O Dom de
Deus
por Vinícius
Reformador
(FEB) 1942
“Como, sendo tu judeu,
pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? Respondeu Jesus: Se tu
conhecesses o dom de Deus e quem é o que te pede de beber, tu, antes, lhe
terias pedido e ele te daria da água viva”.
A mulher de Samaria escandalizou-se do
judaísmo de Jesus não o impedir de comunicar-se com a filha duma tribo
considerada inimiga e da qual os judeus viviam divorciados por questões de
ordem política e religiosa, a ponto de não se comunicarem. A essa admiração, o
Mestre retruca com estas palavras de profundo alcance: Se tu conhecesses o dom
de Deus, e quem é que te pede de beber, etc.
Realmente, a Samaritana ignorava a existência
da maior de todas as mercês que o Pai celestial prodigaliza a seus filhos, -que
é o amor; como também não sabia que Aquele com quem ela falava era precisamente
o veículo divino através do qual flui a celeste dádiva, conforme acertadamente
disse João, o evangelista: A lei veio por Moisés, mas a Verdade e a Graça (que
é Amor) vieram por Jesus Cristo.
Na ignorância desse fato de suma importância,
vive a maioria dos homens. Daí as rivalidades,
a inveja, as contendas e as lutas fratricidas que entre eles reinam. Não se
habilitam a receber o dom de Deus, por isso não chegam jamais a se
compreenderem.
A Verdade veio juntamente com a Graça, isto
é com o Amor e os homens pretendem encontrá-la hostilizando-se mutuamente! A
condição precípua para descobrir-se a verdade é busca-la com amor. Só vivem na
verdade os que vivem no amor.
Ora, as atitudes agressivas e as palavras contundentes
são geradas do desamor, por isso que “a boca fala do que está cheio o coração”.
Portanto, como resolver as questões que interessam à humanidade se os homens
permanecem em estado de mutua e continua agressão?
Judeus e samaritanos não se entendiam, porque
eram rivais, predominando entre eles o fermento do ciúme, que gera a
malquerença. Os samaritanos rejeitavam os livros proféticos, porque estes prediziam
a vinda do Messias, procedendo do tronco de Judá. Os judeus, cheios de jactância,
julgavam-se, por isso, o povo eleito, os únicos escolhidos e dignos dos favores
e da assistência do Alto. A inveja de uma fação se chocava com a presunção de
outra, mantendo separadas e inimigas as duas tribos irmãs.
"Mutatis mutandis", é o que ainda
sucede no cenário terreno, entre os que militam em todos os campos de
atividade, principalmente nos setores da política e da religião. Desprovidos do
dom de Deus, por isso que não o pedem, nem o procuram, todos tratam de digladiar-se,
enfunando as velas da vaidade própria, através dos pontos de vista que defendem.
Quando Jesus se dirigiu à Galileia, havia deixado
a Judéia exatamente porque notara ali certa rivalidade entre os seus discípulos
e os do Batista. Foi no decurso dessa viagem. que o Senhor, passando por Sicar,
assentou-se à beira do poço de Jacó, enquanto os seus foram à Samaria comprar
alimentos.
“O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”
meditava nas grandes dificuldades com que toparia para erradicar o egoísmo das
profundezas da alma humana, quando chegou a Samaritana, com seu cântaro, a
buscar água. O sábio Mestre se prevalece da oportunidade, para entabular com
ela o diálogo donde extraímos a frase ora comentada.
Dentre os muitos ensinamentos que a referida
passagem encerra, destaca-se, de modo evidente, esse, que se reporta ao “dom de
Deus”, de cuja posse depende todo o nosso bem, presente e futuro, por isso que
contém a chave com que solucionaremos todos os problemas que nos afetam.
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