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domingo, 16 de abril de 2017

Nótulas Espiritualistas XIII


Nótulas Espiritualistas - XIII
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Novembro  1955


            O alimento ideal para a alma evolucionante é a prática das virtudes cristãs. Os Evangelhos são os mais sábios e luminosos conselheiros da Humanidade por conterem mais sabedoria divina de que humana. Assim devem ser lidos, relidos e meditados pelo coração.

            A inteligência e à vontade compete dar-lhes vida e realidade, objetivando os seus redentores ensinamentos através de todas as vicissitudes da Vida, na plena compreensão das dores e sofrimentos cármicos.

*

            Pretender avançar para as iniciações esotéricas sem a devida preparação moral, intelectual e cultural, é correr o risco da borboleta fascinada pela chama ondulante que lhe servirá de sepulcro.

                                                                                   *

            Os mais terríveis inimigos da Humanidade são os maus pensamentos.

            Um pensamento vibrante de ódio, inveja ou vingança leva no seu âmago peçonha tão virulenta que pode contaminar no seu caminho, pelas suas perniciosas vibrações, legiões de almas descuidadas e desprevenidas, além do percipiente ou receptor a quem é individualmente dirigido, como o alvo direto do rancoroso agente emissor.

            Os maus pensamentos são mais nefastos para a Humanidade de que os mais pavorosos cataclismos, de que as epidemias mais mortíferas.

            Nem a covardia da distância, nem o secretismo que envolve os seus malignos agentes, poderão evitar as dolorosas consequências cármicas e, por vezes, o violento choque de retorno.

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            A Aura, a atmosfera envolvente e vibrante do homem real e interior, é o fiel espelho do psiquismo humano: ali se refletem todos os seus vícios e virtudes, o seu grau de evolução, todo o seu passado, presente e, por vezes, o futuro imediato quando existam causas latentes determinantes, prestes a explodirem.

            A Aura representa a síntese do caráter, aspirações e nível espiritual.

            A Aura é um maravilhoso e eloquente arquivo que raros na Ocidente sabem ler e interpretar. A sua morfologia e cromática são dignas de estudo, meditação e compreensão que só se podem obter por uma clarividência metodicamente desenvolvida, disciplinada e aplicada.

            A providencial Visão Panorâmica, à morte ou em perigo de morte, tem na Aura a sua inserção, mecanismo e projeção.

                                                                       *

            A instrução enriquece a inteligência,  tendo por pontos de apoio – ciências, filosofias e artes; a educação afina a moral do sentimento e da emoção, tendo por pontos de apoio - os Evangelhos, em espírito e verdade. O ideal é a sua dupla execução e harmonia.

            Só da Consciência moral deve surgir a Luz redentora que ilumine, oriente, selecione e assimile a cultura mental.

            O pletorismo científico contemporâneo, monista, agnóstico, autólatra,  é um dos fatores mais perniciosos para a Evolução espiritual da Humanidade.

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            O heroísmo moral sobreleva a todos os outros que se apoiem na bravura física.

            O heroísmo moral é tecido de sacrifício e abnegação, norteado por um nobre Ideal para o resgate e redenção da Humanidade, ideal que leva à santificação cristã.

            Um mata e destrói impiedosamente vidas; o outro redime almas, esclarece inteligências, conforta corações, encoraja aflitos, à Divina Luz do Cristo.

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            Para as almas sensíveis e evolucionadas não existe contentamento perfeito, nem alegria completa, enquanto houver sofrimento a acudir, lágrimas a enxugar.

            A Fraternidade cristã assim o impõe pelo cérebro e pelo coração. “Amar o próximo” é ascender para Deus.

Lisboa, 1955


Nótulas Espiritualistas XII


    Nótulas Espiritualistas - XII
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Setembro  1955

            O consagrado Mestre, A. Kardec, o excelente sistematizador e codificador do Espiritismo, foi tão profundo filósofo, quanto arguto e sutil investigador no vasto domínio da complexa fenomenologia supranormal anímica e espírita.

            O estudo metodológico do Espiritismo impõe a necessidade de iniciarmos esse estudo pelo Animismo. Assim, evitar-se-iam alguns erros de interpretação e lamentáveis confusões na Metapsíquica.

            Há um perfeito e completo paralelismo entre os fenômenos anímicos e espíritas. A alma que anima os encarnados, no seu estágio terrestre, é precisamente a mesma que anima os Espíritos desencarnados.

            Todos os fenômenos anímicos, sem exceção, se podem realizar sem a mínima intervenção de Espírito algum desencarnado. Mas já assim não sucede reciprocamente: todos os fenômenos espíritas exigem elemento de apoio e de ligação, baseado na mediunidade dum encarnado (Lei da exteriorização psíquica).

            A explicação está dentro da diferença que existe na constituição de encarnados e desencarnados. Estes têm a menos os corpos somático e vital, sendo comuns o perispírito ou corpo astral e a alma ou espírito.

            O elemento de ligação, entre os habitantes dos dois Mundos, não é como muitos supõem o perispírito, mas o duplo etérico ou corpo vital, corpo a que não se tem dado o devido relevo e importância dentro do Espiritismo (1). Deste fato têm resultado lamentáveis confusões entre certos investigadores indevidamente preparados. Por outro lado, alguns médiuns sérios e honestos têm sido, precipitadamente, acusados de mistificadores e fraudulentos (2).

            Infelizmente, existem ainda investigadores da fenomenologia supranormal que desdenham e depreciam os fenômenos anímicos, não obstante terem tanta ou mais importância de que os fenômenos espíritas.

            Seja como for, o fato irrefutável é que entre estas duas categorias de fenômenos supranormais existe um íntimo paralelismo dentro do seu experimentalismo e uma flagrante convergência para a demonstração da alma humana e da sua sobrevivência, objetivo dominante do Espiritismo.

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            Diminuto número de cientistas e filósofos souberam imprimir ao conceito de causalidade o realce e profundeza que lhe deu A. Kardec, aplicando-o ao vasto e transcendente Cosmos na sua magnificência e esplendor divinos: "todo efeito tem uma causa; todo efeito inteligente tem uma causa inteligente; o poder da causa inteligente está na razão direta da grandeza do efeito produzido.

            Dentro deste postulado, os termos aparentemente irredutíveis - Deus, o Homem e os Universos - unificam-se implicitamente, nos conceitos correlativos de causa e de efeito, opondo-se pela sua transcendente espiritualidade ao materialismo dialético e a todos os monismos ateístas e agnósticos, nefastos promotores da perversão da Humanidade.

            (1) Do autor - "Da Alma Humana" (Metapsicologia experimental) - 1950.
            (2) Do autor - "Da Fraude no Espiritismo Experimental".

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            O conceito de causalidade dentro da ciência oficial e da filosofia científica contemporânea, mais ou menos limitado na sua ação e duração. A sua repercussão e encadeamento é mínimo na relatividade do espaço e do tempo. Tem hiatos, soluções de continuidade, não ultrapassando as causas segundas. A sua profundidade e generalização não vão além da superfície dos fenômenos.

            Dentro das novas ciências da alma - o Animismo e o Espiritismo, de que o primeiro é o complemento natural do segundo - todos os fenômenos, inerentes às suas estruturas e finalidades, são causais e não casuais. O acaso é o biombo onde se oculta a nossa ignorância ou a má-fé.

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            O conceito da causalidade perante a ciência moderna tem indiscutivelmente um valor analítico; mas, por outro lado, não oferece ponto de apoio seguro e válido para a interpretação da dualidade irreversível - Vida e forma, Espírito e matéria, Real e transitório,  Permanente e efêmero. A confusão é tremenda.

            Na Sabedoria antiga prevalecia a síntese, ponto de partida para a abstração e generalização dos princípios fundamentais dos mais transcendentes problemas espirituais.

            A ciência contemporânea, roída e falsificada por um monismo materialista e ateu, não ultrapassa os curtos limites da matéria inerte passiva.

                                                                                  *

            Os fenômenos supranormais - supranormais no ponto de vista da Vida terrestre, mas normalíssimos e absolutamente necessários e indispensáveis na atividade da vida astral e dos Mundos superiores - obtidos neste planeta pelo método positivo da observação e da experimentação, no seu complexo polimorfismo e transcendente finalidade, expressa na nossa evolução espiritual, devem ser estudados dentro dum critério isento de todos os dogmas científicos, e expurgado de todos os fanatismos religiosos.

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            É um crime de lesa-humanidade e nefando atentado à consciência científica, alguns investigadores de talento, mas de reconhecida má-fé, animados de prevenções mais de que suspeitas, deturparem e perverterem o alto, redentor e progressivo significado dos fenômenos supranormais inerentes ao Espiritismo, o mais vigoroso adversário do materialismo e do ateísmo, precisamente os maiores inimigos da Verdade e da Evolução, no seu sentido redentor e cristão.

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            O Espiritismo, anti-dogmático e anti-litúrgico, ainda que respeite todas as religiões e reprove todos os fanatismos, impõe uma Moral que se radica no coração e floresce na inteligência, tendo por fundamento a Lei do duplo amor divino e humano, apostolizada e exemplificada por Jesus-Cristo no "Amor do próximo".

            O Amor é a essência da Vida e a alma máter de toda a Evolução espiritual. Seguir Jesus é subir para Deus.
                                                                                                                      Lisboa, 1955.

sábado, 15 de abril de 2017

Nótulas Espiritualistas XI



  Nótulas Espiritualistas - XI
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Julho  1955


            Para que o Homem não se desorientasse e se perdesse no caminho obscuro e tortuoso, salpicado das mais ruins tentações e astrais, Deus, na sua Previsão infalível, acendeu lhe dois faróis, cuja luz fecunda e resplandecente deveria dissipar as trevas mais densas e profundas do seu cérebro; as hesitações mais prementes e perigosas do seu coração: as Ciências e as Religiões.
            Em verdade, todo o psiquismo humano gravita em volta da inteligência e do sentimento; do cérebro e do coração; da consciência e da emoção.
            Criando as Ciências, Deus quis subministrar conhecimento à Humanidade, iluminando lhe a percepção intelectual, a fim de conduzir o Homem à conquista da Verdade.
            Instituindo as Religiões, Deus pretendeu educar lhe o sentimento e a emoção na via do altruísmo, da fraternidade, do amor do próximo, levando o Homem à persuasão de que toda a humanidade tem a mesma origem e finalidade divinas, portanto são solidários num mesmo Destino glorioso e divino, através do angustiante e doloroso calvário cármico.

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            Às Ciências e Religiões competia, pois, o indeclinável dever de instruir e educar esta humanidade, pela inteligência e pelo sentimento, no caminho do progresso mental e espiritual, dinamizando o potencial divino contido na sua alma eterna e imortal, no Seu ascenso para a sua pátria de origem - o Reino de Deus - pelo amor e caridade.

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            Esta nobre e gloriosa missão, tanto por parte das Ciências como das Religiões, foi incompreendida, frustrada, e, até certo ponto, pervertida com negras e sórdidas traições, determinadas por interesses e vaidades dignos das mais acerbas censuras.
            Dum paraíso em potência, onde devia reinar a Paz, a Verdade e a Justiça, fizeram surgir à tona da vida terrestre os mais desenfreados vícios, ódios e paixões, as mais grosseiras e degradantes ambições de mando e prepotências.

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            As divergências e antagonismos entre a Ciência e as Religiões, levados até o paroxismo da intolerância e de repetidas lutas sangrentas, fomentadas pelo fanatismo e soberba, têm provocado a instabilidade e depravação social; a estagnação e retrocesso moral da Humanidade, com o manifesto e arrepiante triunfo do ateísmo e da indiferença religiosa. Neste ambiente de confusão e de inversão dos mais luminosos e fecundos princípios morais e cristãos, tem-se levantado a pavorosa tormenta do egoísmo mais depravado e anti-humano, expresso nos mais rancorosos e asfixiantes movimentos centrípetos dentro dum individualismo feroz, ancestral e agressivo.

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            A Humanidade, despida da sua inata espiritualidade, repudiando sacrilegamente o Amor e a Justiça do seu Divino Criador; regressa, através dum atavismo multimilenário, à selva onde só reina a força do bruto, do troglodita, e a astúcia e o ardil dos répteis.
            Pior do que as feras, os homens, irmãos pela sua origem e destino divinos, trucidam-se sem dó nem piedade, aos milhões, movidos por ambições satânicas, pelo prazer diabólico da destruição e do domínio despótico e absorvente, transformando homens em escravos, criando um novo ergástulo repleto de sofrimento e de dor, cerrando os olhos do espírito à cintilante claridade regeneradora dos Evangelhos; calcando desabridamente aos pés as redentoras e divinas Leis da Fraternidade, do Amor e da Justiça.

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            No bendito e luminoso dia em que Ciências, Religiões e Filosofias se compreendam na sua dupla e paralela finalidade, sem choques nem atropelos; abraçando-se num mútuo e redentor auxílio e cooperação; animadas dum profundo, sincero e leal entendimento espiritual, triangulado nos universais conceitos : - DEUS, ESPÍRITO, VIDA ETERNA -, a Humanidade recuperará o tempo perdido; resgatará os erros e incompreensões passados, gastos perdulariamente, contraproducentemente, em atrozes lutas sangrentas e retaliações fratricidas. Então, pelo sofrimento dominadas, aceitarão por Código o divino Sermão da Montanha e por regra inviolável de comportamento o amor do próximo.
            Eis a salvação.

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            É nos clarividentes e profundos versículos desse monumento imorredouro, com irradiação mundial, de beleza sem par - O DIVINO SERMÃO DA MONTANHA -, foco resplandecente de abnegação e de altruísmo, de amor e de humildade cristã, donde brota “a água viva”, que regenera e purifica, apagando ódios e dissensões, implantando o Reino de Jesus, ditando uma só lei: a divina Lei do Amor (1).

*

            Compete ao Espiritismo, pelo seu duplo caráter - científico e cristão - a gloriosa,  redentora e humanitária missão, neste ciclo evolutivo, de combater a crise pavorosa de perversão moral que asfixia e desvaira esta Humanidade turbulenta e descrente, ligando, fraternal e cristãmente - Ciências, Religiões e Filosofias - num bloco solidário e progressivo, animado dum mútuo auxílio e compreensão onde vibre, para todas as inteligências, para todos os corações, a trindade augusta e divina: - o Bem, o Belo, a Verdade - à luz cintilante do Espírito Universal, tendo por medianeiro o Evangelho de Jesus, o Cristo de Deus.

Lisboa, 1955.
(1) Do "Sermão da Montanha":

            Amai a vossos Inimigos, fazei bem aos que vos têm ódio, e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para serdes filhos de vosso Pai que está nos céus, e fez nascer o sol sobre bons e maus e vir chuva sobre justos e injustos. - (Mateus V 44-45)

            Não queirais entesourar para vós tesouros na Terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e onde os ladrões os desenterram e roubam; mas entesourai para vós tesouros no Céu, onde não os consome a ferrugem nem a traça, e onde os ladrões não os desenterram, nem roubam.  (Mateus VI 19-20)

            Não queirais julgar, para que não sejais julgados, pois, com o juízo que julgardes, sereis julgados, e com a medida que medirdes, vos medirão também a vós. (Mateus VIl  I-2)


            Tudo o que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o também vós a eles, porque esta é a lei e os profetas. (Mateus VII, 12)

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Nótulas Espiritualistas X




    Nótulas Espíritualistas - X
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Junho  1955


            Corta as asas à tua alma quando não te conduzirem para Deus.

                                                                                  *

            No Universo, como na música, só há vibrações, ritmo e harmonia, quando o homem não desafina.

                                                                                  *

            Ocupamo-nos excessivamente com a higiene do corpo, mas descuramos a higiene da nossa alma, a parte mais nobre, influente e divina da individualidade eterna e responsável.
            A oração, a prece, fervorosas e sentidas, pedindo mais para o nosso próximo de que para nós próprios, são o melhor preventivo do pecado e das ruins tentações, tanto internas, como externas.

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            Não nos preocuparemos e até perdoaremos o desprezo dos soberbos e a maledicência dos ingratos, se vivermos no luminoso caminho da virtude, iluminados pela graça de Deus, e fiéis aos princípios de Jesus.

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            Vitoriosos ou derrotados, defendamos sempre os fracos, os perseguidos, os vencidos e os desalentados.
            No bom combate a derrota é sempre uma vitória do espírito sobre a matéria, seja perfurando montanhas, seja combatendo déspotas.
            Na dor alheia, sejam quais forem as causas que a condicionem, mais devemos avigorar o nobre sentimento da fraternidade e da compaixão que Jesus proclamou e exemplificou, levando-lhe o lenitivo do nosso conforto.
*

            Os déspotas podem escravizar e torturar os corpos das suas vítimas; mas não dominam as almas dos homens honestos e valorosos que saibam defender um nobre e redentor ideal onde palpite o espírito de sacrifício, de abnegação e de fraternidade cristã. Lutar pela Liberdade e Justiça é a melhor prece que podemos oferecer a Deus.

                                                                                  *

            Cada vida terrena é simultaneamente uma colheita e uma sementeira. Colhemos no presente o que semeamos no passado, em nossas múltiplas vidas pretéritas; semeamos no presente o que colheremos, irremediavelmente, nas vidas futuras, nesses ciclos infindos de preexistências e sobrevivências, de Mundo para Mundo, na trajetória ascendente da nossa evolução espiritual.
            "Faze sempre o Bem e não olhes a quem." Só procedendo, assim, invariavelmente, poderemos evitar dores e sofrimentos no encadeamento das vidas terrestres.
            Só podemos colher a felicidade que tivermos proporcionado aos nossos semelhantes neste tumultuar tenebroso das perversas paixões humanas.

                                                                                  *

            A suprema Lei da causalidade psíquica (o Carma), na qual está consubstanciada a Justiça Divina, a universal Justiça lmanente, está viva e flagrantemente expressa em alguns dos nossos adágios: “se semearmos ventos, colheremos tempestades", “quem semeia cardos, colhe espinhos!”
            Jesus, o lídimo representante de Deus em nosso Planeta, enunciou-a no Monte das Oliveiras, intimando o apóstolo Pedro a embainhar a espada: “quem com ferro mata, com ferro morre.”
            A resignação às injustiças, e o perdão aos agressores, constituem das mais belas e redentoras virtudes cristãs.

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            A Lei cármica é justa, mas inflexível na sua estrutura e mecanismo, ligando logicamente, com mão de ferro, o efeito à causa determinante.
            A sua finalidade não representa castigos de Deus; apenas corretivos paternais para a compreensão das Leis divinas, de amor, de perdão e de fraternidade, que não soubemos respeitar em vidas anteriores. O bendito e justiceiro carma não é um castigo; mas uma lição proveitosa.

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            O inexorável carma só procura elucidar o prevaricador pela dor e sofrimento a fim de lhe provocar o arrependimento, a regeneração cristã e a reparação dos prejuízos morais ou materiais com que tenha, por egoísmo ou malvadez, prejudicado os seus semelhantes.

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            O carma, tão mal apreciado e pior compreendido, atuando sobre todas as Humanidades, sobre todo o Cosmos, é o principal motor e orientador de todo o progresso material, de toda a evolução espiritual, entrelaçando passado, presente e futuro das coisas e das Humanidades.
            Abençoado seja o carma pelo seu indomável poder depurador e impulsão evolutiva, conduzindo todos os pecadores, os criminosos mais empedernidos, a porto de salvamento, abrindo-lhes a rutilante e compreensiva aurora do arrependimento e da reparação no rotativismo alienante das vidas terrestres e astrais. Eis a vitória e conquista redentora da virtude sobre o pecado, através do calvário cármico.

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            O Homem, ao transpor a aurifulgente e vitoriosa passagem da animalidade para a Humanidade, conquistou as inestimáveis e preciosas dádivas divinas: a inteligência racional em troca do instinto; e a consciência moral, donde resultaram as fundamentais bases da sua eterna individualidade: o livre-arbítrio e, como corolário, a responsabilidade.
            Os animais, nossos irmãos mais novos no quadro da Evolução geral, são seres instintivos, logo irresponsáveis; o homem, tendo ascendido por esforço próprio, depois de centenas de milhões de anos passados na animalidade e noutros Reinos inferiores da Natureza, à culminância mais elevada da escala da Criação, acabou por conquistar as duas supremas aspirações indispensáveis para o seu progresso espiritual: a liberdade e consequentemente a responsabilidade perante Deus e perante a Humanidade.

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            No estado tenebroso, confuso, desvairado, que envolve toda a nossa Humanidade, impulsionada pelos mais perversos vícios e paixões, irrompendo brutalmente do seu atavismo animal, só há um dique a opor a esta torrente caudalosa, um Luzeiro para iluminar a sua inteligência, um bálsamo para amenizar o seu coração, um poderoso antídoto para aniquilar os venenos que perversos mentores lhe têm infiltrado no cérebro e no coração - o Cristo, o Senhor do Amor e da Compaixão.

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            A Doutrina de Jesus é um sol que ilumina e esclarece as inteligências e purifica as almas, Jesus-Cristo é um sol refulgente e radiante; um sol sem Poente nem Ocaso, eterno na sua pura essência divina.

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            A Doutrina de Jesus é, por excelência, a via luminosa do resgate e da redenção; é o mais curto e cintilante caminho que nos pode conduzir a Deus.
            Servir a Jesus, de alma e de coração, é integrarmo-nos no nobre sentimento da Fraternidade humana, foco orientador da nossa Evolução espiritual, desfolhando-se em amor e compaixão.
            Só pelo Amor e Fraternidade esta Humanidade pode salvar-se dos perigos e abismos insondáveis que tem abertos, escancarados,  a seus pés.

Lisboa - 1955.


segunda-feira, 10 de abril de 2017

Nótulas Espiritualistas IX


  Nótulas Espiritualistas - IX
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Abril  1955


            A estrutura científica do Espiritismo, baseada no seu experimentalismo mediúnico, supranormal - mas não sobrenatural -, não tem similar nos outros sistemas espiritualistas, quer religiosos, quer filosóficos, antigos e modernos, tudo está dito e redito, dentro das abstrações mais abstrusas e dos dogmas mais inconsistentes e absurdos.

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            Este seu caráter positivo e experimental é baseado e orientado no método oficial adotado pelas ciências clássicas contemporâneas, desde a Física nuclear à Mecânica ondulatória e à assombrosa Cibernética, a nova ciência das máquinas de calcular e dos cérebros eletrônicos, devida ao gênio do prof. N. Wiener.

            É possível que a célebre concepção do “homúnculo” dos alquimistas medievais tenha certas analogias com as extraordinárias e imprevistas descobertas e inovações do sábio prof. N. Wiener. Mesmo a decantada "pedra-filosofal" dos antigos alquimistas, para a realização da transmutação da matéria, encontra, na época atual, franco apoio na moderna Atomística e na Microfísica.

            Em verdade, as novas Ciências dos nossos dias reabilitaram os misteriosos ocultistas e alquimistas das épocas passadas, tantas vezes ridicularizados e alcunhados de alucinados e visionários. Tal como está sucedendo com o Espiritismo em certos meios universitários, materialistas e agnósticos, dominados pela idolatria da matéria, pelo egocentrismo, pela autolatria.     

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            Sejam quais forem a oposição e agressividade por parte dos dogmáticos, tanto da ciência, como das religiões, contra a verdade científica que encarna o Espiritismo - a nova Ciência da alma humana -, os fatos espíritas experimentais, de repercussão mundial, asseguram uma vitória plena e completa, mesmo dentro deste período histórico, embora, por enquanto, nos encontremos obscurecidos e esmagados por uma tremenda crise moral. Mas a aurora redentora surgirá.

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            Todos os espíritas conhecedores da teoria e prática do seu renovador e progressivo ideal, tem razões fortes e a convicção científica profunda no triunfo definitivo e na vitória final. O essencial é tornar conhecida a beleza intelectual e moral da Doutrina Espírita.

            O triunfo final será encurtado, desde que se intensifique uma propaganda espírita com método, pela inteligência e pelo coração.

            Todos os espíritas temos o indeclinável dever de libertar a Humanidade dos preconceitos e prevenções científicas falsamente orientados num grosseiro e pernicioso monismo agnóstico; e; simultaneamente, dos dogmas e obscurecimento das religiões tradicionais, ainda aferradas ao antropomorfismo e ao geocentrismo, arcaicos conceitos, tão absurdos quanto sacrílegos, despidos de toda a beleza moral, incompatíveis com o progresso científico e com a evolução espiritual.

                                                                                  *

            O Espiritismo, essencialmente evolutivo, espiritual e anti-dogmático, jamais se petrificará nos melhores conceitos que resultem das suas observações e experiências, porque o seu labor na investigação e no raciocínio experimental será contínuo, tenaz e progressivo no estudo e análise do potencial divino contido na alma humana, para onde converge o máximo esforço da sua atenção e atividade, orientadas no método positivo  comum a todas as ciências.

            Em suma, o Espiritismo é medularmente experimental e evolutivo, pela sua natureza positiva, pela sua estruturação e mecanismo objetivos, isento de obscuras abstrações, rico em consequências universais cósmicas, e demonstrativamente concludente no destino e trajetória da alma através dos seus ciclos reencarnacionistas ou palingenésicos e cármicos.

                                                                                  *

            A indiferença religiosa tem-se alastrado torrencialmente por toda a parte como caudal satânico, onde pontificam e imperam as decadentes religiões confessionais, ao contrário do que sucede no Oriente onde o fanatismo, por vezes sangrento, é a nota dominante através das suas variadas religiões e das centenas de seitas delas derivadas.

            Mas o Oriente, com todos os seus fanáticos excessos e as perversões dum mórbido ascetismo, não perdeu o nobre sentido do Divino nem o dignificante sentimento religioso; como sucede, infeliz e desoladoramente no Ocidente, onde predomina o artificial esnobismo religioso e o ateísmo mais degradante e agressivo.

                                                                                  *

            Só trabalhando e agindo de harmonia com o Divino Plano da Criação - que, em síntese gloriosa e redentora, é expresso na magnânima e excelsa Lei da Evolução no seu sentido integral (físico e espiritual, Vida e forma, Consciência e matéria), abrangendo todo o potencial psíquico-, a Humanidade poderá seguir a linha de menor resistência para o seu progresso anímico, através de todos os planos cósmicos.

                                                                                  *

            O egoísmo e o orgulho são os mais poderosos inimigos do nosso progresso espiritual, fomentando ódios implacáveis, impulsionando atrozes vinganças, despertando ambições criminosas, em que se debate e se digladia angustiosamente esta desvairada Humanidade num turbilhão de descrença e ateísmo, de perversão e imoralidade.

            Só pela prática da humildade e do altruísmo, pela renúncia própria e amor do próximo, será possível vencer tão rigorosos e astutos adversários, reforçando por ardentes e sentidas preces esses bons propósitos.

                                                                                  *

            A prece fervorosa é um dos melhores canais por onde descem os eflúvios da Misericórdia Divina, trazendo-nos, por resposta, em ondulações de fé e de esperança, a resignação e a coragem para vencermos as atribulações cármicas inerentes à Vida terrestre, para reparação e ensinamento de erros e dívidas provenientes de Vidas passadas.

            Bendita seja a Dor quando sentida e compreendida, como antídoto dos nossos vícios e más paixões, corrigindo-os e transmutando-os em virtudes cristãs.


Lisboa, 1955.

Nótulas Espiritualistas VIII


 Nótulas Espiritualistas - VIII
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Março  1955

            Perante as tradicionais religiões ocidentais, o estudo da alma humana não tem ido além de ingênuas concepções abstratas, desfigurando todo dinamismo através de dialéticas abstratas de dogmas absurdos, de sofismas inconsistentes, considerando a alma humana duma imaterialidade irreal, inconcebível, sem estrutura substancial, sem conteúdo objetivo, sem a devida elevação espiritual.

            A alma, assim considerada, é um mero e insubsistente produto de especulação racionalista, sem base científica ou experimental quer para as religiões dogmáticas, quer para as filosofias gnósticas e espiritualistas.

                                                                                  *

            Quanto às Ciências, que, por sua natureza, deveriam ser os expoentes máximos da mentalidade humana, pelo seu caráter fanaticamente materialista, pela sua errônea orientação ateísta e e agnóstica, a alma humana foi excluída, escorraçada, de toda a sua atividade, lançada, num repelão de ódio e de revindita pelas antigas perseguições inquisitoriais e do "Index", a um degradante ostracismo que só o Espiritismo soube reabilitar, impondo ao estudo da alma humana o método positivo oficial: a observação e a experimentação, através da sua riquíssima aquisição dos transcendentes fatos supranormais que vão desde a dissociação e exteriorização do duplo (bicorporeidade, bilocação ou auto-telediplosia), à ectoplasmia, representativa das materializações dos espíritos desencarnados sem aqui registar as inúmeras e variadas modalidades das mediunidades, quer anímicas, inerentes aos vivos ou encarnados, quer relativas aos falecidos, os espíritos desencarnados, cuja autenticidade está demonstrada mundialmente por sábios de consagração universal, desde W. Crookes a Oliver Lodge e Hans Driesch, e muitos outros, precisamente por aqueles que mais contribuíram para as descobertas contemporâneas mais sensacionais.

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            Seria suficiente a dissociação e exteriorização do duplo humano para comprovar, científica e experimentalmente, a existência da alma humana, e até, mesmo, a sua sobrevivência.

            Tanto a Psicologia como a Biologia têm de ser fatalmente, necessariamente, refundidas nas suas melhores teorias, e depuradas dos erros tremendos que as condicionam e orientam. O mesmo critério terá de ser seguido em outras Ciências e Filosofias, por imposição dos fenômenos mediúnicos relatados e demonstrados pelo experimentalismo inerente ao Espiritismo, que, em última análise, é a Ciência da alma humana.

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            Anteriormente ao Espiritismo, toda a crença na alma humana era fundada numa frágil fé passiva, rebaixada, por vezes, ao mais ignaro e sórdido fanatismo, donde resultaram as guerras mais sangrentas, canibalescas e impiedosas que enlataram, de atrozes ódios e vinganças, alguns capítulos da História da Civilização, nomeadamente na Época Medieval, onde a Igreja atingiu o fastígio do poder, e das mais hediondas e nefastas perseguições, de que foram vítimas indefesas alguns dos sábios de consagração mundial.

            À Inquisição está ligado o período histórico dos mais abomináveis crimes perpetuados pela Igreja, despida de toda a sensibilidade moral, tripudiando, em alucinações macabras, sobre esse poema de Luz e de Amor que irradia, em clarões
divinos, dos Evangelhos.

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            E por detrás de densas espirais de incenso, de burlescos ritualismos de origem pagã, sem profundeza intelectual nem elegância moral, a Igreja defendeu “a ferro e fogo" os seus caprichos de atrozes vinganças, os seus mais sórdidos interesses e vilanias, usurpando a honra, a dignidade e a riqueza de muitos que não se curvaram, nem aos seus dogmas e arbítrios, nem às suas prepotências e retaliações.

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            E neste sinistro obscurantismo, neste sacrílego malabarismo de mistificação religiosa, se consumiram os últimos séculos, com manifesto triunfo e expansão para o materialismo ateísta, defendido e proclamado em todas as universidades, arrastando os povos para a descrença e indiferença religiosa, com todo o seu fúnebre cortejo de desmandos e de desenfreada animalidade atávica, sem ação espiritual frenadora, eliminados os sentimentos de fraternidade e solidariedade. “O homem transformado no lobo do homem" - provocando-se, assim, uma das maiores calamidades dos tempos modernos, num desequilíbrio desconcertante entre os progressos materiais conquistados pela Ciência e o retrocesso moral em que periclita a dignidade humana, enlouquecida e desvairada por ambições e interesses inqualificáveis, mas opondo um formidável entrave ao progresso espiritual da Humanidade.

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            Nós, neo-espiritualistas, apelemos para Jesus, o Cristo de Deus, o Senhor do Amor e da Compaixão, o exemplo vivo para os desvairados fazerem volta-face às suas paixões vergonhosas e egoísticas, perversas e depravadas, entrando no luminoso e redentor caminho do arrependimento e da regeneração espiritual e cristã.

            A Humanidade só tem um caminho digno de conduzi-la a Deus: seguir a santa e refulgente doutrina de Jesus, o filho dileto de Deus; seguir a sua santa e regeneradora  Doutrina de perdão e de amor, de verdade e de misericórdia; só assim poderemos avançar para a conquista da Paz interna e externa, antevendo a suprema felicidade do dever cumprido, a almejada tranquilidade da consciência.

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            A Vida seria uma incógnita insolúvel, regida pela mais monstruosa injustiça - indo da predestinação à graça -, se não existissem as duas leis, progressivas e reparadoras, justas e sábias, que dominam toda a Vida, toda a suprema Evolução: a Lei Reencarnacionista, ou das vidas sucessivas, alternantes de Mundo para Mundo, e a Lei Cármica ou da causalidade psíquica, regendo e orientando, com sabedoria e justiça, a trajetória desse movimento cíclico de regeneração e de progresso espiritual.

            A divina Lei da Evolução, assim compreendida, é magnânima e excelsa Lei de Amor, de Sabedoria e de Salvação. Os mais reincidentes pecadores, os mais abjetos criminosos, serão salvos pelo mecanismo, estrutura e dinamismo da bendita Lei da Evolução.

Lisboa, 955.


Nótulas Espiritualistas VII


 Nótulas Espiritualistas - VII
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Fevereiro  1955

            Pela sua pureza e estrutura antilitúrgica e antidogmática; pela sua ação decisiva no ressurgimento espiritual da Humanidade; pelo seu mecanismo essencialmente científico e cristão, o Espiritismo merece uma ativa e bem orientada propaganda. É este um dever indeclinável para os seus adeptos - que se contam mundialmente por milhões - a fim de iluminarem, em bases científicas, as mentalidades obscurecidas pelo materialismo ateísta e agnóstico, e, ainda, dulcificar, pela bondade e abnegação, os corações empedernidos pelo orgulho e egoísmo, frutos venenosos da indiferença religiosa e do maligno e antiprogressivo egocentrismo.
           
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            A moral espírita impõe-se como a lógica resultante de toda a operatividade do Espiritismo,  confirmando em bases científicas a Lei áurea do amor - divino e humano - enunciada e exemplificada por N. S. Jesus-Cristo no seu memorável e imarcescível Sermão da Montanha, que constituirá, num longínquo futuro, o Código universal para toda a Humanidade.

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            A moral espírita assenta em duas colunas basilares, superando o espaço e o tempo pela sua natureza divina, donde deriva o seu caráter ecumênico, universalista: a Lei do divino amor, a Lei da fraternidade humana, leis que dominam e impulsionam toda a Evolução no seu máximo esplendor e integralidade. Leis que, num distante período histórico, se hão de radicar nos corações e frutificar nas inteligências de toda a Humanidade, num íntimo e estreito amplexo de altruísmo, base de toda a fraternidade.
           
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            Tanto a Lei da fraternidade como a Lei da Solidariedade, sua complementar, são leis de resgate e de redenção, cuja aplicação é essencialmente evolutiva, mas só compreensíveis por aqueles já chegados a um estado de elevação espiritual. Cada uma destas leis tem um significado próprio e uma esfera de ação determinada: a Lei de fraternidade e de natureza divina, expressão do puro amor ao próximo; enquanto que a Lei de solidariedade é de natureza humana, consubstanciada no mutualismo, na reciprocidade  de serviços.

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            A Lei da fraternidade traduz a mesma origem e finalidade divinas para toda a Humanidade, irmanando todas as criaturas; sejam quais forem as suas diferenciações físicas (somáticas) ou espirituais, unindo-as pelo afetuoso e altruísta sentimento fraternal; entrelaçando-as pelo coração, pela afetividade, como membros duma mesma Família, com um Pai comum - o supremo Criador. Nem vícios nem virtudes podem renegar a mesma origem e destino da grande Família humana.

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            A Lei da solidariedade tem um pronunciado caráter humano, algo mecanizado e mercantil. Enquanto a Lei de fraternidade é toda natural, tecida de abnegação e altruísmo, inata no homem, mas paralisada pelo orgulho e egoísmo, a Lei de solidariedade é artificial, imposta não por Deus, mas por imperiosas necessidades sociais de auxílio mútuo.

            Logo que o sentimento de fraternidade, no seu alto significado espiritual, domine toda a Humanidade num surto ascensional para Deus - o seu Criador -, a solidariedade, no seu significado social, tornar-se-á inútil e desnecessária.

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            De fato, a Humanidade é solidária coletivamente, tanto no Bem como no Mal, isto é, quer no sentido da divina Evolução, lei fundamental do Cosmos, quer contrariando-a no sentido oposto e regressivo - Eis o MAL.

            Todos recebemos o fluxo e o refluxo das ações benéficas ou maléficas dos nossos semelhantes, componentes desta Humanidade, incluindo a repercussão de todos os seus pensamentos visíveis e invisíveis.

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            É hoje fato assente e incontroverso a telepatia e outras modalidades telepsíquicas.

            A mínima vibração mental ou emocional propaga-se além, muito além, do círculo restrito e limitado do seu produtor, através do éter onipresente, em que as vibrações do psiquismo humano ultrapassam, por vezes, oceanos e continentes. A Mecânica ondulatória é uma ciência deste século a que o Espiritismo não é estranho. Somos, pois, solidários em todas as manifestações da atividade humana, porque todas essas atividades, na sua variedade ao infinito, têm de partir do pensamento, fonte germinal de todos os empreendimentos físicos, intelectuais e emocionais.

            O progresso da Humanidade é a lógica resultante da fusão e entrelaçamento dos pensamentos de toda a coletividade, de todos os membros da Família humana, com as suas características e discriminações, com os seus choques e contra choques, com as suas ações e reações.

            Donde se conclui o dever sagrado de vigiarmos todos os nossos pensamentos e emoções dentro da ética cristã, a fim de não contaminarmos todos aqueles que, perto ou longe, possam receber o influxo vibratório dos nossos vícios e degradantes paixões.
            "Dize-me o que pensas, dir-te-ei o que vales."

                                                                                                                                 Lisboa, 1955.

Nota do Blog: A partir desse artigo, os textos ganham sua numeração. Não encontramos nenhuma artigo numerado e com data anterior a Fevereiro de 1955.