A
voz de Jesus
Lino
Carmo
Reformador
(FEB) Novembro 1920
“Não vos admireis
disso, porque vem o tempo em que todos aqueles que estão nos sepulcros ouvirão
a voz do filho de Deus. (João, V, v. 28).
Assim falou Jesus aos Judeus que, hipocritamente
submissos à letra da lei, contra ele se revoltavam e procuravam elimina-lo, por
querer mostrar lhes que a lei é amor, que a que produz o ódio e exclui a
caridade não é lei de Deus, que, em si mesmo, é amor, Não quiseram então
muitos, a maioria dos que estavam nos sepulcros, ouvir a voz do filho de Deus.
Mas este não falou apenas para aquele momento. Suas palavras foram ditas para
todos os tempos que aos de então se seguiriam na vida em humanidade. Por isso é
que, tendo a presciência do futuro, ele anunciou que tempo viria em que a sua
voz seria ouvida por todos os que estivessem nos sepulcros.
Tudo demonstra que chegou esse tempo. Por
toda parte, por todos os cantos do planeta, nos centros populosos e civilizados,
como nos mais pequeninos lugarejos da terra, como pelo espaço inteiro que a circunda,
a voz do filho de Deus ressoa pela boca de seus mensageiros e enviados,
invisíveis c visíveis. Num comércio íntimo de pensamentos e sentimentos, a
humanidade do aquém e a do além conjugam cada vez mais seus esforços, se fazem mais
fortemente solidárias na procura do verdadeiro pão celestial, único que
realmente mata a fome do espírito - a palavra de Jesus em espírito e verdade.
Que importa surjam os díscolos (insubordinados), outros fariseus
ou os mesmos de outrora, hoje reencarnados, pretendendo abafar essa voz que reboa
pela imensidade? O mesmo que conseguiram há dois mil anos – nada. O gênero
humano se adiantou, progredindo os espíritos que o compõem na sua maioria. As
inteligências se desenvolveram, tornando- se capazes de descortinar os destinos
espirituais de todas as criaturas, de lhes conhecer a origem comum e a trajetória
para a realização daqueles destinos. A razão humana, já em parte emancipada e
tendendo, sob a ação da força incoercível do progresso espiritual, a se emancipar
completamente, não mais poderá ser escravizada por crenças que só foram apropriadas
à infância da humanidade, ou por dogmas de qualquer espécie ou procedência. Ela
hoje atinge a virilidade e se liberta de todas as peias, para só se inclinar
perante o tribunal de Deus, cuja sede está, em cada criatura, na sua consciência
esclarecida pela razão, iluminada esta pela luz pura da verdade.
Chegaram, pois, os tempos preditos por
Jesus. Largo rasgão se abriu no véu que tolhia a visão do homem. Por aí ele
divisa jubiloso as claridades da nova fase que surge no evolver da sua vida
infinita de ser, vê perto o cume que terá de galgar e sente que dessa altura
contemplará esplendores novos da obra divina. Serão, portanto, inúteis todos os
esforços que empreguem os que ainda se comprazem “na sombra da morte”, que é a
obscuridade do erro, sob todos os aspectos que possa revestir, por conserva-lo imobilizado
na charneca escura, que se lhe vai tornando sempre mais e mais intolerável.
É que os mortos, de fato, começam a ouvir a
voz do Messias que o Pai lhes enviou. Que mortos? Os corpos enterrados nos
cemitérios e algures? Não. Os mortos a quem Jesus se referia são os que se
encontram nos sepulcros da carne, mortos pelas faltas, pelos crimes cometidos
contra a lei divina, sofrendo a encarnação material para expiação e resgate
desses crimes e faltas, depois do que ressurgirão, isto é, ganharão a vida
livre e ditosa do espírito purificado, não mais submetido às reencarnações
expiatórias. De um modo ainda mais geral, os que estão nos sepulcros são todos
aqueles que se acham encarnados ou sujeitos a reencarnar, os quais todos são os
mortos do passado.
Eis o de que cumpre se compenetrem os
homens, para que a voz do divino pastor lhes chegue plenamente aos ouvidos, em
ondas de celeste harmonia. Eis o que a palavra de seus mensageiros lhes veio
ensinar, trazendo-lhes a revelação espírita. Eis o que importa lhes repitam e
façam compreender os que no plano terreno se constituíram arautos dessa
revelação, principalmente nesses dias de comemoração oficial, em que os
verdadeiramente mortos se encaminham em multidões a visitar sepulcros, onde não
se encontramos os que eles choram, a fim
de que, o mais cedo possível, como os das necrópoles, vazios fiquem todos os
túmulos a que aludia Jesus, por haverem ressurgido para a vida eterna, pela
observância da sua palavra, todos os que, à única morte real nos temos condenado
divorciando-nos dessa palavra.
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