02/02 A verdadeira religião
Rodolfo
Calligaris
Se a Humanidade devesse ser salva
pela filiação a uma só e determinada Igreja, por suposta infalível, com
exclusão de quantas mais existissem, bem triste seria a sua sorte!
Como poderiam as gentes iletradas ou
de poucas letras identificar “a tal”, se constantemente estão surgindo novas
seitas, pretendendo cada uma possuir essa característica? Como, se os graus de
entendimento são infinitos, e aquilo que satisfaz a uns não apraz a outros?
Pois se nem mesmo os sábios, até hoje, conseguiram pôr-se de
acordo a esse respeito?!
Felizmente, porém, o plano de Deus é
bem outro, como se há de ver pela explicação dada por Jesus a um doutor da lei.
Este lhe perguntara: “Mestre, que
devo fazer para entrar na posse da vida eterna?” Como se vê, pergunta direta,
sem rodeios, exigindo resposta específica.
Então Jesus lhe diz: “Amarás o
Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu
entendimento. Este é o máximo e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante
a este, é: Amarás a teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos
depende toda a Lei e os Profetas. Faze isso, e viverás.” (Mt. 22:
34-40; Mc. 12: 28-34; Lc. 10:25-28. )
“AMA O TEU PRÓXIMO, E VIVERÁS” - eis,
na palavra do Cristo, a que se reduz o problema da salvação das almas.
Desgraçadamente, porém, apesar da
simplicidade da fórmula, nem todos conseguem acertar de pronto a equação,
porque... ignoram quem é o seu próximo.
Valha a esses a parábola do bom
samaritano .( Lc. 10: 29-37), com que Jesus, no colóquio mantido com aquele
mesmo doutor da lei, elucida-lhe o que significa ser o próximo de alguém.
”O mandamento que vos dou é este:
que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei”
(João, 15: 12), tornaria a dizer, mais tarde, o Divino Mestre,
reafirmando, assim, ser “o amor ao próximo” a síntese do Evangelho do Reino.
E, como que a rematar toda a sua
doutrinação nesse sentido, eis em que termos instrui seus discípulos acerca das
recompensas e penas futuras:
“Quando o Filho do homem vier em sua
majestade, acompanhado de todos os anjos, assentar-se-á sobre o trono de sua
glória, e, estando todas as nações reunidas perante Ele, separará uns dos
outros, como o pastor separa as ovelhas das cabras, e colocará as ovelhas à sua
direita, e as cabras à sua esquerda.
“Então dirá o rei aos que estiverem
à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, e tomai posse do reino que vos foi preparado
desde o começo do mundo; porque tive forme e me destes de comer, tive sede e me
destes de beber, fui hospede e me recolhestes, estive nu e me cobriste, estive
em enermo e me visitastes, estive preso e me foste ver. “
“Responder-lhe-ão os justos: Senhor,
quando foi que te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos
de beber? E quando te vimos hóspede e te recolhemos, ou nu, e te vestimos,
enfermo ou preso e te fomos visitar?
“O rei lhes responderá: Na verdade
vos digo, todas as vezes que fizestes isso a um dos meus mais pequeninos
irmãos, foi a mim que o fizestes.
“Depois dirá aos que estiverem à sua
esquerda: Retirai-vos de mim, malditos: ide para o fogo eterno, que foi
preparado para o diabo e para os seus anjos; porque tive fome e não me destes
de comer; tive sede e não me destes de beber; fui hóspede e não me recolhestes;
estive nu e não me cobristes, estive enfermo e preso, e não me visitastes.
“E eles lhe responderão também:
Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, hóspede, nu, enfermo ou
preso, e deixamos de te assistir?
“Ele, porém, lhes responderá,
dizendo: Na verdade vos digo, todas as vezes que deixastes de prestar essa
assistência a qualquer desses pequenos, deixastes de a prestar a mim próprio. E
então irão esses para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna.”
(Mateus 25: 31-46. )
Ponhamos atenção no quadro que Jesus
nos apresenta sobre o juízo final. Qual o objeto das inquirições e o fundamento
da sentença? Versa matéria de fé? Estabelece alguma distinção entre o que crê
de um modo e o que crê de outro? Absolutamente!
O juiz indaga apenas uma coisa: se a
caridade foi praticada ou não. E pronuncia-se, dizendo: “Vós que assististes os
vossos irmãos, passai à direita, e vós outros que fostes duros ou indiferentes,
passai à esquerda.” Portanto, é
a prática do bem, ainda uma vez, apontada por Jesus como condição única e
indispensável para a conquista do reino dos céus.
Nem poderia ser de outra forma,
pois, se “Deus é Amor”, só os que sabem amar poderão apreciar-Lhe a inefável
companhia.
Reformador (FEB) Julho 1970
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