Só os atos definem
o verdadeiro Espírita
Tasso Porciúncula / Indalício Mendes
Reformador (FEB) Agosto 1961
O Espiritismo é uma doutrina
reformatória essencialmente cristã. Não lhe agrada a adesão simplesmente
superficial daqueles que não estejam dispostos a segui-lo com sinceridade.
Espírita só o é o profitente leal à Doutrina, sempre preocupado em
exemplificá-la em todos os instantes da vida de relação, na ânsia de
corrigir-se de defeitos e deficiências. Há muito espiritismo de fachada,
principalmente de indivíduos impermeáveis ao sacrifício de renunciar a pontos
de vista egoísticos, que agem de um modo pouco cristão em determinadas ocasiões
e aparentam, fidelidade doutrinária em momentos outros quando sabe que está
sendo observado por pessoas conhecedoras dos deveres cristãos recomendados pelo
Espiritismo.
Há necessidade de franqueza na
orientação que adotamos, para que o Espiritismo não venha a enfraquecer-se e
desmoralizar-se como certas religiões decaídas, que são eloquentes nas pregações evangélicas, mas estéreis na
observância dos postulados do Cristo. O verdadeiro espírita não sacrifica de
modo algum o seu semelhante. Trata-o com respeito, jamais abusando da sua
autoridade sobre ele. Não se presta a explorá-lo de nenhuma
forma, mas busca seus serviços eficientes e deve remunerá-los com justiça,
porque, conforme o disse Alexis Carrel, com absoluta propriedade,
“a civilização não tem como finalidade o
progresso da ciência e das máquinas, mas
sim o do homem”. Do mesmo modo, “a
vida não tem como finalidade a riqueza cada vez maior de uns com o consequente
empobrecimento cada vez maior de outros", Desse desequilíbrio surgem
as misérias sociais, que estimulam a ambição nociva, o egoísmo deletério, a
insensibilidade moral, o materialismo cru, desumano e cruel.
Contrariando o espírito do Evangelho,
a sociedade contemporânea despreza a pessoa humana e só considera o indivíduo
quando integrando massas. Como pessoa humana, cada vez o indivíduo vale menos,
porque a mentalidade ultra materialista somente se interessa por equipes,
grupos, coletividades. Citamos novamente Alexis Carrel: “É também devido à ignorância do indivíduo que a sociedade moderna atrofia
os adultos. O homem não suporta impunemente a forma de existência e o trabalho
uniforme e estúpido imposto aos operários das fábricas, aos empregados de
escritório, a todos aqueles que têm de assegurar a produção em massa. O
indivíduo encontra-se isolado e perdido na imensidade das cidades modernas. É
uma abstração econômica, uma cabeça de gado num rebanho. Perde a sua qualidade
de indivíduo, deixa de ter responsabilidade e dignidade. Do meio da multidão
emergem os ricos, os políticos poderosos, os bandidos de grande envergadura. Os
outros são apenas poeira anônima. O indivíduo conserva, pelo contrário, a sua
personalidade, quando faz parte dum
grupo em que é conhecido, duma aldeia, duma cidadezinha, onde a sua importância
relativa é maior e dela pode esperar tornar-se, por sua vez, cidadão influente.
O desconhecimento teórico da individualidade provocou a sua desaparição.”
("O homem, esse desconhecido",
páginas 311-312, ed. port., 1940).
Fiel ao espírito evangélico, o
Espiritismo busca revalorizar o homem, dignificando a pessoa humana, procurando
salvá-la do deperecimento na vida social, ao mesmo tempo que lhe oferece meios
de melhor se conduzir na vida terrena. A tendência dos regimes em luta no mundo
de hoje é para o aniquilamento da individualidade, a fim de que apenas
prevaleça o conceito de grupo, de massa, de coletividade. Mesmo entre aqueles
que trombeteiam ideias de liberdade, o indivíduo está cada vez mais enredado em
conceitos delimitadores da sua expressão como pessoa humana, porque, lembramos ainda Carrel, "o homem moderno caiu numa completa
indiferença por tudo, exceto pelo dinheiro". Esta verdade
impressionante abrange, infelizmente, a Humanidade inteira. E, assim, os que agem
dessa forma, negligenciam as coisas do espírito.
Somente a exemplificação evangélica
reconduzirá o homem à paz, à compreensão, à fraternidade. E nada melhor para
levar-nos à mais completa familiaridade com o Evangelho do que o Espiritismo
cristão, que não é sectário, não tem ostentação, não promete paraísos nem
ociosidades; que não busca dominações nem postos de mando no mundo profano, mas
ensina a criatura humana a ser compreensiva, conscientemente tolerante,
esclarecidamente humilde, com suficiente força moral para renunciar e levar o
perdão, esquecendo ressentimentos e ódios, e a viver bem com os seus
semelhantes. Sem liturgia, sem clero, sem afastar-se da simplicidade
demonstrada e seguida pelo Cristo, muito cedo substituída
pela pompa afrontosa, de pretensos "discípulos" e
"vigários". O Espiritismo aceita em seu seio quem quer que seja, mas adverte
que as responsabilidades de cada um crescem muito, porque a leviandade e o superficialismo
não se coadunam com a legítima personalidade espírita. O profitente espírita
tem de ser necessariamente um vigia de si mesmo, mais do que vigia dos outros.
Tem de realizar qualquer sacrifício para abandonar atitudes materialistas ou de
fingido espiritualismo. Quem não tem forças para corrigir-se a si mesmo, jamais
poderá ser verdadeiramente espírita, porque a finalidade do Espiritismo é
reformar o homem, transformando-o, para melhor, integrando-o cada vez mais no Evangelho,
para aproxima-lo realmente de Deus. É uma doutrina de autoeducação ou
reeducação, conforme o caso.
Para nós, sentir é compreender;
compreender é interpretar. Algo que faça vibrar o nosso sentimento, toca
diretamente à razão, fazendo-nos refletir sobre causas e efeitos de um sentir
determinado. Essa oportunidade de reflexão conduz-nos à compreensão, caminho
direto para a interpretação de fatos que, de outra forma, passariam
despercebidos ao nosso espírito. Por isto é que afirmamos: "sentir é
compreender; compreender é interpretar".
O estudo dos textos evangélicos, tão
bem comentados em "O Evangelho segundo o Espiritismo", de Allan
Kardec, leva-nos à tarefa cotidiana de apurar os nossos sentimentos, para que
nos tornemos cada vez mais acessíveis, mais humanos, mais cristãos. O
Espiritismo é a ponte que permite a cada homem passar do lado mau para o lado
bom e do lado bom para o lado melhor. Não é necessário falar a todo instante em
Jesus e dar à voz inflexões lamentosas para aparentar identificação com o
Evangelho. Jesus não precisa estar nos lábios, mas no coração dos homens. Não
são as palavras que definem o bom cristão, mas os atos de todos os instantes de
sua vida.
Você já estudou "O Evangelho
segundo o Espiritismo”? Se não o lê, comece hoje mesmo a estudá-lo, Se já teve
a felicidade de lê-lo com absoluta atenção, renove seu estudo, porque há nele
sempre alguma coisa mais para a edificação de nossa alma. Não há explicação
mais clara e simples, nem mais racional para o Evangelho do Cristo, do que a
oferecida pelo Espiritismo.
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