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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Rohden 1937 por Quintão - Rohden 1945



            Em duas ocasiões, localizamos textos que se referem ao prof. Huberto Rohden. Vale a pena compará-los....




Casos e Coisas

III

                        Em nossa anterior respiga (compilação) [1], vimos a sem cerimonia com que o Rev. Rohden procura legitimar a autoridade da sua Igreja.

            Os espiritistas conscienciosos sabemos que a história do catolicismo é a maior intrujice (logro) impingida à humanidade no transcurso da sua laboriosa evolução planetária.

            Aranhol (armadilha) de mitos e símbolos decalcados no paganismo; qual mais fantasioso e absurdo, sempre variável consoante às circunstâncias de tempo e meio, não é preciso ser douto, mas simplesmente lido e sofrivelmente racionalista para lhe repugnar as credenciais que avoca, de árbitro da consciência humana, de suserania espiritual.

            Basta ler sem espirito preconcebido os Evangelhos do Senhor, para concluir que toda a obra do catolicismo é o que pode haver de mais contrário, teórica e praticamente, à índole do Cristianismo. Nem por menos, melhor pudera dizê-lo Gonzalez Blanco :

            “O Cristianismo em seus primórdios não foi mais que uma instituição monástica, que não conseguiu adaptar-se e muito menos aplicar-se a qualquer sociedade humana, até que se mundanizou, convertendo-se em catolicismo”. (1)

            (1)  Nuevo Ideal de Ia Humanidad, pág. 326

            Mas, ainda bem que o caroável (amável) jesuíta admite a coexistência de outras religiões, que levam a criatura a dar com os costados no céu ...

            Na conclusão de seus escritos na “Ordem” e pela ordem, obrigada a ilustração fotográfica - um facies de alma regalada em corpo teuto bem nutrido, antes que esquálido cenobita (de existência austera) sequioso de angelitudes - pergunta-nos ele com embelecos (atrativos)  de freira noviça:

            qual a religião do mundo que tem levado ao céu maior número de almas?

            Em boa tese, é claro que a resposta só poderia ser dada com estatísticas autenticas, admitindo haja lá, no dito cujo céu de sua imaginaria concepção, uma burocracia especializada.

            Não pensem, porém, que o Rev. em sanhas de anfigurismo (?) se detenha em considerações que tais. Não. Ele, nisso de histórias, vai de vento fresco com Quintiliano (orador do século I) que diz ser a história escrita para contar, não para, provar, - scribitur ad narrandun, non ad probandun.

            Ainda assim, louvemos o escrúpulo do Rev., porque estamos em crer que se ele aventurasse um número concreto, não deixaria de abiscoitar admiração maior da Ordem e dos seus pios leitores coordenados.

            O interessante, porém, é que a pergunta implicitamente comporta a hipótese de outras religiões, capacitadas de cooperação eficiente na obra do “Sindicato dos Despachantes celestes”...

            Essa abnegação, de um exclusivismo até agora fechado, maciço, irredutível, é já um progresso que as outras religiões devem registar e agradecer ao Rev. .

            Quanto a nós, ficamos sabendo que, no jogo dos palpites e pelo censo matemático de sua Reverendíssima, não temos prestígio que valha perante o instituto do Pistolão divino ... E sabem os confrades por que? Porque ainda não fabricamos - fabricar é bem o termo - homens virtuosos, heróis de perfeição cristã, “santos”, em suma! (sic).

            Satisfeito com o achado da sua grande alma, devorada a esfinge, gorgolejante de parenética e fremente de entusiasmo, prossegue, então, com a “lista de chamada”, dos beneficiários da sua indústria, a começar pela Virgem Santíssima de mil nomes, os Apóstolos, alguns varões realmente conspícuos, e a terminar com a Terezinha do Menino Jesus!

            Aí transparece a filáucia (egoísmo)  dos métodos jesuíticos, sempre apriorísticos, da catequese eclesiástica.

            Método difuso, confuso, abstruso, obtuso e aleivoso (fraudulento) , sempre.

            Desarticulada a peça, examinada a frio, que se pode inferir?

            l. - que o padre admite católicos antes de haver catolicismo. O carro adiante dos bois ...

            2. - quer, sejam da sua Igreja apenas, os que só por espírito de caridade nela se filiaram ocasionalmente, antes que por vocação ortodoxa.

            3. - julga-se consciente e onipotente para arbitrar santidades alheias.

            4. - omite todos os santarrões da sua grei, que, analisados e somados, dariam um tratado de tetarogenia (?)  criminal e aberração religiosa.

            Não. Positivamente, não. O Rev. Rohden não conhece, ou melhor, finge não conhecer o Espiritismo, pois de outra forma não argumentaria tão puerilmente, a indagar quais os santos que a doutrina dos Espíritos tem incorporado às milícias celestes. Porque a verdade é que nenhum adepto da Nova Revelação é candidato à santificações de improviso, ou de encomenda, para uso-fruto de beatitudes indefinidas e problemáticas.

            Nós, nenhum de nós, pretende ser santo, senão num sentido relativíssimo, pela quota de iluminação e pacificação da própria consciência.

            E assim pensando, e sentindo, melhor nos integramos na palavra de Verdade com o reino dentro de nós, qual o situou o Cristo de Deus.         

            O clero, e todo clero, deve mesmo contrabater o Espiritismo, porque o Espiritismo integral é a vitória do Cristo sacrificado há vinte séculos e usurpado à consciência das massas, sem embargo de lutas cruentas, ignóbeis, desencadeadas em seu nome.

            O Espiritismo apoiado em fatos, antes que em teorias, representa a emancipação da consciência humana, para compreender a imanência dos seus destinos.

            O espírita não crê apenas porque viu, sentiu, soube; mas sabe porque viu, sentiu, creu.

            De resto, não se pode presumir paralelismo religioso entre Espiritismo e Catolicismo.

            Religioso católico é o individuo que aceita Deus condicionalmente, mediante fórmulas e ritos exteriores, consagrados. O espírita cristão não faz a religião, não vive da religião, nem combate a religião de quem quer que seja.

            O que o espirita não aplaude é a hipocrisia das religiões.

            Ele não inventa sistemas de salvação e compressão, não fabula milagres, não violenta consciências, não manda crer e sim raciocinar.

            Afinal, o Rev.  incide no erro, erro ou versucia (sagacidade) , de supor que a doutrina espírita se adscreve (acrescentar ao que já foi escrito) ao comércio das evocações e manifestações dos mortos, quando a verdade é que ela assenta, inteirinha, na racionalidade da sua filosofia.

            Nem é o homem a procurar os Espíritos, mas estes a manifestarem-se espontaneamente ao homem, qual o fizeram de todos os tempos, a dentro mesmo dos arraiais católicos, e apenas sob um prisma teológico mais consentâneo com a mentalidade contemporânea. Há desvios e aberrações? De acordo ... São do homem, não da Doutrina. E quantos apontaríamos à Igreja?

            O homem, em tese, ainda é aquele homem velho a que se refere o Divino Mestre, e nessa categoria - aqui a bola do padre é boa - estão aqueles confrades que exornam as fachadas dos Centros Espiritas com os nomes dos “santos” do seu tronchudo hagiológio (estudo dos santos), dele padre. Também se poderia alegar que o caso é menos sério e a coisa menos grave, porque a homenagem é antes ideal que nominal ...

            Mas, para que? Essa gente é ferrenha, é testuda (teimosa), e, ao menos nisso, não custa fazer-lhes a vontade.

            Que a questão não é mesmo de casca e sim de miolo...


M. Quintão
Reformador (FEB) 16 Fev 1937





Confissões
           
            Não iremos transcrever trechos das Confissões de Santo Agostinho, mas de um livro - Deus -  da autoria de uma das mais cultas inteligências da famosa Companhia de Jesus, o Rev. Padre Huberto Rohden, atualmente, segundo estamos informados, professor de uma Universidade mantida pelos padres jesuítas na América do Norte:

            "- O teu reino não é deste mundo. Querem os homens - humanos, por demais humanos - que o teu reino, Senhor, que no mundo está, seja também deste mundo.

            "Querem os homens provar com eruditos silogismos que a alma do teu Evangelho é compatível com o corpo do nosso mundo - deste mundo tão imundo...

            "Querem os homens demonstrar matematicamente que o espírito do Sermão da Montanha não é contrário ao espírito da nossa sociedade - desta nossa sociedade burguesa e sem espírito. "

            "Querem os homens fazer do Cristianismo uma religião moderna, elegante, grã-fina - religião de salão e de palácio ...

            "Reduzem a artísticas cruzinhas de ouro e madrepérola, para ornamento e vaidade, o tosco e sanguinolento madeiro que o teu Messias arrastou ao Gólgota, com sofrimento atroz...

            "Querem polir e envernizar esteticamente o símbolo da redenção, com medo de se ferirem em suas agudas arestas...

            "É assim que os cristãos entendem o seu Cristianismo - que não é o Cristianismo do teu Cristo...

            "Desde que o primeiro imperador cristão tirou da noite tri-secular das catacumbas a tua igreja e a levou da cruz aos salões, começou a decadência do teu reino - do teu reino, não em si mesmo, mas entre os homens ...
           
            "O clima da tua igreja é o clima do Getsêmane e do Gólgota - e fora deste clima não pode ela viver e prosperar ...

            "Tua igreja é uma perene tempestade de Pentecostes - e não um salão de festas forrado de tapetes e guarnecido de poltronas...

            "As igrejas degeneraram, muitas delas, em sectarismo político - e o homem dos nossos dias tem horror a todos os fetiches, a todas as jaulas do corpo e da alma ...

            "A alma "naturalmente cristã" volta-se, com irresistivel avídez para o sol, para o Cristo, para ti, Senhor - e foge de todos os lampiões e de todas as lanternas multicores com que os homens pretendem substituir o sol do teu Evangelho ... "

            "Sucedeu, então, à benéfica inimizade dos Pílatos a maléfica amizade dos Constantinos, que desceram da cruz a igreja do Nazareno, arrancaram-lhe das mãos os cravos e deram-lhe o cetro do poder mundano; substituíram a coroa de espinhos por uma coroa de ouro e pedras preciosas: em vez da púrpura sagrada do seu sangue redentor cobriram-na com a púrpura profana da Babilônia, e mandaram o Cristo dos séculos sentar-se no trono da política e dos interesses mundanos, em vez de doutrinar os povos da cátedra divina da cruz ...

            "E o teu reino, Senhor, que deste mundo não é, mundanizou-se nas mãos de homens que são deste mundo. Ficou-lhe, sim, pura e inalterada a alma - porque nenhuma potência do inferno pode adulterar a alma do teu reino -  mas a tal ponto se mundanizou o corpo da tua igreja que dificilmente se pode descobrir-lhe a alma divina através desse corpo profano ...

            "Se os cristãos continuarem na sua infeliz tentativa de intoxicar o teu reino com a peçonha da política profana e dos compromissos interesseiros, teu Messias, quando voltar, não encontrará fé entre os homens ...

            Os trechos que ai estão, inclusive as reticências, são do próprio Autor. Só nos resta afirmar que estamos de perfeito acordo com o muito ilustre escritor jesuíta.



assina     I. Pequeno
(Antônio Wantuil de Freitas)
in ‘Reformador’ (FEB) em  Dezembro  1945




[1] Infelizmente, ainda não temos o exemplar mencionado no texto. Do Blog. 



O Livro de Tobias



O Livro de Tobias
 O LIVRO DE TOBIAS, extraído da Bíblia Oficial Romana e comentado de acordo com a
Terceira Revelação. Editado pela Livraria da Federação Espírita Brasileira. 1944. 76 páginas.



            A publicação deste livrinho é consequência direta da Questão Roustaing, que no Brasil tem provocado sérias polêmicas entre os partidários da teoria do corpo fluídico de Jesus e os Kardecistas e tende a justificar o fato de a Federação Espírita Brasileira considerar Os Quatro Evangelhos, de J. B. Roustaing, como obra fundamental do Espiritismo, ao lado das de Kardec, a que se opõem muitos escritores e jornalistas do lado contrário.

            O livro em apreço tem certa analogia com o Novo Testamento, não só na essência, como até na linguagem e nas máximas que contém. Embora Kardec lhe faça referência no O Evangelho segundo o Espiritismo, o livro não figura na edição popular da Bíblia.

            A Federação Espírita Brasileira, que é partidária do corpo fluídico de Jesus e propaga essa teoria no seu órgão oficial e em livros e folhetos que edita, aproveitou o fato de nesta obra aparecer um Espírito materializado que Tobias-filho toma por um homem que faz vida semelhante à doutro homem, que o guia em certa viagem que empreende, que o protege, que o casa com Sara, filha de Raquel, que cura a cegueira de Tobias-pai, tudo isto com o nome de Azarias, e só no fim, quando se despede, é que se dá a conhecer, dizendo ser o Anjo Rafael, "um dos sete que assistimos diante do Senhor"; aproveitou este fato, dizíamos, para reforçar aquela teoria, a fim de mais facilmente acreditarem os que ainda se não decidiram por ela. Confessa-o numa nota explicativa, a fim de destruir os ataque feitos à obra de Roustaing, terminando por dizer que[1] (1) "negar fé aos ensinos recebidos pela mediunidade de Mme. Collignon, num ponto capital em que esses ensinos confirmam as duas fases anteriores da Revelação divina, equivaleria a negar o Judaísmo, o Cristianismo e o Espiritismo". (*)

(*) Da revista espírita ‘Estudos Psíquicos’ que se edita em Lisboa.



in ‘Reformador’ (FEB) Outubro 194



[1] (1) O grifo é de Reformador.


27 de Julho




27 Julho

Amor, quando verdadeiro;
Não cuida de ser amado;
Não existe sacrifício
Que não seja tolerado.

Mário Linhares

por Gilberto Campista Guarino
in ‘Centelhas de Sabedoria”
 (1ª Ed  FEB 1976)



quinta-feira, 26 de julho de 2012

O Quanto Pode a Fé Espírita?



O quanto pode 
a fé espirita?

Hospital Espírita
Pedro de Alcântara
                                                                                             
in Reformador (FEB) Janeiro 1946


            “Na tarde do dia 30 de dezembro, foi inaugurado, nesta Capital, o Hospital Espírita Pedro de Alcântara, à rua Santa Alexandrina n." 181, no bairro do Rio Comprido[1]. Esse bem organizado  departamento de caridade da Associação Espírita Obreiros do Bem veio, sem dúvida alguma, ao encontro dos anseios gerais da grande família espírita do Distrito Federal. E tanto isto é verdade que, não obstante o mau tempo então reinante, grande, extraordinário mesmo, foi o número de confrades que compareceram ao ato inaugural e cujas fisionomias irradiavam a imensa alegria de seus espíritos.

            O Presidente da Federação Espírita Brasileira, por motivo de força maior e de última hora, deixou, aliás com grande pesar seu, de integrar a delegação composta dos Srs. Francisco Virgílio da Rocha Garcia, Américo Lopes Vieira, Manuel Jorge Gaio e Sílvio Brito Soares, que foi levar a mensagem fraterna e de solidariedade cristã, em nome da "Casa de Ismael", à dedicada diretoria da Obreiros do Bem. O presidente dessa Associação Espírita, Sr. Agostinho Pereira de Sousa, ao dar como inaugurado o Hospital Espírita Pedro de Alcântara, leu expressivo discurso, em que teve ensejo de historiar os trabalhos, árduos sem dúvida, e que agora alcançavam seu objetivo com a feliz inauguração desse Hospital, montado com todos os requisitos da técnica moderna, o qual ficou entregue à competência profissional de três médicos psiquiatras de reconhecido valor. O nosso irmão Agostinho Pereira de Sousa terminou a leitura de seu discurso com a voz embargada pela justa emoção de que se achava possuído. O Sr. Rocha Garcia, 2º Secretário da Federação, foi o primeiro orador a se fazer ouvir em nome dos representantes das organizações espíritas. Em breve improviso, felicitou vivamente a diretoria da Associação Espírita Obreiros do Bem, ao mesmo tempo que ressaltou a grandiosidade da iniciativa em foco. Ufanava-se disse, o nosso 2º Secretário, em declarar que a Federação Espírita Brasileira sentia-se feliz porque essas obras de benemerência social e que tão alto colocam o Espiritismo no consenso público, constituíam o reflexo pujante da prática daquilo que a entidade máter do Espiritismo no Brasil vem pregando há mais de meio século! Após falarem vários oradores, ouviu-se a mulher espírita. Foi o fecho de ouro, pois a nossa irmã Hermínia Donato, a quem coube a delicada tarefa de proferir a prece de encerramento da solenidade, foi ouvida no meio de absoluto silêncio. Tocou fundo o coração de todos, pela sua sensibilidade aliada à justeza de sua sincera imprecação a Deus!

            A Federação Espírita Brasileira, mais uma vez, por meio deste singelo comentário, roga a Jesus que beneficie tão bela realização, para que o Hospital Espírita Pedro de Alcântara venha, em futuro próximo, testemunhar o quanto pode a fé espírita a serviço da Ciência e da Caridade. “




 *****

            Os nomes que aparecem neste artigo de 1946 
 fizeram a parte deles quando de suas passagens entre nós. 

Agora, este Blog roga a SUA CONTRIBUIÇÃO 
pois o Hospital precisa do nosso auxílio.



            Como, quanto e de que forma?   Visite o site...

            www.hospitalpedrodealcantara.com.br
            Presidente: Dr. Paulo Eduardo Mansur Hobaica








[1] Rio de Janeiro, RJ – do Blog.


5. Bilhetes



f.   Bilhetes
           

            A política, sob a capa da razão, cava num palmo de terra, existente entre dois irmãos, a sepultura de ambos. Não sei onde li essa opinião. Creio que em Camilo. Li-a na minha mocidade.

            Agora, já na velhice, quando me sinto aproximar do dia em que deverei entregar os ossos à sepultura, nesse hábito que os velhos temos de recapitular as lições recebidas na longa peregrinação terrena que palmilhamos, é realmente doloroso observarmos, assim, quando já se tem o pé na cova, que os homens são sempre os mesmos, as eternas crianças que só veem pelo prisma acanhado do direito individual, sem qualquer respeito pelo direito do próximo ou da coletividade e sem sequer vislumbrarem as consequências futuras do ato irrefletido do presente.

            A ideia que tiveram os nossos irmãos católicos - que se deixaram levar pelo clero sempre ambicioso das posições do mundo - de se organizarem em Ligas e de apresentarem exigências aos candidatos, refletirá mais tarde, com todas as consequências, não só por dividirem elas os próprios meios católicos, como por estimularem a criação de partidos políticos dentro de todos os meios religiosos e anti religiosos do País.

            A política religiosa da Idade Média renasceu no Brasil. Assistimos ao mais vergonhoso de todos os absurdos: púlpitos transformados em tribunas de meetingueiros, templos a servirem à deusa Política, pastores a dispersarem ovelhas. E tudo isso na presença silenciosa dos "santos" que ornavam os altares!

            Os políticos, porém, acharam belíssima a ideia do nosso clero. É' possível, mesmo, que os vencedores ofereçam aos padres o prêmio a que fizeram jus. Prêmio que eles esperavam obter na certa, porque aderiram, de uma só vez, aos dois candidatos em evidência, aos que poderiam ser eleitos com ou sem auxílio de partidos religiosos, mas o que se observa é que o meio católico se dividiu, que a religião foi prejudicada na sua parte espiritual e que o exemplo estimulante aí ficou para as futuras lutas.

            O clero jogou na certa, como sempre. Não lhe comove a luta entre os seus adeptos. Só lhe interessa a consecução dos seus planos: O poderio material, esse mesmo poderio que sempre o preocupou desde a aliança com Constantino, no século III, esse mesmo poderio de que tanto abusaram na Rússia dos czares, ao ponto de o próprio povo se levantar contra os opressores de todos os matizes.

            Lutas religiosas; lutas que dividirão os filhos da mesma Pátria! Os quadros da História se nos apresentam apavorantes. Só os cegos, condutores de cegos, não têm olhos para ver! Que importa, porém, ao clero estrangeiro que nos domina, o sofrimento dos nossos filhos? Que importa, mesmo, que um ou outro sacerdote seja sacrificado? Se não podem dominar com o Cristo, porque este já os abandonou há séculos, dominarão com César...

            A Igreja já não tem mais autoridade espiritual sobre os seus adeptos. Os intelectuais já a têm como organização política, com finalidades puramente humanas.

            Os seus dirigentes paganizaram o Cristianismo, corromperam os ensinamentos do Nazareno, menosprezaram-lhe os exemplos, renegaram-lhe o Evangelho, abandonaram a cruz e transferiram-se para os salões dos Césares de todas as nações.

            Os cristãos, porém, aqueles que creem nas palavras do Messias, aqueles a quem os senhores de tonsura chamam feiticeiros, loucos, demoníacos e exploradores da credulidade pública, esses continuam ouvindo e honrando as recomendações do Mestre: "O meu reino não é deste mundo".




assina     G. Mirim
(Antônio Wantuil de Freitas)
in ‘Reformador’ (FEB) em  Dezembro  1945




26 de Julho




26 Julho

Ninguém fica pra semente,
Essa é a justiça do além,
Só morre serenamente
Quem nunca lesou ninguém.

 Octávio Serrano
 
in ‘Trovas da Codificação”
  (1ª Ed – Sal da Terra - 1998)


quarta-feira, 25 de julho de 2012

45. 'Doutrina e Prática do Espiritismo'




45  ***



            Completemos agora essa extensa documentação, com que nos pareceu conveniente robustecer o principio da pluralidade de existências, com a narrativa do seguinte caso, particularmente significativo, ao qual acrescentaremos mais dois apenas, antes de passar a outra ordem de considerações.

            Em seu excelente livro O PROBLEMA DO SER E DO DESTINO, refere Léon Denis, ocupando-se deste mesmo assunto (1):

(1) Págs. 289 e 290 da edição francesa.

            "O príncipe Adam Wiszniewski, residente à rua Débarcadère  nº 7, em Paris, nos transmitiu a seguinte narrativa, que lhe foi comunicada pelas próprias testemunhas, algumas das quais ainda vivem e não consentiram em ser indicadas mais que por iniciais:

            "O príncipe Galitzin, o marquês de B. e o conde de R. se achavam reunidos, no verão de 1862, em Hamburgo, na estação de águas.

            "Uma noite, depois de haverem jantado muito tarde, passeando no parque do Casino e viram, deitada num banco, uma mendiga. Aproximaram-se e, tendo-a interrogado, a convidaram a vir cear ao hotel. Depois que ela ceou; com grande apetite, o príncipe Galitzin, que era magnetizador, teve a ideia de a adormecer, o que, ao fim de repetidos passes, conseguiu, Qual não foi a admiração dos presentes, quando, profundamente adormecida, aquela que no estado de vigília apenas se exprimia num péssimo dialeto alemão, entrou a falar francês com extrema correção, referindo que se tinha reencarnado pobre, como punição, por haver cometido um crime em sua vida precedente, no século XVIII. Morava então em um castelo, na Bretanha, à beira-mar. Tendo tomado um amante, quis se desembaraçar do marido, e o precipitou no mar, do alto de um rochedo. Indicou o lugar do crime com a máxima precisão.

            "Mediante essas indicações, puderam o príncipe Galitzin e o marquês de B. ir mais tarde à Bretanha, às costas do Norte, e entregar-se, cada um por seu lado, a pesquisas cujos resultados foram idênticos. Interrogando várias pessoas, não conseguiram obter, ao começo, informação alguma; por último, todavia, encontraram velhos camponeses, que se recordavam de ter ouvido contar por seus pais a história de uma jovem e bela castelã que havia posto fim à vida do marido, atirando-o ao mar. Tudo o que a pobre mulher de Hamburgo tinha dito; no estado sonambúlico, foi reconhecido exato.

            "O príncipe Galitzin, em seu regresso à França, passando novamente por Hamburgo, se informou com o comissário a respeito daquela mulher e dele ouviu que ela era inteiramente destituída de instrução, não falava mais que um vulgar dialeto alemão e vivia apenas dos mesquinhos recursos que obtinha como mulher de soldados."

            O segundo caso, a que nos reportamos, vem assim exposto no livro de C. W. Leadbeater, Do OUTRO LADO DA MORTE (págs. 487), em forma de carta que lhe dirigira do Novo México, uma senhora, cuja assinatura se oculta sob as iniciais S. O.:

            "Ofereço minha experiência pessoal como um fato absoluto e não como um documento em apoio de qualquer teoria. Na época em que essa experiência me foi proporcionada (há 25 anos) nada absolutamente conhecia eu de mediunidade e nunca tinha ouvido pronunciar a palavra "reencarnação." Tinha dezesseis anos e estava casada havia um ano apenas.
           
            "Acabava de verificar que ia ser mãe, quando me tornei vagamente consciente da presença, em torno de mim, de uma personalidade invisível, Pareceu-me instintivamente que o meu companheiro oculto era uma mulher mais idosa que eu, com uma sensível diferença de muitos anos. Essa presença se foi gradualmente acentuando. Três meses depois de a sentir, comecei a receber, por telepatia, extensas comunicações da personalidade invisível. Manifestava os mais diligentes cuidados por minha saúde e bem-estar geral e pude com ela entreter uma conversação durante longas horas. Disse-me o seu nome e indicou a nacionalidade que tivera, com abundantes particularidades relativas a sua história pessoal. Mostrava-se ansiosa por que eu a conhecesse e a estimasse por ela mesma, conforme o dizia. Empregava constantes esforços por se tornar visível e afinal o conseguiu no último período da minha gravidez. Era então para mim uma companheira tão estimada e tão real como se estivesse revestida de um corpo de carne. Não tinha mais que correr as cortinas, a fim de dar ao meu quarto uma tênue claridade; para que a sua presença, ao mesmo tempo, se me atesta-se à vista e ao ouvido.

            Duas ou três semanas antes da nascimento de minha filha, me comunicou que o objeto principal de sua presença era a intenção de entrar em a nova forma que viria, dentro em breve, ao mundo, a fim de completar uma experiência terrestre que não pudera levar a bom termo. Confesso que, ao começo, não compreendi o que ela queria dizer e que me deixou muito perturbada.

            "Na noite que precedeu o nascimento de minha filha, vi pela última vez a minha companheira, que me disse: "é chegado o nosso tempo; tenha coragem e tudo lhe há de correr bem."

            "Nasceu minha filha, e era a perfeita miniatura da minha amiga-espírito; ao demais não se assemelhava a nenhum dos membros da família de que descendia. Ao vê-la, exclamavam todos:  "Mas não tem a fisionomia de uma criança! Parece ter pelo menos vinte anos."

            "Extremamente surpreendida fiquei eu, quando, alguns anos mais tarde, me veio às mãos uma obra antiga em que se achava relatada a história da mulher cujo nome e existência me haviam sido indicados como os seus próprios pelo espírito-amigo. Essa história apresentava absoluta conformidade com a que me havia sido referida, salvo algumas particularidades pessoais que não podiam ser de outros conhecidas. Guardei comigo, como um profundo segredo, essa experiência, porque, atenta a minha mocidade, sabia de antemão que juízo faria o mundo de quem semelhante história referisse.

            "Um dia, quando minha filha tinha quinze anos, o nome anterior de minha amiga-espírito foi pronunciado em sua presença. Voltou-se ela vivamente para mim e perguntou:
           
            "-Mamãe, meu pai não me chamava assim?

            "-Não, lhe respondi; nunca foste chamada por semelhante nome (seu pai falecera quando ela tinha um ano).

            “-Entretanto -observou - recordo-me perfeitamente; não sei onde, mas alguém me chamava por esse nome .

            "Devo, em conclusão, acrescentar que o caráter de minha filha se assemelhava singularmente ao da que era descrita na história dessa mulher, cujo espirito me havia dito querer tomar a nova forma que eu devia dar à luz.

            "Aí estão os fatos. Não dou explicação alguma. Se confirmam qualquer teoria, bem satisfeita ficarei, porque as teorias têm necessidade de fatos para as amparar e fazê-las admitir. Os fatos, porém, são incontestáveis e por si mesmos podem se manter. "

            Críticos exigentes poderão talvez achar demasiado vago esse testemunho, dada a ausência de nomes próprios e, com ela, a impossibilidade de uma ulterior verificação. A mesma arguição contudo já não poderão formular contra o último dos casos com que vamos encerrar esta série documental e que, publicado em primeiro lugar na Itália e sucessivamente reproduzido em varias revistas (1), sob a epígrafe "Um caso de reencarnação previamente anunciado," tem para o atestar os nomes consagrados na esfera das ciências.

            (1) Entre outras, ANNALES DES SCIENCES PSYCHIQUES, de Paris, LUMEN, de Barcelona, LA REVUE SPlRITE, etc.

            Utilizamo-nos da tradução estampada no REFORMADOR de 15 de maio 1911 e feita do artigo publicado na REVUE SPIRITE, de Paris, pelo coronel de Rochas, que o subscreve. É a seguinte:

            "A excelente revista mensal FILOSOFIA DELLA SCIENZA, editada em Palermo pelo Sr. Innocenzo Calderone, contém um artigo do mais alto interesse relativamente a esse extraordinário fenômeno de que já são conhecidos alguns casos, que relatarei numa obra sobre as VIDAS SUCCESSIVAS, atualmente no prelo.

            Eis a tradução de uma parte desse artigo, escrito pelo Dr. Carmelo Samona, que publicou recentemente, como tese defendida perante a Faculdade de Palermo, um livro notável intitulado PSICHÉ MISTERIOSA:

            "Meu caro Calderone,

            "Apesar do caráter absolutamente íntimo dos fatos que precederam o nascimento de minhas filhinhas, não hesito, no interesse da ciência, em entrega-los à publicidade por intermédio de tua tão difundida e apreciada revista, sem ocultar os nomes das diversas pessoas que deles tiveram conhecimento, à medida que se foram produzindo.

            "Se por minha parte me abstenho de os discutir, acho contudo que Convém divulga-los, para que outros o possam fazer.

            "Nenhuma ciência progride, permanecendo na ignorância dos fatos.

            "Se, no domínio metapsíquico, por temor ao ridículo, ou por outros motivos da mesma ordem, cada um guarda para si essas espécies de acidentes mais ou menos raros que podem sobrevir, adeus esperança de progresso!

            "Envio-te uma narração sintética, absolutamente fiel, dos fatos tais quais se produziram, sem a mínima discussão de minha parte relativamente aos interessantes problemas que suscitam, isto é, sonhos premonitórios, personalidades mediúnicas, etc. 

            "O caso atual se apresenta favoravelmente - creio eu - no ponto de vista científico, porque as pessoas que desde o começo acompanharam as diversas particularidades sucessivas e que as observaram com grande interesse gozam de geral consideração por sua moralidade e inteligência.

            "Além da narração dos fatos envio-te as declarações de algumas dessas pessoas que confirmam as minhas asserções, e estou pronto a fornecer outros testemunhos da mesma natureza e todos os esclarecimentos que forem julgados úteis para a investigação científica.
           
            "Crê na perfeita estima de teu afetuoso amigo – CARMELO SAMONA.


                                               EXPOSIÇÃO SINTÉTICA DOS FATOS

            "A 15 de março de 1910, depois de gravíssima enfermidade (meningite), expirava minha adorada filhinha Alexandrina, de cerca de 5 anos de idade. A dor que sentimos, eu e minha mulher, que escapou de ficar louca, foi profunda.

            Três dias depois minha mulher sonhou com ela: parecia vê-la tal qual era quando vivia conosco e ouvia-lhe dizer:

              "-Mamãe, não chores mais, Eu não te abandonei nem me afastei de ti, Olha  tornei-me tamaninho assim; e acrescentou:

            "-Vais por isso começar de novo a sofrer por mim,"

            Reproduziu-se o mesmo sonho, três dias depois. Sabendo do caso, uma amiga de minha mulher, fosse por convicção ou para a consolar, disse-lhe que esse sonho podia ser um aviso de sua filhinha, que talvez se preparava para renascer dela; e, para mais persuadi-la de tal possibilidade, trouxe-lhe um livro de Léon Denis em que se trata de reencarnação .

            Mas nem os sonhos, nem essa explicação, nem a leitura da obra de Denis conseguiram lhe abrandar a dor. Igualmente se conservou incrédula quanto à possibilidade de nova maternidade, tanto mais quanto, tendo tido um aborto que necessitara de operação (21 de novembro de 1909) e fora acompanhado de frequentes hemorragias, tinha assim quase a certeza de não poder mais conceber.

            Uma vez, de manhã cedo, alguns dias depois da morte da filhinha, chorando como de costume e sempre incrédula, me disse:

            “-Eu só vejo a realidade atroz da perda do meu querido anjinho: é muito rude esta perda, muito cruel, para que eu possa me apegar, como um fio de esperança, a simples sonhos como os que tive e acredi tar em fato tão inverossímil como esse do renascimento da adorada filhinha por meu intermédio, sobretudo considerando meu estado físico atual."

            De repente, enquanto ela tão desesperançada e amargamente se lamentava e eu empregava os melhores esforços para a consolar, três pancadas secas e fortes, como, que batidas com os nós dos dedos por alguém que chegasse e quisesse entrar, se fizeram ouvir na porta do aposento em que estávamos, contíguo a uma saleta, pancadas que foram no mesmo instante percebidas por nossos três filhos que se achavam conosco. Estes, julgando que fosse uma de minhas irmãs que tinha o costume de vir aquela hora, abriram logo a porta, exclamando:

            “-Entre tia Catarina; grande foi, porém, a surpresa de todos, quando não vimos ninguém e verificamos, na escuridão do aposento, que ninguém entrara.

            Este incidente mais vivamente nos impressionou, por se ter passado no momento mesmo do supremo desânimo de minha mulher. Teriam acaso aquelas pancadas uma causa metafísica e alguma relação com o seu profundo abatimento?

            Nessa mesma noite resolvemos começar umas sessões mediúnicas tiptológicas, que metodicamente continuamos durante três meses pelo menos e em que tomavam parte minha mulher, minha sogra, eu e às vezes meus dois filhos mais velhos.

            Desde a primeira sessão duas entidades se manifestaram, uma que dizia ser a minha filhinha e a outra uma irmã que tive e falecera aos quinze anos, havia muito tempo, a qual se apresentava, conforme dizia, como guia da pequena Alexandrina.

            Esta se exprimia com a mesma linguagem infantil que usava quando vivia conosco; a linguagem da outra era elevada e correta, e em geral falava para explicar alguma frase da pequenina, quando não fosse bem compreendida ou então para convencer minha mulher das afirmações de sua filhinha.  

            Na primeira sessão, Alexandrina, depois de dizer que era ela mesma que aparecera em sonhos à sua mãe e de manhã batera à porta as pancadas que ouvíramos (com o fim de indicar a sua presença e procurar consola-la por meios mais convincentes), acrescentou: "Mamãezinha, não chores mais, porque eu vou renascer por teu intermédio, e antes do Natal aí estarei...", repetindo o mesmo para todos os parentes e pessoas conhecidas com as quais mantivera as melhores relações durante sua breve existência.

            Seria fastidioso transcrever todas as comunicações obtidas os últimos três meses, porque, à parte a variante de algumas frases ternas de Alexandrina para com as pessoas mais queridas, eram quase sempre uma repetição constante e monótona do anúncio de sua volta antes do Natal, especificado, desde a primeira sessão, a cada um dos parentes ou conhecidos.

            Muita vez tentámos deter uma tão prolixa repetição, assegurando-lhe nosso cuidado em comunicar a todos a sua volta ou melhor, o seu renascimento, antes do Natal, sem esquecermos ninguém; mas era inútil: ela se obstinava em não interromper-se até esgotar todos os nomes conhecidos. Dir-se-ia nesse fato estranho, que o anúncio de sua volta constituía uma espécie de monoideísmo da pequena entidade. Quase sempre as comunicações terminavam assim:

             "-Agora, vos deixo: tia Giannina quer que eu durma."

            Desde o começo também, ela anunciou que não poderia se comunicar-se conosco por mais de três meses, visto que depois ficaria cada vez mais presa à matéria, ate nela adormecer completamente.

            A 10 de abril minha mulher teve as primeiras desconfianças de uma gravidez, e no dia 4 de maio novo aviso de sua volta por parte da pequenina entidade. Estávamos então em Venetico (província de Messina).

            "-Mamãe, disse ela, está contigo uma outra ainda."

            Como não compreendêssemos, a outra entidade (tia Joanna ou Giannina) explicou:

            "-Não é engano da filhinha; somente não sabe se exprimir bem . Ela quer dizer, minha querida Adélia, que um outro ser que deseja voltar à Terra volteia em torno de ti. "

            Desde esse dia, Alexandrina, em todas as comunicações, afirmava com obstinação que voltaria com uma irmãzinha, parecendo, pelo modo por que se exprimia, alegrar-se com isso.

            Mas, em vez de confortar e consolar minha mulher, tudo isso só fazia aumentar a sua dúvida e incerteza: e mesmo depois dessa nova e curiosa mensagem, ela se tornara mais que nunca convicta de que tudo terminaria por uma grande decepção. Muitos fatos, realmente, deviam se produzir depois desse anúncio, para serem verídicas as comunicações.

            Era preciso com efeito: 1º que realmente a gravidez existisse; 2º que, dados os recentes sofrimentos seus, não houvesse aborto, como sucedera precedentemente; 3° que o parto fosse duplo, o que parecia mais difícil ainda, pois seria um fato sem precedentes na sua família, assim como na minha; 4° que ela desse à luz duas crianças que não fossem do sexo masculino, nem uma do sexo masculino e outra do feminino.

            Na verdade era mais difícil ainda ter fé num conjunto assim tão complexo, contra o qual militava uma série de probabilidades contrárias.

            Assim, apesar de tão belas predições, minha mulher até o quinto mês viveu chorando, incrédula e com a alma torturada, embora nas suas últimas comunicações a nossa pequena entidade a exortasse a ficar mais contente, dizendo-lhe:

            "-Toma cuidado, mamãe, que se continuas tão triste, acabarás nos dando uma constituição bem fraca."

            Numa das últimas sessões, tendo minha mulher  manifestado a dificuldade de crer na volta de Alexandrina e a dificuldade ainda maior de parecer-se o seu corpo com o que antes tivera, a entidade Giannina apressou-se em responder:

            "-Isso também te será concedido, Adália; ela renascerá perfeitamente semelhante e, se não muito, pelo menos um pouco mais bonita."

            Estas palavras foram como um bálsamo para minha mulher: um clarão de esperança despontou afinal em sua alma dolorida, que, entretanto, não tardaria a ser de novo atormentada por um  outro acontecimento.

            Mal havia entrado no sétimo mês, uma notícia inesperada e trágica a abalou e tão vivamente a impressionou que subitamente lhe vieram dores e outros sintomas, que durante cinco dias nos fizeram viver, na terrível ansiedade de um parto prematuro, que seria fatal, pois a criança ou as crianças, que nascessem, não seriam viáveis, não estando completos os sete meses de gestação.

            Imagine-se, além dos sofrimentos físicos de minha mulher, quantas angústias devia sentir aquele coração só com semelhante ideia, depois da esperança que nele começara a agasalhar. E esse estado da alma agravava ainda mais a situação. Nessa ocasião foi minha mulher assistida pelo mesmo Dr. Cordaro; e por fim, contrariamente a toda expectativa, foi conjurado inteiramente o perigo.

            Ficando boa de todo e quando tivemos a certeza de estarem completos os sete meses, voltamos a Palermo onde ela foi examinada pelo célebre médico parteiro Dr. Giglio, que verificou logo uma gravidez de gêmeos. Assim, uma parte bem interessante já das comunicações obtidas tanto tempo antes estava confirmada. Restavam ainda, contudo, outros fatos de igual interesse a serem confirmados, particularmente o sexo, o nascimento de duas meninas, uma das quais fisicamente e moralmente se parecesse com a pequena Alexandrina.

            O sexo foi enfim confirmado na manhã de 22 de novembro, em que minha mulher deu à luz duas meninas.

            Quanto ao conhecimento das possíveis semelhanças físicas e morais, é naturalmente preciso deixar passar algum tempo e verifica-las à proporção que as crianças se desenvolvam.

            É singular, não obstante, que pelo lado físico já se manifestem certos característicos confirmativos da predição e que induzem a continuarmos as nossas observações, autorizando, como autorizam a acreditar que as comunicações sejam literalmente verificadas mesmo sob esse aspecto.

            As duas crianças, agora pelo menos, não se parecem; são mesmo diferentes quanto à corpulência, à tez e à forma do rosto; a menor parece uma cópia perfeita da pequena Alexandrina quando nascera, e, coisa extraordinária, tem com ela de comum três particularidades físicas, a saber: hiperemia do olho esquerdo, ligeira seborreia no ouvido do lado direito, e uma leve assimetria da face, absolutamente idênticas às que apresentava Alexandrina quando nasceu, - Dr. CARMELO SAMONA."

            O artigo publicado na FILOSOPHIA DELLA SCIENZA, termina com uma série de atestados de parentes, e amigos da família Samona, confirmando que tiveram, em tempo, conhecimento dos fatos em questão.

            Tais atestados são excelentes para o estudo científico dos fenômenos, mas é ocioso reproduzi-los aqui. Basta aos leitores saber que eles existem; acrescentarei, de acordo com uma carta que me escreveu o Dr. Carmelo Samona:

            1º que Alexandrina foi a última a nascer, o que, segundo a opinião geralmente admitida, provaria ter sido a primeira na concepção; 2º que, se o parto não se deu ao fim dos nove meses normais, conseguintemente pelo Natal, é que os partos duplos são quase sempre antecipados. - ALBERT DE ROCHAS."