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sábado, 16 de dezembro de 2017

"Era fluídico o corpo de Jesus"


“Era fluídico o corpo de Jesus”
A Redação
Reformador (FEB) Agosto 1953

Respondendo à nossa NOTA sob o título acima, publicada em "Reformador" de Maio do corrente ano, "Mundo Espírita" escreve:

"Trata-se, ademais, de uma questão cediça, que só pode conduzir os espíritas a intermináveis e bizantinas discussões. E essas discussões nada de útil constroem."

E por que motivo foi "Mundo Espírita" tratar do assunto, transcrevendo um artigo calunioso, publicado em jornal profano, e dando-lhe até maior destaque?             .

Se é questão cediça (corrupta, quase podre, sabida de todos, corriqueira, antiquada), porque transcreve agora, no número de Junho, um artigo publicado em "Revue Spirite"?

Ora, para nós, e certamente para a veneranda Federação Espírita do Paraná, em cujas mãos se encontra atualmente "Mundo Espírita", a questão merece tratada com mais respeito, pois que há um Pacto, por ela subscrito, baseado no livro "Brasil, Coração do Mundo", no qual Roustaing é citado como MISSIONÁRIO DA FÉ, exatamente por haver publicado a sua grandiosa obra de estudo interpretativo do Evangelho.

*

O divulgador de tal "comunicação espontânea", velho adversário de Roustaing e da FEB, também voltou, pelo mesmo número de ''Mundo Espírita", de Junho, não para provar qualquer coisa, não para dizer às claras o nome do acusado, mas para continuar com as suas acusações vagas, imprecisas, falsas e maliciosas, ora à FEB, ora a Chico Xavier.
Ora, se um "Espírito" afirma qualquer coisa e essa afirmativa diz que foi cometido um crime por ‘a’ ou por ‘b’, cumpre ao propalador da notícia fazer que o "Espírito" acusador diga, pelo menos, quem é o inocente.

Sim, pois que servir-se duma acusação infundada e lançá-la ao ar, sem provas, deixando que O crime seja imputado a uma de duas pessoas, das quais uma deve ser inocente, pode ser tudo: leviandade, falta de escrúpulo, maldade, mas não é dignidade, principalmente dignidade de um espírita.

E o Interessante é que o apregoador da calúnia, após fugir à nossa interpelação, solidariza-se com o tal "Espírito" e nisso fica, procurando apoiar-se em outros colegas seus, que agiram de modo semelhante, e que, então, também fugiram ao convite que lhes dirigimos.

Se tivessem razão, certamente se teriam dirigido ao médium que recebeu o livro, mas isso não lhes convém, pois que o plano deles é lançar a semente venenosa, a fim de que os seus futuros colegas a espalhem em época em que, então, desencarnado o médium, com os processos de que usam e abusam, escreverão: - E Chico Xavier confirmou tudo isso, através de “uma carta" dirigida a "conceituado confrade".

Que gente!

Textos adulterados


Textos adulterados
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Julho 1950

Entre as acusações mais ilógicas lançadas contra o Espiritismo por seus adversários, uma foi de que as obras-primas de poesia, recebidas por Francisco Cândido Xavier, seriam elaboradas no Rio de Janeiro por um homem de grande talento, mas totalmente desconhecido em nossos meios literários. Seria ainda esse mesmo gênio invisível quem redigiria ou, pelo menos, poliria os romances e novelas do mesmo médium para torná-los peças de alto valor literário.

lnteiramente ilógica essa forma de explicar o fenômeno, porque o médium recebe suas produções em sessões públicas, à vista de todos, e muitas vezes os originais são entregues no mesmo momento aos visitantes que os levam e publicam em jornais, folhas soltas, cartões, brochuras ou livros que tem sido publicados por toda a parte. Já os vimos, feitos em Uberaba, Juiz de Fora, Belo Horizonte, Campos, S. Paulo e outras cidades visitadas pelo médium, além de Pedro Leopoldo. Só uma senhora, amiga do médium, já publicou várias dezenas de produções em cartões postais e folhas soltas, para distribuição pelos grupos, sem revisão ou polimentos por ninguém. Mas a essa forma de ataque se juntou outra, diametralmente oposta: de que as produções seriam originalmente perfeitas mas teriam sido viciadas com interpolações por editores interessados em manter pontos de vista doutrinários diferentes daqueles dos Espíritos comunicantes. Acusação tão temerária quanto a precedente, porque o médium lê as obras depois de publicadas e se apressaria em reclamar reajustamento do texto viciado, para não perder o favor dos Espíritos superiores que lhe confiaram as mensagens.

Quando, porventura, alterações aparecem, numa edição, elas antes são sempre encaminhadas e sancionadas pelos Espíritos que ditaram a obra, nada se fazendo sem ordem ou assentimento deles e, muitas vezes, são eles mesmos, os Espíritos, que devam ser feitas. (1) 

Esta segunda forma de ataque nos faz lembrar outra campanha das trevas, já muito velha, que ouvimos pela primeira vez há mais de trinta anos e de quando em vez se repete com a mesma falta de espírito, com o mesmo desrespeito pela cultura dos espíritas brasileiros.

Um confrade, de boa fé, trabalhador, mas simples operário sem instrução, nos denunciou, há uns trinta e poucos anos, que as obras de Allan Kardec, publicadas em português pela Federação Espírita Brasileira, não eram reprodução fiel dos originais: haviam sido alteradas, trechos longos haviam sido interpolados para justificar pontos de vista da Federação, em oposição ao mestre. Perguntamos-lhe como tivera ciência disso; se ele mesmo havia confrontado os originais com as traduções, e como não havia apontado de público essas falhas para que fossem desmascarados os falsificadores e reconstituídos os textos. Respondeu-nos que não sabia francês e não havia feito o confronto, mas que pessoas competentes e de sua inteira confiança o fizeram, por isso tinha ele absoluta certeza de que isso era verdade.

Na livraria da mesma Federação, por esse tempo, achavam-se à venda os originais das obras de Allan Kardec e nos foi muito fácil adquiri-las e fazer cotejos, verificando logo que se tratava da mais leviana acusação à honradez dos tradutores.

Os originais de Kardec existem por toda a parte, em bibliotecas públicas e particulares, para quem os queira comparar com as diversas traduções já publicadas em português. Essa estulta acusação tem mais de trinta anos de vida e frequentemente volta à baila com a mesma desfaçatez, ferindo a memória venerável de vários servidores da causa: mas até hoje não foi apresentada uma única alteração do originais. Pelo seu silêncio de alguns decênios, os acusadores confessaram que eram simples, superficiais e irresponsáveis pelo que diziam e continuam dizendo. Sua finalidade era lançar a dúvida, a confusão, a divisão na família espírita brasileira, para enfraquecê-la e destruí-la. E tais instrumentos das trevas se diziam e se dizem espíritas, viviam e vivem em nosso meio.

Deus tenha piedade deles!


(1) Quanto ao livro Brasil, Coração do Mundo, ver Reformador de 1947, páginas 85 e 132, e de 1949, pág. 118, onde o assunto será exuberantemente esclarecido.

Obra das Trevas


Obra das Trevas
A Redação
Reformador (FEB) Junho 1953

Os Espíritos das Trevas não se cansam no trabalho de imaginar sempre novos processos de ataque ao Espiritismo.

Há tempos, os nossos adversários apresentaram ao mundo as declarações de um suposto neto de Allan Kardec, com as quais tentaram desmoralizar as obras do Codificador.

Provado, porém, que Allan Kardec não poderia ter neto, pois que não deixou descendentes, lá se foi todo o "arranjo" desses tais.

Outras vezes, têm procurado difamar e arrolar como eternos mistificadores certos médiuns de fama mundial, embora sabedores de que a favor destes se levantaram, com provas irrefragáveis, sábios de renome universal e de reputada idoneidade moral.

Que os nossos adversários vivam a forjar seus planos destrutivos, através da confusão que esperam criar, vá lá; mas que os próprios espíritas procedam da mesma maneira, no intuito de satisfazer suas opiniões ou paixões pessoais, em detrimento da própria dignidade da Doutrina, procurando desmoralizar os nossos melhores médiuns e as Instituições mais respeitáveis, isso, sim, é que não está certo!

E isso, infelizmente, vem ocorrendo de tempos a tempos. Ora infamando às claras, ora acobertando-se com intenções aparentemente nobres, esses infelizes irmãos, com a visão obscurecida pelo despeito, vêm ocasionando maior mal ao Espiritismo, que todo o poderoso exército orientado pelos Saulos do "sinédrio" de Roma.

Todos ainda se lembram da acusação caluniosa feita por um espírita aos diretores da FEB, relativamente a uma comunicação mediúnica do Espírito de Humberto de Campos. Chegou-se, também, a forjicar, deslavadamente, uma mentira perniciosa para imputar ao nobre Dr. Guillon Ribeiro (então desencarnado) a pecha de adulterador na tradução de uma obra de Kardec.

Assim, sem o menor escrúpulo, sem o menor respeito à dignidade alheia, esses ditos espíritas lançam as maiores aleivosias sobre os companheiros que desejam atingir, procurando desmoralizar os nossos livros, mediúnicos ou não, tramando e veiculando suspeitas contra os nossos melhores médiuns, absorvido em maquinar contra quem não lhes apoie as ideias e propósitos.

Não será de espantar que amanhã resolvam engenhar uma "comunicação de Allan Kardec", recebida por "um médium de confiança", na presença de pessoas "ilustres", desdizendo tudo quanto se encontra nas obras básicas do Espiritismo.

E esses homens se dizem defensores da Doutrina Espírita!


Censores Inidôneos


Censores Inidôneos
Tibúrcio Barreto (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Janeiro 1965

Allan Kardec ("Obras Póstumas") referiu-se a elementos que se imiscuíram no Espiritismo, dizendo-se "espíritas", mas que jamais se subordinaram à disciplina doutrinária, antes fazendo urna adaptação pessoal da Doutrina, ora aceitando o que não lhes cansava embaraços, ora "esquecendo" o que de algum modo constituía obstáculo a certas maneiras de pensar e agir.

Isso, entretanto, não ocorreu só nos primeiros tempos depois da Codificação. Ainda hoje temos de estar atentos quanto à ação desses "espíritas de contrabando" que tem sempre uma palavra de crítica ou de censura aos homens que dirigem organizações espíritas, apontando-lhes deficiências, ressaltando pretensos erros pelos mesmos praticados, enfim, transformando-se em severos censores da obra alheia, sem que, por seu turno, cooperem eficazmente para a difusão e exemplificação dos princípios doutrinários.

Conhecemos alguns desses "espíritas exemplares". São ativos no apontar faltas alheias e relembrar os deveres de cada um de nós em face da Doutrina. Já nos curvamos humildemente ante esses censores, quando lhes reconhecíamos o acerto de observações oportunas. Depois, entretanto, percebemos que, a par disso, tais censores não são rigorosos com as próprias atitudes. Tal farisaísmo lamentável os induz a um procedimento ardiloso, por meio do qual puxam as brasas para as suas sardinhas, deixando fora do calor as sardinhas alheias... Beneficiam-se clandestinamente fazendo chantagem com a Doutrina.

Um dos deveres elementares do bom espírita é respeitar as leis e os regulamentos vigentes, quer no País quer nas instituições de natureza privada, considerando que regulamentos e leis foram feitos para observância coletiva e pessoal, mas não se destinam ao caso particular, especial de cada um.

Temos um caso concreto dessa natureza: certa pessoa, sempre pronta a invocar as obrigações espíritas dos confrades que para ela se achem fracos, infringe essas obrigações com a maior naturalidade, afim de satisfazer a meras conveniências pessoais.

Se algum correligionário não concorda com o seu desapreço a direitos de outrem que restrinjam de algum modo a expansão de seu arbítrio, logo ela se mostra surpreendida com ela com a "falta" de tolerância cristã de quem não cedeu por mais tempo aos inconvenientes de seus abusos, previsto, aliás, por determinados regulamentos locais.


Estamos citando o fato, não como reprimenda a essa pessoa, sem orientação definida no campo religioso, mas para que aqueles que porventura nos lerem cheguem à convicção de que ela, desse modo, prejudica principalmente a si mesma, sem alcançar merecimento algum de um lado e do outro, podendo até mesmo tornar-se um joguete das trevas.

Teles de Menezes e a obra de Roustaing


Teles de Menezes 
e a obra de Roustaing
A Redação
Reformador (FEB) Maio 1966

Talvez os leitores desconheçam que "Os Quatro Evangelhos”, de J. B. Roustaing, por uma razão histórica decerto ditada pelo Alto, entraram no Brasil através do venerando pioneiro espírita baiano Luís Olímpio Teles de Menezes, o fundador da primeira Sociedade espírita em nosso País.

O Espiritismo dava então, aqui, os primeiros passos, sempre progressivos. As obras de Allan Kardec eram estudadas em francês, e delas apenas parte da Introdução de "O Livro dos Espíritos" e "O Espiritismo na sua mais simples expressão" estavam trasladados em língua portuguesa. A Doutrina que entre nós se difundia, e isto desde 1865, era marcadamente espírita-cristã, dando-se aos Evangelhos toda a sua importância basilar no edifício da Nova Revelação.

Muito acertadamente, pois, o Espírito de Humberto de Campos escreveu: "Enquanto na Europa a ideia espiritualista era somente objeto de observações e pesquisas nos laboratórios, ou de grandes discussões estéreis no terreno da filosofia, não obstante os primores morais da codificação kardeciana, o Espiritismo penetrava o Brasil com todas as suas características de Cristianismo redivivo, levantando as almas para uma nova alvorada de fé." ("Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", 7 ª ed. págs , 177-178.)

O Anjo Ismael, "zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro", prevendo, talvez, que mais tarde seus esforços em prol da obra evangélica do Espiritismo no Brasil pudessem sofrer, da parte dos homens, a Influência perniciosa de ideologias novas, ou o estrangulamento devido a tendências científicas exageradas, que, aliás, acabaram por debilitar o movimento na Europa, achou de bom alvitre trazer ao conhecimento dos poucos espíritas brasileiros a obra de esclarecimento que os próprios evangelistas transmitiram a Roustaing, "o missionário da fé", obra que estudada e meditada por grandes vultos da vanguarda espirita-cristã, muitos deles pertencentes ao "Grupo Ismael", contribuiria para consolidar aquela feição de Consolador, de Cristianismo restaurado, alma do verdadeiro Espiritismo que os Planos Celestes nos legaram.

Teles de Menezes, na época o representante máximo da Nova Doutrina em terras do Cruzeiro, recebia, então, no ano de 1870, diretamente de Roustaing, a primeira edição francesa de "0s Quatro Evangelhos".

No número 6, Maio de 1870, de O ECO D'ALÉM-TÚMULO, o mais antigo órgão espírita surgido no Brasil, Telas de Menezes publicava, nas páginas 292 a 296, extensa e criteriosa crítica sobre o referido livro, da qual reproduziremos os trechos abaixo, ainda atualíssimos, embora escritos há 96 anos:

"Esta importantíssima obra, em 3 volumes de 600 páginas cada um, foi publicada em Bordeaux, em 1866. Tínhamos apenas notícia de sua existência; agora, porém, tivemos a subida satisfação de sermos honrados com a generosa oferta de um exemplar por seu muito distinto autor, a quem, cordialmente, agradecemos essa alta prova de consideração. Os Espíritas verdadeiros encontrarão em sua leitura variadíssimos ensinos de transcendente importância e do mais perfeito acordo com a doutrina ensinada n’O Livro dos Espíritos e n’0 Livro dos Médiuns.

"Esta obra é de um trabalho considerabilíssimo, porquanto pelo concurso de admiráveis comunicações medianímicas, sempre sustentadas, explica e interpreta os Evangelhos, capítulo por capítulo, verso por verso.

"Esta obra extra-humana foi introduzida pelos Espíritos e por sua ordem publicada, corno sucedera com o Sr. Allan Kardec acerca da organização e publicação d'O Livro dos Espíritos (Le Livre des Esprits)."

“Sem a leitura e o conhecimento prévios d'O Livro dos Espíritos e d'O Livro dos Médiuns não se poderá ter a verdadeira inteligência dos "Quatro Evangelhos explicados em Espírito e verdade", e por isso recomendamos a leitura dessas duas obras fundamentais da doutrina espirítica.

“O Sr. Roustaing, espírita sério, tem a probidade da franqueza e a virtude da abnegação; em sua estimável e honrosa carta, que acompanhou sua tão valiosa oferta, assim se exprime:

"Publicando essa obra, que não emana de mim, e para cuja realização tenho sido, sou e continuarei a ser apenas um instrumento, somente tive e continuo a ter um incentivo e um fito - a difusão da luz e da verdade, o progresso moral e intelectual da Humanidade com o desinteresse mais absoluto."

"Recomendamos, portanto, a todos os Espíritas sérios a leitura dessa obra incontestavelmente de um mérito real; nela encontrarão a par de alguns ensinos que, segundo a opinião autorizada do Sr. Allan. Kardec, necessitam da verificação geral dos Espíritos, e portanto dependentes de sanção futura, ensinos e desenvolvimentos em inteiro acordo com os princípios fundamentais da doutrina espirítica.”

Ismael, Kardec, Roustaing e Teles de Menezes - chefe, missionários e obreiro - entrosaram-se perfeitamente no propósito de dar ao Espiritismo no Brasil a orientação evangélica que o tornou admirado e respeitado no orbe inteiro.

Continuemos todos a laborar segundo essas diretrizes, a fim de sermos amanhã, no concerto dos povos, a Pátria do Evangelho e o Coração do Mundo.


sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Campeões de Vigilancia


Campeões de Vigilância
Roque Jacinto
Reformador (FEB) Janeiro 1965

A porta do Espiritismo-cristão levará a criatura a um dos múltiplos setores nos quais a Doutrina se materializa a benefício do próprio homem, sendo que a voz da afetividade, falando alto na alma, determinará a sua inclinação:
           
Há os que adentram pela reuniões mediúnicas e se afinizam com esses trabalhos evangélicos, entrelaçando-os com a espiritualidade no campo de socorro e orientação aos desencarnados menos felizes. E recolhem a doutrinação para si mesmos, pelos exemplos vitalizados que o Mundo Maior lhes favorece.

Há os que se aproximam dos passes curativos, transfundindo-se em energias magnéticas, em favor dos que se encontram em desequilíbrio físico ou psíquico, movimentando recursos salutares dos Planos Celestes no atendimento aos que sofrem e choram. E recebem para si mesmos a assistência primeira de que se fazem medianeiros.

Há os que se entregam à caridade material aos desfavorecidos pela fortuna, multiplicando-se em gêneros alimentícios e agasalhos, em remédios e abrigos, a estômagos vazios e a corpos enregelados, a organismos minados e a famílias sem teto. E carreiam para si mesmos os favores dos Céus.

Há os que se utilizam do verbo para a sementeira da luz consoladora, do pão do Espírito, do manancial inesgotável da alma, desdobrando-se qual maná divino para os famintos de esclarecimentos, para os aflitos e desconsolados, para os amargurados e os cansados do mundo. E retém no seu íntimo benefícios da claridade de que se tornaram condutores e filamento.

Há os que se dão ao estudo fraterno, à conversação nobre, à difusão textual dos princípios doutrinários, à edificação de templos e instituições de benemerência.

Cumpre reconhecer, porém, que embora entregues a setores aparentemente tão diversificados entre si, todos se encontram no desempenho de nobilitantes tarefas que fazem parte desse grande todo que é o Espiritismo-Cristão.

São os chamados para o Cristianismo-redivivo.

Contudo, devem ser campeões de vigilância, para não chegarem ao ponto desequilibrante de supervalorizar o seu setor, porque daí em diante passarão a combater e condenar os demais tarefeiros, buscando restringir a Doutrina apenas às suas tarefas preferenciais.

Todas as funções são dignas e necessárias, ajustadas ao degrau evolutivo e às tendências em sublimação de cada seareiro, cabendo, pois, guardar respeito e carinho, acatamento e cooperação com os que estejam entregues às outras faces do mesmo labor dentro da Doutrina dos Espíritos.

"Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um,  como nós o somos." João. (17:22)


terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Cristãos sem Cristo


Cristãos sem Cristo
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Maio 1953

A quem se entregue com indispensável serenidade ao estudo da evolução das relações entre o Catolicismo e o Estado, se deparará o quadro inequívoco da diminuição moral da Igreja como resultado de concordatas que lhe outorgaram, compensativamente, maior poder temporal. As transigências do clero católico com a política, sua indiferença para com os legítimos problemas de assistência espiritual, dentro da pureza do pensamento de Jesus; seu silêncio em face de atos ostensivamente perniciosos à causa do Cristianismo; sua complacência com os poderosos, sua cumplicidade evidente nas resoluções anticristãs capazes de beneficiar os interesses materiais da Igreja, semearam a descrença, desmoralizaram os objetivos primaciais da doutrina cristã, enfim, todo um estendal de concessões, de recuos, de negaças e, sobretudo, de desrespeito ao verdadeiro conceito doutrinário contido no Evangelho, criaram o ceticismo que aleitou e fortalece o materialismo dos nossos dias.

O Catolicismo ausentou-se do Cristo, em virtude de buscar as comodidades da vida material, fugindo à exemplificação rigorosa dos princípios cristãos, negando, letra por letra, o itinerário evangélico . O Sermão da Montanha foi esquecido por aqueles que se inculcaram o título de representantes de Deus na Terra e vigários do Cristo perante a Humanidade. Bem-aventurados os humildes de espírito, bem-aventurados os mansos, bem-aventurados os misericordiosos, bem-aventurados os limpos de coração, bem-aventurados os pacificadores... No entanto, o sacrifício de Hipatia, (Hipátia nasceu em Alexandria por volta do ano de 370 d.C. Era uma oradora carismática e manteve-se solteira declarando-se "casada com a verdade". Em termos filosóficos, era neoplatónica, uma escola que na sua época e em Alexandria tinha a oposição dos grupos cristãos. No ano 415, Hipátia foi brutalmente assassinada por uma turba de cristãos que a considerava herege. Hipátia foi atacada na rua quando regressava a casa na sua carruagem. A multidão arrancou-lhe os cabelos e a roupa, depois os braços e as pernas e queimou o que restava do seu corpo. Do Blog.), a perseguição aos huguenotes, (Huguenotes era o nome dado aos protestantes franceses durante as guerras religiosas na França (segunda metade do século XVI). Cerca de 300.000 deles deixaram a França, após as dragonnades (perseguições contra as comunidades protestantes, sob Luís XIV) e a revogação do Édito de Nantes, em 18 de outubro de 1685. Eram majoritariamente calvinistas e membros da Igreja Reformada. Do Blog.), os dramas terríficos da Inquisição, a insinceridade e o ódio aos espíritas, as manifestações mais inequívocas de falseamento da doutrina de amor de Jesus demonstram à saciedade que o clero católico traiu o Divino Mestre e até hoje persiste no grave erro de desmentir pelos atos -o que é enfaticamente pregado nos púlpitos e nas publicações clericais. Mas
Jesus, suave e sábio, mesmo no Sermão da Montanha indicou a consolação para as vítimas da prepotência e do sectarismo: Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados ... Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça, porque eles serão fartos...  Bem-aventurados os que tem sido perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus... Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa.

A humilhação de Galileu, o sacrifício de João Huss e Savonarola, a desventura de Giordano Bruno e tantos outros que foram imolados pela política clerical, em nome de um deus que não é o Deus que os discípulos de Jesus aprenderam a amar e respeitar, de um deus que era a negação do Deus, do Pai amoroso, infinitamente bom e infinitamente misericordioso que ressalta das páginas maravilhosamente fecundas do Evangelho!

De quem a responsabilidade pelo panorama de intranquilidade espiritual dos nossos dias? De quem a responsabilidade pela descrença que tem levado incontáveis criaturas ao desespero? De quem a responsabilidade pelo poder extraordinário do materialismo nocivo, que envenena a alma, entorpece a razão e destrói no coração do homem o respeito devido a Jesus e a Deus? Do Catolicismo, através do seu clero farisaico. Na verdade, não foi o Cristianismo que falhou, conforme a afirmativa de autores famosos, que alinharam erros sobre erros dos pretensos cristãos. Não foi o Cristianismo que desmentiu os princípios cristãos. Em absoluto. Quem falhou foi o Catolicismo, desmantelado moralmente pelos desmandos de seu clero ávido de poder temporal. O Cristianismo foi atingido pela desmoralização porque, a partir do século XVIII, não se procurou distingui-lo do Catolicismo. Chegamos, finalmente, a uma encruzilhada. É quando Allan Kardec, reencarnação de João Huss, (nascido em Husinec, 1369 — Morto em Constança, 6 de julho de 1415) Foi um pensador e reformador religioso. Iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. O seus seguidores ficam conhecidos como os Hussitas. Executado em 1415 - foi queimado vivo e morreu cantando um cântico [cântico de Davi" Jesus filho de Davi tem misericórdia de mim. Do Blog.] um precursor do movimento protestante, recebe de Jesus a missão grandiosa de restaurar na Terra o verdadeiro Cristianismo, transfigurado no Espiritismo Cristão! Abre-se, desde aí, uma nova era para a Humanidade. Em menos de cem anos, a obra espírita alcançou uma divulgação espantosa. Milhões de seres já retificaram seus rumos através do Espiritismo Cristão e o trabalho prossegue, na Terra e no espaço, para que seja jugulado o materialismo que lança povos contra povos, espalha a dor, o luto, a miséria, desenvolve o ódio, espicaça o egoísmo malsão, realizando, enfim, tarefa negregada, completamente inversa daquela que está consubstanciada no Evangelho de Jesus.

Não desejamos mal a ninguém e o nosso desejo é que todos os credos se irmanem e se respeitem, que o clero católico se reintegre na legítima missão cristã, exercendo o amor, a tolerância, o esclarecimento, consoante, aliás, as lições do Cristo de Deus. Mesmo porque a profecia de Jesus ainda está de pé: "Vedes tudo isto? em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra, que não seja derribada"...

Paganizado pelo clero, para satisfação de interesses de ordem temporal, o Cristianismo, graças ao Espiritismo Cristão, que veio restabelecê-lo em seus princípios primitivos, está salvo! Todavia, impõe-se que os adeptos espíritas não abandonem as determinações doutrinárias, para que não venham a incorrer nos erros que lançaram o Catolicismo no desprestígio e na confusão dos tempos atuais.

Todos os homens, independentemente de suas crenças ou ideologias, devem unir-se no ideal comum de fraternidade humana. Principalmente os que se dizem cristãos, não tem o direito de perseguir, odiar, difamar, mentir e separar. Pelo contrário: se se dizem continuadores da obra do Cristo, devem inelutavelmente abandonar suas atitudes desfraternas, descaridosas, odientas, belicosas, se não quiserem permanecer divorciados de Jesus, se não pretenderem continuar sendo o que têm sido até aqui: hipócritas, túmulos caiados de branco, mas cheios de podridões por dentro, exclusivamente incrédulos travestidos de discípulos do Mestre, fanáticos a serviço de um espírito sectário incompatível com a doutrina de Jesus, contrabandistas da mentira, trânsfugas da Verdade, cristãos sem Cristo!


Mansos de Coração


Mansos de coração
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Agosto 1955

Quando Jesus proclamou a felicidade dos mansos de coração, não se propunha, de certo, exaltar a ociosidade, a hesitação e a fraqueza.

Muita gente, a pretexto de merecer o elogio evangélico, foge aos mais altos deveres da vida e abandona-se à preguiça ou à fé inoperante, acreditando cultivar a humildade.

O Mestre desejava destacar as almas equilibradas, os homens compreensivos e as criaturas de boa vontade que, alcançando o valor do tempo, sabem plantar o bem e esperar-lhe a colheita, sem desespero e sem violência.

A cortesia é o primeiro passo da caridade.

A gentileza é o princípio do amor.

Ninguém precisa, pois, aguardar o futuro, a fim de possuir a Terra. É possível orientá-la hoje mesmo, detendo- lhe os favores e talentos, entre os nossos semelhantes, cultuando a bondade fraternal.

As melhores oportunidades de cada dia no mundo pertencem àqueles que melhores se fazem para quantos lhes rodeiam os passos. E ninguém se faz melhor, arremessando pedras de irritação ou espinhos de amargura na senda dos companheiros.

A sabedoria é calma e operosa, humilde e confiante.

O espírito de quem ara a terra com Jesus compreende que o pântano pede socorro, que a planta frágil espera defesa, que o mato inculto reclama cuidado e que os detritos do temporal podem ser convertidos em valioso adubo, no silêncio do chão.

Se pretendes, pois, a subida evangélica, aprende à auxiliar sem distinção.

A pretexto de venerar a verdade, não aniquiles as promessas do amor. Abraça o teu roteiro, com a alegria de quem trabalha por fidelidade ao Sumo Bem, estendendo a graça da esperança, a benefício de todos, e, um dia, todos os que te cercam e te acompanham entoarão o cântico da bem-aventurança que o teu coração escreveu e compôs nos teus atos, aparentemente pequeninos de fraternidade e sacrifício, em favor dos outros, em tua jornada de ascensão à Divina Luz.


Oração das Mães


Oração das Mães
Meimei por Chico Xavier
Reformador (FEB) Maio 1953

Senhor!
Abriste-me o próprio seio e confiaste-me os filhos do teu amor!
Não me deixes sozinha na estrada a percorrer.
Nas horas de alegria, dá-me temperança.
Nos dias de sofrimento, sê minha força.
Ajuda-me a governar o coração para que meu sentimento não mutile as asas dos anjos tenros que me deste e adoça-me o raciocínio para que a minha devoção afetiva não se converta em severidade arrasadora.
Defende-me contra o egoísmo para que a minha ternura não se transforme em prisão daqueles que asilaste em meus braços.
Ensina-me a corrigir com amor, para que eu não possa trair o mandato de abnegação que depuseste em meu espírito.
Nos minutos difíceis, inclina-me à renúncia com que devo iluminar o trilho daqueles que me cercam.
Senhor, auxilia-me a tudo dar sem nada receber.
Mostra-me os horizontes eternos de Tua Graça, para que os desejos da carne não me encarcerem nas sombras.
Pai, sou também tua filha!
Guia-me nos caminhos escuros, a fim de que eu saiba conduzir ao Infinito Bem os promissores rebentos de Tua Glória. 
Senhor, não me desampares!
Quando a Tua Sabedoria exigir o depósito de bênçãos com que me adornaste a estrada por empréstimo sublime, dá-me o necessário desapego para que eu te restitua as joias vivas de meu coração, com serenidade e alegria; e quando a vida me impuser, em Teu Nome, o desprendimento e a solidão, reaquece minh'alma ao calor de Teu Carinho Celeste para que eu venere a Tua Vontade para sempre.

Assim seja...

domingo, 10 de dezembro de 2017

O Dogma Fluidificante


O dogma fluidificante
Nabor da Graça Leite
Reformador (FEB) Junho 1947

Sob este título, diligente confrade, possivelmente de São Paulo, teve a gentileza de remeter-nos um opúsculo de 11 páginas versando exclusivamente sobre o corpo fluídico de Jesus.

A preocupação máxima do autor é provar que Jesus não teria sido um Espírito em estado de materialização tangível, quando de sua estada na Terra, porém, um homem, em tudo igualzinho aos outros homens que, em virtude de sua imperfeição, têm necessidades, ainda, de revestir o espírito dum envoltório mais grosseiro.

Primeiramente devemos lamentar o fato de não vir esse trabalho assinado, e isso porque o nome da pessoa ou sociedade que o produziu, lhe daria um cunho de mais responsabilidade, ao passo que assim, no anonimato, ele apenas evidencia espírito confusionista, quando não demolidor de obra que não pertence aos homens, mas a Deus, e que, por isso mesmo, debalde aqueles a tentarão ferir.

Somos dos que jamais viram na chamada questão do corpo fluídico de Jesus motivo para enfraquecimento dos laços de fraternidade no seio dos adeptos da 3ª Revelação. E de fato não existe razão alguma que a justifique, uma vez que não há imposições doutrinárias que obriguem os espíritas a aceitar a obra de J. B. Roustaing, mas, como foi ela editada também no Brasil, há apenas a faculdade de todos os espíritas conhecerem-na para aceitarem-na ou não, usando, cada qual, do livre arbítrio e do direito de como recomendava Paulo, "examinar de tudo para só abraçar o que é bom".

Daí o reputarmos toda campanha que se move contra Roustaing e a Federação, obra de verdadeira incompreensão por parte dos que a realizam como que possuídos de um prazer doentio mas sem se aperceberem de que, ao contrário daquilo que supõem com relação aos feitos dos ensinos de Roustaing, eles é que se acham sob influências positivamente desagregadoras, dos inimigos da luz e da verdade. Senão, que pensar de conceitos como estes, encontrados no opúsculo em questão: "O que podemos dizer de Roustaing, patrono do Espírito das Trevas? Esplêndida mistificação para enganar os tolos espíritas, sem sólidos conhecimentos da doutrina. A fantástica obra de Roustaing está francamente em agonia, vivendo ainda somente pelo esforço da mentalidade escura do GRUPINHO DE FANÁTlCOS (sic) da Federação Espírita Brasileira..."

Que heresia e que injustiça! Não fora sermos estudiosos e interessados nos assuntos, práticos do Espiritismo, relacionados com a obsessão de Espíritos sobre criaturas mal avisadas ou descuidadas de seus deveres morais perante Deus, decerto não nos atreveríamos a transcrever esses conceitos por atentatórios ao mais comezinho espírito de gratidão que é sempre encontrado na criatura que está de posse de sua consciência...

E o Brasil inteiro é devedor à Federação Espírita Brasileira de imorredoura gratidão pelo muito que essa Instituição até hoje tem feito e continua a fazer pelo progresso do Espiritismo, não só em nossa Pátria como também no Continente americano e, quiçá, como já se vai evidenciando, no mundo todo!      

E pode-se, acaso, admitir uma obra de tamanha envergadura nas mãos de fanáticos?

Indiscutivelmente, não!

*

Meu irmão, autor do citado opúsculo:

Agradeço-te a remessa que me fizeste desse pequeno trabalho, que é grande, entretanto, pelo mal que poderá causar a ti mesmo e àqueles que não tiverem já o espírito sob a luz da verdade; retribuindo-o, escuta estas palavras amigas:

Não vejas nunca distinção alguma entre o espírita que aceita a Obra de Roustaing e o que ainda a não admite, mas procura saber antes se ele, como tu próprio, segue os ensinos do Evangelho de Jesus-Cristo. Isto é o essencial. Em primeiro lugar o amor e a caridade para com o semelhante. Se cada qual proceder assim, podes crer de que existirá fraternidade, nada importando que uns acreditem que Jesus foi um homem e outros não. De minha parte, digo-te que, não obstante minha crença sincera naquilo a que chamas "dogma fluidificante", nunca tive uma palavra de irreverência para os meus confrades que o não aceitam, nem isso me há impedido confraternizar com eles, como irmãos que todos somos, a caminho do progresso e da felicidade.

Faze o mesmo, meu amigo, e verás que os "casos" somos nós mesmos que os criamos, pela nossa grande intolerância e, pois, imperfeição.


(Extraído do jornal ‘União’, de Baurú.)

Roustaing-Bezerra


Roustaing – Bezerra
Reformador (FEB) Fevereiro 1947

Um grupo de espíritas fundou a Federação em 1º de Janeiro de 1884, há,  portanto, 63 anos.(*)
- Esse grupo elegeu para presidente da Sociedade o primeiro tradutor da obra de Roustaing, o Sr. Marechal Ewerton Quadros.
- Essa obra, que já era estudada em outros grupos, passou a ser adotada pela Federação, concomitantemente com as de Allan Kardec.
- Após catorze anos de estudos, Bezerra de Menezes, então presidente da Federação, resolveu publicar a tradução da obra de Roustaing, iniciando a publicação em "Reformador" de 15 de Janeiro de 1898, ou, seja nos fins do século XIX.


(*) Atenção. Estávamos então em 1947. Hoje, somando outros 70 anos, chegaremos a 133 anos. Do Blog. 

Fenômenos Mediúnicos


Fenômenos Mediúnicos
Albino Teixeira por Chico Xavier
Reformador (FEB) Abril 1962

Os fenômenos mediúnicos a se evidenciarem, inevitáveis, nas estradas do homem, guardam expressiva similitude com a presença das águas, nos caminhos da Terra.

Águas existem, por toda a parte.

Possuímo-las cristalinas em fontes recamadas de areia, pesadas de barro nos rios que desgastam o solo, tisnadas na sarjeta em que rolam depois da chuva, lodacentas no charco, furtadas de represas, concentradas em lagoas infectas, amargas em poço largados no esquecimento, semi envenenadas nos esgotos de lama.

Todas elas, contudo, podem ser decantadas, medicadas, purificadas e renovadas para servir.

Assim também os fenômenos mediúnicos.

Venham de onde vierem, assinalam-se por determinado valor.

Entretanto, é preciso não esquecer que devem ser examinados, raciocinados, interpretados e compreendidos para mostrarem proveito justo.

Para eles e junto deles, todos nós temos a Doutrina Espírita por filtro de tratamento.

À vista disso, não desprezeis fato algum mas, igualmente em tempo algum, não vos canseis de estudar.


Fidelidade ao Espiritismo


Fidelidade ao Espiritismo
Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Abril 1962

São grandes e muito difíceis as lutas travadas pelo Espiritismo em todos os seus setores de trabalho. Duas importantes tarefas exigem dos espíritas em geral o máximo de dedicação, apoio e sacrifício: as obras de assistência aos necessitados, que incluem a caridade multiforme aos que possuem o corpo ou a alma desajustados em relação aos princípios evangélicos, aos enfermos e aos rebeldes que amargam imposições pesadas do Carma, e a difusão doutrinária, objetiva, constante, profícua, através da palavra escrita e da palavra falada, assente na exemplificação permanente.

O Espiritismo não espera auxílios de outra origem senão a espírita. Sua esperança consiste no trabalho à luz do Evangelho e de “O Livro dos Espíritos”. Cada vez mais se estende a caravana dos sofredores e, assim, cada vez mais tem de se ampliar a obra assistencial do Espiritismo, que lançou neste País, com segurança incontestável, o exemplo da caridade que não humilha, não deprime, não desespera, mas estimula, encoraja e faz nascer a esperança no coração dos sofredores.

É lamentável, entretanto, que encontremos espíritas empenhados em trabalhar, mas isoladamente, criando o seu próprio setor de atividade, em vez de juntarem seus esforços aos de outros, nos setores já existentes na mesma zona em que atuem. Essa divisão de atividade reclama bem maiores sacrifícios e pode deixar de apresentar resultados finais satisfatórios, porque cada qual puxa o cordel para o seu lado, em vez de se formar um grupo só, de maneira a que muitos aliem sua força para que o trabalho ofereça maior margem de probabilidades em bons resultados.

Não somos intolerantes nem sectários, mas precisamos compreender que é dever do espírita auxiliar, primeiramente, todo e qualquer movimento espírita já definido e consolidado com o fim de satisfazer os objetivos da nossa Doutrina.

Preciso se torna que demonstremos maior fidelidade ao Espiritismo, apoiando mais as suas obras, ajudando-as mais, cooperando muito mais para que elas possam cumprir sempre melhor os seus desígnios de caridade, elucidação, assistência e doutrinação.

Porque deixar de atender a uma obra espírita reconhecidamente benemérita para criar uma outra, à sua sombra, quando se pode fazer convergir tudo isso para a mais antiga, de maneira a melhor atender os infelizes que precisam de ajuda, a pobreza envergonhada, que cresce dia a dia, a infância abandonada e os jovens de ambos os sexos que se perdem nas ruas, nas favelas, em toda parte, por ausência de orientação e abrigo, que a falta de recursos das casas já existentes não permite atender melhor?

Os espíritas precisam reforçar suas próprias fileiras, sem se deixarem iludir por preconceitos e divergências tolas, bem exploradas pelos inimigos do Espiritismo. Mais perigosos que os inimigos ostensivos são os falsos amigos, os quais, como lobos na pele de cordeiros, sorriem para o Espiritismo, mas, à socapa, o ferem, procurando desmoralizá-la e enfraquecê-la.

A hora não é de espalhar, mas de reunir: não é de dividir, mas de ajuntar. Nem de falar muito, mas de agir bastante. O verdadeiro espírita deve ser mais afeito ao trabalho pela causa comum, mas objetiva e praticamente. Aqueles que permanecem arredios dos setores de ação dinâmica, traem o Espiritismo, que reclama trabalhadores que trabalhem, homens e mulheres que não se limitem, apenas, a fazer o pseudo espiritismo de receber passes e frequentar sessões, sem nunca, porém, se entregarem decididamente a tarefas em benefício dos seus semelhantes, dos irmãos menos afortunados, que vergam ao peso de suas cruzes, sem a esperança de encontrar cireneus que os socorram.

Sejamos mais fiéis ao Espiritismo, estudando e disseminando as luzes da nossa Doutrina e as do Evangelho, dando ao nosso trabalho um sentido objetivo, prático, benemérito, cada vez mais amplo, cada vez mais profundo, cada vez mais extenso.


sábado, 9 de dezembro de 2017

Médiuns estáticos e médiuns naturais


Médiuns estáticos e médiuns naturais
Luciano dos Anjos
Reformador (FEB) Abril 1962

Não é o primeiro companheiro de doutrina que nos adverte quanto ao comportamento do médium durante as sessões práticas. Tínhamos a advertência à conta de ponto de vista pessoal e, embora discordássemos, mantínhamos respeitoso silêncio. O comentário que faz critica deve ser sempre muito bem dosado e antes de tudo oportuno, a fim de não gerar decepção. Esta é a maior inimiga da Doutrina, principalmente com relação aos que começam e julgam estar procedendo admiravelmente bem. Abatem-se profundamente e sabem que um confrade presumivelmente tão equilibrado no seu proceder cometeu falta grave; ou, que seu raciocínio, que supunham perfeito, peca pelo desconhecimento de novos dados, antes não compulsados e que encerram verdade mais ampla. É preciso ter cautela para não conduzir o neófito à decepção. Importa inicialmente fortalecer em seu espírito a fé na Doutrina e só depois de senti-lo forte conduzí-lo a outros caminhos, ainda que diametralmente opostos aos que vinha seguindo, desde que seu equívoco seja de forma apenas e não de conteúdo, caso este em que, só então, nosso dever impõe outros modos de ação orientadora. Por isso ouvimos sempre com humildade as admoestações esporádicas de um ou outro companheiro. Agora, entretanto, aqui estamos dedilhando a máquina para tratar de público o assunto. É que as coisas caminham para uma espécie de generalização, cujos resultados não poderão ser os mais auspiciosos. Já são muitos que nos falam do mesmo problema, encarando-o erradamente. E companheiros experimentados, conhecedores do fenômeno espírita, práticos da mediunidade. Afinal, que estará acontecendo? Donde nascem esses dogmas tolos que não melhoram nem pioram o médium? Porque o mau hábito de se criar regrinhas para as sessões chamadas de desobsessão, quando elas devem transcorrer com simplicidade, acima de tudo com normalidade? O desvirtuamento, que agora se generaliza, obriga-nos ao comentário a que até então nos furtávamos.

O médium - dogmatizam - deve comportar-se durante os trabalhos da maneira mais estática possível. Deve colocar as duas mãos espalmadas sobre a mesa e não se mexer, não gesticular, não fazer mímica, não falar alto, não falar difícil, não tirar a cadeira do lugar, não se revirar, não movimentar as pernas. Uma série de proibições lidas e aprendidas ninguém sabe onde que só podem prejudicar o desenrolar da sessão. As recomendações sobre o comportamento do médium existem e também nós as proclamamos. Contudo, é mister que se não confundam aspectos de aprimoramento com aspectos de desprimor . Aurélio A. Valente, no seu muito bem feito livrinho “Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo”, recomenda que “para um médium prestar conscientemente e com ótimos resultados o seu concurso, é necessário tornar-se capaz de reprimir todos os gestos violentos e linguagem obscena ou ofensiva dos Espíritos”. Ora, daí à atitude estática vai uma distância quilométrica. É preciso ter em conta sempre que os Espíritos não são seres especiais, essencialmente diferentes dos humanos. Eles vivem a normalidade da vida. E se expressam dentro desta mesma faixa de norma, pelo menos até o plano em que podemos concebe-los à nossa imagem. Gesticulam ao falar, reagem fisionomicamente, alteiam ou abaixam o timbre da voz, movem-se enfim, eis que não são estáticos. Quando das comunicações através dos médiuns, nada há de estranho que transmitam a estes suas características. Aurélio A. Valente, na obra já citada, diz à página 141: “Os Espíritos, ao manifestarem-se, transmitem aos médiuns todos os característicos da sua elevação ou impureza de sentimentos. A asserção é verdadeira e muito lógica. E em sendo assim, nada mais normal e até recomendável que o médium seja um excelente receptor medianímico, permitindo a completa e real transmissão dos característicos da entidade comunicante. Tanto melhor para os trabalhos, para o presidente da sessão ou o doutrinador, para auxiliar o Espírito que sofre, para o progresso do Grupo ou Centro, enfim, para a fidelidade da mensagem mediúnica.

A esse respeito, aliás, tivemos a oportunidade de palestrar com o presidente do Grupo Ismael, que endossou nosso ponto de vista e até afiançou que naquelas reuniões as manifestações são procedidas dentro do critério que esposamos, sem quaisquer regrinhas para postura, colocação das mãos, imobilidade, ou o que seja no sentido de enquadrar o médium em padrões de extravagância e falsas interpretações dos ditados do Invisível.

Tais preceitos que vimos de criticar tiveram, talvez, sua origem na recomendação - esta, sim, justíssima e acertada - para que o médium não se deixe dominar pelos Espíritos, procurando conter todo os excesso de palavra, de gesticulação e movimento. Que se não deixem as entidades de pouca luz ofender quem quer que seja; não se permitam a transmissão do calão, o termo obsceno; não se deixem as expansões prejudiciais de gestos grosseiros, extremos, ou, simplesmente, a mobilização do sensitivo para fora da mesa de trabalho. Feitas estas abstrações, nada mais recomendável, ao contrário, que o Espírito se mostre tal como é. Nenhum prejuízo existe se lhe sabe bem acompanhar o que diz com ademanes moderados. Nada há de errado que se transfigure, sem exageros para revelar seu pensamento. No instante em que um Espírito se incorpora num médium e inicia sua conversação, devemos aceitar o quadro como se dois encarnados ali estives sem confabulando normalmente. Ora, ninguém conversa com ninguém feito estátua. Os excessos todos são proibidos, tanto para mais quanto para menos. A super excitabilidade é tão negativa quanto a paralisia. Precisamos todos acabar com as regras esdrúxulas e às vezes até exóticas que vão pouco a pouco, infelizmente, artificializando uma Doutrina que, afinal e em última análise, é de origem simples. natural, pura, sem convenções ornamentais que, de útil, nada trazem para os encarnados ou para os desencarnados.