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sexta-feira, 30 de junho de 2017

Porque sou feliz

Porque sou feliz
Reformador (FEB) Dezembro 1938

            Nascido no seio de humilde família de lavradores do Norte de Portugal, como eles, também fui educado na religião católica, sobre a qual nada posso adiantar, porque nada lhe pude extrair de proveitoso, nem de desaproveitável; apenas lhe conheci os princípios, que mais ou menos me impressionaram.

            Por conseguinte, nada mais direi a respeito, desejando de coração o bom entendimento a todos os que ainda a professam, certo de que o futuro melhor lhes dirá, do que ninguém, de suas faltas ou de suas virtudes. É Deus que em sua infinita Misericórdia assim o quer.

            De minha parte, o que acho de mais proveitoso é, sem roubar o precioso tempo que os leitores dedicam certamente aos atos santos da caridade cristã, como fazem todos os que trabalham na Seara de Jesus sob o teto e proteção da Casa de lsmael, fazer do modo mais resumido, mas bem compreensível, a minha profissão de fé no Espiritismo, o Consolador por Jesus prometido. Esta profissão vem, meus prezados irmãos, como a de quase todos, depois de haver eu percorrido os tortuosos caminhos e estradas desta vida de provações, em todos os sentidos, recebendo nos ombros o peso das vicissitudes humanas. Quando já tudo me parecia acabado, porque ferida fora nas asas a ave do orgulho, à Misericórdia de Deus me permitiu encontrar o pouso magnífico da reflexão, para aí ver, não mais com olhos da carne, que me iludiam, mas com os do Espírito, o que são a Verdade inconfundível e eterna e a Vida Futura.

            Hoje, estudando, procurando compreender, cada vez se me depara maior a Sagrada Palavra do Redentor e cada vez também me vejo mais pequenino e mais humilde, diante da coluna que separa o homem deste mundo da perfeição de Deus.

            Mas, também me sinto com coragem para enfrentar, com mais serenidade do que antes, todas as provações por que haja de passar o meu espírito, no restante da presente peregrinação na Terra. Unindo-me de coração a todos os meus irmãos mais velhos em crença, consubstancio meus desejos numa prece ao Senhor, para que nos ampare e ilumine, iluminando a toda a humanidade, com a única luz que a pode guiar nesta vida: O Espiritismo Cristão, que a todos levará ao Porto da Salvação.

            Certo fico de haver cumprido assim o meu dever, dando, embora precariamente, mas com sinceridade, o meu testemunho de reconhecimento à Misericórdia do Senhor e aos sentimentos de caridade puramente cristã de todos os espíritas de quem me considero o mais pequenino irmão em Jesus Cristo.

Quintino Bocayuva
Manoel  A Sampaio e Mello


O grande medo de Kardec


           

                                ...o grande medo de Kardec é que o espiritismo derivasse para a formalização religiosa do sacerdócio, do ritual, da hierarquização. Para Kardec, religião era toda uma estrutura venal, podre, pestilenta, falida, que engodara o homem durante quase dois mil anos e propiciara a consubstanciação do maior perigo para a humanidade: o aurorescer do materialismo! Tudo deveria ser feito, pois, para que nem um nem outro se repetissem.

            Ao mesmo tempo, Kardec não fazia mais do que assentar seu raciocínio e sua proclamação religiosa nos próprios postulados contidos em O Livro dos Espíritos. São Luís, por exemplo, respondendo à questão número 1010, informa:

            Os Espíritos, portanto, não vêm subverter a religião, como alguns o pretendem. Vêm, ao contrário, confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis. (...). Eis por que, daqui a algum tempo, muito maior será do que hoje o número de pessoas sinceramente religiosas e crentes.

            E, no capítulo V da Conclusão, já se podia ler: "O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da religião."

            Assim, o pensamento do Codificador pode ser nimiamente compreendido pela síntese que lemos em Obras Póstumas, primeira parte, capítulo "Os desertores" , e que é também a síntese do que eu mesmo expus até aqui:

            O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas, não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o título de sacerdote ou de sumo-sacerdote. Estes qualificativos são de pura invenção da crítica.

                  Obs 87      Em "Dos Alfarrábios - II", de minha autoria,
publicado no Reformador de fevereiro de 1972,
à página 37, eu já havia feito a transcrição
destas palavras de Kardec.
Do Blog:

            E nesta mesma obra, sob o título "Futuro do Espiritismo", uma mensagem de Brion Dorgeval ao médium Jorge Genoullat sentencia: "O Espiritismo (...) restaurará a religião do Cristo" (...) e "instituirá a verdadeira religião, a religião natural."

            Mas o grande medo de Kardec, hoje, há de estar potencializado. O Codificador já percebeu, sem dúvida, que o movimento espírita enveredou por ilusório atalho e deve ser aguda e dolorosa a sua mágoa... Tudo quanto temeu está acontecendo ou por acontecer. Se ele retomasse, haveria de deplorar o esmero com que se sofisma para justificar todos os erros que, antes, já foram perpetrados e que aí estão, novamente, e no chamado Coração do Mundo, comprometendo a pureza da doutrina... Meu Deus! é preciso parar um instante, um segundo que seja, para a reflexão e a autocrítica. Observe-se a história, os seus anais, seus registros, seus processos filosóficos e religiosos. Medite-se sobre quanto ficou para trás relativamente às dores e tristezas a que o atalho levou os líderes religiosos de ontem. É preciso observar, friamente, o que está acontecendo. Meu Deus, é toda uma causa maravilhosa, sublime, transcendental que está em jogo! É a doutrina da Verdade que, confiada a nós, reencarnantes da Pátria do Cruzeiro, estabelecerá de fato o reinado do amor e da paz sobre a face da Terra, desde que não se repitam os equívocos do passado, na defenestração das lições amargas já aprendidas! O grande medo de Kardec é o meu próprio medo, é o medo imenso da Casa de Ismael! É o medo de que tudo se perca outra vez... Afastemo-nos, por um instante, da craveira comum dos fatos que passam e olhemo-los à distância do bom senso. Há diante de todos um caminho belíssimo, luzente e seguro; mas os pés avezados parecem preferir o atalho incerto e penumbroso... O movimento espírita precisa voltar, urgentemente, às suas origens! Porque muitos dos "melhores" e mais "eficientes" núcleos já estão completamente enovelados pelos baraços das impenitentes distorções humanas. A sua porta já não falta uma imagem qualquer de algum mago do espiritismo, fazedor de milagres. Na recepção, entre maus livros, editados mediante preponderante critério comercial, alguns títulos alarmam pela preocupação de "santificar" humildes, sinceros e inocentes médiuns. No interior, coros de jovens ou de adultos entoam peças do Hinário Espírita (?!), geralmente de mau gosto artístico, enquanto as paredes ostentam uma galeria de taumaturgos, ataviados com ramilhetes coloridos. Alguns deles - os mais "venerandos" - ganham até luzinhas devocionais, permanentemente acesas... Oradores esguelam-se em panegíricos a confrades ilustres, permeados da exaltação ao sentido ecumênico do movimento, de maneira a ficar muito bem justificada a presença de irmãos "tolerantes" em solenidades e rituais promovidos sob os auspícios do Concílio Vaticano II (88) As autoridades são convidadas a compor a mesa dos trabalhos, na qual nunca faltam as corbelhas e as alfaias de crepom. Os fotógrafos profissionais, convocados sofregamente pelos dirigentes, queimam seus flashes para depois venderem o "santinho" à porta do centro ou na sua própria livraria. Com essas fotos, fazem-se ainda chaveirinhos, medalhinhas, carteirinhas de fósforos, bandeirolas, plásticos para vidro de automóvel, etc. Os rádio-repórteres sarandam, aflitos, de microfone em punho, na esperança de arrancarem algum "furo" sensacional, a fim de garantir o Ibope do horário nobre! E, para arremate amargoso, incentiva-se a instituição de escolas, academias, institutos e universidades espíritas, a mostrarem que a nova escolástica vai muito bem, obrigada, graças à multiplicação dos cursos regulares que Kardec "teria" proposto, embora ninguém o visse ministrar algum... Em meio ao cursilho, o "professor" exalta a pujança da massificação espíritas esclarecendo ser ela o fruto "abençoado" da complexa organização que vige nas
instituições, com grandes organogramas, diretorias executivas, conselhos, departamentos, divisões, seções, setores, comissões, além de técnicas moderníssimas de fazer a caridade, fluxogramas para a ajuda ao próximo, métodos auditoriais de amar ao semelhante, et caterva... Contrasenso fantástico o da atualidade do movimento espírita, quando enfocamos principalmente as lideranças mais ortodoxas. Ficam muito injuriados, muito indignados porque os umbandistas se dizem espíritas; mas devagarinho e sob mil disfarces vão copiando os mesmos rituais. Batuque e ponto são barbaridades antidoutrinárias; porém, hino e coral são apropriadíssimos. E isso é só um exemplo.

            Obs 88  Leia-se, a propósito, a mensagem de Irmão X
 intitulada "Religiões Irmanadas",
veiculada no Reformador de agosto de 1971,
página 171. Mas leia-se mesmo.
Vale a pena. Garanto.
E, depois, se desejar arrematar a boa leitura,
abra A Descida dos Ideais, de Pietro Ubaldi, primeira edição, 1967,
prefácio, página 9, onde o autor aborda o movimento ecumenista
 e afirma, referindo-se ao papel da Igreja:
"Em resumo, agita-se para salvar a sua posição de domínio."

            Obs 89 Leia-se a mensagem de Emmanuel,
recebida em Brasília e publicada no
Reformador de fevereiro de 1973, página 40.

            Pobre Kardec... Se seu medo fê-lo temeroso ao tempo em que codificou a
doutrina, agora o temor há de fazê-lo medroso dela, pelos muitos males que, nesse diapasão, há de causar à humanidade!...
             
           
páginas 60-61-62
do capítuloO Grande medo de Kardec’
inO Atalho - Análise Crítica do Movimento Espírita
de Luciano dos Anjos
1ª edição 1994 - Publicações Lachâtre

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Obs 88 - Religiões Irmanadas
Irmão X por Chico Xavier
Reformador (FEB) Agosto 1971

            Comentávamos a conveniência de se irmanarem as religiões, em favor da concórdia no mundo, quando meu amigo Tertuliano da Cunha, desencarnado no Pará, falou entre brejeiro e sentencioso:

            - Gente, é necessário pensar nisso com precaução. Ideia religiosa é degrau da verdade e o discernimento varia de cabeça para cabeça. Exaltam vocês a excelência de larga iniciativa, em que os múltiplos templos sejam convocados à integração num plano único de atividade; entretanto, não será muito cedo para semelhante cometimento?

            Porque a pergunta vagueasse no ar, o experiente sertanista piscou os olhos, sorriu malicioso e aduziu:

            - Isso me faz lembrar curiosa fábula que me foi relatada por velho índio, numa de minhas excursões no Xingu.

            E contou:

            - Reza uma lenda amazônica que, certa feita, a onça, muito bem posta, surgiu na selva, imensamente transformada. Ela, que estimava a astúcia e a violência, nas correrias contra animais indefesos, escondia as garras tintas de sangue e dizia acalentar o propósito de reunir todos os bichos no caminho da paz.

            Declarava haver entendido, enfim, que Deus é o Pai de todas as criaturas e que seria aconselhável que todas o adorassem num só verbo de amor. Confessava os próprios erros. Reconhecia haver abusado da inteligência e da força. Despertara o terror e a desconfiança de todos os companheiros, quando era seu justo desejo granjear-lhes a simpatia e a veneração. Convertera-se, porém, a princípios mais elevados. Queria reverenciar o Supremo Senhor, que acendera o Sol, distribuíra a água e criara o arvoredo, animada de intenções diferentes. Para isso, convidava os irmãos à unidade. Poderiam, agora, viver todos em perpétua harmonia, porquanto, arrependida dos crimes que cometera, aspirava somente a prestigiar a fé única. Renunciaria ao programa de guerra e dominação. Não mais perseguiria ou injuriaria a quem quer que fosse.

            Pretendia simplesmente estabelecer na floresta uma nova ordem, que a todos levasse a se prosternarem perante Deus, honrando a fraternidade. Solenizando o acontecimento, congraçar-se-ia a família do labirinto verde em grande furna, para manifestações de louvor à Providência Divina. Macacos e cervos, lebres e pacas, tucanos e garças, patos e rãs, que oravam, em liberdade, a seu modo, escutaram o nobre apelo, mas duvidaram da sinceridade de tão alto discurso. Todavia, apareceram serpentes e raposas, aranhas e abutres, amigos incondicionais do ardiloso felídeo, aderindo-lhe ao brilhante projeto. E tamanhos foram os argumentos, que a bicharada mais humilde se comoveu, assentando, por fim, que era justo aceitar-se a proposta feita em nome do Pai Altíssimo.
           
            Marcado o dia para a importante assembleia, todos se dirigiram para a toca escolhida, repentinamente transfigurada em santuário de flores. Quando a cerimônia ia a meio caminho, com as raposas servindo de locutoras para entreter os ouvintes, as serpentes deitaram silvos estranhos sobre os crentes pacatos, as aranhas teceram escura teia nos orifícios do antro, embaçando o ambiente, os abutres entupiram a porta de saída, e a onça, cruel, avançou sobre as presas desprevenidas, transformando a reunião em pavoroso repasto... E os bichos que sobraram foram escravizados na sombra, para banquete oportuno...

            Nosso amigo fez longa pausa e ajuntou:

            - A união de todos os credos é meta divina para o divino futuro, mas, por enquanto, a Terra ainda está fascinada pelo critério da maioria. Como vemos, é possível trabalhar pela conciliação dos religiosos de todas as procedências; no entanto, segundo anotamos, será preciso enfrentar a onça e os amigos da onça... Onde o melhor caminho para a melhor solução?..

            Sorrimos todos, desapontados, mas não houve quem quisesse continuar o exame do assunto, após a palavra do engraçado e judicioso comentarista.


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Obs 89 - Mensagem de Emmanuel
Reformador (FEB) Fevereiro 1973

Senhor Jesus!

            Reunidos na Casa de Ismael, rogamos para que nos abençoes os propósitos de servir ante os problemas da atualidade terrestre.
            Deixa-nos saber que estamos todos interligados em teu coração compassivo e sábio, para que não venhamos a desertar da fraternidade que nos reúne!..
            Orienta-nos o raciocínio, de modo a verificarmos que as nossas necessidades e aspirações se irmanam no mesmo campo de experiência, a fim de que o respeito recíproco nos presida atividades e relações.
            Faze-nos observar, por misericórdia, que Deus não nos cria pelo sistema de produção em massa e que por isto mesmo cada qual de nós enxerga a vida e os processos da evolução de maneira diferente. Ainda assim, induze-nos a registrar que embora as nossas disparidades de interpretação diante dos fenômenos que nos cercam, todos podemos e devemos ser cada vez mais irmãos uns dos outros nas áreas de vivência e solidariedade, ação e tolerância.
            Ajuda-nos a entender que a Ciência pode governar a matéria no Plano Físico e eliminar as distâncias no Espaço Cósmico, entretanto, faze-nos reconhecer que nós outros, os obreiros da fé viva, fomos chamados para reacender a luz de teus ensinamentos nos corações, objetivando a edificação espiritual do futuro, a começar de nós mesmos. Para isso, Senhor, para que o título de servidores nos honorifique as tarefas, ampara-nos o desejo de trabalhar aprendendo e de servir elevando sempre!..
            E auxiliando-nos a desterrar qualquer fórmula de violência de nossas resoluções e atitudes, ensina-nos que somente o amor, em nossas realizações de cultura e de inteligência, pode construir em nós e por nós o teu reino de sabedoria e felicidade, no qual estaremos incessantemente contigo, tanto quanto já estás conosco, hoje e para sempre.

                                                                                                                      Emmanuel
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Religiões Irmanadas
Nota em Reformador (FEB) Março 1959

            Através de um telegrama procedente de Roma e publicado em nossos jornais no dia 26 de Janeiro, S. Santidade convocará um concílio ecumênico (universal), a fim de atrair os protestantes e outras seitas cristãs ao seio da Igreja Romana, da qual é ele o chefe supremo e único infalível.

            O concílio certamente será chamado - "Concílio das Religiões Irmanadas", mas, diremos nós, como irmanar, juntar, conglomerar concepções colidentes? - Talvez o consigam, mas no papel, apenas. Para fins políticos, tudo é possível, mas religiosamente nunca, salvo se o Catolicismo resolver voltar aos tempos realmente áureos do Cristianismo dos dois primeiros séculos.


            A boa vontade de S. Santidade não é suficiente, só com ela não será solucionada a questão, apesar da legião de 2.000 bispos que ao Concílio comparecerão, segundo informam os jornais.

Trabalho, Solidariedade e Tolerância


Trabalho, Solidariedade, Tolerância
Clóvis Jordão de Andrade
Reformador (FEB) Outubro 1939

Allan Kardec, o insigne filósofo do Cristianismo redivivo, codificador dos sublimes ensinamentos emanados dos Espíritos mensageiros da Boa Nova, soube dar exato cumprimento à nobre tarefa a que o destinara a Sabedoria Divina. Não somente soube cumprir as obrigações de um mandato, por todos os títulos, edificante, como também fazer prevalecesse uma concepção nova perante um mundo indiferente, contaminado de seitas, crenças e preconceitos de toda ordem.

As obras fundamentais do grande iluminado da terceira revelação refletem, nitidamente, todas as características do verdadeiro Cristianismo, todas leis que regem o homem nos planos físico e psíquico, de par com as penas e recompensas que o aguardam depois da morte.

"O Espiritismo, longe de negar ou destruir o Evangelho, vem, ao contrário, confirmar,
explicar e desenvolver, pelas novas leis da natureza, que revela, tudo quanto o Cristo disse e
fez", proclamou ele.

Não é demais acrescentarmos que a nossa tarefa, na qualidade de cristãos novos, de seguidores do Cristianismo redivivo, consiste tão somente em difundir os sublimes ensinamentos evangélicos em espírito e verdade, bem como dar o bom e imprescindível exemplo de "trabalho, solidariedade e tolerância" para a completa evangelização da grande família humana.

Sob a égide dessa magnífica trilogia, que representa o marco da nossa grandeza espiritual, está assente o luminoso fanal do Progresso, do amor e da Fraternidade para todas as criaturas.

Na sua missão de Consolador, o Espiritismo é o amparo do mundo neste século de declives, de progresso científico, de tempestades de amarguras, em que as grandes ideias florescem e a sua sublime doutrina ressurge para o cumprimento dos legítimos postulados, pela exemplificação do trabalho, da solidariedade e da tolerância.


O Catolicismo e a ciência vão fazer as pazes?



O Catolicismo e a ciência vão fazer as “pazes”?
B.G.Paiva
Reformador (FEB) Outubro 1939

Chegamos visivelmente aos tempos em que as provas são chamadas, em que os documentos devem ser examinados e as opiniões estudadas de novo. A verdade nada tem a temer e a religião emerge sempre de tais provas mais forte e brilhante do que anteriormente. - FRAUDE

Eis aí uma profecia que começa a cumprir-se.

Narra um jornal de São Paulo. "Correio Paulistano", de 6 de outubro corrente, que o nosso Ministro das Relações Exteriores recebeu um ofício da Embaixada do Brasil junto à Santa Sé, comunicando ao Governo Brasileiro que a Academia Pontifícia, que funciona sob os auspícios da Santa Sé, no Palácio "Pio IV", da cidade do Vaticano, resolveu convidar anualmente, a se reunirem em sua sede, alguns cientistas estrangeiros que tenham aprofundado certos .problemas, afim de tomarem parte num debate franco, em comum, sobre tais problemas, fora de quaisquer outras preocupações.

O principal objetivo desses debates, acrescenta o ofício, é o de se esclarecerem precisamente os motivos das divergências de opinião de modo que se torne possível a solução de muita controvérsia científica.

A primeira das semanas de estudos foi marcada para dezembro próximo e será dedicada ao seguinte tema: "O PROBLEMA DA IDADE DO MUNDO", segundo investigações baseadas em vários dados astronômicos conhecidos.

Para o estudo desse tema, diz ainda o ofício, foram convidados o Diretor do Observatório da Universidade de Princeton, o do Observatório Nacional de Paris, o da Universidade de Durham, o do St. John’s College, de Cambridge, o Dr. J. Jeams, de Dorking, e o Diretor do Observatório de Estocolmo.

O tema escolhido para o primeiro debate não podia ser mais interessante. A idade do mundo, nas doutrinas da religião romana e outras, é contada da "aparição de Adão" neste planeta, tomada ao pé da letra a figura bíblica da "Gênese". Servindo de base a essas religiões, para instituição do dogma do "pecado original", o do aparecimento de Adão fez com que se encadeia-se uma série de outros dogmas, que as aludidas religiões se viram obrigadas a criar, para justificar o primeiro daí resultando um círculo vicioso em que elas se debatem, abrindo, de dentro dele, luta titânica com a ciência, sem poderem de modo algum chegar a um acordo.

Se se encastelarem na "letra" das Escrituras, nunca poderão as religiões chegar a entendimento com a ciência. Serão sempre duas inimigas irreconciliáveis. Deve, pois, estar de parabéns, parece-nos, a Santa Sé, pelo haver tomado a iniciativa de ouvir a opinião da ciência sobre "problemas" desta ordem, aliás "problemas" para a Santa Sé, porquanto para nós há muito que foram resolvidos pelo "Espírito de Verdade". 

Deus e a Igreja Católica


Deus e a igreja católica
Rodolfo Calligaris
Reformador (FEB) Dezembro 1939

Somos dos que acham que a seara espírita é extremamente grande e devoluta, constituindo insensatez de nossa parte o deixa-la frequentemente para excursionarmos pelas searas alheias.

Por outras palavras, há no Espiritismo muita matéria a examinar e estudar, que deve e precisa ser divulgada, com maior proveito para a causa, do que a discussão de questões e assuntos que não lhe dizem respeito.

Os fatos, porém, com que nos vamos ocupar são de tal ordem, que não resistimos ao ímpeto de alinhavar este breve arrazoado.

Em dias do ano passado, teve lugar na catedral de Diamantina a sagração de D. José André Coimbra, nomeado bispo da Barra do Piraí, sendo a cerimônia dirigida por D. Serafim Gomes Jardim, arcebispo de Diamantina, e bispos de Montes Claros e Arassuaí, dioceses sufragâneas daquela arquidiocese.

Tudo decorreu com aquela pompa e aquele aparato peculiares a solenidades que tais. Duas chapas foram batidas: uma à porta do Palácio Arquiepiscopal, quando, sob o pálio, aqueles prelados se dirigiam à catedral e outra focalizando o pálio já em plena rua. Até aqui, nada de extraordinário.

Acontece porém, que, ao serem reveladas as ditas chapas, notou-se em ambas a presença, nítida e perfeita, de um "extra", identificado como sendo o Espírito de D. Joaquim Silvério de Souza, falecido cerca de seis anos antes da referida sagração.

D. Joaquim Silvério de Souza fora, em vida, patrono de uma associação cuja finalidade é custear o estudo de seminaristas pobres, sendo que era grande aspiração sua ver algum desses seminaristas sagrado bispo. Dizia então que, quando tal se verificasse, ele próprio seria o oficiante.

A sagração do primeiro de seus pupilos, D. José André Coimbra, deu-se seis anos depois de sua morte, circunstância que, conforme o atestam as fotografias em apreço, não o inibiu de ver cumprido aquele seu ardente desejo.

A igreja católica, que não perde vasa para as suas especulações, entendeu de explorar o caso, aliás conhecidíssimo dos adeptos do Espiritismo, servindo-se do embuste grosseiro do milagre para poder enganar e conseguir o fim que tem sempre em mira. Este "fim" é ilaquear a boa-fé dos tolos e ignorantes e impingir-lhes milhares da milagrosa fotografia em "troca" de uma esmolinha, o que, certamente, não deixará de dar pingues resultados ...

Um panfleto de propaganda do milagre, contendo uma das fotografias, só agora reveladas ao público, datada de Diamantina aos 20-9-1938, traz os seguintes dizeres por nós destacados propositadamente para que os nossos presumíveis leitores lhe apreciem a lógica genuinamente católica, apostólica romana:

"Só os católicos são dignos ante a face imutável de Deus de receber tamanha graça, em tão estupendo milagre. Os espíritas costumam dizer que os mortos se comunicam, se deixam fotografar mas nós continuaremos a dizer: Isto é falso, pois, sendo as leis de Deus imutáveis, iguais para todos os filhos de Deus; só para os católicos há exceção... Porque Deus violenta seu próprio estatuto para operar o milagre! Aí está a prova de que os mortos não se deixam fotografar, a menos que tenham sido católicos e como tal tenham morrido. "

Que tal, hein? "Só os católicos são dignos", "só para os católicos há exceção" e "só para os católicos Deus violenta o seu próprio estatuto".

E nós que estávamos quase acreditando que "as leis de Deus são, mesmo, imutáveis e iguais para todos"...

Que ingenuidade, a nossa!

Esta outra tirada é ainda mais formidável: “Aí está a prova de que os mortos não se deixam fotografar ... " e para corroborar aquilo que dizem, afim de que não subsistam quaisquer dúvidas, apresentam a fotografia em que aparece o Espírito de D. Silvério, morto seis anos antes!!!

É verdade que ressalvam: "...a menos que tenham sido católicos e como tal tenham morrido". O inteligente leitor, porém, saberá dar a essa ressalva o apreço que merece...

É extraordinário o ponto a que chegou o desplante e a impavidez do clero!

Fenômenos idênticos, verificados por um Akasakof, um Crookes, um Richet, não passam de      ilusão,  fraude, mentira ou sugestão; agora, o caso de D. Silvério é milagre!

Felizmente, porém, "os tempos são chegados" e a lógica dos faríseus já não convence a muita gente...

É deixá-los: acabarão falando sozinhos...

*

O outro fato que deu ensejo a estas linhas não é menos interessante.

O general Franco, chefe da revolução que cobriu de luto a bela e heroica pátria de Cervantes, ofereceu a Deus a sua espada vencedora, tendo recebido, a propósito, a seguinte carta do cardeal primaz da Espanha, que transcrevemos do "Correio da Manhã.", de 12 de Julho de 1939:

“Julgo de meu dever dar o maior relevo ao gesto nobilíssimo de cristã edificação que teve V. Ex. ao entregar, na qualidade de representante da Igreja na Espanha, a sua espada vencedora, como tributo de gratidão a Deus, que, com Sua Amorosa Providencia, auxiliou os que lutaram por Sua Honra e pela da Espanha, e como veneração à Santa Igreja Católica da qual v. ex. é filho ilustre e fidelíssimo.

"Fiz entrega da histórica espada ao Cabido da Catedral Primaz em cujo tesouro deve ficar guardada. Peço a Deus do fundo d’alma que dê todas as Suas bênçãos a quem ofereceu tal exemplo de religiosidade à Espanha e ao mundo, e que dê a V. Ex. luz e força para triunfar nas árduas tarefas da paz, como triunfou nos dias heroicos da guerra. Deus guarde a V. Ex. muitos anos." (Os grifos são nossos).

Algum leitor menos avisado que deparasse com tal noticia, sem se inteirar da data de sua publicação, poderia, com justíssimas razões, confundir-se e supor tratar-se dalgum acontecimento ocorrido na infância da humanidade. Efetivamente, entregar um instrumento de guerra a Deus em sinal de gratidão pelo seu auxilio ao massacre e destruição de milhares de filhos desse mesmo Deus, é coisa que aberra dos mais comezinhos princípios de moral e religião. O Deus que porventura aceitasse tal oferenda poderia quando muito ser o deus Marte, da mitologia antiga, mas nunca o Deus de amor e de justiça de que nos fala o Evangelho de Jesus, o qual não só ditou o "Não matarás", como condenou toda e qualquer forma de violência e desprezo para com os semelhantes, por constituir infração ao "amai-vos uns aos outros", mandamento que resume toda a lei e os profetas.

Por mais paradoxal que pareça, trata-se, porém de um fato recentíssimo, passado num pais que se diz civilizado e essencialmente católico, constituindo mesmo um magnífico exemplo de "religiosidade" oferecido ao mundo do século XX por um dos mais "ilustres e fidelíssimos filhos da santíssima igreja católica, apostólica, romana" !

Muito edificante, pois não!

Como vemos, a mentalidade católica daquém e dalém mar é a mesma. Aqui, é deus 'que "violenta o seu estatuto para operar um milagre católico", provando destarte que "só os católicos são dignos e só para eles há exceção... "

Acolá, é o mesmo deus que, "com sua Amorosa Providência." (triste ironia) , desce de seu sólio de astros e de estrelas, protege e auxilia o chefe de horrível guerra fratricida, para, depois de saciado em sua sede de sangue e morte, conduzi-lo finalmente á ambicionada vitória!

Semelhante deus, francamente, mais se parece com Satanás...


terça-feira, 27 de junho de 2017

Menos e Mais


Menos e Mais
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Agosto 1954

Quanto menos trabalho, mais preguiça.
Quanto menos esforço, mais estagnação.
Quanto menos direito, mais insegurança.
Quanto menos serviço, mais miséria.
Quanto menos fé, mais desconfiança.
Quanto menos caridade, mais aspereza.
Quanto menos entendimento, mais perturbação.
Quanto menos bondade, mais intolerância.
Quanto menos diligência, mais necessidade.
Quanto menos simpatia, mais obstáculos. 
Quanto mais fizeres pelos outros, mais receberás do próximo em teu benefício.
Quanto mais ajudares, mais serás ajudado.
Quanto mais aprenderes, mais saberás.
Quanto mais te aplicares ao bem, mais o bem te glorificará o caminho.

Quanto mais te consagrares ao próprio dever, mais respeito e mais nobreza te coroarão as tarefas.

Quanto mais te dedicares ao plantio da fé, pela compreensão de nossa insignificância, à frente do Senhor, mais a fé brilhará em tua fronte.

Quanto mais sacrifícios puderes suportar, mais alta ser-te-á a própria sublimação.

Quanto mais te humilhares, buscando a posição do fiel servidor da Divina Bondade, mais engrandecido te farás diante da Lei.    

Quanto mais suportares as faltas alheias, usando a paciência e a afabilidade, mais amor conquistarás daqueles que te observam e seguem.

Quanto mais souberes perder nas ilusões da Terra, rendendo culto diário à reta consciência, mais lucrarás na imortalidade vitoriosa.

Recordemos o ensinamento do Cristo - "ao que mais tiver mais lhe será acrescentado".

E, aumentando a nossa boa vontade no trabalho que O Senhor nos concede para as horas de cada dia, estejamos convictos de que mais seguramente avançaremos no rumo de nossa própria libertação.



Carlos Richet - Fundador e Apóstolo da Metapsíquica


Carlos Richet - Fundador e Apóstolo da Metapsíquica

Reformador (FEB)  Agosto 1954

            Corria o ano de 1897, quando Carlos Richet, em seu discurso inicial proferido como presidente da Sociedade de Estudos Psíquicos de Londres, teve ensejo de introduzir, pela primeira vez, o termo Metapsíquica como designação da nova ciência que, segundo suas próprias palavras, seria um dia considerada a “rainha das ciências”.

            É difícil, em simples nota, interpretar sua personalidade de sábio em numerosos ramos do saber humano: médico, filólogo, bacteriólogo, sociólogo, literato e metafísico, tendo mesmo cogitado, se bem que rapidamente, do campo da engenharia, quando de seus primeiros ensaios pelo domínio do ar.

            Nascido em Paris a 26 de Agosto de 1850, seguiu as pegadas de seu pai, ao tempo cirurgião e professor da Faculdade de Medicina; notou, no entanto, já no exercício de sua profissão, que sua vocação real era a da investigação. E, como interno dos hospitais, pode dedicar-se, durante um ano inteiro, ao estudo do sonambulismo, que foi sua iniciação no campo da Fisiologia, chegando de tal maneira a destacar-se, que foi designado, em 1878, com a idade de 28 anos adjunto de Fisiologia na Faculdade de Medicina (1). Foi um trabalhador incansável.  

            (1) Não foi, em vão, destacado discípulo do grande mestre Claude Bernard.

            Através de uma série de investigações plenas de êxito, descobriu a seroterapia que tão incalculáveis benefícios tem proporcionado à Humanidade. Contava Richet 37 anos quando, em 1887, foi designado professor de Fisiologia, fazendo, logo a seguir, várias descobertas de capital importância, sustentando inúmeras teorias que, com o correr do tempo, contribuíram extraordinariamente para o progresso da Ciência, e, em 1913, publicou um livro à base de seu estudo experimental sobre a “anafilaxia”, descoberta essa que, além de novamente assombrar o mundo cientifico de sua época, lhe proporcionou o Prêmio Nobel de Medicina, em 1913. Nele já se havia revelado o mestre com todos os atributos do saber científico. Sua agitação inata e seu intenso fervor pacifista levaram-no, em 1884, a participar do movimento de pacificação, a ponto de ocupar a presidência da Sociedade de Pacifistas. Discursos, conferências, artigos e livros foram assinalando sua trajetória, que culminou, em 1930, depois de um passeio pela Itália, Romênia e Rússia,  onde contava com muitos admiradores do seu livro “Pela paz” dedicado a seu avô, por lhe ter este inoculado a aversão à guerra, desde a sua meninice.

            Este gênio, extraordinariamente privilegiado, cujo natural dinamismo o impedia de   entregar-se ao descanso, empregava o tempo livre de sua tarefa científica, em vasta produção literária que, só por só; o colocava entre os grandes escritores da época. Seus livros denotam profunda inquietude pelas condições de vida do povo e tendem a melhorar a conduta dos homens, por uma maior moralização de seus costumes. O sociólogo profundo que havia nele surgia amplamente de seus escritos, combatendo igualmente o baixo índice de natalidade na raça branca e, como estudioso dos problemas sociais, isso o preocupava sobremodo, pela possível extinção da raça mais evolvida do planeta.

            Sua considerável obra literária colocou-o na posição de autor ilustre e a Academia de Ciências o chamou, por isso, ao seu seio, justo reconhecimento a quem, como poucos, era, acadêmico no fundo e na forma.

            Seus estudos iniciais sobre o sonambulismo conduziram-no posteriormente ao estudo do hipnotismo, e em 1884 recebeu a visita do sábio russo Aksakof, que lhe disse: “o senhor se ocupa de sonambulismo e de hipnotismo, mas existe ainda uma coisa mais interessante: os fenômenos denominados espiritistas, isto é, as aparições e os movimentos de objetos sem contato.”

            Pouco tempo depois Richet visitava Milão, a convite de Aksakof, onde, em companhia de César Lombroso, Schiaparelli, Chiaia e Finzi, assistiu às experiências que então se faziam com Eusápia Paladino. Dali saiu plenamente convencido da existência de fenômenos cujo estudo, menosprezado pela ciência oficial, era do domínio exclusivo da fisiologia experimental.

            De retorno ao seu país, prosseguiu na investigação dos fenômenos psíquicos, que o apaixonaram tanto quanto a Fisiologia; e, depois de novas experiências com Paladino, que a seu pedido fora à França e se hospedara em uma ilha de propriedade de Richet, realizadas em companhia de Oliver Lodge, Myers e Ochorowicz, resolveu criar, em 1891, um periódico especializado desta nova ciência, denominado “Anais de Ciências Psíquicas”.

            Carlos Richet, afirmando a existência do sexto sentido, não obstante o ceticismo dos que só admitiam os cinco sentidos conhecidos, conseguiu a sua aceitação definitiva.

            Sua obra – “Nosso Sexto Sentido” - fez que convergisse para ele a atenção geral, e já em 1897 ocupava a Presidência da “Sociedade de Estudos Psíquicos” de Londres e definia a Metapsíquica como “o estudo de propriedades do espírito que saem do campo de observação da psico-fisiologia, aliás universalmente admitida e ensinada”. Sempre em busca de novas provas da imortalidade da alma, viajou pela Itália, Alemanha, Inglaterra, Suécia e Polônia, fazendo experiências com distintos médiuns. A Metapsíquica o absorvia já quase totalmente, quando, em 1914 idealizou em França, sua pátria (onde não existia nenhuma organização que reunisse os investigadores), sessões de almoços que contavam habitualmente com comensais ilustres tais como Flammarion, Roux, Maxwell, Bergson, Grammout, Vesme, etc. Nessas reuniões, logo após a saída dos serviçais, Richet costumava bater em um vaso, indicando assim o começo das conversações, durante as quais se entremeavam informações e novidades, estabelecendo-se sistemas de trabalho, etc. às quais só faltara poucas vezes. “Eu virei até à minha morte” costumava dizer.


            Conjuntamente com o Dr. Geley, o professor Santoliquido e Meyer de Beziers fundaram tempos depois, em Paris, o “Instituto Mepsíquico Internacional” e criaram a “Revista Metpsíquica”, sendo ele designado para presidente, cargo que desempenhou com profunda dedicação, já que o Instituto era a concretização de um velho anelo que não supusera ver realizado.

            Em 1922 apresentou à Academia de Ciências seu famoso “Tratado de Metapsíquica”, obra-prima de seu pensamento luminar e que o imortalizou, mostrando-o como autêntico iniciado em cumprimento de alta missão com projeções de eternidade. Em 1926 o Governo de Painlevé lhe concedeu a distinção da Legião de Honra, no grau de Grão Oficial. Ao receber a distinção pelas mãos do Marechal Foch, a cujo ato assistiu o mencionado Presidente do Conselho de Ministros da França, Richet se aproveitou da oportunidade para insistir longamente sobre o porvir da Metapsíquica como a grande esperança do futuro, afirmando que “um novo ideal moral seria sua consequência”.

            Posteriormente e sempre em defesa da Metapsíquica sua pena lançou à circulação “O Futuro da Premonição”, em 1931; “A Grande Esperança”, em 1933, e “Em Socorro”, em 1935, desencarnando pouco depois, aos 85 anos de idade.

            A vida de Carlos Richet, sábio entre os sábios, apóstolo em toda a acepção do vocábulo, foi um relâmpago nas trevas de uma época de obscurantismo, em que as correntes materialistas detinham o cetro. Seu “Tratado de Metapsíquica”, verdadeira Constituição Científica do Espiritismo, situa-o entre a plêiade de seres superiores que de tempos a tempos encarnam, a fim de auxiliarem a orientação do homem em seus novos destinos. Um de seus biógrafos, o Dr. Eugênio Osty, confirma esta assertiva com as seguintes palavras: "Uma soberana serenidade; uma esquisita amabilidade, uma alma elevada que esquecia toda injúria, e uma grande bondade, completam a excepcional personalidade de Carlos Richet."   
                                    (Traduzido de um artigo da direção de “Prédica”, de Buenos Aires, Fevereiro de 1954.)


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sábado, 24 de junho de 2017

Deus


Deus
Rodolfo Calligaris
Reformador (FEB) Novembro 1939

O orgulho e a presunção, a vaidade e a ignorância são, evidentemente, os maiores entraves ao progresso e à felicidade do homem.

O orgulho cega-o, fá-Io julgar-se um ser a parte na criação. Ninguém o suplanta; todos lhe são inferiores. As suas ideias são a expressão da verdade; tudo mais não passa de invencionices ridículas ou crendices tolas. O mundo é somente ele próprio; fora dele, nada mais existe, a não ser o vácuo e a sombra.

A presunção leva-o aos mais loucos desatinos. Torna-o irreverente e essa irreverencia lhe diz que não há nada digno de seu respeito. Dá-lhe a ilusão da onipotência e, assim iludido, investe quixotescamente contra tudo e todos, pois para ele não existe o invulnerável.

A vaidade, filha do orgulho, fá-lo supor-se um astro de primeira grandeza e a humanidade o conjunto de seus satélites. Torna-se pretensioso ao ponto de pensar que o mundo inteiro se preocupa com ele. Procura parecer diferente, original, para ser discutido, admirado e apontado como "um espírito forte".

A ignorância pode ser consciente ou inconsciente. A ignorância consciente é a dos simples e humildes que estão sempre prontos a confessá-la. A ignorância inconsciente é aquela que caracteriza os pseudo sábios e entendidos, os quais estão sempre dispostos a negar e a ridiculizar qualquer descoberta nova, seja lá em que campo for, mesmo quando não tenha dele o mínimo conhecimento. Essa casta de ignorantes é nociva e impertinente, porque nada admite que ultrapasse o seu ângulo mental, assim como não aceita como real senão aquilo que lhe cai debaixo dos sentidos.

Infelizes dos que se deixam colher pelas garras aduncas desses monstros terríveis!

Pois são precisamente esses infelizes, os orgulhosos e os presunçosos, os vaidosos e os ignorantes, os que - estultos! - pretendem arrebatar à humanidade a certeza da existência de Deus, blasonando que ninguém, absolutamente ninguém, será capaz de prová-la.

Pobres cegos, com pretensões a condutores de cegos! Lastimamo-vos, pois sois mais dignos de lástima que de exprobração!

*

A existência de Deus não pode, mesmo, ser demonstrada por provas sensíveis e diretas, porquanto o Ser que enche o tempo e o espaço não será, jamais, medido, pesado ou apalpado por quem só possui sentidos deficientes e limitadíssimos.

Existe em nós, porém, uma força instintiva e segura que para Ele nos conduz, afirmando-nos a sua existência com mais certeza e maior autoridade do que o fariam todas as demonstrações e todas as análises.

Os sentidos só nos dão a conhecer o mundo material, isto é, o efeito das causas. É, pois, inferior  razão que, descortinando o que está muito além, nos revela o mundo das causas.

A experiência apenas verifica os fatos; a razão agrupa-os e lhes deduz as leis.

As leis universais não foram descobertas pela experiência, mas pela razão; aquelas só coube verificá-las e confirmá-las, fornecendo as provas colhidas da observação.

O Deus antropomórfico de certas religiões este, sim, ninguém no mundo será capaz de localiza-lo, visto que não passa de uma concepção grosseira e fantástica, inadmissível no estado atual dos nossos conhecimentos. Mas, o Deus imanente, presente no seio de todas as coisas, o Ser que contém todos os seres, não há quem não o sinta, quem não encontre o Seu reflexo nas potências divinas que se aninham nos mais íntimos refolhos da alma.

Ora, o que não existe não poderia refletir-se.

Há, em Física, uma lei segundo a qual todo efeito promana de uma causa.

Lancemos, então, a vista pelos espaços infinitos, contemplemos, embevecidos, as maravilhas da Criação e, partindo do princípio enunciado por aquela lei, vejamos se é ou não possível provar-se a existência de Deus.

"Na hora em que se estendem pela Terra o silêncio e a noite, quando tudo repousa nas moradas humanas, se erguemos os olhos para o infinito dos céus, lá veremos inumeráveis luzes disseminadas. Astros radiosos, sois flamejantes, seguidos de seus cortejos de planetas, rodopiam aos milhões nas profundezas. Até às regiões mais afastadas, grupos estelares se desdobram como esteiras luminosas. Em vão o telescópio sonda os céus, em parte alguma do universo encontra limites; sempre mundos sucedendo a mundos, e sois a sois; sempre legiões de astros multiplicando-se a ponto de se confundirem numa poeira brilhante nos abismos infindáveis do espaço. Quais as expressões humanas que poderiam descrever os maravilhosos diamantes do escrínio celeste? Sirius, vinte vezes maior que o nosso Sol, e este, a seu turno, equivalendo a mais de um milhão de globos terrestres reunidos; Aldebaran, Vega, Procyon, sois rosados, azuis, escarlates, astros de opala e de safira, vós que derramais pela extensão os vossos raios multicores, raios que, apesar da velocidade de setenta mil léguas por segundo, só nos chegam depois de centenas e de milhares de anos! E vós, nebulosas longínquas, que produzia sois, universos em formação, cintilantes estrelas, apenas perceptíveis, que sois focos gigantescos de calor, luz, eletricidade e vida, mundos brilhantes, esferas imensas, e vós, povos inumeráveis, raças, humanidades siderais que os habitais! Nossa fraca voz tenta em vão proclamar a vossa majestade, o vosso esplendor; impotente, ela se cala, enquanto o nosso olhar fascinado contempla o desfilar dos astros!

"Se, depois desse rápido olhar lançado sobre os céus, compararmos a Terra que habitamos aos poderosos sois que se balançam no éter, ela, a par deles, apenas nos aparecerá como um grão de areia, como um átomo flutuando no infinito. A Terra é um dos mais pequenos astros do céu. Entretanto, que harmonia em sua forma, que variedades em seus ornatos! Vede-lhe os continentes recortados; as penínsulas esguias e engrinaldadas de ilhas; vede-lhe os mares imponentes, os lagos, as florestas e os vegetais, desde o cedro que coroa o cimo das montanhas até à humilde florzinha oculta na verdura; enumerai os seres vivos que a povoam: aves, plantas, insetos, e reconhecereis que cada uma destas coisas é uma obra admirável, uma maravilha de arte e de precisão.

"E o corpo humano não é um laboratório vivo, um instrumento cujo, mecanismo chega à perfeição? Estudemos nele a circulação do sangue, esse conjunto de válvulas semelhantes às de uma máquina a vapor; examinemos a estrutura dos olhos, esse aparelho tão complicado que excede a tudo o que a indústria do homem pode sonhar; a construção dos ouvidos, tão admiravelmente dispostos para recolher as ondas sonoras; o cérebro, cujas circunvoluções internas se assemelham ao desabrochamento de uma flor. Consideremos tudo isso; depois, deixando o mundo visível, desçamos mais abaixo na escala dos seres, penetremos nesses abismos da vida que o microscópio revela; observemos esse formigar de raças e de espécies que confundem o pensamento. Cada gota d’água, cada grão de poeira é um mundo no qual os infinitamente pequenos são governados por leis tão exatas quanto as dos gigantes do espaço. Milhões de infusórios agitam-se nas gotas do nosso sangue, nas células dos corpos organizados. A asa de uma mosca, o menor átomo de matéria são povoados por legiões de parasitas. E todos esses animálculos são providos de aparelhos de movimento de sistemas nervosos, de órgãos de sensibilidade que os fazem seres completos, armados para a luta e para as necessidades da existência. Até no seio do oceano, à profundidade de oito mil metros, vivem seres delicados, débeis, fosforescentes, que fabricam luz e têm olhos para vê-la. Assim, em todos os meios imagináveis, uma fecundidade ilimitada preside à formação dos seres. A natureza está em geração perpetua. Assim como a espiga se acha em gérmen no grão, o carvalho na bolota, a rosa em seu botão, assim também as gêneses dos mundos se elaboram na profundeza dos céus estrelados, Por toda parte a vida engendra a vida. De degraus em degraus, de espécies em espécies, num encadeamento contínuo, ela se eleva dos organismos mais simples, mais elementares, até ao ser pensante e consciente, numa palavra, até ao homem." (“Depois da Morte”, LEON DENIS).

Pois bem, se sabemos perfeitamente que não há efeito sem causa; se é indiscutível que a causa do universo não pode ser o Acaso, pois este" se existisse, seria cego, ininteligente e aquele que obedece a leis sábias e imutáveis: se é certo, certíssimo, que o infinito não é, nem poderia ser, obra do homem, visto como preexistia à sua criação, assim como sobrexcede, de muito, às suas possibilidades, é claro, lógico, insofismável que o Criador desse Infinito há de ser alguém cuja grandeza e sabedoria sejam também infinitas e esse alguém só pode ser - DEUS!