O Servo Insaciável
Irmão X
por Chico
Xavier
Reformador (FEB) Maio 1956
Fatigado da imensa luta que
sustentara nas esferas inferiores, Belino Castro rogou ao Senhor a bênção da
reencarnação.
Estava cansado, dizia.
E porque chorasse, compungidamente,
um Mensageiro Celeste arrebatou-o do império das sombras e o trouxe para a
Terra.
Encantado, Belino recebeu honrosa
incumbência. Renasceria para a obra da fraternidade cristã.
Além dos serviços naturais que lhe
diziam respeito à própria recuperação diante da Lei, seria prestimoso benfeitor
dos doentes. Protegeria os enfermos, distribuiria com eles a coragem e a
consolação em nome de Deus.
- Não precisa impressionar-se demasiado
com a aquisição de elementos materiais para a execução da tarefa - disse-lhe o
emissário divino - mantenha as mãos no
arado generoso do trabalho e o seu serviço atrairá os recursos de que
necessite.
- Mas - ponderou Belino, preocupado
-, e quando surgirem dificuldades imprevistas e especiais?
- Utilize a prece e, em seguida,
canalize suas forças na direção do objetivo. O suprimento ser-lhe-á, então,
entregue por nós, através de circunstâncias aparentemente casuais, para o
serviço que lhe compete.
E Belino tornou ao corpo num lar de
excelente formação evangélica.
Desde cedo, foi instruído para a
verdade e para o bem.
Moço ainda, recolhia do Alto o apelo
incessante ao ministério que lhe cabia e, por essa razão, costumava dizer:
- Sinto que tenho abençoada missão a
realizar, em favor dos enfermos. Muitas vezes, sonho a ver-me ao pé de
numerosos doentes, enxugando lágrimas e limpando feridas. Não descansarei,
enquanto não puder construir um grande hospital.
Mas Belino condicionava a edificação
a certos fatores que considerava essenciais e, por isso, lembrando
instintivamente a recomendação do benfeitor divino, movimentava a oração, canalizando
as próprias forças.
- Poderia auxiliar os enfermos -
dizia -, mas aguardava um emprego vantajoso.
E
o emprego vantajoso lhe foi concedido.
- Sim - afirmava -, agora, para
adquirir segurança, tenho necessidade de um bom casamento.
E o bom casamento lhe veio ao
encontro.
- Devo possuir filhos robustos que
me auxiliem - ponderou.
E os filhos robustos adornaram-lhe
os braços.
- Tudo prossegue regularmente -
reconheceu -, mas uma casa própria é indispensável à minha paz.
E a casa própria surgiu, confortável
e ampla.
Para ser útil aos enfermos - ajuntou
-, não posso alhear-me dos bons livros.
E preciosa biblioteca enriqueceu lhe
o templo familiar.
- Sem bons negócios, não posso
atirar-me à empresa - considerou.
E os bons negócios vieram
auxiliá-lo.
- Um automóvel particular resolveria
as minhas questões de tempo, alegou.
E, em breve, um carro acolhedor incorporara-se
lhe à propriedade.
- Agora, é imperioso conquistar bons
rendimentos - pediu ao Céu, em comovente rogativa.
E bons rendimentos rodearam lhe o
nome.
- Quero mais rendas - insistiu a lamuriar-se.
E mais rendas vieram.
Nessa altura, os filhos já estavam
crescidos e Castro implorou vantagens materiais para eles e as vantagens
solicitadas apareceram. Em seguida, notando que os rapazes lhe afligiam o
pensamento, suplicou a chegada de noras dignas para o ambiente familiar. E as
noras chegaram.
Belino, porém, continuou rogando,
rogando, rogando...
Certa feita, quando reclamava
favores para os netos, chegou a morte e disse-lhe:
- Meu amigo, o seu tempo esgotou-se.
O interpelado, sob forte susto,
clamou de si para consigo:
- Meu Deus! meu Deus! e a minha tarefa? Não posso deixar a Terra
sem cumpri-la...
Ainda
não pude sequer visitar um doente! ...
A recém-chegada, contudo, deu-lhe
apenas alguns instantes para a bênção da oração.
Castro, ansioso, tomou o Testamento
do Cristo, e, de mãos trêmulas, abriu-o precipitadamente. De olhos esgazeados,
esbarrou com estas palavras constantes no versículo vinte, no capítulo doze das
anotações de Lucas:
- “...esta noite, exigirão tua alma
e o que ajuntaste para quem será?"
Mas, antes que Belino pudesse
entregar-se a novas e desesperadas petições, a morte apagou lhe temporariamente
a luz do cérebro e o reconduziu à Vida Espiritual.
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