Nótulas
Espiritualistas - XX
Dr. Antônio J.
Freire
in Reformador (FEB) Setembro 1956
Perante as religiões tradicionais do
Ocidente, o estudo da alma humana não tem avançado para além de ingênuas
concepções abstratas, vagas, nebulosas, desfigurando todo o dinamismo anímico
através duma dialética bizantina, de sofismas inconsistentes, duma imaterialidade irreal, sem estrutura objetiva, e, por vezes, sem a devida elevação religiosa e
espiritual, soçobrando no favoritismo divino da graça e na predestinação.
*
A alma humana é um mero e
insubsistente produto de especulações racionalistas e escolásticas, sem base
científica ou experimental, quer para as Filosofias gnósticas, quer para as
Religiões dogmáticas.
Quanto às Ciências, que deveriam ser
os expoentes máximos da mentalidade humana, encontram-se orientadas num falso e
grosseiro monismo materialista, ateu e agnóstico integrado numa degradante
teofobia, com o seu lúgubre cortejo de descrença e niilismo.
*
O
Espiritismo, surgindo no meado do século p. passado, não só demonstrou, pelo
método científico - observação e experimentação - a existência objetiva da alma humana, mas ainda
a sua preexistência e sobrevivência dentro do ternário - corpo orgânico, perispírito
e espírito - ao ritmo das vidas sucessivas, alternantes de Mundo para Mundo,
expressas na Palingenesia (Reencarnacionismo), ao comando do infalível e
justiceiro Carma.
*
O Espiritismo estabeleceu em bases
experimentais a linha de continuidade causal de cada vivência com um passado
multimilenário e também com um futuro sem limites, regidos e impostos pela
Justiça lmanente ao impulso da casualidade cármica e das divinas leis da Evolução,
quer físicas e psíquicas, quer espirituais.
*
Para a Ciência, na sua cegueira de
descrença e negação, todo o psiquismo humano é função exclusiva do cérebro e do
sistema nervoso; toda a Vida, para cada vivente, está limitada ao espaço que
vai dum berço a um túmulo, despida de toda a ligação preexistente e sobrevivente.
A sanção moral seria uma utopia, uma quimera, com o predomínio do mais forte ou
do mais astuto.
Este falso conceito materialista
seria trágico se não fosse infundamentado e absurdo à face do experimentalismo
supranormal do Espiritismo desde a telestesia às bilocações e aos organismos
ectoplasmáticos (materializações: Katie King a Estela Livermore).
*
A Humanidade deve ao Espiritismo a
sua carta de alforria espiritual, libertando-a do obscurantismo que a escravizava
ao mais negregado e anti-progressivo materialismo, proclamado pela Ciência
oficial.
Quanto às Religiões dogmáticas, o
Espiritismo libertou a Humanidade dos falsos conceitos do inferno, do antropomorfismo
e do geocentrismo, da graça e da predestinação teológica.
À luz do Espiritismo o homem pode
desfraldar as asas do anjo que contém, em potência, no seu espírito divino, na
sua alma imortal.
*
Anteriormente ao Espiritismo, toda a
crença na alma humana era fundada numa titubeante e frágil fé passiva,
rebaixado, por vezes, a um impiedoso e perverso fanatismo, donde promanavam as
mais sangrentas e odiosas guerras religiosas, e onde se alicerçou a nefasta e
desalmada lnquisição de tristíssima e arrepiante memória.
Outras vezes, escondendo por detrás
de sacristias e altares os mais sórdidos interesses temporais e monetários,
através de burlescos ritualismos, de apologéticas mais que suspeitas, sem profundeza
moral, sem elegância espiritual, orientados num aviltante e interesseiro pragmatismo,
os chefes de tal crença contribuíram para a difusão do materialismo.
*
Foi neste sacrílego malabarismo de
ciências e religiões, negando aprioristicamente ou deturpando o valor da alma
humana e do seu Divino Criador, que se consumiram os últimos séculos, com
manifesto e retumbante triunfo para o materialismo e ateísmo.
A indiferença religiosa e a
perversão moral daí provenientes são os fatores determinantes do estado
calamitoso em que nos encontramos e os mais poderosos entraves para o
aperfeiçoamento moral e para progresso espiritual da Humanidade.
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