Pesquisar este blog

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Consciências

Consciências
Irmão X
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Maio 1964

Ao rei Tajuan, do Iémen, numa audiência rotineira, foram trazidos cinco malfeitores que lhe haviam requerido proteção e misericórdia.

Seguido de guardas vigilantes, aproximou--se o primeiro e rogou em lágrimas, após beijar o escabelo em que o soberano punha os pés:

- Perdão, ó rei! Juro pelo Altíssimo que não matei com intenção... Comecei a discutir com o ladrão de meus cavalos e, em certo momento, senti a cabeça turva ,.. Rolei no chão sobre o meu contendor e, quando me dominei, o gatuno estava morto! Piedade! piedade para mim, que não tive força de governar o coração!.. Só agora, na prisão, ouvi a palavra de um homem que repetia as lições do Profeta... Só agora, compreendo que errei! ...

O soberano chamou o vizir que o acompanhava e determinou que entregassem o réu aos cuidados de um médico, a fim de que fosse julgado com indulgência, depois do tratamento preciso.

Adiantou-se o segundo e clamou, submisso:

- Glorificado seja Alá, em vossa presença, ó rei generoso! Compadecei-vos de mim, que sou ignorante e mau! Jamais pude ler uma só frase dos Sagrados Preceitos e somente agora, depois de embriagar-me e espancar meu pai, inconscientemente, é que vim a saber que o homem não deve crescer como as bestas do campo!..

O rei fitou-o, compassivo, e determinou que o denunciado fosse prontamente admitido à escola.

Veio o terceiro e implorou:

- Clemência para mim, ó representante de Alá!.. Sou analfabeto. Desde a infância, trabalho no mercado para sustentar meus avós paralíticos... Observando que vários negociantes obtinham maiores lucros, roubando nos pesos, não hesitei seguir lhes os maus exemplos. Juro pela memória de meus pais que não sabia o que andava fazendo...

Tajuan, complacente, recomendou medidas para que o desventurado permanecesse, largo tempo, sob as lições de um guia espiritual.

O quarto réu abeirou-se do estrado real e suplicou:

- Perdão, perdão, ó rei justo! Assaltei a casa do avarento Aquibar, porque não mais suportava a penúria...  Tenho mulher e nove filhos famintos e enfermos!. .. Sou um cão batido pelo sofrimento... Cresci na areia, sem ninguém que me quisesse.... Sei que Alá existe, porque é impossível haja sol e caia a chuva sem um pai que nos olhe do Céu, mas nunca aprendi a soletrar o nome do Eterno!..

Extremamente comovido, Tajuan solicitou ao ministro expedisse socorro urgente à choupana do infeliz e ordenou que um mestre o instruísse nos deveres do homem de bem, antes que a falta subisse a mais ampla consideração dos juízes.

Por último, apresentou-se um homem de porte orgulhoso, que fez a reverência de estilo e solicitou:

- Sapientíssimo Rei, peço a vossa benevolência para mim, que tive a desventura de furtar um adereço de brilhantes, na festa de Joanan ben Kisma, judeu rico e preguiçoso, conhecido inimigo de nossa raça. .. Conheço as leis que nos regem e acato os ensinamentos do Profeta, mas não pude resistir à tentação de levar comigo uma joia do usurário que as possui aos montões... Benevolência, ó Rei Tajuan! Rogo a vossa benevolência!..

O soberano, porém, franziu a testa, contrariado, e, com assombro de todos os circunstantes, determinou que o árabe culto recebesse, atado a um poste, trinta e seis chicotadas, ali mesmo, diante de seus olhos, para, em seguida, ser trancafiado no cárcere por dois anos.

- Pela glória de Alá, ó rei sábio! - exclamou, confundido, o vizir a cuja autoridade se rogara auxílio para o distinto acusado - como interpretar a' vossa munificência? Destes medicação a um criminoso, escola a um ébrio e socorro material e moral a dois ladrões, e indicais pena assim tão cruel a um filho de nosso povo que venera o Profeta, unicamente pelo fato de haver desaparecido uma joia dos tesouros de um agiota desprezível?

- Por isso mesmo, ó vizir, por isso mesmo! - falou Tajuan, desencantado - por saber tanto, é mais responsável... Os quatro primeiros eram ignorantes e todos os ignorantes são infelizes, mas o quinto culpado é um homem finamente instruído e sabe perfeitamente o que deve fazer!..

...................................


Há quem afirme que nós, os que nos fizemos espíritas, encarnados ou desencarnados, sofremos mais que os nossos semelhantes, carregando aparentemente cruzes mais pesadas; no entanto, nós, os espíritas, conhecemos as leis que nos governam os destinos e, por essa, razão, mais responsáveis somos pelos nossos atos. 

'Aprendamos, no entanto...'


Aprendamos, no entanto...


"Medita estas coisas, ocupa-te nelas para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos."
Paulo. (I Timóteo 4:15)


Em muitas reencarnações passadas, adotamos igualmente a estranha maneira de muitos dos nossos irmãos, vinculados hoje ao Cristianismo, cujo comportamento religioso a vida reajustará, qual aconteceu a nós outros.

Buscávamos o Evangelho e pregávamos o Evangelho, atendendo a sentido demagógico.

Queríamos o Cristo para que o Cristo nos servisse.

Cultivávamos a oração, pretendendo subornar a Justiça Divina.

Compartíamos demonstrações e expressões de fé, à caça de vantagens pessoais, no imediatismo das gratificações terrestres.

A face disso, temos entrado múltiplas vezes no renascimento físico e atravessado os pórticos da desencarnação, carreando a consciência pesada de culpas, à maneira de aposento recheado de lixo e sucata da experiência humana, incapaz de se abrir ao sol da Bondade Divina.

O apóstolo Paulo, no entanto, escrevendo a Timóteo - ele que foi o campeão -impertérrito da fé viva -, traça a diretriz que nos é necessária, à frente das lições do Senhor.

Após valiosa série de considerações sobre os princípios evangélicos, nas quais persuade o companheiro a ler, instruir, exortar e exemplificar em boas obras, pede não apenas para que
o amigo e aprendiz medite nas doutrinas que aceita, mas recomenda-lhe aplicar-se a elas, a fim de que o aproveitamento pessoal dele seja manifesto a todos .     

A assertiva de Paulo não deixa dúvidas.

Quanto nos seja possível, estudemos as lições do Senhor e reflitamos em torno delas.

Aprendamos, no entanto, a praticá-Las, traduzindo-as em ação, no cotidiano, para que a nossa palavra não se faça vazia e a nossa fé não seja vã.

Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Maio 1964

domingo, 26 de maio de 2013

'Os Deveres do Espírita'


Os Deveres do Espírita
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Maio 1964

            Todo aquele que aceita a Doutrina Espírita assume o grave compromisso de Solidariedade, irmã gêmea da Responsabilidade. Elas andam sempre juntas.

            O espírita verdadeiro não tem o direito de desconhecer os princípios básicos da Doutrina, porque, se não os conhece, não pode considerar-se propriamente um espírita.

            É tão grande a responsabilidade do espírita que ele não pode desvencilhar-se da responsabilidade que, mais do que antes, decorre dos seus atos e palavras. Quem está integrado na Doutrina e sabe respeitá-la, transforma-se numa força atuante, positiva, no ambiente em que viva. Não é passivo nem dissimulado, não é indiferente nem apático. Pelo contrário, a sua integração nos postulados doutrinários confere-lhe a faculdade de se mostrar sempre ativo e franco, honesto e positivo, bem humorado e discreto. Todavia, a sua franqueza não deve ser rude, contundente e negativa. Para ser útil, precisa mostrar-se amena, educativa e construtiva.

            Há mil maneiras de se dizer e demonstrar o que nos vai na alma. Entre essas maneiras, há a que nunca se separa da compreensão, da tolerância, do comedimento, da sinceridade e, sobretudo, da verdade simples.

            O espírita tem o dever de policiar mais os seus atos e palavras do que os alheios, sem que isto importe em estimular, pela omissão ou tibieza, a má ação de que tenha conhecimento. Queremos dizer: se enérgico em profligar o que não lhe parece bem, quando feito por seus semelhantes, bem mais enérgico quando analisar os próprios atos e palavras.

            Nunca o "conhece-te a ti mesmo" foi mais necessário do que em nossos dias. O espírita, antes de pensar reformar os outros, deve começar a reformar-se a si mesmo.

            O exemplo é que define a legítima personalidade da criatura humana.

            A Doutrina Espírita é um roteiro de autoeducação. Seu primacial objetivo é tornar cada um de nós melhor; mais humano, mais compreensivo, mais cristão. O mundo está cheio de cristãos sem Cristo, isto é, de criaturas que se intitulam cristãs quando não o são, porquanto não procedem consoante as lições do Mestre.

            A Doutrina codificada por Allan Kardec educa, reforma, eleva, redime. Tudo, porém, depende de nós. Jesus veio dar-nos ensinamentos e exemplos para que saibamos buscar a salvação pelo nosso próprio esforço. Esta é a verdade. A sua missão na Terra foi grandiosa, sublime, incomparável. Desvirtuaram-na, deixaram-na ficar na superfície da pele, quando ela deveria alojar-se no coração humano.

            A Doutrina Espírita está restabelecendo, a pouco e pouco, o domínio da ideia cristã na vida do homem, ensinando-o a compreender a razão da existência terrena, a necessidade retificadora da dor, o mapa cármico e sua ligação com o problema da reencarnação.

            A solidariedade sadia é fraternidade cristã. "O Espiritismo amplia a noção de fraternidade. Demonstra por meio de fatos que ela não é unicamente um mero conceito, mas uma lei fundamental da Natureza, lei cuja ação se exerce em todos os planos da evolução humana, assim no ponto de vista físico como no espiritual, no visível como no invisível. Por sua origem, pelos destinos que lhes são traçados, todas as almas são irmãs. Assim, essa fraternidade, que os messias proclamaram em todas as grandes épocas da História, encontra no ensino dos Espíritos uma base nova e uma sanção. Não é mais a inerte e banal afirmação na fachada dos nossos monumentos, é a fraternidade palpitante das almas que emergem, conjuntas, das obscuridades do abismo, e palmilham o calvário das existências dolorosas; é a iniciação comum no sofrimento; é a reunião final na plena luz." (Léon Denis).

            Solidariedade e responsabilidade são elos de uma mesma corrente. A vida nos mostra a todos os instantes que o auxílio mútuo se afirma eloquentemente como força de coesão da existência moral. Essa é também uma imposição biológica a que ninguém escapa, nem os mais fracos nem os mais fortes.

            Todos somos como que elementos moleculares da vida de relação, na vida social, na vida espiritual. Isto esclarece a razão das pequenas e grandes coletividades, quer entre os chamados irracionais, quer entre os ditos racionais.

            O instinto desempenha papel preponderante na aglutinação do seres. Mas só a educação facilita, com acerto, o disciplinamento do instinto. Ela refina o sentimento e prepara o homem para uma vida progressivamente mais compreensiva e melhor. Todavia, não podemos eximir-nos às consequências da Lei de Causa e Efeito, que é a bússola do Carma. Do nosso comportamento, em face dessa lei, depende a felicidade que ambicionamos.

            O Espiritismo educa o homem para uma vida mais simples e sadia. O Espiritismo respeita a personalidade humana, porque lhe reconhece o livre-arbítrio, acatando-o. Nada impõe, nada exige, nada reclama. Mostra o roteiro e ensina como se pode segui-lo.

            Eminentemente democrática, a Doutrina Espírita envolve toda a Humanidade, mas são os humildes e sofredores que nela encontram mais depressa o bálsamo para as suas dúvidas e aflições. Respeitando a liberdade da pessoa humana, o Espiritismo afirma a necessidade de deixar ao homem, depois de esclarecido, a decisão dos rumos que desejar tomar, convencido, como diz Kardec, que “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade".

            Com a Doutrina Espírita, o homem se torna senhor do seu destino.


sexta-feira, 24 de maio de 2013

O Pensamento de Rubens Romanelli





O pensamento
de Rubens Romanelli



            Não há maior heroísmo do que saber suportar o peso da derrota.

*

            Jamais te prendas ao agressor por um ato de vingança, senão por um impulso de perdão. Vingando, tu te escravizas à dor; perdoando, tu te libertas dela. A vingança é filha do ódio e o perdão é filho do amor, e o ódio está para o amor, como o inferno está para o céu.

*

            Procura identificar a presença do bem no fundo de todas as coisas. Não há maior miséria do que ter olhos para ver somente a miséria.

*

            Como, pois, te presumes sábio se nem ao menos podes avaliar a infinita extensão da tua ignorância?

*

            Nada desprezes nem deprecies, para que não te desprezes nem te deprecies a ti mesmo. Sabe que se tu vives no Universo, o Universo vive igualmente em ti.

*

            Tu és grande na medida em que te reconheces irmão de todas as formas da Natureza.

*

            Quanto mais amplo e profundo for o teu Amor, tanto mais ampla e profunda será a consciência de tua identidade com o Universo. À medida que se dilata o Amor, com ele se dilata igualmente todo o teu ser, por forma que se torna cada vez maior tua superfície de contato com o Infinito.

*

            A cultura constitui uma riqueza espiritual, cuja aquisição vai ordinariamente acompanhada dos mesmos vícios e paixões inerentes à posse da riqueza material.
            O homem culto assemelha-se, em quase tudo, ao homem rico. Orgulhoso de seus valores intelectuais, não raro se torna dogmático, tal como o milionário que, escudado em seus valores pecuniários, pretende impor sua autoridade.

*

            Na economia da evolução, os valores culturais são cotados segundo o maior ou menor lastro moral em que se baseiem as operações intelectuais. O lastro moral fixa a posição espiritual do indivíduo, assim como o lastro ouro fixa a posição financeira de uma nação.

*

            Em cultura, como em finanças, o essencial não é possuir muito, mas aplicar bem o que se possui. A cultura é como o dinheiro: ela não vale por si mesma, mas pelo uso que dela se fizer.

*

            Somente o santo se mantém invencível na grandeza de sua humildade e na majestade de seu amor. Poderão despojá-lo de tudo, inclusive do próprio corpo, mas ele vencerá sempre, porque seu centro de vida jaz muito distante das formas perecíveis...

*

            Só não passou, nem passará jamais o reinado de Cristo, porque Cristo personifica a força do amor e o amor é a força que rege os impulsos da evolução em todos os planos da Criação.

*

            Já não podemos aceitar, por obsoleto, o conceito geocêntrico e antropocêntrico de uma sociologia cujo escopo único seja o estudo das relações sociais entre os seres habitantes da Terra.

*

            É natural, portanto, que o homem, embora nem sempre conscientemente, venha a agir sob a influência, benéfica ou maléfica, dos desencarnados. A Sociologia não pode desdenhar essa influência, porquanto ela se reveste da mais alta importância, para a destinação do indivíduo e da coletividade.

*

            Se a força da gravitação vincula solidariamente os astros mais distantes, com muito mais razão a força do amor deve vincular as almas habitantes do Infinito.

*

            Já compreendestes quão inútil é pretender eliminar o mal, agredindo-o, porque está nas Leis da Natureza que toda forma agredida reforça suas resistências, no processo da defesa. Procurareis, portanto, para atingir vossos elevados propósitos, perdoar antes que condenar, dar antes que tomar, bendizer antes que amaldiçoar, corrigir antes que punir, amparar antes que abandonar.

            Perguntaram a Rubens Romanelli: "Qual a maior emoção de sua vida?" E ele respondeu: “A de quando a imortalidade se objetivou ante meus olhos, sob a forma de u'a materialização luminosa."

           
Extraído de um artigo de Ismael Gomes Braga publicado em ‘Reformador’ (FEB) em Março de 1964.

O livro  "O PRIMADO DO ESPÍRITO" de Rubens Romanelli (1913-1978) mereceu reedição recente pela  Publicações LACHÂTRE.




O Estranho Mundo dos Suicidas



O Estranho Mundo dos Suicidas
Frederico Francisco / (Yvonne A Pereira)
Reformador (FEB) Março 1964


            Frequentemente somos procurado por iniciantes do Espiritismo, para explicações sobre este ou aquele ponto da Doutrina. Tantas são as perguntas, e tão variadas, que nos chegam, até mesmo através de cartas, que chegamos à conclusão de que a dúvida e a desorientação que lavram entre os aprendizes da Terceira Revelação partem do fato de eles ainda não terem percebido que, para nos apossarmos dos seus legítimos ensinamentos, havemos de estabelecer um estudo metódico, parcelado, partindo da base da Doutrina, ou exposição das leis, e não do coroamento, exatamente como o aluno de uma escola iniciará o curso da primeira série e não da quarta ou da quinta.

            Desconhecendo a longa série dos clássicos que expuseram as leis transcendentes em que se firmam os valores da mesma Doutrina, não somente nos veremos contornados pela confusão, impossibilitados de um sadio discernimento sobre o assunto, como também o sofisma, tão perigoso em assuntos de Espiritismo, virá em nosso encalço, pois não saberemos raciocinar devidamente, uma vez que só a exposição das leis da Doutrina nos habilitará ao verdadeiro raciocínio.

            Procuraremos responder a uma dessas perguntas, de vez que nos chegou através de uma carta, pergunta que nos afligiu profundamente, visto que fere assunto melindroso, dos mais graves que a Doutrina Espírita costuma examinar. A dita pergunta veio acompanhada de interpretações sofismadas, próprias daquele que ainda não se deu ao trabalho de investigar o assunto para deduzir com a segurança da lógica. Pergunta o missivista:

            - Um suicida, por motivos nobres sofre os mesmos tormentos que os demais suicidas? Não haverá para ele uma misericórdia especial?

            E então respondemos:

            - De tudo quanto, até hoje, temos estudado, aprendido e observado em torno do suicídio à luz da Doutrina Espírita, nada, absolutamente, nos tem conferido o direito de crer que existam motivos nobres para justificar o suicídio perante as leis de Deus. O que sabemos é que o suicídio é infração às leis de Deus, considerada das mais graves que o ser humano poderia praticar ante o seu Criador. Os próprios Espíritos de suicidas são unânimes em declarar a intensidade dos sofrimentos que experimentam, a amargura da situação em que se agitam, consequentes do seu impensado ato. Muitos deles, como o grande escritor Camilo Castelo Branco, que advertiu os homens em termos veementes, em memorável comunicação concedida ao antigo médium Fernando de Lacerda, afirmam que a fome, a desilusão, a pobreza, a desonra, a doença, a cegueira, qualquer situação, por mais angustiosa que seja, sobre a Terra, ainda seria excelente condição "comparada ao que de melhor se possa atingir pelos desvios do suicídio".

            Durante nosso longo tirocínio mediúnico, temos tratado com numerosos Espíritos de suicidas, e todos eles se revelam e se confessam superlativamente desgraçados no Além-Túmulo, lamentando o momento em que sucumbiram. Certamente que não haverá regra geral para a situação dos suicidas. A situação de um desencarnado, como também de um suicida, dependerá até mesmo do gênero de vida que ele levou na Terra, do seu caráter pessoal, das ações praticadas antes de morrer.

            Num suicídio violento como, por exemplo, os ocasionados sob as rodas de um trem de ferro, ou outro qualquer veículo, por uma queda de grande altura, pelo fogo, etc., necessariamente haverá traumatismo perispiritual e mental muito mais intenso e doloroso que nos demais. Mas a terrível situação de todos eles se estenderá por uma rede de complexos desorientadores, implicando novas reencarnações que poderão produzir até mesmo enfermidades insolúveis, como a paralisia e a epilepsia, descontroles do sistema nervoso, retardamento mental, etc. Um tiro no ouvido, por exemplo, segundo informações dos próprios Espíritos de suicidas, em alguns casos poderá arrastar à surdez em encarnação posterior; no coração, arrastará a enfermidades indefiníveis no próprio órgão, consequência essa que infelicitará toda uma existência, atormentando-a por indisposições e desequilíbrios insolúveis.

            Entretanto, tais consequências não decorrerão como castigo enviado por Deus ao infrator, mas como efeito natural de uma causa desarmonizada com as leis da vida e da morte, lei da Criação, portanto. E todo esse acervo de males será da inteira responsabilidade do próprio suicida. Não era esse o seu destino, previsto pelas leis divinas. Mas ele próprio o fabricou, tal como se apresenta, com a infração àquelas leis. E assim sendo, tratando-se, tais sofrimentos, do efeito natural de uma causa desarmonizada com leis invariáveis, qualquer suicida há de suportar os mesmos efeitos, ao passo que estes seguirão seu próprio curso até que causas reacionárias posteriores os anulem.

            No caso proposto pelo nosso missivista, poderemos raciocinar, dentro dos ensinamentos revelados pelos Espíritos, que o suicida poderia ser sincero ao supor que seu suicídio se efetivasse por um motivo nobre. Os duelos também são realizados por motivos que os homens supõem honrosos e nobres, assim como as guerras, e ambos são infrações gravíssimas perante as leis divinas. O que um suicida suporia motivo honroso ou nobre, poderia, em verdade, mais não ser do que falso conceito, sofisma, a que se adaptou, resultado dos preconceitos acatados pelos homens como princípios inabaláveis.

            A honra espiritual se estriba em pontos bem diversos, porque nos induzirá, acima de tudo, ao respeito das mesmas leis. Mas, sendo o suicida sincero no julgar que motivos honrosos o impeliram ao fato, certamente haverá atenuantes, mas não justificativa ou isenção de responsabilidades. Se assim não fosse, o raciocínio indica que haveria derrogação das próprias leis de harmonia da Criação, o que não se poderá admitir. Quanto à misericórdia a que esse infrator teria direito como filho de Deus, não se trataria, certamente, de uma "misericórdia especial". A misericórdia de Deus se estende tanto sobre esse suicida como sobre os demais, sem predileções nem protecionismo. Ela se revela no concurso desvelado dos bons Espíritos, que auxiliarão o soerguimento do culpado para a devida reabilitação, infundindo-lhe ânimo e esperança e cercando-o de toda a caridade possível, inclusive com a prece, exatamente como na Terra agimos com os doentes e sofredores a quem socorremos. Estará também na possibilidade de o suicida se reabilitar para si próprio, através de reencarnações futuras, para as duas sociedades, terrena e invisível, as quais escandalizou com o seu gesto, e para as leis de Deus, sem se perder irremissivelmente na condenação espiritual.

            De qualquer forma, com atenuantes ou agravantes, o de que nenhum suicida se isentará é da reparação do ato que praticou com o desrespeito às leis da Criação, e uma nova existência o aguardará, certamente em condições mais precárias do que aquela que destruiu, a si mesmo provando a honra espiritual que infringira.

            O suicídio é rodeado de complexos e sutilezas imprevisíveis, contornado por situações e consequências delicadíssimas, que variam de grau e intensidade diante das circunstâncias. As leis de Deus são profundas e sábias, requerendo de nós outros o máximo equilíbrio para estudá-las e aprendê-las sem alterá-las com os nossos gostos e paixões.

            Assim sendo, que fique bem esclarecido que nenhum motivo neste mundo será bastante honroso para justificar o suicídio diante das leis de Deus. O suicida é que poderá ser sincero ao supor tal coisa, daí advindo então atenuantes a seu favor. O melhor mesmo é seguirmos os conselhos dos próprios suicidas que se comunicam com os médiuns: - Que os homens suportem todos os males que lhes advenham da Terra, que suportem fome, desilusões, desonra, doenças, desgraças sob qualquer aspecto, tudo quanto o mundo apresente como sofrimento e martírio, porque tudo isso ainda será preferível ao que de melhor se possa atingir pelos desvios do suicídio. E eles, os Espíritos dos suicidas, são, realmente, os mais credenciados para tratar do assunto.



O Pão da Vida (a palavra de João)



O Pão da Vida                                

6,30 Perguntaram-Lhe: -Que sinal fazes Tu, para que o vejamos e creiamos em Ti? Qual é a Tua obra?
6,31  Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo o que está escrito: “Deu-lhes a comer o pão vindo do céu (Salmo 77,24)”
6,32  Jesus respondeu-lhes: “ -Em verdade, em verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu, mas o Meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu. 
6,33   Porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo”
6,34  Disseram-lhe: -Senhor, dá-nos sempre deste pão!
6,35  Jesus replicou: “ -Eu sou o pão da vida: Aquele que vem a mim não terá fome e aquele que crê em mim jamais terá sede.
6,36   mas, já vos disse: Vós me vedes e não me credes...
6,37  todo aquele que o Pai me dá virá a mim: e o que vem a mim, não lançarei fora 6,38  pois, desci do céu, não para fazer a Minha vontade, mas a vontade Daquele que me enviou
6,39 ora, essa é a vontade Daquele que me enviou: Que Eu não deixe perecer nenhum daquele que Me deu, mas que os ressuscite no último dia
6,40 Esta é a vontade de Meu Pai; que todo aquele que vê o Filho e Nele crê, tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia.”


          Para Jo (6,30), -Demonstrações do Céutomemos  “Fonte Viva”(Ed. FEB), de Emmanuel por Chico Xavier:
                       
            “Em todos os tempos, quando alguém na Terra se refere às coisas do Céu, verdadeira multidão de indagadores se adianta pedindo demonstrações objetivas das verdades anunciadas.

            Assim é que os médiuns modernos são constantemente assediados pelas exigências de quantos se colocam à procura da vida espiritual.

            Esse é vidente e deve dar provas daquilo que identifica. Aquele escreve em condições supranormais e é constrangido a fornecer testemunho das fontes de sua inspiração.  Aquele outro materializa os desencarnados e, por isso, é convocado ao teste público.

            Todavia, muita gente se esquece de que todas as criaturas do Senhor exteriorizam os sinais que lhes dizem respeito.

            O mineral é reconhecido pela utilidade. A árvore é selecionada pelos frutos. O firmamento espalha mensagens de luz. A água dá notícias do seu trabalho incessante. O ar esparge informações, sem palavras, do seu poder na manutenção da vida.

            E, entre os homens,  prevalecem os mesmos imperativos. Cada irmão de luta é examinado pelas suas características. O tolo dá-se a conhecer pelas puerilidades. O entendido revela mostras de prudência. O melhor demonstra as virtudes que lhe são peculiares.

            Desse modo, o aprendiz do Evangelho, ao solicitar revelações do céu para a jornada da Terra, não deve olvidar as necessidades de revelar-se firmemente disposto a caminhar para o Céu. Houve dia em que a turba vulgar dirigiu-se ao próprio Salvador que a beneficiava, perguntando:

            -Que sinal fazes Tu para que o vejamos, e creiamos em Ti?

            Imagina, pois, que se ao Senhor da Vida foi dirigida semelhante interrogativa, que indagação não se fará do Alto a nós outros, toda vez que rogarmos sinais do Céu, a fim de atendermos ao nosso simples dever?

            Para  Jo (6,32) -Meu Pai vos dá o verdadeiro pão do Céu... - leiamos a Emmanuel por Chico Xavier, em “Vinha de Luz”:

            “Toda arregimentação religiosa na Terra não tem escopo maior que o de preparar as almas, ante a grandeza da vida espiritual.

            Templos de pedra arruínam-se. Princípios dogmáticos desaparecem. Cultos externos modificam-se. Revelações ampliam-se. Sacerdotes passam.

            Todos os serviços da fé viva representam, de algum modo, aquele pão que Moisés dispensou aos Hebreus, alimento valioso sem dúvida, mas que sustentava o corpo apenas por um dia, e cuja finalidade primordial é a de manter a sublime oportunidade da alma em busca do verdadeiro pão do Céu.

            O Espiritismo Evangélico, nos dias que correm, é abençoado celeiro desse pão. Em suas linhas de trabalho, há mais certeza e esperança, mais entendimento e alegria.

            Esteja, porém, cada companheiro convencido de que o esforço pessoal no pão divino para a renovação, purificação e engrandecimento da alma há de ser culto dominante no aprendiz ou prosseguiremos nas mesmas obscuridades mentais e emocionais de ontem. Observações de ordem fenomênica destinam-se ao olvido. Afirmativas doutrinárias elevam-se para o bem. Horizontes do conhecimento dilatam-se ao infinito. Processos de comunicação com o invisível progridem sempre.

            Médiuns sucedem-se uns aos outros.

            Se procuras, pois, a própria felicidade, aplica-te com todas as energias ao aproveitamento do pão divino que desce do Céu para o teu coração, através da palavra dos benfeitores espirituais, e aprende a subir, com  a  mente  inflamada   de   amor e luz, aos inesgotáveis celeiros do pão celestial. ”                   
             
O Pão da Vida      (continuação)                           
                                

6,41 Murmuravam então Dele os judeus, porque dissera: “-Eu sou o pão que desci do céu.”
6,42 E perguntaram: Porventura não é Ele, Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos?  Como, pois, diz  Ele, “ -Desci do céu!”
6,43 Respondeu-lhes Jesus: “ -Não murmureis entre vós!
6,44  Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que Me enviou, não o atrair, e Eu hei de ressuscitá-lo no último dia
6,45 Está escrito nos profetas:  “Todos serão ensinados por Deus” (Is.54,13). Assim, todo aquele que ouviu o Pai e foi por Ele instruído, vem a mim; 
6,46  Não que alguém tenha visto o Pai, pois só aquele que vem de Deus, esse é que viu o Pai;
6,47  Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê em mim tem a vida eterna;
6,48  Eu sou o pão da vida;
6,49 Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram;
6,50  Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer.”

           Para Jo (6,48), -Eu sou o pão da vidatomemos  “Palavras de Vida Eterna” de Emmanuel por Chico Xavier:
                       
            “Importante considerar a afirmativa de Jesus, comparando-o ao pão.

            Todos os povos, em todos os tempos, se ufanam dos pratos nacionais. As mesas festivas, em todas as épocas, banqueteiam-se com viandas exóticas. Condimentação excitante, misturas complicadas, confeitos extravagantes, grande cópia de animais sacrificados. Às vezes, depois das iguarias tóxicas, as libações de entontecer.

            O pão, no entanto, é o alimento popular. Ainda mesmo quando varie nos ingredientes que o compõem e nos métodos de confecção em que se configura, é constituído de farinha amassada e vulgarmente fermentada e que, depois de submetida ao calor do forno, se transforma em fator do sustento mundial. Sempre o mesmo, na avenida ou na favela, na escola ou no hospital. Se lhe adicionam outra espécie de quitute, entre duas fatias, deixa de ser pão. É sanduíche. Se lançado à formação de acepipe que o absorva, naturalmente desaparece.

            O pão é invariavelmente pão.

            Quando alguém te envolva no confete da lisonja, insuflando-te vaidade, não te dês à superestimação dos próprios valores. Não te acredites em condições excepcionais e nem te situes acima dos outros.

            Abraça nos deveres diários o caminho da ascensão, recordando que Jesus - o Enviado Divino e Governador Espiritual da Terra - não achou para si mesmo outra imagem mais nobre e mais alta que a do pão puro e simples.”  



quinta-feira, 23 de maio de 2013

Prática do Espiritismo


Prática do Espiritismo

Aurélio A. Valente

Processo das manifestações

            Admitindo-se para o Espiritismo o tríplice conceito de Filosofia, Ciência e Religião, devemos esclarecer cada um de per si. Ocupemo-nos agora do Espiritismo como ciência. Espiritismo-Ciência ou Ciência-Espírita é o estudo coordenado e metódico de tudo quanto concerne ao Psiquismo: acurada análise e classificação dos fenômenos, princípios, formação moral, espiritual e intelectual dos médiuns, diversidade e graus de suas faculdades, vida de relação social, organização de grupos de trabalho e pesquisas, escolha dos componentes dos mesmos, locais de instalação, por final, investigação meticulosa das condições propícias ou desfavoráveis para se processarem os fenômenos relacionados ao intercâmbio entre a Humanidade visível e invisível, ou seja, como dizemos vulgarmente, de encarnados e desencarnados.

            Em virtude dessas circunstâncias, os chamados trabalhos práticos ou sessões mediúnicas, que são investigações científicas; qualquer que seja a sua finalidade, não podem e não devem ser presididas por confrades inexperientes e sem preparo.

            O presidente deverá ser um homem ou uma mulher de elevada moral, bom preparo geral, conhecedor do Novo Testamento, que tenha boa cultura espírita, isto é um abalizado estudo das obras de Allan Kardec, Léon Denis, André Luiz e de outros autores, consideradas subsidiárias, pelos esclarecimentos particularizados de determinados assuntos, como por exemplo o livro No País das Sombras, de E. D'Esperance, que muito elucida os que se dedicam às sessões de materializações. Todos esses dotes e predicados deverão ser completados por valiosa experiência da vida.

            Essas credenciais são imprescindíveis ao Presidente, por constituírem elementos de garantia para orientar-se com método e ordem e obter resultados proveitosos.

            Em uma sessão espírita verificam-se fenômenos de animismo, auto sugestão, hipnotismo e outros, além dos denominados propriamente de espíritas; manifestam-se Espíritos de todas as categorias, graves e zombeteiros, sábios e ignorantes, sérios e mistificadores, felizes e sofredores. Por tudo quanto escrevemos, conclui-se que o presidente deverá ter capacidade para distinguir e classificar os fenômenos e discernir a verdade do erro, a sinceridade da impostura, a mistificação do médium ou do Espírito e dialogar com proveito com todos os comunicantes do Além.

            Léon Denis, no seu livro, No Invisível (obra indispensável aos que dirigem sessões, mas, pouco estudado e até desconhecido por muitos confrades), escreveu o seguinte no capítulo - Formação e direção de grupos:

            "Nenhum Grupo sem ser submetido a uma certa disciplina pode funcionar. Esta se impõe não somente aos experimentadores como também aos Espíritos. O diretor do Grupo deve ser um homem de dupla enfibratura, assistido por um Espírito-guia que estabelecerá a ordem no meio oculto, como ele próprio a manterá no meio terrestre e humano.

            Essas duas direções devem mutuamente completar-se, inspirar-se num pensamento igualmente elevado, unir-se na prossecução de um objetivo comum.”

            Os médiuns, por sua vez, devem estudar, e muito, a fim de que os Espíritos sintam facilidade para sintonizar as recíprocas vibrações e encontrar nos seus instrumentos os subsídios indispensáveis para suas comunicações. Camilo Castelo Branco (Do País da Luz livro II, pág. 93, 4ª edição da FEB), ao transmitir pelo médium Fernando de Lacerda uma mensagem a propósito da crítica feita por alguns literatos plenos de dúvidas sobre as suas mensagens, confortou-o, esclarecendo-o com as seguintes palavras: "Se o teu cérebro estivesse riquíssimo de termos e de conhecimentos, larga, proficiente e pacientemente armazenados, eu teria melhor propósito de tudo dizer com o modo próprio com que o fazia com o material integralmente meu, como o tipógrafo terá mais facilidade de variar de tipo, consoante a riqueza e variedade dos caixotins de que dispuser.”

            O Espírito de Verdade em uma de suas mensagens insertas n’O Evangelho segundo o Espiritismo também recomendou o estudo quando sentenciou "Espíritas: amai-vos, este o primeiro ensinamento, instruí-vos, este o segundo."

            Paulo de Tarso foi o apóstolo que mais contribuiu para a difusão do Cristianismo, foi o primeiro a compreender a universalidade da Doutrina de Jesus. A razão é bem simples, era o mais instruído, o mais erudito entre todos.

            Temos encontrado, em nossa longa peregrinação pelas inúmeras cidades do nosso País, um descaso absoluto pelo estudo, tanto por parte dos presidentes, como dos médiuns e componentes dos Grupos. A fé e a mediunidade, por mais poderosas que sejam, são insuficientes para trabalhos completos e proveitosos.

            A falta de competência dos presidentes constitui a causa principal da frustração de muitos médiuns, por originar estacionamento e até atrofia de suas faculdades. Os Grupos permanecem durante anos consecutivos sem progresso, improdutivos. As curas, conforto, consolações, orientação, quase não se registam.

            Sem as cautelas necessárias ficam os médiuns, isoladamente ou em conjunto, e todos os componentes dos Grupos sob a ameaça de malogro de resultados perigosos, como a subjugação, a obsessão, a fascinação. As mistificações são acolhidas como verdades, o animismo e a auto sugestão imperam.

            Se a prática do Espiritismo bem orientada é uma fonte inesgotável de consolações inefáveis e indeléveis, apresenta também terríveis perigos para os descuidados e inexperientes.

            Os médiuns devem ser esclarecidos suficientemente sobre o processo das manifestações a fim de bem cumprirem o seu mandato.

            Léon Denis, no livro No Invisível, trata deste assunto: "As leis da comunicação espírita”. "Sabemos que a mediunidade, no maior número de suas aplicações, é a propriedade que têm alguns dentre nós de se exteriorizar em graus diversos, de se desprender do envoltório carnal e imprimir mais amplitude a suas vibrações psíquicas. Por seu lado, o Espírito libertado pela morte se impregna de matéria sutil e atenua suas radiações próprias a fim de entrar em uníssono com o médium.
            "Aqui se fazem necessários uns algarismos explicativos. Admitamos, a exemplo de alguns sábios, que sejam de 1.000 por segundo as vibrações normais do cérebro humano. No estado de "transe" ou de desprendimento, o invólucro fluídico do médium vibra com maior intensidade, e suas radiações atingem a cifra de 1.500 por segundo. Se o Espírito, livre no espaço, vibra à razão de 2.OOO no mesmo lapso de tempo, ser-lhe-á possível, por uma materialização parcial, baixar esse número a 1.500. Os dois organismos vibram então simpaticamente; podem estabelecer relações, e o ditado do Espírito será percebido e transmitido em transe mediúnico."
            "É essa harmonização das ondas vibratórias que imprime às vezes ao fenômeno das incorporações tamanha precisão e nitidez."

            André Luiz, no livro Missionários da Luz, escreveu por intermédio de Francisco Cândido Xavíer, o devotado servidor da Causa, o seguinte: "E, dirigindo-se para um rapaz que se mantinha em profunda concentração, cercado de auxiliares de nosso plano, explicou, atencioso: - Temos seis comunicantes prováveis, mas, na, presente reunião, apenas compareceu um médium em condições de atender. Desde já, portanto, somos obrigados a considerar que o grupo de aprendizes e obreiros terrestres, somente receberá o que se relacione com o interesse coletivo. Não há possibilidade para qualquer serviço extraordinário."

            Considerando estas elucidações, não podemos compreender a singular ocorrência que temos constatado na maioria dos Grupos que visitamos. A um certo momento, sob a ordem do presidente, todos os médiuns recebem, no mesmo instante, os seus Guias ou Espíritos não identificados, passam as mãos pelas próprias cabeças, em gestos cadenciados, sacodem-se com mais ou menos intensidade, e dizem repetidas vezes: "Graças a Deus, boa noite, aqui estou para prestar a minha colaboração" ou "A paz do Senhor esteja nesta casa, boa noite, vim auxiliar o meu médium" e várias outras, algumas das quais são incompreensíveis.

            Como podem todos os médiuns receber ao mesmo tempo? Há médiuns que permanecem anos consecutivos sem qualquer progresso, sem qualquer desenvolvimento. São os médiuns que Allan Kardec classificou de improdutivos.

            É o caso de indagarmos: Nas manifestações simultâneas haverá animismo? auto sugestão? ou será falta de orientação dos presidentes? Julgamos ser tempo de os presidentes meditarem sobre o processo das manifestações para tirarem melhor proveito de seus esforços.

Reformador (FEB) Março 1964