O incrível médium Edgar Cayce
Vinélius de Marcos / (Indalício
Mendes)
Reformador (FEB) Março 1971
A grandeza do espiritismo se afirma
de maneira positiva em múltiplos aspectos, assinalados já, a despeito dos
descrentes profissionais e do cepticismo cientificista,
que
repete sem cessar o episódio de Tomé. A história do Espiritismo, pelo menos a
partir da revelação de Hydesville, é farta de fatos e acontecimentos
extremamente convincentes, que resistiram às mais rigorosas provas, realizadas
por homens de comprovada reputação científica.
Evidentemente, num simples artigo,
não iremos acumular exemplos sobre exemplos, colhidos
dentro e fora do Brasil, através dos anos. Temos, aqui, médiuns excelentes,
dotados de faculdades mediúnicas diferentes, como, para não deixarmos de
mencionar algum, Francisco Cândido Xavier e aquele que foi conhecido por Arigó,
que se tornaram afamados mundialmente. Pretendemos, entretanto, fixar o nome de
Edgar Cayce, famoso médium
norte-americano, relativamente desconhecido da maioria dos espíritas
brasileiros. Predisse ele as duas grandes guerras que abalaram o mundo, a
partir de 1914 e 1939, a
morte do Presidente John Kennedy, a luta racial nos Estados Unidos. Realizou
curas que
surpreenderam e espantaram a vanguarda de médicos norte-americanos, tornando-se a
maior figura do Espiritismo (neo espiritualismo ) na grande República
setentrional. Chamam-lhe ainda hoje “O Profeta Adormecido”, porque, quando em
transe mediúnico, se apresentava como que em estado hipnótico, falando
pausadamente e com segurança. Cayce, através da sua
magnifica mediunidade, não apenas fez diagnósticos surpreendentes, como
realizou curas espantosas, em casos em que a Medicina se confessou impotente,
apesar da dedicação e dos conhecimentos dos médicos. Era por meio de suas “leituras”
(readings) que os Espíritos faziam
as “revelações”. Como quase sempre acontece, Edgar Cayce era um homem
simples, sem conhecimentos próprios que o autorizassem a alcançar os resultados
maravilhosos que sua mediunidade proporcionou. Confessou-se reencarnacionista,
embora sinceramente dissesse que não entendia a reencarnação. Aliás, um de seus
biógrafos, pois não há nos USA apenas um, atribui-lhe as seguintes palavras,
num diálogo a respeito do assunto: “Eu
não compreendo a reencarnação, mas há uma porção de coisas em que nós
acreditamos, mas não compreendemos. Acredito no que Einstein diz a respeito da
relatividade, mas não a compreendo. Acredito nos átomos, mas não os compreendo.
Há quem compreenda a reencarnação. Os hindus, por exemplo, a compreendem.
Acredito que Jesus a ensinou também.” E menciona o terceiro capítulo de
João, que trata da conversa entre Nicodemos e Jesus, no qual o tema da
reencarnação é claramente discutido. E Edgar
Cayce, interpretando corretamente o trecho, esclarece, ao responder a seu
interlocutor, que achava não haver sido o Mestre específico ao tratar do
assunto, segundo se lê no capítulo referido, que Jesus ensinou ao povo o que
era possível em sua época, tanto mais que dissera que não viera mudar a lei mas
dar-lhe cumprimento.
É bem interessante o trecho, porque
revela a familiaridade do famoso médium com o
Evangelho, que aduziu: “O mundo estava
num ponto em que Ele poderia - como pode demonstrar que a
virtude é mais mental do que física e que o amor não é uma simples questão de
receber ou trocar, mas de dar, e isso está claro no cap. V de Mateus. Se examinarmos bem o
assunto, encontraremos que está perfeitamente exato com a teoria da reencarnação e
com a ideia de que só o espírito, a mente, é real e que o pensamento constrói a
alma, mais do que os atos. Estes são apenas as expressões do pensamento, de
qualquer maneira. Assim, Jesus lhes deu a lei que resulta da crença na reencarnação.
A teoria em si era demasiado complexa para o povo, e Ele realçava a necessidade
de o seguirem, como um exemplo para a vida perfeita. Não há dúvida alguma sobre
o que Jesus ensinou. Somente uma alma perfeita pode entrar no Céu. Somente
Jesus era perfeito. Mas a Cristandade permitiu que o povo começasse
gradualmente a pensar em Jesus como um ideal inatingível. Por isso, hoje em
dia, ninguém julga necessário ser como Jesus para se alcançar o céu.”
Eis aí uma soberba lição deixada por
Edgar Cayce, que ainda se refere a
João Batista como reencarnação de Elias e diz que a expressão – “quem com ferro fere, com ferro será ferido”
- é uma alusão nítida à responsabilidade cármica. Thomas Sugrue, em “The Story of Edgar Cayce”, dá-nos um
manancial extraordinário de informações sobre o célebre místico e médium
norte-americano, falando de suas impressionantes previsões, muitas das quais já
se realizaram inteiramente e outras começam a surgir com uma força que os fatos
denunciam como suscetíveis de plena confirmação.
Outro de seus biógrafos, Jess
Stearn, em “Edgar Cayce - The Sleeping
Prophet”
(“O
Profeta Adormecido”), menciona outro episódio curioso, em que se viu envolvida
Eula
Allen, que recebeu de Cayce a
primeira pálida ideia da reencarnação. O famoso
médium
lhe dissera: “Eu já a conheci antes”, quando se encontraram pela primeira vez. Ao
ouvir essa frase, confessa Eula o seu espanto, porque, intimamente, tinha o
sentimento de já haver conhecido Cayce.
Este aludiu, então, à reencarnação, provocando da interlocutora
inesperada reação: “Quer dizer que eu poderei voltar como animal?” Cayce sorriu,
esclarecendo que reencarnação não é transmigração, pois, segundo a lei, a
criatura humana não retrocede. “A alma é
eterna. Deus não tem os braços curtos” - disse ele. “Você
vai e volta outra vez”.
Surpreendida, Eula ouviu o “profeta
adormecido” revelar que ela havia vivido, temporariamente, em outras
encarnações, na Irlanda, em Roma, na Síria, no Peru, em Atlantis e no oeste
bravio dos Estados Unidos, antes da Guerra da Secessão. O trecho é
interessantíssimo. Na Irlanda, Eula Allen foi Rosa O'Deshea, dissera Edgar Cayce. Ao ouvir isto, ela
confessou gostar muito particularmente de música irlandesa, mencionando a
canção “When Irish Eyes are Smiling” ( “Quando os olhos irlandeses estão
sorrindo”).
Sempre reagindo à ideia
reencarnacionista, Eula, excitada, se sentia cada vez mais envolvida
pelas evocações do “profeta adormecido”. Não concordava em haver sido uma “dance
hall shill” , isto é, uma mulher destinada a entreter os fregueses,
induzindo-os a
dançar e a fazer despesas, para cujo desempenho usava o nome de Etta Tetlow. A
propósito, há uma particularidade importante. Contou Eula que, em 1963, estava
na Califórnia quando uma mulher, saracoteando, a ela se dirigiu, saudando-a: “Alô,
Etta!” Eula recuou. Jamais poderia esperar ser chamada por esse nome - Etta.
Não há dúvida, porém, de que a ocorrência, embora não tenha caráter
comprobatório, pode ser considerada como uma evidência de ser Eula Allen a reencarnação
de Etta Tetlow. É mencionado outro pormenor curioso: doutra feita, Eula avistou
grandes cartazes coloridos (“posters”), recordando os barulhentos dias da
Barbary Coast, em São Francisco da Califórnia, como anúncio e convite para
diversão numa casa de danças (“dance halls”) do local. Um nome se destacava nos
cartazes: Tetlow!
Edgar
Cayce surpreendeu, com a sua mediunidade extraordinária, médicos, geólogos,
cientistas, engenheiros, quer com as suas predições impressionantes, quer com
os diagnósticos que fazia adormecido, com os remédios que receitava quando
todos os recursos da Medicina eram impotentes, com o que dizia a respeito de
terremotos e outras manifestações da natureza. Tendo nascido em 18 de março de
1877, desencarnou em 3 de janeiro
de 1945, deixando não apenas longa esteira de serviços mediúnicos mas, também, mediunizado
ou não, esclarecimentos valiosos sobre a reencarnação, e a interpretação do
Velho e do Novo Testamento segundo o Espiritismo, embora ele não haja sido um espírita,
tal como nós o compreendemos. Mas, não obstante, foi um espírita na maioria de suas
manifestações e opiniões. Em estado de transe, dava aos consulentes informes
referentes às vidas que tiveram em outras encarnações, como no caso acima
citado, de Eula
Allen.
Os arquivos que deixou -
valiosíssimos, pois contêm preciosos dados para o estudo das
manifestações psíquicas - fazem parte hoje do patrimônio da “Association for Research and Enlightment”, sediada
em Virgínia Beach, Flórida.
Muito bom, obrigado pela leitura.
ResponderExcluirÓtimo testo! Obrigado
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