Nótulas Espiritualistas
Dr. Antônio J.
Freire (*)
in Reformador (FEB) Fevereiro 1954
No vasto e profundo âmbito da Moral,
podemos consultar os ensinamentos milenários das Ciências, das Filosofias, das
Religiões; mas, acima de tudo e de todos devemos ouvir, calma, refletida e serenamente, a voz da nossa
consciência, onde estão codificadas, por uma ação providencial, as melhores atitudes
individuais para uma reta conduta social, para um modelar comportamento cristão.
*
O Homem é escravo ou soberano da sua trajetória progressiva em função do
conhecimento e aplicação das leis que condicionam a sua Evolução,
em especial, as Leis Reencarnacionistas (Palingenesia) e Kármica (Lei da
causalidade psíquica) -polos onde gravita todo o destino e progresso da Humanidade,
através das suas vidas alternantes:
terrestres e ultra-terrestres , astrais e divinas.
*
O Homem é, de fato, escravo do seu
passado pelo determinismo que prende a causa ao efeito; mas, em compensação, Senhor
do seu futuro pelo seu providencial livre-arbítrio.
Se nos envolve um certo fatalismo
aparente, esse fatalismo não é
caprichoso, arbitrário ou despótico, mas, sim, um fatalismo de natureza e
essência casual.
*
Cada vida terrestre é simultaneamente
uma colheita e uma sementeira de pensamentos, obras, palavras e, até mesmo, de
intenções. O Homem colhe em cada vida os frutos, bons ou maus, doces ou azedos,
resultantes da sua atividade na vida passada, num determinismo inexorável, mas lógico,
sábio e justo; em compensação, o Homem goza do seu providencial livre arbítrio para
fazer novas sementeiras, efetuando, assim, novas experiências, corrigindo os seus erros e
defeitos.
Se não existisse um certo grau de liberdade,
não poderia subsistir a responsabilidade moral, base do Karma, expressão da Justiça
Imanente.
Cada Vida é uma escola de experiências
e de ensinamentos.
Não há castigos divinos, mas lições corretivas,
indispensáveis à Evolução humana.
*
Não pensemos em nossos vícios ruins,
paixões, a não ser para nos melhorarmos, concentrarmos mentalmente nas virtudes
que lhes são contrárias e opostas - seus naturais antídotos para os venenos morais
que segregam.
Mais pela ação enérgica do pensamento,
associado a profunda meditação, do que pelo sentimento, poderemos vencer as
nossas imperfeições e maus pendores, frutos dum atavismo multimilenário, mais individual
do que hereditário e ancestral.
O pensamento, a vontade e a prece
são das forças mais prodigiosas do complexo humano, sem limites conhecidos.
*
Pensar é criar ondulações mentais
que podem ir de polo a polo, de Mundo a Mundo. Donde deriva a responsabilidade
do pensador, quer no bem, quer no Mal, auxiliando ou pervertendo o progresso
cósmico.
Orientar o Pensamento no sentido do Bem
Geral e da Evolução da Humanidade, é já uma excelsa virtude.
*
Quem mal pensar, só mal espalha por
todos os Universos, por todo o Cosmos.
As Humanidades são todas solidárias
no Bem e no Mal, sejam quais forem as distâncias astronômicas que as separam. A
questão é apenas de grau; mas nas radiações mentais não existem interferências
como sucede na luz, no calor e em todas as forças eletromagnéticas de sutileza inferior
à natureza metetérica (prof. F. Myers) da força mental.
*
O sofrimento purifica a alma como o
fogo depura os metais mais nobres, libertando-os da sua ganga, das suas escórias.
Mas é necessário compreender o mecanismo
do sofrimento na sua estrutura química, na sua íntima conexão de causas e de
efeitos expressos no Karma.
Como medida de profilaxia e de higiene
psíquica, impõe-se a precaução de fazermos, amiudadas vezes, “exames de consciência”,
rigorosos e completos, dando à consciência amplos poderes de análise e de
Julgamento de todos os nossos pensamentos, atos, palavras, não esquecendo as
intenções mais recônditas.
Não esquecer que a intenção é um ato
em potência, no seu estado virtual.
*
O pensamento acionado por uma
vontade forte e dominadora, sem intermitências, é a mola real propulsora e orientadora de toda a atividade
divina e humana dentro do incomensurável Cosmos.
Os nossos atos são, em última análise,
a cristalização dos nossos pensamentos.
Lisboa, 1954
(*) Antônio Joaquim Freire (1877-1958) foi um
personagem muito importante do movimento espírita em Portugal. Foi médico.
Vimos buscando resgatar algumas de suas obras para trazer seu conteúdo até nós,
brasileiros. A equipe do Blog.
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