Esquisitices e Espiritismo
Vianna de Carvalho por Divaldo Franco
Reformador
(FEB) Novembro 1972
Ressumam com frequência nos arraiais
da prática mediúnica esdrúxulas superstições que
tomam corpo, teimosamente, entre os adeptos menos esclarecidos do Espiritismo, grassando
por descuido dos estudiosos, que preferem adotar uma posição dubitativa,
malgrado a coerência doutrinária de que sobejas vezes deu mostras o insigne
Codificador.
Pretendendo não se envolver no
desagrado da ignorância que se desdobra sob a indumentária de fanatismos
repetitivos, alguns espíritas sinceros, encarregados de esclarecer, consolar e
instruir doutrinariamente o próximo, fazem-se tolerantes com erros lamentáveis,
em detrimento da salutar difusão da Doutrina de Jesus, ora atualizada pelos
Espíritos Superiores. A pretexto de não contrariarem a petulância e o
aventureirismo, cometem o deplorável engano de compactuarem com o engodo,
desconcertando as paisagens da fé e, sem dúvida, conspurcando os postulados
kardequianos, que pareceriam aceitar esses apêndices viciosos e jargões
deturpadores como informações doutrinárias.
É natural que a expansão de qualquer
ideia de enobrecimento experimente a problemática da superfície em oposição ao
valor da profundidade, empalidecendo momentaneamente. Como consequência, todo
ideal que se desenvolve celeremente sofre o perigo de desgaste e desfiguração,
caso não se precatem aqueles que se tornam propugnadores de suas virtualidades
e ensinamentos, especialmente com o porte que caracteriza a Doutrina Espírita.
De um lado, é a ausência de estudo
sistemático, de autodidatismo espirítico haurido na Codificação, de atualização
doutrinária em face das conquistas do moderno pensamento filosófico
e tecnológico; doutro, é o desamor com que muitos confrades, após se adentrarem
no conhecimento imortalista, mantêm atitude de indiferença, resguardando a
própria comodidade, por egoísmo, recusando-se a experimentar problemas e tarefas
caso se empenhassem na correta difusão e no eficiente esclarecimento espírita;
ainda, por outra circunstância, é a falsa super valorização que se atribuem
muitos, preferindo a distância, como se a função de quem conhece não fosse a de
elucidar os que jazem na incipiência ou na sombra das tentativas infelizes; e,
por mal dos males, é porque diversos preferem a falsa estima em que se projetam
ilusoriamente, em lugar do aplauso da consciência reta e do labor retamente
realizado...
...E surgem esquisitices que viram
manchetes do sensacionalismo da imprensa, mais interessada na divulgação
infeliz, que atrai clientes, do que na Informação segura, que serve como luzes
do esclarecimento eficiente.
Médiuns e médiuns pululam nos
diversos campos da propaganda, autopromovendo-se, mediante ridículos
conciliábulos com as fantasias vigentes no báratro em que se converteu a Terra,
sem aferição de valores autênticos, com raras exceções, conduzindo, quase
sempre, a deplorável vulgaridade a nobre mensagem dos Céus, assim chafurdando
levianamente nos vícios em que incorrem. Fazem-se instrumentos de visões
extravagantes e
dizem-se dialogando com anjos e santos desocupados, quando não se utilizam,
ousadamente, dos venerandos nomes do Cristo e de Maria, dos Apóstolos como dos
eminentes sábios e filósofos do passado, a retomarem com expressões da
excentricidade, abordando temas de somenos importância em linguagem chã, com
despautérios, em desrespeito às regras elementares da lógica e da gramática, na
forma em que se apresentam. Pareceria que a desencarnação os depreciara,
fazendo-os perder a lucidez, o patrimônio moral-intelectual conseguido nos
longos sacrifícios em que se empenharam arduamente. Prognosticam, proféticos,
os fins dos tempos e, imaginosos, recorrem ao pavor e à linguagem empolada,
repetindo as proezas confusas de videntes atormentados do pretérito,
atormentados que são, a seu turno, no presente.
Utilizando-se das informações
honestas da Ciência, passam à elaboração de informes fantásticos, ensaiando débeis
vagidos de "ciência-ficção", desencadeando debates com arrimo em
provas inexpressivas retiradas de lacônicos telegramas das agências noticiosas,
com que esperam positivar seus informes sobre a vida em tais ou quais condições
nesse ou naquele planeta do sistema solar, ou noutra galáxia que se lhes torne
simpática, como se a Doutrina já não houvera oportunamente conceituado com
segurança a questão, à Ciência competindo o labor de trazer a sua própria
afirmação, sem incorrerem os espiritistas no perigo do ridículo desnecessário.
Outras vezes, entregam-se à
atualização de antigas crendices e feitiços, enredando os neófitos
em mancomunações com Entidades infelizes, ainda anestesiadas pelos tóxicos da
última encarnação, vinculadas às impressões do em que acreditavam e se demoram
cultuando... Estimulam, assim, o vampirismo, inconsequentes, aumentando o
número de obsidiados, por meio de conúbios nefários em que padecem
demoradamente...
Receitam práticas estranhas e
confusas, perturbando as mentes que se encontram em plena infância da cultura
como da experiência superior, tornando-se chefes e condutores cegos que são, a
conduzirem outros cegos, terminando, conforme a lição evangélica, por caírem
todos no mesmo abismo...
O Espiritismo é simples e fácil como
a verdade, quando penetrado. Deixá-lo padecer a
leviana aventura de pessoas irresponsáveis, ingênuas ou malévolas é gravame de
que não se
poderão eximir os legítimos adeptos da Terceira Revelação.
Como não é lícito fomentar debates
ou gerar discussões improdutivas, cabem, frequentemente, sempre que possíveis,
as honestas informações que levem a distinguir entre Doutrina Espírita e
doutrinas espiritualistas, prática espírita e práticas mediúnicas, opinião
espírita e opiniões medianímicas, calcadas tais elucidações na Codificação
Kardequiana que delineou, aliás, com muita propriedade, as características do
Espiritismo, conforme
se lê na Introdução de "O Livro
dos Espíritos", estando presentes em todo o Pentateuco, que desdobra os
postulados mestres em magníficos estudos de perfeita atualidade, a resistirem a
todas as investidas da razão, da técnica e da fé contemporâneas.
A função de terapia moral do
Espiritismo é incomparável. Torná-lo reduto de banalidades e imediatismos,
convertendo-o em mesa farta de frivolidades, seria conspurcá-lo dolorosamente.
Doutrina de comportamento, imprime
nos adeptos integridade e dignificação, constituindo rota e veículo de
progresso a todo aquele que aspire a mais fecundos horizontes, ambicionando
perspectivas mais felizes para si e para o próximo.
Aprofundar, portanto, estudos, no
seu organismo doutrinário, é dever de todo espírita consciente, que passará a
lecioná-lo, como decorrência do auto aprimoramento, com segurança e lucidez,
não permitindo que a urze do absurdo ou o escalracho da fantasia se lhe
imiscuam, gerando dificuldades compreensíveis nas mentes necessitadas e nos
espíritos sofridos que pululam em toda parte, sedentos da água viva do
Consolador Prometido, que já se encontra na Terra há mais de um século,
prenunciando o período de felicidade que se avizinha e de que nos deveremos
constituir pioneiros, pela forma como apresentarmos e vivermos o Espiritismo
com Jesus.
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