Correspondência Póstuma de Allan Kardec - 2
Reformador (FEB) 1º Setembro 1917
Caro Sr. Kardec,
Conto brevemente ir a Paris, onde tenho tantos amigos e
tantas coisas a fazer, mas tudo farei para ir apertar a vossa mão.
Não pude ler ainda senão uma parte, mas isso me basta
para apreciar-lhe o alcance e não duvido nela encontrar preciosos documentos.
Permiti-me que vos ofereça, por minha vez, a última obra
que acabo de publicar: “O Céu e o Inferno” ou a justiça de Deus segundo o
Espiritismo.
Muito senti não estar em casa quando vos deste ao
trabalho de me procurar: teria tido o prazer de vos conhecer; mas espero que
isso não tenha sido senão um adiamento. Quando puderdes dispor de vosso tempo,
às sextas-feiras, de três às cinco horas, podeis estar certo de me encontrar e
se desejardes assistir a uma das sessões da Sociedade Espírita, terei muito
prazer em vos dar uma carta de apresentação.
Nossa sessão de amanhã é uma das em que admitimos algumas
pessoas estranhas. Rogo que vos digneis receber a expressão de meus mais
distintos sentimentos.
.........................
Acabei a leitura de vosso livro. Tenho curiosidade de saber o que os doutores católicos poderiam responder aos vossos raciocínios tão claros e tão lógicos, tão sensatos: mas creio que não responderão.
Desde muito tempo acompanho a sua obra cujo valor moral
aprecio e verifico neste momento, como previra, que, mal ou bem, a despeito
talvez de vossas intenções primitivas, e, pela força das coisas, cada vez mais
vos separais das igrejas cristãs existentes e que o Espiritismo tende a
tornar-se uma igreja cristã nova, à qual não falta senão a liberdade dos cultos
para se manifestar plenamente.
O culto do dever deve consistir em grandes comunhões,
reunindo em um mesmo ato de adoração e de amor todas as almas de um mundo, encarnadas
ou desencarnadas. Entrevejo festas grandiosas e tocantes, de que vossas
reuniões atuais não são senão os germens preparatórios e onde se entremearão, em
um surto comum, as manifestações das duas vidas.
Entretanto, coisa estranha, não me sinto atraído por esses
fenômenos da realidade, dos quais estou convencido.
Será porque me pareça humilhante para a minha espécie que
grande número de nós tenha ainda necessidade de ver uma mesa levantar-se ou um
lápis ser levado por mão inconsciente, para crer na perpetuidade do seu ser?
Será por causa
desta séria objeção que faço às minúcias de vossa doutrina: que senão a
liberdade, ao menos a espontaneidade humana desaparece quase completamente, só,
como ensinais, os espíritos nos dirigem, nos suscitam, nos escolhem para tal ou
qual obra terrestre a executar?
Creio muito na comunicação dos Dois Mundos, mas não posso
admiti-la subordinando assim um ao outro.
O ser tem, segundo penso, funções de ordem diferente em
cada modo de vida: esses dois gêneros de atividade devem ser distintos, e, me
parece, ou compreendi mal, que vós fazeis reger, quase inteiramente a atividade
das almas encarnadas pelos espíritos livres da matéria.
Sinto nisso uma espécie de fatalismo que me atemoriza e
repele.
Mas conversaremos a
respeito de tudo isso, porque tenciono ir ver-vos. Com mais ou menos
divergências prosseguimos a mesma senda e servimos a mesma causa.
Creio, quanto a mim, que minha obra está quase acabada. Dei-lhe
tudo quanto tenho, erro ou verdade; e as necessidades de vida material me
forçam, em todo caso, a mudar a direção de meu trabalho e de meus pensamentos.
Quanto a vós, Senhor, estais a tratar de um movimente útil
e fecundo.
Vi, por mim mesmo, o bem que fazem em certos espíritos as
doutrinas que propagais com tanta coragem e zelo a, se bem que não aceitando
todas as tonalidades de vosso credo, aperto-vos a mão com fraternal simpatia.
Eugène Nus
Escreveu um livro muito notável: “Coisas do outro mundo”, no qual dá curiosos pormenores de experiências
de tiptologia que fez com alguns amigos.
Obtiveram comunicações muito curiosas.
Eis uma delas: é uma definição de Mestre:
“A morte não é o túmulo humano.
Ela
limita a forma do ser material: fim do indivíduo, liberta o elemento imaterial.
A morte inicia a alma em uma nova existência. Confiai em um destino que será
vossa obra !”
Uma série de comunicações análogas, encontradas nessa mesma
obra, oferece a curiosidade de apresentar definições redigidas em doze palavras.
Essas doze palavras caíam rápidas como flechas a pedido das pessoas presentes e
acreditamos firmemente em E. Nus, quando ele nota que é impossível a um mortal
ordinário chegar ao mesmo resultado no mesmo tempo.
Eis algumas dessas definições em doze palavras:
AMOR Peão
das paixões mortais, força atrativa dos sexos, elemento ainda da continuação.
BEM Harmonia do ser; associação das forças
passionais de acordo com os destinos.
MAL Perturbações em os fenômenos. discórdia
entre os efeitos e a causa divina.
RELIGIÃO FUTURA O ideal progressivo por dogma, as artes por culto, a
natureza por igreja.
Da Revue Spirite
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