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sexta-feira, 23 de abril de 2021

Provas e contraprovas

 

Provas e contraprovas 

por M. Quintão

Reformador (FEB) 1º Agosto 1936

             Sempre nos pareceu, em doutrina, que a melhor semente é a que cai na leiva (sulco do arado) da dor.

            Na prática, o que de melhor se demonstra é que a propaganda indireta, teórica, genérica, impessoal, apenas revolve as superfícies.

            Quando muito, predispõe à aceitação dos princípios, nunca a atitudes conscienciais, definitivas e definidas.

            Dir-se-á, então, que pode facilitar a crença, mas, não engendra, não sanciona a Fé que remove montanhas.

            Não há como um fato - também se costuma dizer - para esmadrigar (separar) dúvidas e aparelhar convicções.

            Entretanto, a verdade é que os fatos a granel verificados de todos os tempos, nem a todos convencem, mesmo aqueles para quem vertem em abundância de graças.

            E, assim, se verifica como para crer não basta saber, nem conhecer; é preciso merecer; e o merecimento supomos - tanto quanto no lo autoriza supor o revelado - só pode estimar-se em patrimônio intrínseco de maturidade do Espírito, na escala de sua própria evolução.

            Seres há, nos quais o sofrimento só produz revolta e desespero.

            O que se resolve em causa de afirmação e conformação para uns, resolve-se para outros em indiferença e negação. A dor é sempre a mesma dor, mas seus efeitos se diversificam, variam de criatura a criatura.

            Como o líquido, que se conforma ao vaso por enche-lo, a dor já não teria, então e por si só, a virtude da propiciação espiritual, até que o vaso, expurgado de escórias à luz dos Tempos, já não pudesse toldar o líquido.

            Nem por outro motivo se justificariam, melhormente, as palavras do Divino Mestre, quando advertiu – “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.

            Milhares de criaturas viram o Pastor, ouviram-lhe a voz, testemunharam os seus feitos; mas, os apóstolos foram doze, apenas, e ainda hoje, dobados (passados) 20 séculos, a humanidade, atônita, tapa os ouvidos e cerra os olhos par não entender o Cristo de Deus.

            Prevalecente vemos assim, ainda nisto, a outra palavra que diz: “Muitos serão chamados e poucos serão escolhidos.

            No vortilhão das provas emergentes, individuais e coletivas, a dor, em monda (correção) constante para maiores messes futuras, só recolhe, contudo e como sempre, os maturados, legítimos frutos da seara.

            São as verdadeiras conversões, que atestam o determinismo da Lei, sobranceira a todas as dúvidas e relutâncias, com refulgência de graças.

            Richet e Lombroso, juntos, viram os fatos; o primeiro despediu-se do mundo com o aceno de uma grande esperança; o segundo vacilou, um instante, em proclamar ao mundo, desde logo, a sua fé.

            Comparem-se as atitudes e veja-se até que ponto podem intervir nos domínios do subjetivo os fatores meramente intelectuais e os físicos.

            É que as mesmas coisas, ocultas aos grandes, são relatadas aos pequeninos.

            E os pequeninos não são, qual possam crê-lo, apenas os pobres de mentalidade e conhecimentos exteriores. São, sim, e sempre, os ricos de sentimento e coração, sábios da ciência divina, que é amor, que se não improvisa em livros; que se não elabora em academias, porque só se forja em cadinhos de eternidade, mercê de uma evolução indefinita.

            Felizes, portanto, os que já se forram ao condicionalismo do fato para argamassar a sua fé; felizes, ainda, os que no fato tiverem a sua Pentecostes (entre os judeus, celebração da lei dada por Deus a Moisés no monte Sinai, cinquenta dias depois da saída do Egito.  Entre os cristãos, festividade que celebra a vinda do Espírito Santo no 7.º domingo depois da Páscoa. Fonte: Dic. Priberam), emules (excede os outros no que é bom) de Thomé; mas, ai dos coveiros de talentos; dos que, recebendo a moeda, em madureza de espiritualidade, lhe negarem o teor divino.

            Neste caso, não há computar somente os que refogem (?) de nossas fileiras, postulantes de outros credos ou inscientes de credo algum, porque nos havemos de penitenciar maiormente, os que vamos em sarabanda (tipo de dança) de aleluias, espalhando teorias e alardeando fados (forças misteriosas que se supõe dirigirem o destino), larvando-os embora dos mesmos estigmas, que a uns e outros anódinos (paliativos) tornam os mesmos fatos e teorias.

            E que se nos não increpe (acuse) também de pessimismo no constatar a grande, a ancestral inopia (imperfeição) humana, por concluirmos em tese e em síntese que, se os tempos são verdadeiramente chegados, poucos serão - em espírito e verdade - os que aos tempos se achegam, cônscios da Apocatástase (restauração) que se prenuncia em renovação de valores morais, compatíveis com as gerações prepostas ao advento do Reino do Cristo na Terra, para que esta se transforme de estância de expiação e provação em céspede (pedaço de terra) de regeneração e salvação.

            Porque, até que isso aconteça, os fatos e teorias, velhos quanto o próprio mundo, na forma como na essência, hão de estimar-se por simples meio acidental, antes que fim precípuo e essencial.

            O homem velho aí está em plenitude de servidão e atividade, na Religião como na Política, na Ciência como na Família; e como não há deitar impunemente vinho novo em odre velho, o resultado também aí o temos em penhor de angústias e catástrofes, que pare em negar-nos a própria origem divina, ao mesmo tempo que nos arrebatam e destroem as parcas reservas de energias e esperanças, lançando-nos à aventura na conquista de todas as geenas, que boas seriam se o nada existisse e pudessem os iludir a verdade, qual o fazemos a nós mesmos.

            Que, pois, agraciados desta hora soleníssima, saibamos, acima e antes de tudo, prezar intimamente a palavra de VIDA, que de fato o é, porque só ela vivifica para e de toda a eternidade.

            A nós já se nos tem qualificado de místico, por sobrepormos a todos os conhecimentos o do Evangelho. Que importa?

            Ainda agora, de um autor contemporâneo (1) lemos: “O mundo, tal como é, e esse livro não podem coexistir. Ou um ou outro. O mundo tem de deixar de ser como é, ou esse livro deverá desaparecer do mundo”.

            (1) ‘Jesus Desconhecido’, de Dimitri Merejko.  

             Ora, não há como nem por onde controverter (questionar) que todas as teorias e fatos espíritas latejam no Evangelho do qual, dizem os Espíritos e disse-o Kardec, o ESPIRITISMO é simples confirmação, apropinquada (aproximada) aos tempos - o Paracleto.

            Se os homens em fúrias de vandalismo iconoclasta pudessem varrer da face da Terra o código divino, Jesus, que o deu em legado eterno à Humanidade, saberia por seus arautos restabelece-lo no coração dos homens.

            Mas, não! Não e nunca... O mundo deixará de ser o que é, precisamente porque, renovado em suas fontes espirituais em algaras (investidas) de bênçãos, os levitas de amanhã trarão insculpidos no coração os ditames vivos da Lei integral, para cumpri-la extreme de fatos e teorias.

            E ninguém dirá sejam uns e outros elementos primordiais da Fé, porque todos os teremos como derivantes consubstanciais à mesma Fé.

            Os Tomés escalonados ao longe hão de gritar a mea culpa e todas as provas se-lo-ão de direito, em consciência antes que de fato.

            E todos nos confirmaremos na justeza e alcance do verbo divino, quando assegurou: “o reino de Deus está dentro de vós”, REGNUM DEI INTRA VOS EST.


A propósito de obsessões

A propósito de Obsessões – parte 1

por M. Quintão    Reformador (FEB)    01 Dezembro 1918

             Constantemente solicitado para intervir em casos de obsessão e até de simples atuação, podemos, neste assunto, respigar algumas noções úteis à tese, que é das mais interessantes da nossa doutrina.

            Em regra, a maioria dos espíritas não conhecem o Espiritismo, e muito menos o conhecem aqueles que de auditu (que se ouviu dizer), porque souberam da cura de ‘A’ ou ‘D’, recorrem ao primeiro confrade inculcado, pedindo-lhe para afastar o obsessor importuno.

            E, no entanto, o Espiritismo é uma filosofia científica e profunda, que requer esforço, tenacidade, paciência, para produzir os belos frutos que são o seu apanágio.

            Para bem avaliar, portanto, o pedido que constantemente nos fazem, deveriam os recorrentes começar por estudar o Espiritismo, aceitando-o de coração e incorporando-o ao patrimônio dos seus conhecimentos ordinários.  

            Ninguém sensatamente deve recorrer a um meio terapêutico, sem indagar da sua eficácia, meios de aplicação etc.  

            Não é isso, no entanto, o que fazem - já não dizemos os indiferentes que buscam apenas o alívio imediato das suas aflições morais, como buscariam um dentista que lhes extraísse o dente cariado - na primeira esquina - mas pessoas que se prezam de professar e conhecer o Espiritismo, de aceita-lo e segui-lo.

            De certo, natural e humano é que as nossas vicissitudes recorramos ao nosso semelhante, mesmo porque damos azo a estabelecer-se de tal arte essa corrente de solidariedade que é uma das prerrogativas mais belas do Espiritismo cristão, quando não damos também um testemunho d'essa humildade que decorre da mesma fonte.

            O que, no entanto, não nos parece lógico nem razoável, nem humano, nem cristão que cometamos ao vizinho a limpeza da nossa casa, conservando-a nós mesmos emporcalhada.

            Sim, porque é preciso ficar bem definido que a obsessão é uma prova para o paciente dela, e toda prova é consequência de um erro, seja ele recente, considerado em relação a existência terrena atual, seja remoto, considerado em relação à existência ou existências anteriores. E, tal seja o erro, tal a sua gravidade, a prova pode ser de caráter transitório ou definitivo.

            Em qualquer dos casos, porém, o que importa é estudar a natureza da obsessão, o seu caráter e, quanto possível, as suas causas determinantes.

            Nem se diga ser isso impossível, porque pelas tendências do paciente, pelos seus antecedentes morais, pelos seus hábitos e gostos, como pelas próprias manifestações ostensivas ou latentes do obsessor, pudemos chegar a uma conclusão razoável.

            E, porque há sempre entre o obsedado e o obsessor um elo de afinidade espiritual, importa desde logo, com os recursos que a nossa doutrina tão criteriosamente prescreve, afrouxar, para quebrar (hipótese de prova transitória), esse elo, modificando o ambiente em que se debate a vítima, para atenuar a ascendência do algoz. A prece, a harmonia de vistas, a brandura, o carinho, são os agentes porventura mais eficazes dessa tarefa, e que cumpre serem adotados como norma de conduta no campo da ação.

            Todos os que são atingidos por essas provas - e muitos o são realmente - devem ter  em vista que elas, nem por serem rudes, deixam de edificar, vindo às vezes como verdadeiros pródromos (preâmbulos) de regeneração para os meios em que explodem.

            A Justiça Divina é tão perfeita que o mal, por efêmero, não é senão uma modalidade do Bem definitivo.

            E assim pensando, toda exasperação é inútil, toda revolta prejudicial.

            Outras considerações faremos em artigos subsequentes, sobre este assunto de palpitante atualidade, se Jesus por nosso Guia no-lo permitir.

A propósito de Obsessões – parte 2

por M. Quintão       Reformador (FEB)     15 Dezembro 1918

             Devemos interceder sempre pelos nossos irmãos obsedados?

            Interceder, orando e aconselhando, sim; mas intervir provocando e quiçá irritando o obsessor, não.

            Não, salvo os casos em que a nossa doutrina prescreve essa intervenção, aparelhados que estejamos pela coesão de esforços comuns, vibrando uníssonos e harmônicos a nota da caridade, em grupos ou centros de homogeneidade perfeita e segura orientação.

            Fora destes casos, aliás raríssimo pela desorganização e falta de método dos espíritos em geral, toda a intervenção de fato se nos afigura problemática, inútil e até perigosa.

            Problemática, porque, alheados do convívio dos nossos Guias, mal avaliamos e muito menos apreendemos a Justiça Divina que se cumpre; inútil e perigosa, porque ao contato

de espíritos muitas vezes superiores em conhecimentos e perversíssimos, no entanto, tornamo-nos, por despercebidos de virtudes, a placa sensível do seu ódio e – quantas vezes  - o derivativo da sua vingança, como justo corolário da nossa leviandade.

            Mais de um exemplo poderíamos citar, de grupos bem intencionados, que fracassaram nessa tentativa, radicando no espírito de observadores menos estudiosos, a convicção de que o tratamento de obsessões não passa de uma burla.

            E, no entanto, esse tratamento é, temo-lo dito - quando eficaz e oportuna - um dos frutos mais belos e proveitosos a colher na seara imensa do amor ao próximo.

            Para colhe-lo, contudo, as condições são difíceis, porque para colhe-lo não basta essa boa vontade desarmada da fé viva: não basta, ainda, o conhecimento aprofundado do plano espiritual, nem lógica, nem argumentos - mas amor.

            Ora, o amor não é predicado de volição, é patrimônio da alma, é tesouro que se não improvisa, mas que se acumula de sacrifício em sacrifício, de pena em pena, de provação em provação.

            Para aferirmos a dor alheia, não há como equipara-la à nossa dor, e nesta ordem de raciocínios quase que se pode afirmar que só sabem amar os que bem sabem ou tem sabido sofrer.  

            O espírito obsessor é sempre, por via de regra, o instrumento voluntário da prova, e a prova há de fazer-se, porque Jesus disse que pagaríamos até o último ceitil.

            Com amor, se o tivéssemos, poderíamos e devíamos iluminar esse espírito -  regenerá-lo é o termo - e na permuta de sentimentos teríamos aprendido alguma coisa, porque a lição bem entendida é reciproco. E é esta, ao presente, a única justificativa dos que, de boa-fé, se cometem essa tarefa, visto como, a rigor, a sua intervenção é arbitrária, é passiva e só eficaz pelo trabalho dos Guias, quando a obsessão naturalmente tende a extinguir-se.

            Do contrário, mesmo na hipótese da regeneração do obsessor, que seguramente também não é um eterno escravizado do mal e conserva o seu livre arbítrio, toma outro o seu lugar.

            E a obsessão continua o seu curso com grande pasmo dos que descuidosos andam destas sutilezas; dos que pensam que para ser espírita e para conhecer o Espiritismo basta acreditar na sobrevivência e na manifestação dos espíritos, com maior ou menor dose de tinturas teóricas.

            Todos os que labutamos nesta rude mas sempre grata tarefa de aproveitar o Divino Óbolo da revelação espírita, procurando pratica-la como um evangelho, de coração; todo os que acompanhamos o desdobrar de fatos e provas, todos reconhecemos que mais fáceis são as curas físicas do que as morais: - por que?

            Porque para a cura do corpo, que representa a satisfação de gozos e apetites, entramos sincera e ardentemente com a nossa vontade; ao passo que para a cura da alma, que representa o repúdio desses mesmos gozos, abdicamos de todo o esforço próprio, apelamos para a Graça, como se as leis do Espiritismo não fossem a consagração, do contrário, isto é, do mérito pela aplicação do livre arbítrio.

            A ninguém se afigure, no entanto, que somos sistematicamente infenso (contrários) ao tratamento de obsessões.

            Desejaríamos apenas que esse tratamento pudesse dar algo de proveitoso para os créditos de nossa causa, verdadeira e santa, mas sempre conspurcada pela nossa leviandade e imoderação.  

            Desejaríamos que todos os chamados pudessem ser escolhidos, educando-se pelo sentimento para poderem exercer nobremente e eficazmente o mandato de educador de espíritos, pois só assim chegaríamos a provar que o Espiritismo cura e não faz loucos.  

            A quantos se valem do nosso conselho nas contingências de uma obsedação (obsessão?), temos feito ver estas coisas, e quanto porventura nos censurassem por dize-las - coram populo (em público, em voz alta e sem receio) -  haveríamos de demonstrar por fatos que elas correspondem à verdade.

            Se os simples trabalhos práticos são o parcel (as dificuldades) em que naufragam as ilusões de muitos dos nossos irmãos, que dizer desses trabalhos quando deliberadamente destinados a atrair espíritos obsessores?

            Que dizer desses trabalhos quando a ele nos abalançamos de coração vazio, em outra bússola além dessa tão decantada boa vontade, - fogo fátuo sempre prestes a extinguir- se nas trevas da própria consciência?

            Onde estaremos dois ou três verdadeiramente reunidos em nome de Jesus, sem que aí estejam as nossas paixões, a nossa miséria, os nossos erros de todas as horas, de todos os dias?

            Pois bem: junte-se a isso a inércia do obsedado, a indiferença e até mesmo a hostilidade do ambiente em que ele se encontra, na maioria dos casos, e ter-se-á ideia do que podem valer as intervenções ostensivas, reduzidas a verdadeiro jogo de cabra-cega.

            Depois, convenhamos: o Espiritismo vem, antes de tudo regenerar o homem, o qual poderá, então e só então, neutralizar os efeitos da obsessão, que é consequência lógica dos sentimentos humanos, exercendo no plano espiritual a sua atração magnética.

            No dia em que não houver homens obsedados, não haverá espíritos obsessores. 

 

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Cidade de Cafarnaum, você conhece?

 

Cidade de Cafarnaum, 

Você Conhece?

 por Roberto Macedo

         in “Vocabulário Histórico-Geográfico dos Romances de Emmanuel” (Ed. FEB)

            Cidade da Galileia, na Palestina. Situava-se na margem norte do lago de Genesaré, também chamado mar da Galileia ou de Tiberíades. Residência de Pedro, talvez seu berço natal, se não tiver sido originário de Betsaida, na margem oeste do lago (não Betsaida Júlia, filha de Augusto). Residência temporária de Jesus e da Virgem Maria, após o episódio das bodas de Canaã. “A paisagem de Cafarnaum serviu de palco às primeiras lições inesquecíveis e imortais do Cristianismo, em sua primitiva pureza”, diz Emmanuel em “Há Dois Mil Anos...”, porque seu povo “aceitava a Lei de Moisés, mas estava muito longe das manifestações hipócritas do farisaísmo de Jerusalém.”


Na lei, por lei

 

Na lei, por lei

por M. Quintão

Reformador (FEB) Abril 1941

             O fanatismo, em religião como em ciência, é tão prejudicial à verdade, quanto o ceticismo.

            Nada julgar a priori e nada afirmar sem provas é o que nos parece de melhor conselho a quem deseje caminhar com segurança.

            Há crentes de boa fé, principalmente neófitos, que tudo atribuem à influência dos Espíritos desencarnados.

            Se os negócios lhes correm mal; se uma enfermidade lhes demora rebelde e importuna, prestes se julgam vítima de perseguições e vinditas de imaginários inimigos do plano espiritual.  

            E, porque seja sempre mais fácil conjecturar simplesmente, que discernir com esforço, ei-los a correrem para os médiuns e para os Centros, no louvável empenho de se descarregarem de penas e cuidados.

            E muitos, e quantos supõem que, em tal grau de apelação, basta faze-lo para que tudo se transforme e desvaneça, como nas mágicas teatrais, por mirífico encantamento e ao sabor de seus desejos e fantasias.

            Nada, entretanto, menos justificável e mais ilusório, em face da teoria e da prática espiritistas.

            A verdade iniludível é que, sendo a influência dos desencarnados um fato constante e geral - como afirmou Augusto Comte, se bem que noutro sentido, quando disse que os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos - essa influência não se exerce à revelia da lei de causa e efeito, nem cega, nem arbitrariamente, de modo a eximir-nos de qualquer esforço, ainda porque essa lei providencial e benéfica, em sentido profundo, é corretiva, antes que punitiva.

            Há, sem dúvida, injunção de estágios terrenos anteriores, ajustes de contas transmissíveis de umas a outras encarnações. Estes casos, porém, são mais raros do que ordinariamente se supõe.

            A maioria radica-se (fixa-se) imediata, não remotamente, à nossa incúria, leviandade e inópia (imperfeição), nesta e desta mesma encarnação. De qualquer forma entretanto, o que se impõe irrefragável é o estudo de nós mesmos, é a reforma do caráter, é a transformação dos nossos pendores que o Cristo de Deus tão bem prefiniu no homem novo. Desprezada essa objetiva, toda faina, toda aspiração resulta inane (sem conteúdo), verdadeira pedra de Sísifo. (da Mitologia grega – Sísifo foi condenado a rolar uma grande pedra de mármore com suas mãos até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível e Sísifo tinha que reiniciar seu esforço montanha acima.)  

            Já por arguciosos adversários se glosou o estafado mote de que a crença na intervenção dos Espíritos conduz à passividade, à inércia mental, infirma o estímulo da iniciativa própria, enerva a inteligência.

            Argumento sutil e verdadeiro, até certo ponto - conquanto extensivo e quiçá mais ajustável a confissões de caráter dogmático, que a doutrina espírita não comporta exige se lhe contraponha desde logo os imperativos legítimos de esforço e trabalho consciencioso, trabalho de natureza mental e burilamento moral, sem o qual não pode haver progresso para a criatura, quer na Terra, quer no espaço.

            O auxílio do mundo espiritual pode e deve ser invocado, não, certo, qual o invocam irmãos de outros credos, em caráter de benefício divino, arbitrário e milagreiro, mas sim e só no sentido de alcançar luzes e forças para sofrer e vencer com proveito os lances difíceis da existência.

            De resto, racional e doutrinalmente considerado, é esse o único auxílio eficaz, e plausível, visto que, sendo as provas indefectíveis e por nós mesmos arbitradas no plano espiritual, nenhum Espírito teria a virtude de as anular.

            De tais artificiosas promessas e embelecos (imposturas) servir-se-ão, possivelmente, Espíritos levianos, mistificadores, ignorantes, para embair (induzir em erro) os incautos de boa fé; mas, os Espíritos do Senhor, que são os sábios da Sabedoria divina, eterna e inconfundível, estes não dispensam na lei e sim por lei.

            E a lei, dizem-no eles e aprendemos, e verificamos nós, é de sofrimento, trabalho e esforço próprios, para que sejamos auxiliados e providos sempre e só naquele nível que soubermos conquistar.


O idioma de Jesus

 

O Idioma

de Jesus

 por Roberto Macedo

Vocabulário Histórico-Geográfico dos Romances de Emmanuel (FEB)

 

            O aramaico, dialeto semítico, do grupo arameu-assírio, era o falado por Jesus.

         Podem assim ser divididas as línguas semíticas: a)  Grupo arameu-assírio; b) Grupo cananeu; c)  Grupo árabe.

            O arameu-assírio abrangia o assírio propriamente dito e dois dialetos aramaicos: 1) Caldeu ou caldaico; 2) Siríaco ou siro-hebraico.

            Dos dois dialetos aramaicos, predominava o caldeu na Assíria (e Babilônia), o Siríaco na Síria (e Mesopotâmia). Admite-se que o povo israelita, possuidor de língua própria - o hebreu ou hebraico, do grupo cananeu - assimilasse ambos os dialetos aramaicos, quando escravizado pelo rei babilônio Nabucodonosor. Dominados, por sua vez, os babilônios pelos persas, permitiram estes o regresso de israelitas a Jerusalém e surge, então, um período de concomitância: o povo fala dialetos aramaicos, mas subsiste como língua oficial o hebreu, usados também o grego e o latim, este na fase de subjugação romana.

            Daí comunicar-se Jesus com o povo em dialeto aramaico (siríaco ou siro-hebraico) e com os doutores da lei na língua oficial. Por isso, tanto Lucas como João (respectivamente 4:17,21 e 7:15) mencionam o espanto dos circunstantes pela leitura e interpretação de textos sagrados, feitas por Jesus em linguagem clássica, sem aparente aprendizado escolar. Revela o romance “Há Dois mil Anos” que o latino Públio Lêntulus considerou difícil entender-se com o Mestre, porque “certamente Jesus lhe falaria no aramaico...” E o Evangelista Marcos, ao registrar expressões em dialeto, fornece tradução imediata (“Talitha, cumi”, 5:41 - Ephpatha, 7:34; - Lama sabachtani”, 15:34).


Não lanceis aos cães as coisas santas!

 


Não lanceis aos cães as coisas santas!

Jesus em Mateus 7,6

               Palavras pouco usuais para os nossos dias, trazem embutidas, porém, grandes ensinamentos. É no livro “Vinha de luz” (Ed. FEB), por Emmanuel em psicografia de Chico Xavier, que encontramos os mais vibrantes esclarecimentos sobre elas.

             “Certo, o cristão sincero nunca se lembrará de transformar um cão em partícipe do serviço evangélico, mas, de nenhum modo, se reportava Jesus  à feição literal da sentença.

             O Mestre, em lançando o apelo, buscava preservar amigos e companheiros do futuro contra os perigos da imprevidência.

            O Evangelho não é somente um escrínio celestial de sublimes palavras. É também o tesouro de dádivas da Vida Eterna.

            Se é reprovável o desperdício de recursos materiais, que não dizer da irresponsabilidade na aplicação das riquezas sagradas?

            O aprendiz inquieto na comunicação de dons da fé às criaturas de projeção social, pode ser generoso, mas não deixa de ser imprudente.

            Porque um homem esteja bem trajado ou possua larga expressão de dinheiro, porque se mostre revestido da autoridade temporária ou se destaque nas posições representativas da luta terrestre,  isto não demonstra a habilitação dele para o banquete do Cristo.

             Recomendou o Senhor seja o Evangelho pregado a todas as criaturas; entretanto, com semelhante advertência não espera que os seguidores se convertam em demagogos contumazes e, sim, em mananciais ativos do bem a todos os seres, através de ações e ensinamentos, cada qual na posição que lhe é devida.

    Ninguém se confie à aflição para impor os princípios evangélicos, nesse ou naquele setor da experiência que lhe diga respeito. Muitas vezes, o que parece amor não passa de simples capricho, e,  em conseqüência dessa  leviandade,  é que encontramos verdadeiras maltas de cães avançando em coisas santas.”


terça-feira, 20 de abril de 2021

As Curas

 

As   Curas

             Mateus 4,23 - Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas as doenças e enfermidades entre o povo.

            Kardec, em “A Gênese”, Cap XV, de forma precisa e sintética, lega a seus pósteros o esclarecimento necessário sobre as inúmeras curas descritas ao longo dos quatro evangelhos:

        De todos os fatos que dão testemunho do poder de Jesus, os mais numerosos são, não há  como contestar, as curas. Queria Ele provar dessa forma que  o verdadeiro poder é o daquele que faz o bem; que o seu objetivo era ser útil e não satisfazer à curiosidade dos indiferentes, por meio de coisas extraordinárias. Aliviando os sofrimentos, prendia a si as criaturas pelo coração e fazia prosélitos mais numerosos e sinceros, do que se apenas os maravilhasse com espetáculos para os olhos. Daquele modo, fazia-se amado, ao passo que,  se limitasse a produzir surpreendentes fatos materiais, conforme os fariseus reclamavam, a maioria das pessoas não teria visto senão um feiticeiro, ou um mágico hábil, que os desocupados iriam apreciar para se distraírem.

        “O Espiritismo, igualmente, pelo bem que faz é que prova a sua missão providencial.

        Ele cura os males físicos, mas cura, sobretudo, as doenças morais e são esses os maiores prodígios que lhe atestam a procedência. Seus mais sinceros adeptos não são os que se sentem tocados pela observação de fenômenos extraordinários, mas os a quem liberta das torturas da dúvida; aqueles a quem levantou o ânimo na aflição, que hauriram forças na certeza, que lhes trouxe, acerca do futuro, no conhecimento do seu ser espiritual e de seus destinos. Esses os de fé inabalável, porque sentem e compreendem.

        Os que no Espiritismo unicamente  procuram efeitos materiais, não lhe podem compreender a força moral. Daí vem que os incrédulos, que apenas o conhecem através de fenômenos cuja causa primária não admitem, consideram os espíritas meros prestidigitadores e charlatães.

         Não será, pois, por meio de prodígios que o Espiritismo triunfará da incredulidade: será pela multiplicação dos seus benefícios morais, porquanto, se é certo que os incrédulos não admitem os prodígios, não menos certo é que conhecem, como toda gente, o sofrimento e as aflições e ninguém recusa alívio e consolação ”

 


Os Sonhos de José

 

Os sonhos de José

 Mt (  2,19  ) - Com a morte de Herodes, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José.

           A interpretação de sonhos já deu margem para que se escrevessem dezenas de livros. Nenhum deles, porém, sintetiza o pensamento espírita a respeito do assunto como  “A Gênese”, de Allan Kardec:

 Os avisos por meio de sonhos desempenham grande papel nos livros sagrados de todas as religiões. Sem garantir a exatidão de todos os fatos narrados e sem os discutir, o fenômeno em si mesmo nada tem de anormal, sabendo-se, como se sabe, que, durante o sono, é quando o Espírito, desprendido dos laços da matéria, entra momentaneamente na vida espiritual, onde se encontra com os que lhe são conhecidos. Ë com freqüência essa a ocasião que os Espíritos protetores aproveitam para se manifestar a seus protegidos a lhes dar conselhos mais diretos. São numerosos os casos de avisos em sonho, porém, não se deve inferir daí que tem uma significação tudo o que se vê em sonho.”


Assassinato de inocentes

 


Assassinato de Inocentes

                       O tema bíblico - Assassinato de Inocentes -, citado em Mateus 2:16-18,  torna-se bem atual quando transportado ao nosso tempo e rebatizado de aborto.

            São milhões os espíritos que tem adiadas suas oportunidades de resgate e regeneração pelo ato impensado do aborto e, ninguém melhor que Emmanuel, por Chico Xavier, para nos ilustrar sobre o tema em o livro “Religião dos Espíritos” (Ed. FEB):

              Comovemo-nos, habitualmente, diante das grandes tragédias que agitam a opinião. Homicídios que convulsionam a imprensa e mobilizam largas equipes policiais... Furtos espetaculares que inspiram vastas medidas de vigilância...

            Assassínios, conflitos, ludíbrios e assaltos de todo jaez criam a guerra de nervos, em toda parte; e, para coibir semelhantes fecundações de ignorância e delinquência, erguem-se cárceres e fundem-se algemas, organiza-se o trabalho forçado e em algumas nações a própria lapidação de infelizes é praticada na rua, sem qualquer laivo de compaixão.

            Todavia, um crime existe mais doloroso, pela volúpia de crueldade com que é praticado, no silêncio do santuário doméstico ou no regaço da Natureza... Crime estarrecedor, porque a vítima não tem voz para suplicar piedade e nem braços robustos com que se confie aos movimentos da reação.

            Referimo-nos ao aborto delituoso, em que pais inconscientes determinam a morte dos próprios filhos, asfixiando lhes a existência, antes que possam sorrir para a bênção da luz.

            Homens da Terra, e sobretudo vós, corações maternos chamados à exaltação do amor e da vida, abstende-vos de semelhante ação que vos desequilibra a alma e entenebrece o caminho!  

            Fugi do satânico propósito de sufocar os rebentos do próprio seio, porque os anjos tenros que rechaçais são mensageiros da Providência, assomantes no lar em vosso próprio socorro, e, se não há legislação humana que vos assinale a turpitude do infanticídio, nos recintos familiares ou na sombra da noite, os olhos divinos de Nosso Pai vos contemplam do Céu, chamando-vos, em silêncio, às provas do reajuste, a fim de que se vos expurgue da consciência a falta indesculpável que perpetrastes.”


segunda-feira, 19 de abril de 2021

Evangelho e Vida

 

 EVANGELHO e VIDA

 

No mundo de hoje, há boa vida e há vida boa.

Boa vida é bem estar.

Vida boa é estar bem.

Por isso, temos criaturas de boa vida

 e criaturas de vida boa.

A boa vida tem rastros de sombra.

A vida boa apresenta marcas de luz.

A desordem favorece a boa vida.

A ordem garante a vida boa.

Palavra enfeitada costuma escorar boa vida.

Bom exemplo assegura vida boa.

Preguiça mora na boa vida.

Trabalho brilha na vida boa.

Ignorância escurece a boa vida.

Educação ilumina a vida boa.

Egoísmo alimenta a boa vida.

Caridade enriquece a vida boa.

Indisciplina é objetivo da boa vida.

Disciplina é roteiro da vida boa.

Vejamos as lições do Evangelho:

Madalena, obsidiada, perdera-se nos enganos da boa vida, mas, encontrou em nosso Divino Mestre a necessária orientação para a vida boa.

Zaqueu, afortunado, apegara-se em demasia às posses efêmeras da boa vida, entretanto, ao contato de Nosso Senhor, aprendeu como situar os próprios bens na direção da vida boa.

Judas, o discípulo invigilante, procurando a boa vida, entregou-se à deserção, e sentindo extrema dificuldade para voltar à vida boa, foi colhido pela loucura.

Simão Pedro, a apóstolo receoso, tentando conservar a boa vida, instintivamente, negou o Divino Amigo por três vezes numa só noite, entretanto, regressando, prudente, à vida boa, abraçou o sacrifício pela própria ascensão, desde o dia do Pentecostes.

Pilatos, o juiz dúbio, interessado em desfrutar boa vida boa, lavou as mãos quanto ao destino do Excelso Benfeitor, adquirindo o arrependimento e o remorso que o distanciaram da vida boa.

Como é fácil observar, nas estradas terrestres, há muita gente de boa vida e pouca gente de vida boa, porque a boa vida obscurece a alma e a vida boa mantém a consciência acordada para o desempenho das próprias obrigações.

Estejamos alertas quanto à posição que escolhemos, porquanto, pelo tipo de nossa experiência diária, sabemos com segurança em que espécie de vida seguimos nós.

 Scheilla

(por Chico Xavier em “Comandos do Amor” Ed. IDE)

 


Da Caridade



"A caridade que veste nus e alimenta os famintos está certa, mas não está justa, se desconhece o Evangelho no santuário de seu coração." 

Pedro Richard

domingo, 18 de abril de 2021

A perda de um filho

 A perda de um filho

             Difícil escrever, difícil falar, difícil consolar, difícil vivenciar a perda de um filho. Todos imaginamos conhecer o mecanismo que envolve tais resgates mas, contidos na carne e ainda muito grosseiros na apreciação de sentimentos, temos, neste caso, um sofrimento muito grande que só encontra reparo na certeza absoluta do reencontro futuro. Transcreveremos abaixo a manifestação de sentimentos de um pai que muito amava seu filho, amigo de meu filho mais velho, e que desencarnou ainda jovem num acidente. A omissão de nomes se faz necessária.

“O Senhor já sabe, é claro, mas não custa lembrar que estou lhe enviando hoje, dia 20, meio de repente, o meu filho mais velho,... Sei que ele é muito moço para fazer essa viagem, mas o Senhor sabe como são os adolescentes. Disse um representante Seu por aqui que, apesar de sua pouca idade, ele já havia completado sua missão. Até aí tudo bem, mas acho que deveria haver uma lei que impedisse que as missões dos filhos fossem menores que as dos pais, pois a carne de que fomos feitos não se dá bem com filosofias, alimento do espírito; o cérebro entende e o corpo geme. Mas estou lhe escrevendo a fim de que possa preparar tudo para recebê-lo bem: ele aí só conhece a avó e, tenho que lhe dizer, é tímido e difícil de fazer amizade. Devo ainda lhe dizer outras coisas para que o convívio de vocês não seja atrapalhado por picuinhas de menor monta: ele demora muito no banho, joga as toalhas pelo chão e não tem o menor cuidado com a roupa; dorme até tarde e, por favor, nunca apague a luz, pois sente medo; nunca fale de suas orelhas, pois as acha grandes demais, assim como o nariz. Para que o Senhor não diga que só lhe mando problemas, tenho que lhe dizer que é bem humorado, como eu, bonito e bem informado. Se houver discussões políticas ou esportivas, evite falar mal do PT e do S. Paulo, pois vira uma fera. Compre a Folha, nunca o Estado. Se for possível, encaixe-o no setor de informática, não só porque era o que estudava aqui como também - acredito - porque Sua organização está precisando modernizar-se. Ah, outra coisa, ele se pendura no telefone, mas se for preciso, fale com ele, porque é bom menino e certamente vai atendê-lo. E por ser bom menino é que vamos sentir muito a falta dele; consola-nos saber que, finalmente, terá aí uma vida nova, bem melhor que a nossa, e como o Senhor é homem de palavra, certamente lhe dará as alegrias prometidas. Minha missão aqui ficou meio capenga, mas vou levá-la até o final, confiando no contrato que temos. Cuide bem dele.”