Personalismo
e
Espiritismo
Túlio Tupinambá / (Indalício
Mendes)
Reformador (FEB) Julho 1958
Expandindo-se, popularizando-se,
passando a merecer as atenções de todas as classes que constituem a sociedade
humana, o Espiritismo teria de sofrer também, como está sofrendo, a invasão de
indivíduos que a ele foram atraídos mais por ambições personalistas do que,
verdadeiramente, por sentirem necessidade de seguir diretrizes novas, capazes
de os levar à desejada renovação interior. Todavia, o Espiritismo não os
repele, não os condena, mas tem a preocupação de os esclarecer, desejando que
se esforcem para combater o egotismo, banhando o espírito nas luzes da Doutrina
e do Evangelho. Há, todavia, pessoas que se deslumbram com os ouropéis da
própria inteligência e não admitem se lhes tente restringir os voos da ambição
exibicionista. Como Narciso, enamoram -se de si mesmos e se perdem, afinal.
Não pode o Espiritismo conservar-se
passivo, por mal compreendida tolerância, ante as consequências realmente
danosas do personalismo. Cabe-lhe o direito de defender-se, porque sua Doutrina
não aceita essa expressão insofismável de egoísmo, tanto assim que, em “O Livro
dos Espíritos”, onde se trata da “Perfeição moral”, há a seguinte resposta à
pergunta nº 893, sobre “Qual a mais meritória de todas as Virtudes?":
"Toda virtude tem seu mérito próprio,
porque todas indicam progresso na senda do bem. Há virtude sempre que há resistência
voluntária ao arrastamento dos maus pendores. PORÉM, A SUBLIMIDADE DA VIRTUDE
ESTÁ NO SACRIFÍCIO DO INTERESSE PESSOAL PELO BEM DO PRÓXIMO, sem pensamento
oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade,"
Diante disto, recusando o personalismo, a Doutrina se firma num princípio
evangélico. Em outro trecho esclarecem os Espíritos, na mesma obra, que o sinal
mais característico da imperfeição é o interesse pessoal.
O Espiritismo, contudo, não expulsa de seu seio
os personalistas, como não rejeita ninguém. Acolhe-os, porque sua missão é
melhorar o homem promover sua reforma íntima, para que, um dia ele seja
realmente espírita, isto é, um homem perfeitamente integrado na Doutrina e, por
isto mesmo, útil à sociedade, aos seus semelhantes, por sua valorização moral
por seus sentimentos apurados, por sua inteligência cultivada no altruísmo.
Ensina Allan Kardec, em "Obras Póstumas", que "a inteligência nem sempre constitui penhor
de moralidade e o homem mais inteligente pode fazer péssimo uso de suas faculdades.
Doutro lado, a moralidade, isolada, pode, muita vez, ser incapaz. A reunião
dessas duas faculdades, INTELIGÊNCIA e MORALIDADE, é, pois, necessária a criar
uma preponderância legítima" ...
A maneira mais positiva de se
combater o personalismo, que medra em certos setores espíritas, será a difusão
cada vez maior da Doutrina, sua explanação clara, a interpretação cuidadosa e
repetida de seus diferentes pontos. Pela compreensão progressiva dos deveres
doutrinários, a criatura humana irá aprendendo a modificar-se, realizando
tentativas sobre tentativas para usufruir os benefícios resultantes da condição
de espírita consciente de suas responsabilidades no Espiritismo e,
concomitantemente, na
vida de relação. Demonstrar os erros e excessos do personalismo é tarefa
benfazeja, porque a ação dele é corrosiva. Pode esconder-se na simulação,
tornando-se, aí, ainda mais perigoso, por induzir os menos atentos a
solidariedades negativas, embora com a aparência de incontestável apoio na
verdade. E' fácil distinguir o espírita verdadeiro do falso espírita. Quem
demonstra por atos e palavras estar fiel à Doutrina e ao Evangelho, e nada faz
que desminta essa fidelidade, é espírita; quem apenas fala, mas não consolida
suas palavras com a exemplificação inequívoca, não é espírita. Não nos
esqueçamos de que “a árvore que produz
maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má; portanto,
cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto” - diz o Evangelho. “Guardai-vos dos falsos profetas que vem ter
convosco cobertos de peles de ovelha e que por dentro são lobos rapaces” -
adverte ainda a lição evangélica. “Levantar-se-ão muitos falsos profetas que
seduzirão a muitas pessoas; e, porque abundará a iniquidade, a caridade de
muitos esfriará. Mas, aquele que perseverar até ao fim se salvará” - disse o
Cristo.
Só podem iludir-se, portanto, os que
não estão em dia com os postulados doutrinários e os ensinamentos evangélicos.
Para muita gente, o essencial, nos atribulados dias de hoje, é cultivar a
aparência, para melhor iludir. Ser espírita é uma coisa, parecer que o é, outra
bem diversa. Os espíritas compenetrados de seus deveres em face da Doutrina
nada aceitam sem exame, sem passar cada ideia, cada opinião, cada atitude pelo
crivo doutrinário, à luz do Evangelho. Às vezes uma ideia parece muito boa,
quando defendida por indivíduos sagazes e de fácil expressão. Analisada com
serenidade, pode revelar, por trás do brilho enganador, propósitos
incompatíveis com a realidade espírita. Eis porque o Espiritismo tem de
permanecer alerta, para que os espíritas que confiam na Doutrina codificada
por Allan Kardec não sejam vítimas de simuladores, cujas ideias são para a
nossa religião
o que foi para os troianos o “cavalo de Tróia” .
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