Nótulas Espiritualistas - XI
Dr. Antônio J.
Freire
in Reformador (FEB) Julho 1955
Para que o Homem não se desorientasse
e se perdesse no caminho obscuro e tortuoso, salpicado das mais ruins tentações
e astrais, Deus, na sua Previsão infalível, acendeu lhe dois faróis, cuja luz
fecunda e resplandecente deveria dissipar as trevas mais densas e profundas do
seu cérebro; as hesitações mais prementes e perigosas do seu coração: as
Ciências e as Religiões.
Em verdade, todo o psiquismo humano
gravita em volta da inteligência e do sentimento; do cérebro e do coração; da
consciência e da emoção.
Criando as Ciências, Deus quis
subministrar conhecimento à Humanidade, iluminando lhe a percepção intelectual,
a fim de conduzir o Homem à conquista da Verdade.
Instituindo as Religiões, Deus
pretendeu educar lhe o sentimento e a emoção na via do altruísmo, da
fraternidade, do amor do próximo, levando o Homem à persuasão de que toda a humanidade
tem a mesma origem e finalidade divinas, portanto são solidários num mesmo Destino
glorioso e divino, através do angustiante e doloroso calvário cármico.
*
Às Ciências e Religiões competia,
pois, o indeclinável dever de instruir e educar esta humanidade, pela
inteligência e pelo sentimento, no caminho do progresso mental e espiritual,
dinamizando o potencial divino contido na sua alma eterna e imortal, no Seu
ascenso para a sua pátria de origem - o Reino de Deus - pelo amor e caridade.
*
Esta nobre e gloriosa missão, tanto
por parte das Ciências como das Religiões, foi incompreendida, frustrada, e,
até certo ponto, pervertida com negras e sórdidas traições, determinadas por
interesses e vaidades dignos das mais acerbas censuras.
Dum paraíso em potência, onde devia
reinar a Paz, a Verdade e a Justiça, fizeram surgir à tona da vida terrestre os
mais desenfreados vícios, ódios e paixões, as mais grosseiras e degradantes
ambições de mando e prepotências.
*
As divergências e antagonismos entre
a Ciência e as Religiões, levados até o paroxismo da intolerância e de
repetidas lutas sangrentas, fomentadas pelo fanatismo e soberba, têm provocado
a instabilidade e depravação social; a estagnação e retrocesso moral da
Humanidade, com o manifesto e arrepiante triunfo do ateísmo e da indiferença
religiosa. Neste ambiente de confusão e de inversão dos mais luminosos e
fecundos princípios morais e cristãos, tem-se levantado a pavorosa tormenta do
egoísmo mais depravado e anti-humano, expresso nos mais rancorosos e
asfixiantes movimentos centrípetos dentro dum individualismo feroz, ancestral e
agressivo.
*
A Humanidade, despida da sua inata
espiritualidade, repudiando sacrilegamente o Amor e a Justiça do seu Divino
Criador; regressa, através dum atavismo multimilenário, à selva onde só reina a
força do bruto, do troglodita, e a astúcia e o ardil dos répteis.
Pior do que as feras, os homens,
irmãos pela sua origem e destino divinos, trucidam-se sem dó nem piedade, aos
milhões, movidos por ambições satânicas, pelo prazer diabólico da destruição e
do domínio despótico e absorvente, transformando homens em escravos, criando um
novo ergástulo repleto de sofrimento e de dor, cerrando os olhos do espírito à
cintilante claridade regeneradora dos Evangelhos; calcando desabridamente aos
pés as redentoras e divinas Leis da Fraternidade, do Amor e da Justiça.
*
No bendito e luminoso dia em que
Ciências, Religiões e Filosofias se compreendam na sua dupla e paralela
finalidade, sem choques nem atropelos; abraçando-se num mútuo e redentor
auxílio e cooperação; animadas dum profundo, sincero e leal entendimento
espiritual, triangulado nos universais conceitos : - DEUS, ESPÍRITO, VIDA
ETERNA -, a Humanidade recuperará o tempo perdido; resgatará os erros e
incompreensões passados, gastos perdulariamente, contraproducentemente, em
atrozes lutas sangrentas e retaliações fratricidas. Então, pelo sofrimento
dominadas, aceitarão por Código o divino Sermão da Montanha e por regra
inviolável de comportamento o amor do próximo.
Eis a salvação.
*
É nos clarividentes e profundos
versículos desse monumento imorredouro, com irradiação mundial, de beleza sem
par - O DIVINO SERMÃO DA MONTANHA -, foco resplandecente de abnegação e de
altruísmo, de amor e de humildade cristã, donde brota “a água viva”, que
regenera e purifica, apagando ódios e dissensões, implantando o Reino de Jesus,
ditando uma só lei: a divina Lei do Amor (1).
*
Compete ao Espiritismo, pelo seu
duplo caráter - científico e cristão - a gloriosa, redentora e humanitária missão, neste ciclo evolutivo,
de combater a crise pavorosa de perversão moral que asfixia e desvaira esta
Humanidade turbulenta e descrente, ligando, fraternal e cristãmente - Ciências,
Religiões e Filosofias - num bloco solidário e progressivo, animado dum mútuo
auxílio e compreensão onde vibre, para todas as inteligências, para todos os
corações, a trindade augusta e divina: - o Bem, o Belo, a Verdade - à luz
cintilante do Espírito Universal, tendo por medianeiro o Evangelho de Jesus, o
Cristo de Deus.
Lisboa, 1955.
(1) Do
"Sermão da Montanha":
Amai a vossos Inimigos, fazei bem aos que vos têm ódio,
e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para serdes filhos de vosso Pai que
está nos céus, e fez nascer o sol sobre bons e maus e vir chuva sobre justos e
injustos. - (Mateus V 44-45)
Não queirais entesourar para vós tesouros na Terra,
onde a ferrugem e a traça os consomem, e onde os ladrões os desenterram e
roubam; mas entesourai para vós tesouros no Céu, onde não os consome a ferrugem
nem a traça, e onde os ladrões não os desenterram, nem roubam. (Mateus VI 19-20)
Não queirais julgar, para que não sejais julgados,
pois, com o juízo que julgardes, sereis julgados, e com a medida que medirdes,
vos medirão também a vós. (Mateus VIl I-2)
Tudo o que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o
também vós a eles, porque esta é a lei e os profetas. (Mateus VII, 12)
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