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O Médium do Anticristo
por Hermínio C. Miranda
in
‘Reformador’ (FEB) Abril 1976
Alfred Rosenberg, o futuro teórico
do nazismo, era então o profeta do Anticristo e se incumbia de questionar
os Espíritos manifestantes. Ravenscroft afirma que teria sido Rosenberg quem
pediu a presença da própria Besta do Apocalipse, que, na sua opinião (de Ravenscroft),
sem dúvida dominava o corpo e alma de Adolf Hitler, através das óbvias
faculdades mediúnicas deste.
Essa manifestação do Anticristo em
Hitler foi assegurada por mais de uma pessoa, além do lúcido e tranquilo Dr.
Walter Johannes Stein. Um desses foi outro estranho caráter, por nome Houston
Stewart Chamberlain, um inglês que se apaixonou pela Alemanha e pela causa
nazista. Ravenscroft classifica-o como genro de Wagner e profeta do mundo
pangermânico. Também escrevia suas teses anti-racistas em transe, segundo
atestou nada menos que o eminente General Von Moltke, de quem ainda diremos
algo importante daqui a pouco. Chamberlain era considerado um digno sucessor do
gênio de Friedrich Nietzsche e, segundo o próprio Hitler em "Mein Kampf",
“um dos mais admiráveis talentos na
história do pensamento alemão, uma verdadeira mina de informações e de
ideias". Foi
quem expandiu as ideias de Wagner, desvirtuando-as perigosamente, ao pregar a
superioridade da raça ariana. Segundo o testemunho de Von Moltke, Chamberlain
evocou inúmeros vultos desencarnados da história mundial e confabulou com eles.
Que era uma inteligência invulgar, não resta dúvida. Os poderes das trevas
escolheram bem seus emissários. Enganam-se, também, redondamente, aqueles que
consideram Hitler um doido inconsequente que tentou, na sua loucura, botar fogo
no mundo. A julgar por todas essas revelações que ora nos chegam ao
conhecimento, ele sabia muito bem o seu papel em todo esse drama. Recebeu uma
fatia de poder a troco de certa missão muito específica. No domínio do mundo,
se o tivesse conseguido, ele continuaria a desfrutar de posição
"invejável", como prêmio
a um trabalho "bem feito". Ainda bem que falhou, pois a amostra foi
terrível.
Como se explicaria, sem esse apoio
maciço de Espíritos encarnados e desencarnados, que um jovem pintor sem êxito,
pobre, abandonado à sua sorte, rejeitado pela sociedade, tenha conseguido
montar o mais tenebroso instrumento de opressão que o mundo já conheceu? Como
se explicaria que o seu partido tenha emergido de um pequeno grupo político,
falido e obscuro, senão que os Espíritos seus amigos o indicaram como sendo o
primeiro degrau da escada que o levaria ao poder?
Hitler ainda se aprofundaria muito
mais nos mistérios da sua missão tenebrosa. Precisava receber instruções mais específicas, e, como
sabemos, tudo se arranja para que assim seja. A hora chegaria, no momento
exato, com a pessoa lá programada para ajudá-lo. Um desses homens chamou-se Dietrich Eckhart.
Sua história é algo fantástica, mas
vale a pena passar ligeiramente sobre ela, a fim de entendermos seu papel junto
Hitler, que, antes de encontrar-se com Eckhart, fizera apenas preparativos para
o vestibular da magia e do ocultismo.
Dietrich Eckardt era um oficial do
exército, de aparência afável e jovial e, ao mesmo tempo, no dizer de Ravenscroft,
"dedicado satanista, o supremo
adepto das artes e dos rituais da magia negra e a figura central de um poderoso
e amplo círculo de ocultistas - o Grupo Thule".
Foi um dos sete fundadores do
Partido Nazista, e, ao morrer, intoxicado por gás de mostarda, em Munique, em
dezembro de 1923, disse exultante:
- Sigam Hitler. Ele dançará, mas a
música é minha. Iniciei-o na "Doutrina Secreta", abri seus centros de
visão e dei-lhe os recursos para se comunicar com os Poderes. Não chorem por
mim: terei influenciado a História mais do que qualquer outro alemão.
Suas palavras não são mero delírio
de paranoico. Há muito, nas suas desvairadas práticas mediúnicas, havia
recebido “uma espécie de anunciação
satânica de que estava destinado a preparar o instrumento do Anticristo, o
homem inspirado por Lúcifer para conquistar o mundo e liderar a raça ariana à
glória".
Quando Adolf Hitler lhe foi
apresentado, ele reconheceu imediatamente o seu homem, e disse para seus
perplexos ouvintes:
- Aqui está aquele de quem eu fui
apenas o profeta e o precursor.
Coisas espantosas se passaram no círculo
mais íntimo e secreto do Grupo Thule, numa série de sessões mediúnicas (Ravenscroft
chama-as, indevidamente, de sessões espíritas ... ), das quais participavam
dois sinistros generais russos e outras figuras tenebrosas.
A médium, descoberta por certo Dr.
Nemirovitch-Dantchenko, era uma pobre e ignorante camponesa, dotada de variadas
faculdades. Expelia pelo órgão genital enormes quantidades de ectoplasma, do
qual se formavam cabeças de entidades materializadas que, juntamente com
outras, incorporadas na médium, transmitiam instruções ao círculo de
"eleitos".
Certa manhã de setembro de 1912,
Walter Stein e seu jovem amigo Adolf Hitler subiram juntos as escadarias
do museu Hofburg. Em poucos minutos encontravam-se diante da Lança de Longinus,
posta, como sempre, no seu estojo de desbotado veludo vermelho. Estavam ambos
profundamente emocionados, por motivos diversos, é claro, mas, seja como for, o
disparador daquelas emoções era a misteriosa lança. Dentro em pouco, Hitler
parecia ter passado a um estado de transe, "um homem - segundo Ravenscroft - sobre o qual algum espantoso
encantamento mágico havia sido atirado". Tinha as laces vermelhas e
seus olhos brilhavam estranhamente. Seu corpo oscilava, enquanto ele parecia
tomado de inexplicável euforia.
Toda a sua fisionomia e postura -
escreve Ravenscroft, que ouviu a narrativa do próprio Stein - pareciam
transformadas, como se algum poderoso Espírito habitasse agora a sua alma,
criando dentro dele e à sua volta uma espécie de transfiguração maligna de sua
própria natureza e poder.
Walter Stein pensou com seus botões:
Estaria ele presenciando uma incorporação do Anticristo?
É difícil responder, mas é certo que
terrifica presença espiritual ali estava mais do que evidente. Inúmeras
outras vezes, em todo o decorrer de sua agitada existência, testemunhas
insuspeitas e desprevenidas haveriam de notar fenômenos semelhantes de incorporação,
especialmente quando Hitler pronunciava
discursos importantes ou tomava decisões mais relevantes.
Ao narrar o fenômeno a Ravenscroft,
35 anos depois, o Dr. Stein diria que:
- '" Naquele instante em que
pela primeira vez nos postamos juntos, de pé, ante a Lança de Longinus,
pareceu-me que Hitler estava em transe tão profundo que passava por uma
privação quase completa de seus sentidos e um total eclipse de sua consciência.
Hitler sabia muito bem da sua
condição de instrumento de poderes invisíveis. Numa entrevista à imprensa,
documentou claramente esse pensamento, ao dizer:
- Movimento-me como um sonâmbulo,
tal como me ordena a Providência.
Havia nele súbitas e tempestuosas
mudanças de atitude. De uma placidez fria e meditativa, explodia, de repente,
em cólera, pronunciando, alucinadamente, uma torrente de palavras, com emoção e
impacto, especialmente quando a conversa enveredava pelos temas políticos e
raciais. Stein presenciou cenas assim no velho café em que costumava
encontrar-se com seu amigo, em Viena, ali por volta de 1912/1913. Passada a
explosão, Hitler recolhia-se novamente ao seu canto, como se nada tivesse
ocorrido.
Naqueles estados de exaltação,
transformava-se o seu modo de falar, e sua palavra alcançava as culminâncias
da eloquência e da convicção. Era como se um poder magnético a elas se
acrescentasse, de tal forma que ele facilmente dominava seus ouvintes. Seus
próprios companheiros notariam isso mais tarde, em várias oportunidades.
- Ao se ouvir Hitler - escreveu
Gregor Strasser, um ex-nazista - tem-se a visão de alguém capaz de liderar a
humanidade à glória. Uma luz aparece numa janela escura. Um homem com um bigode
cômico transforma-se em arcanjo. De repente, o arcanjo se desprende, e lá está
Hitler sentado, banhado em suor, com os olhos vidrados.
Tudo fora muito cuidadosamente
planejado e executado, inclusive com os sinais identificadores, para que
ninguém tivesse dúvidas. Nas trágicas sessões mediúnicas do Grupo Thule, fora
anunciado que o Anticristo se manifestaria depois que seu instrumento passasse
por uma ligeira crise de cegueira. Isto se daria ali por volta de 1921, e seu
médium teria, então, 33 anos.
Ao 33 anos de idade, em 1921, depois
de recuperado de uma cegueira temporária, Hitler assumiu a incontestável
liderança do Partido Nacional Socialista,
que o levaria ao poder supremo na Alemanha, e, quase, no mundo.
*
De tanto investigar os mistérios e
segredos da história universal, em conexão com os poderes invisíveis, Hitler se
convenceu de realidades que escapam à maioria dos seres humanos. A História é realmente
o reflexo de uma disputa entre a sombra e a luz, representadas, respectivamente,
pelos Espíritos que desejam o poder a qualquer preço e por aqueles que querem
implantar na Terra o reino de Deus, que anunciou o Cristo.
Hitler sabia, por exemplo, que os
Espíritos trabalham em grupos, segundo seus interesses, e por isso se
reencarnam também em grupos, enquanto seus companheiros permanecem' no mundo
espiritual - na sombra ou na luz, conforme seus propósitos -, apoiando-se
mutuamente. Não é à toa que Göering e Goebbels, como vimos, reconheciam-se como
velhos companheiros de Hitler. Este, por sua vez, estava convencido de que um
grupo enorme de Espíritos, que se encarnara no século IX, voltara a encarnar-se
no século XX. O notável episódio ocorrido com o eminente General Von Moltke
parece confirmar essa ideia.
Vamos recordá-Io, segundo o relato
de Ravenscroft.
*
Foi ainda na Primeira Guerra
Mundial. No imenso e trágico tabuleiro de xadrez em que se transformara a
Europa, havia um plano militar secreto, sob o nome de Plano Schliffen, que
previa a invasão da França através da Bélgica, antes que a Rússia estivesse em
condições de entrar em ação.
Helmuth Von Moltke era Chefe do
Estado-Maior do Exército Alemão, sob o Kaiser. Coube-lhe a responsabilidade de
introduzir alguns aperfeiçoamentos no plano, e aguardar o momento de pô-Io em ação, se e
quando necessário. O momento chegou em junho de 1914. Jogava-se a sorte da
Europa. Von Moltke passou a noite em claro, na sede do Alto Comando, tomando as
providências de última hora para que o plano entrasse em ação imediatamente.
Estudava mapas, expedia ordens, conferenciava com seus oficiais. O destino de
sua pátria estava em suas mãos, e ele sabia disso. No auge da atividade, o
eminente General perdeu os sentidos sobre a mesa de trabalho. Parecia ter tido
um enfarte. Chamaram um médico, enquanto seus camaradas, muito apreensivos,
depositavam seu corpo num sofá.
Nenhuma doença foi diagnosticada. Na
verdade, Von Moltke estava em transe. Sua metódica e brilhante
inteligência não previra a interferência da mão do destino, como diz Ravenscroft.
Ou seria a mão de' Deus?
Julgou-se, a princípio, que o
poderoso General estivesse morrendo. Mal se percebia sua respiração, e o coração
apenas batia o necessário para manter a vida, os olhos abertos vagavam,
apagados, de um lado para outro. O eminente General Helmuth Von Moltke estava
experimentando uma crise espontânea de regressão de memória, durante a qual, em
vívidas imagens que se desdobravam diante de seus olhos espirituais, ele se viu
como um dos Papas do século IX, Nicolau I, o Grande, que a Igreja canonizou. Há
estranhas "coincidências" aqui. Segundo os historiadores, Nicolau
ascendeu ao trono papal mais por influência do Imperador Luís II do que pela
vontade do clero. Lembra-se o leitor de que esse Luís II foi o mesmo que protegeu
o incrível Landulf , príncipe de Cápua? E que Landulf, um milênio depois, seria
Adolf (Hitler)?
Nicoiau foi um papa enérgico e
brilhante - Governou somente nove anos incompletos, de 858 a 867, mas teve de
tomar decisões momentosas e que exerceram profunda influência na História. Foi
no seu tempo que se definiu mais nitidamente a tendência separatista entre as
igrejas do ocidente e a do oriente. Foi ele quem elevou a novas culminâncias a
doutrina da plenitude do poder papal. Segundo seu pensamento, o imperador era
apenas um delegado, incumbido do poder civil.
Enquanto essas vivências desfilavam
diante de seus olhos, Von Moltke, ainda estendido no sofá, vivia a
curiosa experiência de estar situado entre duas vidas, separadas por mil anos.
Em torno dele, entre as ansiosas figuras de seus generais, ele identificava alguns
de seus antigos cardeais e bispos. Uma das personalidades que ele também
identificou naquele desdobramento foi a de seu tio, o ilustre
Marechal-de-Campo, também chamado Helmuth Von Moltke, o maior estrategista de
sua época, e que lutou na guerra de 1870. Fora também uma das poderosas figuras
medievais, o Papa Leão IV, o chamado pontífice-soldado, que organizou a defesa
de Roma e comandou seus próprios exércitos.
Outra figura identificada General
Von Schlieffen, autor do famoso plano Schlieffen, que também experimentara as
culminâncias do poder papal, sob o nome de Bento II.
Ao despertar de sua singular
experiência com o tempo, o General Von Moltke estava abalado até às raízes
de seu ser. Caberia a ele, um ex Papa, deslanchar todo aquele plano de
destruição e matança? Se não o fizesse, o que aconteceria à sua então pátria?
Diz Ravenscroft que, após se
reformar, Von Molike escreveu minucioso relato daquela experiência notável. Também
ele se deixou envolver pelo misterioso fascínio da Lança de Longinus, que certa
vez visitou, em companhia de outro General, seu amigo; e, segundo o escritor
inglês, conseguiu apreender o verdadeiro sentido e importância daquela peça,
"como um poderoso símbolo apocalíptico"
Acreditava ele que se deveram à sua
própria atitude negativa, como Nicolau I, em relação ao intercâmbio com o mundo
espiritual, os trágicos desenganos que se sucederam na História subsequente, a
começar pela separação da cristandade em duas e o progressivo abandono da
realidade espiritual em favor das doutrinas materialistas, que
"virtualmente aprisionaram a criatura no mundo fenomênico da medida, do
número, do peso, tornando a própria existência da alma humana objeto de dúvida
e debate" (Ravenscroft).
Por isso tudo, ao se erguer do sofá,
Von Moltke era outra criatura. Como explicar tudo aquilo aos seus
companheiros? Que decisões tomar agora, na perspectiva do tempo e dos
lamentáveis enganos que havia cometido no passado, em prejuízo do curso da
História? Parece, no entanto, que não dispunha de alternativa. Como Longinus,
tinha de praticar um ato de aparente violência, para contornar uma crueldade
maior. Tudo continuou como foi planejado, mas o Chefe do Estado-Maior não
continuou como fora. Aliás, ao ser elevado àquela posição pela sua inegável e
indiscutível capacidade profissional, houve dúvidas, em virtude do seu
temperamento meditativo e tranquilo. Seria, realmente um bom General no momento
de crise que exigisse decisões drásticas? Era o que se perguntavam seus adversários,
mesmo reconhecendo sua enorme autoridade técnica. Ao se retirar do comando diz
Ravenscroft que ele era um homem arrasado, porque mais do que nunca estava
consciente da tragédia de viver num mundo em que a violência e a matança
pareciam ser os únicos instrumentos capazes de "despertar a humanidade
para as realidades espirituais".
Após a sua desencarnação, em 1916,
com 68 anos de idade, Von Moltke passou a transmitir uma série de
comunicações através da mediunidade de sua esposa Eliza Von Moltke. Ah! que
documento notável deve ser esse! Foi numa dessas mensagens que o Espírito elo
antigo Chefe do Estado-Maior informou que o Führer do Terceiro Reich seria
Adolf Hitler, àquela época um obscuro e agitado político, aparentemente sem
futuro. Foi também ele que, em Espírito, confirmou a antiga encarnação de Hitler
como Landulf de Cápua, o terrivel mágico medieval que vinha agora repetir, nos
círculos mais fechados do Partido, os rituais de magia negra, cufo conhecimento
trazia nos escaninhos da memória integral.
Faltavam ainda algumas peças
importantes para consolidar as conquistas do jovem Hitler, mas todas elas
apareceriam, no seu devido tempo e executariam as tarefas para as quais haviam
sido rigorosamente programadas nos tenebrosos domínios do mundo espiritual
inferior. O General Eric Ludendorff seria uma delas. Von Moltke identificou-o
com outro papa medieval, que governou sob o nome de João VIII, que Ravenscroft
classifica como "o pontífice de mais negra memória que se conhece em toda
a história da Igreja Romana, que, como amigo de Landulf de Cápua, ajudou-o nas
suas conspirações no século IX", Novamente, sob as vestes de Eric Ludendorff
, o antigo Papa daria a mão para alçar Landulf (agora Adolf) ao poder.
Outro elemento importante, nessa
longa e profunda reiniciação de Hitler, foi KarI Haushofer,
que, no
dizer de Ravenscroft, "não apenas sentiu o hálito da Besta Apocalíptica[1] no
controle do ex-cabo demente, mas também buscou, conscientemente e com maligna
intenção, ensinar a Hitler como desatrelar seus poderes contra a humanidade, na
tentativa de conquistar o mundo".
É um tipo estranho e mefistofélico esse
Haushofer, mas, se fôssemos aqui estudar todo o elenco de extravagantes
personalidades que cercaram Hitler, seria preciso escrever outro livro.
Diz, porém, Ravenscroft que foi Haushofer
quem despertou em Hitler a consciência para o fato de que operavam nele as
motivações da "Principalidade Luciferina", a fim de que ele pudesse
tornar-se veículo consciente da intenção maligna no século vinte", (O
destaque é meu.)
*
Vejamos mais um episódio.
Em 1920, era tão patente, através da
Alemanha, essa expectativa messiânica, que foi lançado na Universidade
de Munique um concurso de ensaios sobre o tema seguinte: "Como deve ser o
homem que
liderará a Alemanha de volta às culminâncias de sua glória?” O vultoso prêmio em dinheiro foi oferecido
por um milionário alemão residente no Brasil (não identificado por Ravenscroft)
e quem o ganhou foi um jovem chamado Rudolf Hess que, em tempos futuros, seria
o segundo homem da hierarquia nazista! Sua concepção desse messias político
guarda notáveis similitudes com a figura do Anticristo descrita nos famosos (e
falsos) "Protocolos do Sião", segundo Ravenscroft.
Consta que Hitler considerava Rudolf
Steiner, o místico, vidente e pensador austríaco como seu arqui-inimigo.
Segundo informa Ravenscroft, Steiner, em desdobramento espiritual; penetrava,
conscientemente, os mais secretos e desvairados encontros, onde se praticavam
rituais atrozes para conjurar os
poderes que sustentavam a negra falange empenhada no domínio do mundo.
Que andaram muito perto dessa meta,
não resta dúvida. Conheciam muito bem a técnica do assalto ao poder sobre o
homem, através do próprio homem. Hugh Trevor-Roper, no seu 'Iívro "The
Last Days of Adolf H!tler", transcreve uma frase do Führer, que diz o
seguinte:
- Não vim ao mundo para tornar
melhor o homem, mas para utilizar-me de suas fraquezas.
Estava determinado a cumprir sua
missão, a qualquer preço.
- Jamais capitularemos - disse,
certa vez, repetindo o mesmo pensamento de sempre. - Não. Nunca. Poderemos ser
destruídos, mas, se o formos, arrastaremos o mundo conosco - um mundo em
chamas.
*
Muito, bem. É tempo de concluir. Por
exemplo, o que aconteceu com a Lança de Longinus? Continua no Museu de Hofburg,
em Viena, para onde foi reconduzida após novas aventuras. Primeiro, Hitler
tomou posse dela, ao invadir a Áustria, em 1938, e levou-a para a Alemanha,
cercada de tremendas medidas de segurança. Lá ficou ela em exposição, guardada
dia e noite, pelos mais fiéis nazistas. Quando a situação da guerra começou a
degenerar, para o lado alemão, construiu-se secretíssima e inviolável fortaleza
subterrânea para guardá-Ia. Apenas meia dúzia de elevadas autoridades do
governo sabiam do plano. Uma porta falsa de garagem
disfarçava a entrada desse vasto e sofisticado cofre-forte, em Nuremberg, que o
Führer ordenou fosse defendido até à última gota de sangue.
Quando se tornou evidente que o
Terceiro Reich se desmoronava de fato, ante o avanço implacável das tropas,
aliadas, Himmler achou que a Lança de Longinus precisava de um abrigo
alternativo. Uma série de providências foi programada, com uma remoção
fictícia, para um ponto não identificado da Alemanha; e outra, verdadeira, sob
o véu do mais fechado segredo, para um novo esconderijo, onde o talismã do
poder ficaria a salvo dos inimigos do nazismo.
Por uma dessas misteriosas razões,
no entanto, um dos cinco ou seis oficiais nazistas que sabiam do segredo,
ao fazer a lista das peças que deveriam ser removidas, mencionou a Lança de
Mauritius, aliás, o nome oficial da peça. Acontece que, entre as peças
históricas do Reich, havia uma relíquia de nome parecido, ou seja, "A
Espada de Mauritius", e esta foi a peça transportada, e não a Lança de Longinus.
Na confusão que se seguiu, ninguém mais deu pelo engano, e o oficial que o
cometeu, um certo Willi Liebel, suicidou-se pouco antes do colapso total do
Reich, A essa altura, Nuremberg não era mais que um monte de ruínas e, por
outro estranho jogo de "coincidências", um soldado americano,
perambulando pelas ruínas, descobriu um túnel que ia dar em duas portas enormes
de aço com um mecanismo de segredo tão imponente como o das casas-fortes dos
grandes bancos mundiais. Alguma coisa importante deveria encontrar-se atrás daquelas
portas. E assim, às 14h10m elo dia 30 de abril de 1945, a legítima Lança de Longinus
passou às mãos do exército americano.
Naquele mesmo dia, como se em
cumprimento de misterioso desígnio, Hitler suicidou-se nos subterrâneos da
Chancelaria, em Berlim.
Como ficou dito atrás, a Lança de
Longinus encontra-se novamente no Museu Hofburg, em Viena. Estará à
espera de alguém que venha novamente disputar a sua posse para dominar o mundo?
*
Vejamos, para encerrar, algumas
considerações de ordem doutrinária.
Haverá mesmo algum poder mágico
ligado aos chamados talismãs?
Questionados por Allan Kardec
(perguntas 551 a 557), os Espíritos trataram sumariamente da questão,
ensinando, porém, que "Não há palavra sacramental nenhuma, nenhum sinal
cabalístico, nem talismã, que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porquanto
estes só são atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais".
Continuando, porém, a linha do seu
pensamento, Kardec insistiu, com a pergunta 554, formulada da seguinte maneira:
- Não pode aquele que, com ou sem
razão, confia no que chama a virtude de um talismã, atrair um Espírito, por
efeito mesmo dessa confiança, visto que, então, o que atua é o pensamento, não
passando o talismã de um sinal que apenas lhe auxilia a concentração?
- É verdade - respondem os Espíritos -; mas da pureza da intenção e
da elevação dos sentimentos depende a
natureza do Espírito que é atraído.
Os destaques são meus, e a resposta
à pergunta 554 prossegue, abordando outros aspectos que não vêm ao caso tratar
aqui. Nota-se, porém, que os Espíritos confirmaram que os chamados talismãs
servem de condensadores de energia e vontade, e podem, portanto, servir de suporte
ao pensamento daquele que deseja atrair companheiros desencarnados para
ajudá-Io na realização de seus interesses pessoais. Disseram mais: que os Espíritos atraídos estarão em sintonia
moral com aqueles que os buscam, ou seja, se as intenções e os sentimentos
forem bons, poderão acudir Espíritos bondosos; se, ao contrario, as intenções
forem malignas, virão os Espíritos inferiores.
Por toda parte, no livro de Trevor Ravenscroft,
há referências repetidas de que duas ordens de Espíritos estão ligadas à
mística da Lança de Longinus: os da luz e os das trevas, segundo as intenções
de quem os evoca.
Além disso, é, preciso lembrar que
os objetos materiais guardam, por milênios a fora, certas propriedades
magnéticas, que preservam a sua história. Essas propriedades estão hoje
cientificamente estudadas e
classificadas como fenômenos de psicometria, tão bem observados, entre outros,
por Ernesto Bozzano. Médiuns psicômetras, em contato com objetos, conseguem
rever, às vezes com notável nitidez, cenas que se desenrolaram em torno da
peça. Dessa forma, se é verdadeira a fantástica legenda da chamada Lança de
Longinus, essa diminuta peça de ferro deve estar altamente magnetizada pelos
acontecimentos de que foi testemunha, desde que foi forjada alhures nos tempos
bíblicos, passando pelo momento do Calvário,. diante do Manso Rabi agonizante,
até que Hitler a perdeu em abril de 1945.
Seja como for, a peça reúne em torno
de si uma longa e trágica história, tão fascinante que tem incendiado, através
dos séculos, a imaginação de muitos homens poderosos, e desatado muitas paixões
nefandas. E, como explicaram os Espíritos a Kardec, não é a Lança por si mesma
que move os acontecimentos, é o pensamento dos homens que se concentram nela e
querem a todo preço fazer valer o poder que se lhe atribui. Nisso, ela é
realmente um talismã.
Ainda uma palavra antes de encerrar.
É certo que Hitler foi médium dedicado
e desassombrado de tremendos poderes das trevas. Esses irmãos
desarvorados, que se demoram, por milênios sem conta, em caliginosas regiões do
mundo espiritual, por certo não desistiram da aspiração de conquistar o mundo e
expulsar a luz para sempre, se possível. Tudo farão para obter esse galardão
com o qual sempre sonharam, muito embora a nós outros não nos assista o direito
de duvidar de que lado ficará a vitória final.
Nesse ínterim, porém, valer-se-ão de
todos os meios, de todos os processos, para alcançarem seus fins. É
claro, também, que não se empenham apenas no setor político-militar, por
exemplo, como Hitler, mas, também, procuram conquistar organizações sociais e
religiosas que representem núcleos de poder. É evidente a obra maligna e hábil
que se realizou com a Igreja, infiltrando-a em várias oportunidades e em vários
pontos geográficos, mas sempre nos altos escalões hierárquicos, de onde melhor
podem Influenciar os acontecimentos e a própria teologia.
O movimento espírita precisa estar
atento a essas investidas, pois é muito apurada a técnica da infiltração. O
lobo adere ao rebanho sob a pele do manso cordeiro; ele não pode dizer que vem
destruir, nem pode apresentar-se como inimigo; tem de aparecer com um sorriso
sedutor, de amizade e modéstia, uma atitude de desinteresse e dedicação, um
desejo de servir fraternalmente, sem condições e, inicialmente, sem disputar
posições. Muitas vezes, esses emissários das sombras nem sabem,
conscientemente, que estão servindo de instrumento aos amigos da retaguarda. A sugestão pós-hipnótica foi muito bem
aplicada por Espíritos altamente treinados na técnica da manipulação da mente
alheia. É a utilização da fraqueza humana de que falava Hitler.
A estratégia é brilhantíssima e
extremamente sutil, como, por exemplo, a da "atualização" e da "revisão"
das obras básicas da Codificação, a da criação de movimentos paralelos, o
envolvimento de figuras mais
destacadas no movimento em ardilosos processos de aparência inocente ou inócua.
Estejamos atentos, porque os tempos são chegados e virão, fatalmente, vigorosas
investidas, antes que chegue a hora final, numa tentativa última, desesperada,
para a qual valerá tudo. Muita atenção. Quem suspeitaria de Adolf Hitler,
quando ele compareceu, pela primeira vez, a uma reunião de meia dúzia de
modestos dirigentes do Partido dos Trabalhadores?
.........................................................................
À pág. 83 do "Reformador" de março
de 1976, em que teve inicio o artigo que ora finda, alinhamos algumas
observações e sugestões, à guisa de ilustração a certos pontos do tema
estudado, além de ligeira transcrição da obra "O Consolador", questão
291.
Aqui, porém, para uma visão
complementar do assunto, lembramos a vantagem da releitura do capitulo IV -
Numa cidade estranha - do livro "Libertação", de André Luiz, do qual
damos, a seguir, alguns excertos (págs. 55/6): "Se erguermos bandeira provocante, nestes campos, nos quais
noventa e cinco por cento das inteligências se encontram devotadas ao mal e à
desarmonia, nosso programa será estraçalhado em alguns instantes." (Gúbio,
o mentor espiritual, EIói e André Luiz transitavam, anonimamente, em missão
socorrista, não podendo identificar-se naquelas plagas, o que suscitara na
inexperiência e afoiteza de EIói a indagação quanto a ser uma mentira o
silêncio da identificação pessoal.) ( ... ) - "E há governo estabelecido
num reino estranho e sinistro quanto este? - indaguei. - Como não? -- respondeu
Gúbio, atenciosamente. - Qual ocorre na esfera carnal, a direção, neste domínio,
é concedida pelos Poderes Superiores, a título precário." ( ... )
"Grande aristocracia de gênios implacáveis aqui se alinha, senhoreando
milhares de mentes preguiçosas, delinquentes e enfermiças ... - E por que
permite Deus semelhante absurdo?" ( ... ) "Pelas mesmas razões educativas
através das quais não aniquila uma nação humana quando, desvairada pela sede de
dominação, desencadeia guerras cruentes e destruidoras, mas a entrega à
expiação dos próprios crimes e ao infortúnio de si mesma, para que aprenda a
integrar-se na ordem eterna que preside à vida universal." (... ) "Se
o Senhor visita os homens pelos homens que se santificam, corrige igualmente as
criaturas por intermédio das criaturas que se endurecem ou bestializam." A
Redação
........................................................................
[1] Nota da
Redação: A propósito dessa figura da "linguagem simbólica do
Invisível", recomendamos a leitura do cap.
XIV de "A Caminho da Luz", de Emmanuel, por Francisco Cândido
Xavíer, pp. 126/9 – 8ª edição FEB, 1975 -, especialmente o que se encontra
destacado nos subtítulos: O Apocalipse de João e Identificação da Besta
Apocalíptica.
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