Nótulas Espiritualistas
- IX
Dr. Antônio J.
Freire
in Reformador (FEB) Abril 1955
A estrutura científica do
Espiritismo, baseada no seu experimentalismo mediúnico, supranormal - mas não
sobrenatural -, não tem similar nos outros sistemas espiritualistas, quer religiosos,
quer filosóficos, antigos e modernos, tudo está dito e redito, dentro das
abstrações mais abstrusas e dos dogmas mais inconsistentes e absurdos.
*
Este seu caráter positivo e
experimental é baseado e orientado no método oficial adotado pelas ciências
clássicas contemporâneas, desde a Física nuclear à Mecânica ondulatória e à
assombrosa Cibernética, a nova ciência das máquinas de calcular e dos cérebros
eletrônicos, devida ao gênio do prof. N. Wiener.
É possível que a célebre concepção
do “homúnculo” dos alquimistas medievais tenha certas analogias com as
extraordinárias e imprevistas descobertas e inovações do sábio prof. N. Wiener.
Mesmo a decantada "pedra-filosofal" dos antigos alquimistas, para a
realização da transmutação da matéria, encontra, na época atual, franco apoio na
moderna Atomística e na Microfísica.
Em verdade, as novas Ciências dos
nossos dias reabilitaram os misteriosos ocultistas e alquimistas das épocas
passadas, tantas vezes ridicularizados e alcunhados de alucinados e visionários.
Tal como está sucedendo com o Espiritismo em certos meios universitários,
materialistas e agnósticos, dominados pela idolatria da matéria, pelo egocentrismo,
pela autolatria.
*
Sejam quais forem a oposição e agressividade
por parte dos dogmáticos, tanto da ciência, como das religiões, contra a
verdade científica que encarna o Espiritismo - a nova Ciência da alma humana -,
os fatos espíritas experimentais, de repercussão mundial, asseguram uma vitória
plena e completa, mesmo dentro deste período histórico, embora, por enquanto,
nos encontremos obscurecidos e esmagados por uma tremenda crise moral. Mas a
aurora redentora surgirá.
*
Todos os espíritas conhecedores da
teoria e prática do seu renovador e progressivo ideal, tem razões fortes e a convicção
científica profunda no triunfo definitivo e na vitória final. O essencial é
tornar conhecida a beleza intelectual e moral da Doutrina Espírita.
O triunfo final será encurtado,
desde que se intensifique uma propaganda espírita com método, pela inteligência
e pelo coração.
Todos os espíritas temos o
indeclinável dever de libertar a Humanidade dos preconceitos e prevenções
científicas falsamente orientados num grosseiro e pernicioso monismo agnóstico;
e; simultaneamente, dos dogmas e obscurecimento das religiões tradicionais,
ainda aferradas ao antropomorfismo e ao geocentrismo, arcaicos conceitos, tão
absurdos quanto sacrílegos, despidos de toda a beleza moral, incompatíveis com
o progresso científico e com a evolução espiritual.
*
O Espiritismo, essencialmente
evolutivo, espiritual e anti-dogmático, jamais se petrificará nos melhores conceitos
que resultem das suas observações e experiências, porque o seu labor na
investigação e no raciocínio experimental será contínuo, tenaz e progressivo no
estudo e análise do potencial divino contido na alma humana, para onde converge
o máximo esforço da sua atenção e atividade, orientadas no método positivo comum a todas as ciências.
Em suma, o Espiritismo é
medularmente experimental e evolutivo, pela sua natureza positiva, pela sua
estruturação e mecanismo objetivos, isento de obscuras abstrações, rico em consequências
universais cósmicas, e demonstrativamente concludente no destino e trajetória
da alma através dos seus ciclos reencarnacionistas ou palingenésicos e cármicos.
*
A indiferença religiosa tem-se
alastrado torrencialmente por toda a parte como caudal satânico, onde
pontificam e imperam as decadentes religiões confessionais, ao contrário do que
sucede no Oriente onde o fanatismo, por vezes sangrento, é a nota dominante
através das suas variadas religiões e das centenas de seitas delas derivadas.
Mas o Oriente, com todos os seus
fanáticos excessos e as perversões dum mórbido ascetismo, não perdeu o nobre
sentido do Divino nem o dignificante sentimento religioso; como sucede, infeliz
e desoladoramente no Ocidente, onde predomina o artificial esnobismo religioso
e o ateísmo mais degradante e agressivo.
*
Só trabalhando e agindo de harmonia
com o Divino Plano da Criação - que, em síntese gloriosa e redentora, é
expresso na magnânima e excelsa Lei da Evolução no seu sentido integral (físico
e espiritual, Vida e forma, Consciência e matéria), abrangendo todo o potencial
psíquico-, a Humanidade poderá seguir a linha de menor resistência para o seu
progresso anímico, através de todos os planos cósmicos.
*
O egoísmo e o orgulho são os mais
poderosos inimigos do nosso progresso espiritual, fomentando ódios implacáveis,
impulsionando atrozes vinganças, despertando ambições criminosas, em que se
debate e se digladia angustiosamente esta desvairada Humanidade num turbilhão
de descrença e ateísmo, de perversão e imoralidade.
Só pela prática da humildade e do
altruísmo, pela renúncia própria e amor do próximo, será possível vencer tão
rigorosos e astutos adversários, reforçando por ardentes e sentidas preces esses
bons propósitos.
*
A prece fervorosa é um dos melhores
canais por onde descem os eflúvios da Misericórdia Divina, trazendo-nos, por
resposta, em ondulações de fé e de esperança, a resignação e a coragem para
vencermos as atribulações cármicas inerentes à Vida terrestre, para reparação e
ensinamento de erros e dívidas provenientes de Vidas passadas.
Bendita seja a Dor quando sentida e
compreendida, como antídoto dos nossos vícios e más paixões, corrigindo-os e
transmutando-os em virtudes cristãs.
Lisboa, 1955.
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