S. Jesus Cristo prometeu a salvação a todos os homens,
sem exceção; mas decidiu, contra o pelagianismo (Da Wikipedia: doutrina de convicção
dos pelagianos, segundo a qual o homem era totalmente responsável por sua
própria salvação e que minimizava o papel da graça divina. De Pelágio da
Bretanha.) antigo e moderno
e de acordo com a sua política, que a graça é necessária para a salvação,
considerando herética a proposição contrária.
Está claro que os infiéis não podem
obtê-la, senão pela conversão à igreja.
Embora a graça, manancial fecundo no
céu e na terra, seja um dom gratuito, dependente da vontade divina, dispões o
Vaticano de expedientes vários, e que considera eficazes, para alcança-la e
distribui-la, em doses convenientes e para diversos efeitos.
Conforme doutrinam os teólogos, a
graça se divide em habitual, que é permanente e santificante, e em atual, que é
interior e exterior, suficiente e eficaz.
Pode dirigir-se ao entendimento e à
vontade; servir de preservativo, acompanhar o ato ou segui-lo, sendo, portanto,
preventiva, concomitante ou subsequente...
Não é nesse sentido que a
predestinação figura neste artigo, ao lado da graça, e faz objeto das aludidas
questões teológicas.
Ensinam as igrejas que Deus
predestina certo número de almas para a bem-aventurança eterna, cumulando-as de
graças especiais. Formam esses mortais o grupo dos escolhidos do Senhor, por
ato de sua vontade soberana, destinados, infalivelmente, ao céu, à felicidade
eterna.
A predestinação para as penas
eternas teve também apologistas e sectários.
Se o decreto de predestinação é
absoluto e anterior à própria criação das almas, ou se é condicional e posterior
a previsão dos méritos é grave questão, que não foi decidida pela igreja
romana, continuando aberta entre os
teólogos.
Os reformadores religiosos do século
XVI, que adotaram muitos dogmas da igreja papista, ligaram máxima importância
aos do pecado original, da graça e da predestinação.
Pelos Comentários sobre os Gálatas, de Lutero, e pelos Institutos de Calvino, podemos fazer
ideia do sistema teológico dos reformadores.
O homem é depravado e corrupto por
natureza. Por si, por seu esforço, não pode salvar-se. Só o consegue pela graça
que Deus concede aos eleitos, aos predestinados ao céu.
Calvino levava as últimas
consequências a sentença horrível que pesa sobre a humanidade, merecedora de
condenação eterna.
Podemos falar em predestinação e
graça, sem dar-lhes a significação e sentido teológicos, sem a intervenção do
sobrenaturalismo, que o sacerdócio costuma invocar, porque, arvorando-se em
medianeiro, entre o céu e a terra, convém lhe figurar a Divindade como um poder
arbitrário...
Os espíritos progridem através de
vidas sucessivas.
No espaço, recebem instruções de
seus guias, firmam resoluções, assumem compromissos, que tem de desempenhar
durante a reencarnação. Estão predeterminados os sofrimentos e as provações,
como os encargos e as missões.
Eis aí a predeterminação.
Podem os encarnados satisfazer os
compromissos, como podem falir.
Cumprindo-os, sabendo suportar as
provações, executando a tarefa prometida ou a missão de que se encarregou, o
encarnado atrairá influências benéficas, terá o amparo de seus guias
espirituais, dos mensageiros divinos.
Eis a graça.
Seremos
agêneres!
por Ismael Gomes Braga Reformador (FEB) Março 1961
Neste segundo trabalho sugere tomar-se
o ectoplasma como ponto de partida para o estudo, por processos químicos, de
substâncias que parecem ligar o mundo material com o espiritual.
Supõe a existência de ectoplasma nos
animais (inclusive o homem), nas plantas e nos minerais e propõe respectivamente
os termos ectozooplasina, ectofitoplasma, ectomineroplasma, para expressar os três tipos dessa substância,
como no livro anterior.
As materializações de Espíritos
provam exuberantemente a existência dessa substância e sua maravilhosa maleabilidade;
logo, é fatal que o homem venha a conhece-la quimicamente e aprender a
servir-se dela como já tem feito com tantas outras coisas e forças da Natureza.
O Autor imagina que viremos a dominá-la como dominamos a eletricidade, o
magnetismo, o átomo, e com ela possamos fabricar tudo de que necessitamos.
Citemos suas próprias palavras:
“Quando, antigamente,
o raio rasgava os ares e feria a copa das árvores, flamejava no topo dos
mastros das caravelas, ou fundia a areia, penetrando no solo, as mentes pueris
diziam que era o dardo de Júpiter, o fogo de Santelmo, ou o machadinho que caía
do céu. Quantos não caçoaram de Benjamim Franklin (*) ou não lhe invectavam (insultavam) a audácia de querer
captar, com o seu papagaio, um raio diretamente das nuvens?
(*)
Benjamim Franklin viveu de 1706 a 1790. Morreu há menos de 200 anos, e quantas transformações
já se processaram no mundo desde então!
“Que não diriam os homens daquele tempo se lhes fosse afirmado que a mesma eletricidade que produz o fulgor do relâmpago iria, mais tarde, acionar todas as maiorias indústrias do mundo.
....................................................
“E
quem ousará, depois disso, as imensas possibilidades de uma futura técnica
ectoplasmática?” (Páginas 64-65.)
Aprenderemos então a técnica de materializar nosso
próprio corpo, quando precisarmos dele, e de desmaterializa-lo quando não
tivermos que agir sobre a matéria. Seremos
agêneres, imitando Aquele que nos foi dado por modelo!
É um livro de vulgarização
científica, em linguagem fácil, e traça diretrizes para as futuras pesquisas,
no sentido de demonstrar-se a existência e a sobrevivência do Espírito por
experiências indiscutíveis, de modo a tornar esse conhecimento tão insofismável
como as ciências naturais, de modo que toda a Humanidade tenha que aceitar a
verdade, como hoje ninguém ousaria negar a aviação, o rádio, a televisão, os
“sputniks”, a bomba atômica.
Diz a página 91:
“Descobriremos,
enfim, o mecanismo da produção dessa extraordinária substância, a qual parece
ser a mais importante manifestação da matéria, cujos estados, até agora
conhecidos, são: o sólido, o líquido, o gasoso e o radiante. O ectoplasma seria
o quinto estado da matéria: o psicodinâmico; sem dúvida o mais notável.”
O Autor concebe a necessidade de
criarmos aparelhos para vermos e ouvirmos o mundo espiritual, como os temos
criado para ver tantas outras coisas invisíveis a olho nu, no infinitamente
pequeno, nos pontos remotos do céu, no interior do corpo humano, etc. Imagina
um aparelho que lembra a “câmara cristalina” descrita por André Luiz no 48º
Capítulo de “Nosso Lar”, mas a sua serie semelhante a um televisor, e dá-lhe o
nome de “Câmara Espiritoscópica”.
Copiemos mais algumas linhas que
reclamam meditação:
“Todavia,
convém lembrar, mais uma vez, que pouco ou quase nada adiantaremos neste
sentido, com os repetidos espetáculos de “materializações espíritas”, sem outra
finalidade senão demonstrar aos céticos, aos indecisos, aos cheios de dúvidas,
uma verdade que encontrariam sobejamente demonstrada se se dessem ao trabalho
de estudar, meditar e observar o soberbo espetáculo do mundo em que vivemos. O
desabrochar de uma flor, o germinar de uma semente, a incubação de um ovo, a
gestação de um animal, são fenômenos muito mais eloquentes a proclamar
existência do Espírito, com mais clareza e consistência do que certas exibições
de ectoplasmia destinadas a eliminar incredulidades e satisfazer curiosidades pueris.”
(Páginas 146-7.)
Em todos os fenômenos da vida há
visível manifestação do Espírito, mas não nos detemos em meditar sobre eles,
porque são muito comuns. Numa flor que desabrocha para ser fecundada e produzir
uma semente, se qual se acha o germe da futura árvore, revela-se um grandioso
programa de vida. O mesmo se mostra na incubação de um ovo, na gestação de um
animal. São “materializações” de moldes espirituais preexistentes. O sábio Paul
Neergaard, em seu maravilhoso livro “La Vivo de la Plantoj” (A Vida das
Plantas), nos ensina com desenhos e belas palavras como cresce um simples pé de
trigo; assemelha-se à construção de uma torre, na qual tudo está planificado e
previamente delimitado; os tijolos
são inteligentes e colocam-se nas posições que lhes cumpre ocupar, sacrificando
uma parte de seu volume no extremo das fronteiras, para não ultrapassá-las; o elevador de materiais é a água movida
sabiamente de baixo para cima; esses tijolos inteligentes são moléculas vivas.
Tudo se comporta executando um plano e enchendo uma forma preexistente, mas
invisível.
No entanto, a ressurreição de um
morto, aparecendo cheio de vida, radiante de luz, afetuoso e gentil, como
certas materializações a que temos assistido, é um espetáculo emocionante que
nos abala os sentimentos e convence a razão.
Finalmente o nosso amigo encerra o
seu livro com um hino de fé e entusiasmo:
“As
faculdades da alma serão estudadas e desenvolvidas no mais alto grau. Os homens
utilizar-se-ão das propriedades do Espírito para a melhoria das suas condições
em geral. A Ciência, assim ampliada, conseguirá modificar até a estrutura
fisiológica do corpo humano, tornando-o ainda mais belo, forte e perfeito;
isento de doenças e deformidades. A genética espetacularmente desenvolvida
proporcionará melhores cérebros nos futuros encarnados. E outra raça nova de
verdadeiros super-homens surgirá em uma Terra paradisíaca, onde a lei do amor,
condensada no Evangelho do Cristo, será o código que orientará as relações entre
seus habitantes.
“Nós
seremos deuses...”
São igualmente nossas essas belas
esperanças do Autor, apenas não se pode prever quando se darão tantas
transformações. Lutemos por elas!
Ecos e Fatos
A Redação Reformador (FEB) 1º Dezembro 1912
Não fosse a respeitabilidade do escritor, um dos mais famosos talentos que honram a nossa literatura, como outrora honrou o parlamento brasileiro, sob a monarquia, e que só por uma dessas inexplicáveis aberrações se conserva jungido a disciplina do obsoleto romanismo – tão distanciado do espírito cristão – e não nos julgaríamos no dever de tomar em consideração o seu escrito, tal a fragilidade dos argumentos invocados em condenação do Espiritismo.
É verdade que, para revestir a sua palavra da
indispensável autoridade no assunto, declara já o haverem atraído “as
inquirições espiritistas”, a que “lealmente consagrou não pouco tempo e
atenção.”
Não temos a menor dúvida em
acreditar que se tenha ele aplicado a algumas experimentações, sem método e sem
a prévia, demorada e indispensável iniciação teórica, e que nessa prematura
incursão, às apalpadelas e sem critério, no domínio do invisível, as mais
lamentáveis decepções, como de resto acontece à grande maioria, senão à
totalidade, dos experimentadores sôfregos e imprudentes, lhe tenham sido
reservadas. Daí o considerar “a
comunicação com os espíritos um comércio com elementos demoníacos (?) altamente
condenável e danoso.”
O conhecimento, porém, que imagina
possuir da doutrina espírito, cujo estudo evidentemente não se quis dar ao
trabalho de empreender, pois ser avaliado pela exatidão com que declinou o nome
e a profissão de Allan Kardec, “pseudônimo – diz ele – do Sr. DUVOILLE, gerente que foi de uma casa de pensão nos arredores de Paris.”
O ilustrado articulista que, apesar
de discípulo da escola aristocrática do Vaticano, a cuja classe nobiliárquica
pertence, como titular que é, tivesse o autor da 1099ª cota aos casos qualquer
intuito deprimente a respeito de Allan Kardec, ao atribuir-lhe aquela
profissão.
Para tolher-lhe, ao demais, qualquer
assomo em tal sentido, de dele fosse capaz,aí estaria a própria história do
Cristianismo, desce a incomparável figura de seu divino instituidor, a
demonstrar que tudo ele – o Cristianismo – no seu brevíssimo período inicial de
três a quatro séculos, único em que como tal mereceu essa denominação, antes de
se converter no intolerante, soberbo e pomposo catolicismo romano, foi a
epopeia dos humildes e obscuros.
Quem mais humilde, aos olhos dos
homens e para a sua edificação, do que Jesus? E depois dele, a maior figura do
Cristianismo, pois que foi a alma intrépida e infatigável de sua organização –
o iluminado Paulo – que posição ocupava na sociedade?
Era um simples tecelão, posto que,
por seus talentos e cultivo, se impusesse à admiração de seus contemporâneos.
Como ele, os discípulos do Cristo e
os apóstolos eram de modesta condição, o que de resto não sucedera por acaso,
mas segundo as sábias vistas da Providência, para confundir a soberba dos
grandes e a dos que, intitulando-se mais tarde continuadores e representantes
do humilde Nazareno, haviam de alimentar entre os homens as distinções de
classes e de castas e até criar ordens honoríficas e instituir na Terra um
principado.
Sem remontarmos tão longe, poderíamos recordar que um
dos grandes fundadores de religiões – Maomé – não fora julgado incompatível com
esse elevado ministério pelo fato de ser um mero pastor, ou tangedor de
camelos.
Se, pois, tivesse Allan Kardec sido
“gerente de uma casa de pensão”, isso em nada amesquinharia o seu mérito e
ainda menos o valor da obra que veio na Terra providencialmente executar.
A verdade, porém, é outra, bem
diversa, e como só a verdade é que nos propomos restabelecer aqui, à
retificação, que acima fica, do nome de Allan Kardec, acrescentaremos as
seguintes notas biográficas, particularmente relativas aos cargos que exerceu
na Terra e ao preparo de que era dotado o codificador do Espiritismo, as quais
se encontram na MEMÓRIA HISTÓRICA publicada pela Federação Espírita Brasileira
(págs. 10 a 12).
“Ele (Allan Kardec) – diz o seu
biógrafo, Sr. Henri Sausse era bacharel em letras e ciências e doutor em
medicina, tendo feito todos os estudos médicos e defendido brilhantemente sua
tese. Linguista distinto, conhecia a fundo e falava corretamente o alemão e o
inglês, o italiano e o espanhol; conhecia também o holandês e podia facilmente
exprimir-se nessa língua.”
Nota do Blog:
Allan
Kardec não se graduou em Medicina! Vide, para o necessário esclarecimento, o
livro “Allan Kardec – Meticulosa pesquisa biográfica” (Ed. FEB), em 3 volumes,
de autoria de Francisco Thiesen e Zêus Wantuil.
Discípulo que havia sido do célebre educador Pestalozzi, começara a vida prática, fundando em Paris, à rua de Sèvres nº 35 e de sociedade com um tio, um “Instituto Técnico” de ensino nos moldes do de Yverdun e de que era diretor.
Como seu sócio, que tinha a paixão
pelo jogo, houvesse comprometido os haveres da sociedade, dissipando grandes
somas, Allan Kardec requereu a liquidação do Instituto e colocou em mãos de um
amigo, negociante, os 45000 francos que lhe couberam na partilha, mas que
vieram a perder-se com a falência daquele, em consequência de maus negócios.
Terminaremos estas notas, informando
que, tendo sido as diversas obras pedagógicas publicadas por Allan Kardec, e
que o biógrafo menciona, adaptadas pela Universidade de França, e vendendo-se
abundantemente, pode ele reunir um modesto pecúlio que o abrigou das
necessidades até ao fim da vida e lhe permitiu, quando veio mais tarde a
conhecer o Espiritismo, dedicar-se ao seu estudo e propaganda, sem inquietações
materiais.
-Não foi mais feliz o ilustrado
crítico das “Gotas aos Casos”, quando dirige suas setas contra as manifestações
espírita, pretendendo fundar-se na proibição contida no DEUTERONÔMIO XVIII,
41-42).
Essa proibição, formulada sabiamente
por Moisés e motivada pelo mal uso que o povo, grosseiro e ignorante, fazia das
evocações, é equivalente às recomendações que os próprios espíritas
esclarecidos hoje fazem acerca das cautelas a adotar e dos elevados fins a ter
em vista, nas experimentações mediúnicas.
Nunca, porém, Moisés, que era um
grande iniciado, poderia condenar de um modo absoluto as relações com o
invisível, ele que, médium de poderosas faculdades, as cultivava com sabedoria
e oportunidade. O espaço, de que já abusamos, não nos permite citações. Mas
quem quer que estude o Velho Testamento “com o espírito que o ditou”, segundo a
recomendação da ‘Imitação de Cristo’, não terá dificuldade em reconhecer a
frequência da intervenção dos invisíveis em toda a história dos hebreus e com o
concurso dos profetas, que outra coisa não eram senão médiuns de diferentes
faculdades.
Essa mesma intervenção dos seres
espirituais é igualmente frequente em vários episódios da história evangélica e
nos primeiros tempos da propaganda do Cristianismo.
Paulo, em mais de uma passagem de
suas epístolas, dirige recomendações aos círculos cristãos, nas quais se
percebe claramente que eles cultivavam as manifestações espíritas (leia-se, por
exemplo, I Coríntios, XIV, 26-32).
E que quer dizer esta recomendação
de João, o evangelista, em sua 1ª Epístola (cap. IV, 4), “caríssimos, não
creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus”, senão que os
primeiros cristãos praticavam, em suas reuniões, o comércio com os espíritos,
tal como sucede agora nos círculos espíritas?
E que aí tanto se podiam manifestar
os bons como os malévolos espíritos, prova-o essa mesma advertência de João,
tornando indispensável a análise dos ensinamentos do invisível, para repudiar
os falsos e admitir somente os verdadeiros.
Há, assim, uma perfeita similitude
entre o que praticavam os primeiros cultores da doutrina de Jesus e os seus
discípulos atuais, pois que o Espiritismo, em seu ensino e aplicações, não vem
fazer mais que restabelecer em espírito e verdade aquela doutrina, deturpada
por seus infiéis depositários.
Já não temo, infelizmente, espaço
para analisar os motivos por que a igreja, a medida que se afastava do ideal
cristão, modificava as suas práticas, terminando por proibir toda relação com o
invisível e erigindo-se autoritariamente em única intérprete das sagradas
letras.
Ao talentoso escritor, porém, que
nos proporcionou o afortunado ensejo desta réplica, não terminaremos sem
recomendar que, analisando com sua inteligência de claro descortino os
significativos caracteres da concordância histórica a que acabamos de aludir,
procure melhor compreender as razões desta Revelação nova, que tantas
hostilidades provoca no campo do materialismo e das religiões positivas,
feridas em seus tenazes interesses.
E, se o não tolhem as malhas da
intolerância sectária dessa igreja, que já não é a do Cristo e não tem, por
isso, o direito de imperar sobre as consciências esclarecidas que buscam na
Verdade a liberdade que o Cristo prometeu, leia os livros da doutrina, sem
esquecer esse precioso escrito que é o “Roma
e o Evangelho” e as obras de Léon Denis, e, como Paulo, que descobrira ao
fim o “Deus desconhecido”, saberá onde se asila o espírito do Cristianismo
rejuvenescido.
É tal o poder de expansão do
Espiritismo, tão generalizadas se vão fazendo suas conquistas no domínio das
inteligências esclarecidas e emancipadas que até jornais profanos já o tomam
como assunto para editoriais, incertos no lugar de honra, em que é costume
figurarem os artigos políticos.
É o
que, pelo menos, acabamos de ter a satisfação de verificar no Estado do Rio,
hebdomadário independente que se publica na Paraíba do Sul, em cujas edições de
17 e 24 de outubro encontramos, no indicado lugar, dois interessantes e bem
traçados artigos, respectivamente intitulados “O Espiritismo através das épocas” e “A vitória do Espiritismo”.
O fato, pela sua significação,
merecia bem este registro, constituindo um precedente, não somente honroso para
o seu autor, como digno de ser imitado pelos que compreendem a verdadeira
função do jornal: instruir e esclarecer o povo nos conhecimentos mais
necessários ao seu progresso espiritual.
O fato que
o nosso colega ETERNIDADE, de Porto Alegre, reproduziu do 'EL BUEN SENTIDO', de
Ponce, sob a epígrafe “O fantasma do caçador” e que, por sua vez, em seguida
transcrevemos, apresenta de singular a circunstância de se reproduzir a
aparição ainda ao fim de cinquenta anos da desencarnação do espírito, que nele
fora protagonista.
Permaneceria ele todo esse tempo em
estado de perturbação, ou essa imagem seria apenas a figura fluídica do
desaparecido, segundo a teoria dos teosofistas, flutuando como uma sombra, no
lugar em que ocorrera o desastre? Ou seria que a presença eventual do espírito
aí, evocando a lembrança do ocorrido, criara pelo pensamento a forma fluídica
do caçador vitimado?
A narrativa é esta:
“No excelente colega 'EL BUEN
SENTIDO', de Ponce, encontramos a seguinte narrativa que, com a devida vênia,
passamos também para nossas colunas:
“Lendo uma interessante revista, nos
veio à ideia relatar um estranho fato sucedido, faz dois anos em 4 de outubro
último, e do qual fomos testemunhas.
Havíamos alugado, em Sologne, uma
pequena propriedade. Uma tarde, após a caçada, nos sentamos junto ao fogão,
alumiados somente pela alegre chama produzida por uma acha, alquebrada pelo
cansaço, fumávamos em silêncio, quando acreditamos perceber, refletindo-se no
espelho uma espécie de vapor esbranquiçado que desapareceu quase
instantaneamente. A princípio, não prestamos atenção; porém, dez minutos
depois, a aparição se tornou mais clara. Voltamo-nos ao mesmo tempo e vimos
claramente um homem de elevada estatura, que parecia estar encostado a uma
cadeira e deixava pendente uma espingarda. O rosto experimentava uma angústia
terrível e do peito corria um fio de sangue. Quase imediatamente a aparição se
desvaneceu. Olhamos um para o outro, cheios de terror, acreditando termos sido
vítimas de uma alucinação, conquanto isto fosse inverossimel. Mas, no dia
seguinte, ao falar nisso, um guarda nos contou que o pai do antigo
proprietário, o conde de M..., matou-se, acidentalmente, há cerca de 50 anos,
quando lidava com uma espingarda, nessa mesma sala, de volta de uma caçada
particularmente frutuosa.
Não há dúvida de que foi seu corpo
astral o que nos apareceu. – Rogger Hatot de LA SALLE, Conrado Montcertin
Lanternier.”
Que parece aos leitores?
A julgar pelo que diz a 'ANNALE DES
SCIENCES PSYCHIQUES', de Paris, louvando-se em informações prestadas pelo
vice-almirante W. Usborne Moore ao ‘LIGHT’, de Londres, o Escritório Julia, que
realizou a última seção a 14 de julho passado, parece que se não tornará a
abrir.
Para que o pudesse fazer, mantendo
integralmente o programa instituído pelo malogrado e benemérito William Stead,
seria necessário que um filantropo como ele se incumbisse da manutenção do
Escritório, que orçava por mil libras esterlinas anualmente (cerca de 15 contos
de réis), pois tanto era o que naquele prazo dispendia, com o indicado fim, o
bom velhinho.
Será tanto realmente, assim no ponto
de vista da propaganda, como das consolações que prodigalizava que assim
desapareça definitivamente aquele simpático posto de comunicações com o Além.
Não é destituído de interesse o
seguinte fato relatado pelo nosso colega ETERNIDADE, de Porto Alegre, numa de
suas recentes edições:
“De um colega traduzimos o seguinte:
“A lenda refere que o velho palácio
real de Hampton Court, perto de Londres, é uma mansão encantada, onde aparece o
espectro da rainha Catharine Howard, a infortunada esposas de Henrique IV.
Acerca dessa fábula, o diretor da 'OCCULT REVIEW' recebeu recentemente, de um dos
seus correspondentes, da qual damos aos nossos leitores um simples resumo.
Dias antes de escrever a referida
carta, nossa correspondente dirigiu-se a Hampton Court, lugar de reunião
dominical favorito dos londrinos.
Aí teve conhecimento do seguinte
fato, ocorrido com uma senhora:
Depois dela ter visitado o belo
parque e o palácio, propôs-se fazer uma visita à capela real, mas preveniram-na
de que tais visitas não eram permitidas senão por ocasião do ofício divino.
Contrariada, a dama prosseguiu em seu caminho, disposta a deixar o parque,
quando no fim do caminho que rodeia a capela, viu perto dela um fantasma, no
qual, apesar de sua forma vaporosa, reconheceu a rainha Catharine Howard, cujo
retrato vira muitas vezes e tinha bem presente na memória. Dirigindo-lhe um
gracioso cumprimento com a cabeça, o fantasma disse-lhe: “Na saída do caminho,
encontrareis uma casinha onde mora o sacristão. Dirigi-vos a ele e ele acederá
a vossos desejos; mas, quando estiverdes dentro da capela, rezai por mim.” Mais
estupefata que assustada, a visitante continuou seu caminho e, no ponto
indicado pelo fantasma, encontrou o sacristão e lhe manifestou o desejo de
visitar a capela.
A visitante terminou, e como
contasse ao sacristão a aparição que acabava de ter, este, sem mostrar-se
admirado, lhe disse:
- O espectro da rainha Catharine
aparece com frequência neste caminho: Já estamos acostumados a vê-lo e não lhe
prestamos muita atenção, pois não faz mal a ninguém.”
Da 'REVISTA DE ESTUDIOS PSIQUICOS', de
Valparaíso, extraímos os fatos abaixo, dos quais o primeiro, por sua
singularidade tanto como pela responsabilidade do observador, nos captou
dobradamente a atenção.
O curioso fenômeno que passamos a
narrar está inserto em uma das obras do preclaro filósofo William Stead, cuja
recente partida para o mundo da verdade abriu tão grande vácuo nas fileiras do
espiritismo. Passemos aos fatos:
Trata-se de um indivíduo
extraordinário, o Sr. Turney, que além das faculdades de clarividência, no
tempo e no espaço, apresenta a particularidade de ver pelo telefone as pessoas
e coisas que estão na extremidade do fio, o que Stead denominou fonevidência.
Turney descobriu sua misteriosa
faculdade em 1903.
“Na clarividência ordinária a grande
distância, diz ele, vejo como que através de um túnel, que cruza todos os
objetos que estão no caminho, cidades, florestas e montanhas.
O túnel termina, por exemplo, no
escritório de Mr. Brown; só posso ver o que se passa no escritório e não em
toda casa. Na fonevidência ao
contrário: em muitos casos parecia-me ver através de uma aura de cor brilhante
do heliótropo ou violeta claro, em cujo centro vejo aparecer a pessoa ou
objeto.
Outra fase da fonevidência, que eu chamo fonevidência
genuína, consiste no seguinte:
Uma parte da minha mentalidade
parece existir fora de mim, a um metro ou dois, e durante a visão pedaços de
fio telefônico, que se acham aderidos uns aos outros, parece mudarem de
posição.”
Do exposto se depreende que Turney
procura explicar por analogia, impressões de perspectiva que só por ele podem
ser percebidas, Isto, pois, é secundário.
Incontestavelmente, o fenômeno da fonevidência, a alguns anos atrás,
ter-se-ia taxado de absurdo, quando as ondas vibratórias ainda não eram
conhecidas como hoje, quando se ignorava que as percepções visuais e auditivas
dependem de ondas vibratórias de extensão diferente.
Sir William Stead apresenta Turney
como pessoa de importância, de situação independente, instruidíssimo, que
possui evidentemente faculdades supranormais, sem ser médium espírita, pois
nunca caiu em ‘trance’ (sono
magnético).