Sessões ‘particulares”
Orvile Derby A. Dutra
Reformador (FEB) Fevereiro 1942
Dado que a doutrina espírita por ser a própria doutrina cristã,
concede inteira liberdade aos seus adeptos, não tem ela hierarquia, nem ritos, nem
dogmas.
Pela mesma razão, nenhum núcleo espírita que se preze de bem
orientado impõe obrigação alguma a seus sócios e frequentadores, nada lhes
exige com referência à doutrina, contando apenas com os esforços e a boa
vontade e todos, de modo que, educando-se a si mesmos espontaneamente,
trabalhem com denodo, levando seu apostolado tão
alto, que chegue a abnegação. Oferece tudo o
que lhe está ao alcance, na convicção de que, cumprindo o Evangelho, tudo o
mais virá de acréscimo e por misericórdia.
Os núcleos espíritas são de modo geral, bem orientados, têm
à sua responsabilidade definida perante as leis do país e, ainda mais, perante
as leis divinas, oficinas, que são, de trabalho constante, produzem sempre
efeitos benéficos, quer na parte espiritual, quer a parte material. Seus guias,
reconhecendo-lhes as responsabilidades, estão sempre vigilantes sobre labores, contribuindo poderosamente para que progridam.
Neles, os estudos se fazem sempre luz dos Evangelhos, oferecendo, além do amparo
do Alto, a vantagem de ser feitos em conjunto o que dá melhores resultados, do
que estudos feitos isoladamente, sem o necessário ambiente espiritual. Dando de
graça tudo o que de graça recebem, suas sessões se realizam à hora certa,
porque, sendo uma coletividade de trabalhadores esforçados, quando falta o que
costumeiramente dirige os trabalhos, outros, à altura de substitui-lo, acorrem,
sem constrangimento e, colocando-se sob o mesmo amparo, colhem os mesmos resultados.
Nos seus recintos só se trata de coisas de elevada moral, só interessando
aquilo que pode beneficiar a outrem. Tanto assim que, dentro dessas instituições
espíritas e do meio em que convivem os seus frequentadores a que saem e nascem
essas obras de assistência social, espalhadas por todos os recantos do nosso
grande Brasil, como frutos valiosos dos ensinamentos do Evangelho do Mestre
Jesus.
Além disso, é dentro dos meios espíritas que se vem operando
lenta, porém seguramente, transformação radical do homem velho em homem novo, a
do materialista em espiritualista, bem como a reedificação de lares
desmoronados, a conversão de muitas criaturas em benefício próprio e de outros.
Ao contrário, os que, por conveniência individual,
isoladamente estudam e praticam a doutrina, não podem contar com tudo aquilo
que oferecem os Centros e o êxito de suas sessões chamadas íntimas ou particulares,
fica à mercê de múltiplas vicissitudes.
Acreditamos que os que assim praticam fazem-no de boa fé, ou
por ignorância e, também, que os Espíritos que se comunicam nesses meios são
bem intencionados; acreditamos, ainda, que, a princípio, tais trabalhos
produzem boas consequências porém, dada a familiaridade do meio e o não terem
as pessoas que os frequentam conhecimento seguro da doutrina e fugirem outros,
por conveniência e vergonha, de ir aos núcleos mais frequentados, logo surgem
as perguntas pouco discretas, as consultas sobre questões materiais e assuntos
de interesse secundário, que não de caridade e espiritualidade, perguntas que,
atendendo às conveniências dos que as formulam e não da doutrina, nem dos Espíritos,
versando quase sempre sobre coisas fúteis e banais, de engrandecimento pessoal,
acabam todos desviando-se bom caminho.
Sendo raro que tenham horário certo para se iniciarem e
encerrarem essas sessões, conquanto possa acontecer que as frequentem médiuns com
bons serviços à Doutrina, portadores de apreciáveis dons mediúnicos e excelentes
intenções, os guias, verificando pouco a pouco a inutilidade de seus esforços,
se vão afastando e os Espíritos zombeteiros os vão substituindo dando
comunicações que, aceitas sem análise, conduzem a um final desastroso, a um desfecho
lamentável. A obsessão muitas vezes se apodera dos componentes e as consequências
são tão dolorosas, que muito nos alongaríamos, se aqui houvéramos de apreciá-las.
É exato que os que revelam tais tendências demonstram precário
conhecimento. da Doutrina codificada por Allan Kardec e, por isso, nada influem
nas já densas fileiras formadas pelos núcleos espíritas, pois sabemos que a
cada um é dado segundo suas obras. Entretanto, necessário se faz atraí-los e esclarece-los,
para que, cada vez mais e mais depressa,
todas as ovelhas formem um só rebanho, em torno do cajado do Pastor divino.
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