terça-feira, 1 de outubro de 2019

O Dom de Deus



O Dom de Deus
por Vinícius
Reformador (FEB) 1942

“Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? Respondeu Jesus: Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é o que te pede de beber, tu, antes, lhe terias pedido e ele te daria da água viva”.

A mulher de Samaria escandalizou-se do judaísmo de Jesus não o impedir de comunicar-se com a filha duma tribo considerada inimiga e da qual os judeus viviam divorciados por questões de ordem política e religiosa, a ponto de não se comunicarem. A essa admiração, o Mestre retruca com estas palavras de profundo alcance: Se tu conhecesses o dom de Deus, e quem é que te pede de beber, etc.

Realmente, a Samaritana ignorava a existência da maior de todas as mercês que o Pai celestial prodigaliza a seus filhos, -que é o amor; como também não sabia que Aquele com quem ela falava era precisamente o veículo divino através do qual flui a celeste dádiva, conforme acertadamente disse João, o evangelista: A lei veio por Moisés, mas a Verdade e a Graça (que é Amor) vieram por Jesus Cristo.

Na ignorância desse fato de suma importância, vive a maioria dos homens. Daí as rivalidades, a inveja, as contendas e as lutas fratricidas que entre eles reinam. Não se habilitam a receber o dom de Deus, por isso não chegam jamais a se compreenderem. 

A Verdade veio juntamente com a Graça, isto é com o Amor e os homens pretendem encontrá-la hostilizando-se mutuamente! A condição precípua para descobrir-se a verdade é busca-la com amor. Só vivem na verdade os que vivem no amor.

Ora, as atitudes agressivas e as palavras contundentes são geradas do desamor, por isso que “a boca fala do que está cheio o coração”. Portanto, como resolver as questões que interessam à humanidade se os homens permanecem em estado de mutua e continua agressão?

Judeus e samaritanos não se entendiam, porque eram rivais, predominando entre eles o fermento do ciúme, que gera a malquerença. Os samaritanos rejeitavam os livros proféticos, porque estes prediziam a vinda do Messias, procedendo do tronco de Judá. Os judeus, cheios de jactância, julgavam-se, por isso, o povo eleito, os únicos escolhidos e dignos dos favores e da assistência do Alto. A inveja de uma fação se chocava com a presunção de outra, mantendo separadas e inimigas as duas tribos irmãs.

"Mutatis mutandis", é o que ainda sucede no cenário terreno, entre os que militam em todos os campos de atividade, principalmente nos setores da política e da religião. Desprovidos do dom de Deus, por isso que não o pedem, nem o procuram, todos tratam de digladiar-se, enfunando as velas da vaidade própria, através dos pontos de vista que defendem.

Quando Jesus se dirigiu à Galileia, havia deixado a Judéia exatamente porque notara ali certa rivalidade entre os seus discípulos e os do Batista. Foi no decurso dessa viagem. que o Senhor, passando por Sicar, assentou-se à beira do poço de Jacó, enquanto os seus foram à Samaria comprar alimentos.

“O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” meditava nas grandes dificuldades com que toparia para erradicar o egoísmo das profundezas da alma humana, quando chegou a Samaritana, com seu cântaro, a buscar água. O sábio Mestre se prevalece da oportunidade, para entabular com ela o diálogo donde extraímos a frase ora comentada.

Dentre os muitos ensinamentos que a referida passagem encerra, destaca-se, de modo evidente, esse, que se reporta ao “dom de Deus”, de cuja posse depende todo o nosso bem, presente e futuro, por isso que contém a chave com que solucionaremos todos os problemas que nos afetam.

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