Provas e contraprovas
por M. Quintão
Reformador
(FEB) 1º Agosto 1936
Na prática, o que de melhor se demonstra é que a
propaganda indireta, teórica, genérica, impessoal, apenas revolve as superfícies.
Quando muito, predispõe à aceitação dos princípios,
nunca a atitudes conscienciais, definitivas e definidas.
Dir-se-á, então, que pode facilitar
a crença, mas, não engendra, não sanciona a Fé que remove montanhas.
Não há como um fato - também se
costuma dizer - para esmadrigar (separar) dúvidas e aparelhar convicções.
Entretanto, a verdade é que os fatos
a granel verificados de todos os tempos, nem a todos convencem, mesmo aqueles
para quem vertem em abundância de graças.
E, assim, se verifica como para crer
não basta saber, nem conhecer; é preciso merecer; e o merecimento supomos -
tanto quanto no lo autoriza supor o revelado - só pode estimar-se em patrimônio
intrínseco de maturidade do Espírito, na escala de sua própria evolução.
Seres há, nos quais o sofrimento só
produz revolta e desespero.
O que se resolve em causa de afirmação e conformação
para uns, resolve-se para outros em indiferença e negação. A dor é sempre a
mesma dor, mas seus efeitos se diversificam, variam de criatura a criatura.
Como o líquido, que se conforma ao
vaso por enche-lo, a dor já não teria, então e por si só, a virtude da propiciação
espiritual, até que o vaso, expurgado de escórias à luz dos Tempos, já não
pudesse toldar o líquido.
Nem por outro motivo se
justificariam, melhormente, as palavras do Divino Mestre, quando advertiu – “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.
Milhares de criaturas viram o Pastor, ouviram-lhe a
voz, testemunharam os seus feitos; mas, os apóstolos foram doze, apenas, e
ainda hoje, dobados
(passados) 20 séculos, a humanidade, atônita,
tapa os ouvidos e cerra os olhos par não entender o Cristo de Deus.
Prevalecente vemos assim, ainda nisto, a outra palavra
que diz: “Muitos serão chamados e poucos
serão escolhidos.”
No vortilhão das provas emergentes, individuais e
coletivas, a dor, em monda (correção) constante para maiores messes
futuras, só recolhe, contudo e como sempre, os maturados, legítimos frutos da
seara.
São as verdadeiras conversões, que atestam o
determinismo da Lei, sobranceira a todas as dúvidas e relutâncias, com refulgência
de graças.
Richet e Lombroso, juntos, viram os fatos; o primeiro
despediu-se do mundo com o aceno de uma grande
esperança; o segundo vacilou, um instante, em proclamar ao mundo, desde
logo, a sua fé.
Comparem-se as atitudes e veja-se
até que ponto podem intervir nos domínios do subjetivo os fatores meramente intelectuais
e os físicos.
É que as mesmas coisas, ocultas aos
grandes, são relatadas aos pequeninos.
E os pequeninos não são, qual possam
crê-lo, apenas os pobres de mentalidade e conhecimentos exteriores. São, sim, e
sempre, os ricos de sentimento e coração, sábios da ciência divina, que é amor,
que se não improvisa em livros; que se não elabora em academias, porque só se
forja em cadinhos de eternidade, mercê de uma evolução indefinita.
Felizes, portanto, os que já se forram ao condicionalismo
do fato para argamassar a sua fé; felizes, ainda, os que no fato tiverem a sua Pentecostes (entre os judeus,
celebração da lei dada por Deus a Moisés no monte Sinai, cinquenta dias depois
da saída do Egito. Entre os cristãos,
festividade que celebra a vinda do Espírito Santo no 7.º domingo depois da
Páscoa. Fonte: Dic. Priberam),
emules
(excede
os outros no que é bom)
de Thomé; mas, ai dos
coveiros de talentos; dos que,
recebendo a moeda, em madureza de espiritualidade, lhe negarem o teor divino.
Neste caso, não há computar somente os que refogem (?) de nossas fileiras, postulantes de
outros credos ou inscientes de credo algum, porque nos havemos de penitenciar
maiormente, os que vamos em sarabanda (tipo de dança) de aleluias, espalhando teorias e
alardeando fados
(forças
misteriosas que se supõe dirigirem o destino), larvando-os embora dos mesmos estigmas, que a uns e
outros anódinos
(paliativos) tornam os mesmos fatos e teorias.
E que se nos não increpe (acuse) também
de pessimismo no constatar a grande, a ancestral inopia (imperfeição) humana, por concluirmos em tese e em
síntese que, se os tempos são verdadeiramente chegados, poucos serão - em espírito
e verdade - os que aos tempos se achegam, cônscios da Apocatástase (restauração) que se prenuncia em renovação de
valores morais, compatíveis com as gerações prepostas ao advento do Reino do Cristo
na Terra, para que esta se transforme de estância de expiação e provação em
céspede
(pedaço
de terra)
de regeneração e
salvação.
Porque, até que isso aconteça, os fatos e teorias,
velhos quanto o próprio mundo, na forma como na essência, hão de estimar-se por
simples meio acidental, antes que fim precípuo e essencial.
O homem velho
aí está em plenitude de servidão e atividade, na Religião como na Política, na Ciência
como na Família; e como não há deitar impunemente vinho novo em odre velho,
o resultado também aí o temos em penhor de angústias e catástrofes, que pare em
negar-nos a própria origem divina, ao mesmo tempo que nos arrebatam e destroem
as parcas reservas de energias e esperanças, lançando-nos à aventura na
conquista de todas as geenas, que boas seriam se o nada existisse e pudessem os
iludir a verdade, qual o fazemos a nós mesmos.
Que, pois, agraciados desta hora soleníssima,
saibamos, acima e antes de tudo, prezar intimamente a palavra de VIDA, que de
fato o é, porque só ela vivifica para e de toda a eternidade.
A nós já se nos tem qualificado de místico,
por sobrepormos a todos os conhecimentos o do Evangelho. Que importa?
Ainda agora, de um autor contemporâneo (1) lemos: “O mundo, tal como é, e esse livro não podem coexistir. Ou um ou outro. O mundo tem de deixar de ser como é, ou esse livro deverá desaparecer do mundo”.
(1) ‘Jesus Desconhecido’, de Dimitri Merejko.
Se os homens em fúrias de vandalismo iconoclasta
pudessem varrer da face da Terra o código divino, Jesus, que o deu em legado
eterno à Humanidade, saberia por seus arautos restabelece-lo no coração dos
homens.
Mas, não! Não e nunca... O mundo deixará de ser o que
é, precisamente porque, renovado em suas fontes espirituais em algaras (investidas) de bênçãos, os levitas de amanhã
trarão insculpidos no coração os ditames vivos da Lei integral, para cumpri-la
extreme de fatos e teorias.
E ninguém dirá sejam uns e outros elementos primordiais
da Fé, porque todos os teremos como derivantes consubstanciais à mesma Fé.
Os Tomés escalonados ao longe hão de
gritar a mea culpa e todas as provas
se-lo-ão de direito, em consciência antes que de fato.
E todos nos confirmaremos na justeza
e alcance do verbo divino, quando assegurou: “o reino de Deus está dentro de vós”,
REGNUM DEI INTRA VOS EST.
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