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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Só os atos definem o verdadeiro Espírita



Só os atos definem
o verdadeiro Espírita


Tasso Porciúncula / Indalício Mendes

Reformador (FEB) Agosto 1961

            O Espiritismo é uma doutrina reformatória essencialmente cristã. Não lhe agrada a adesão simplesmente superficial daqueles que não estejam dispostos a segui-lo com sinceridade. Espírita só o é o profitente leal à Doutrina, sempre preocupado em exemplificá-la em todos os instantes da vida de relação, na ânsia de corrigir-se de defeitos e deficiências. Há muito espiritismo de fachada, principalmente de indivíduos impermeáveis ao sacrifício de renunciar a pontos de vista egoísticos, que agem de um modo pouco cristão em determinadas ocasiões e aparentam, fidelidade doutrinária em momentos outros quando sabe que está sendo observado por pessoas conhecedoras dos deveres cristãos recomendados pelo Espiritismo.

            Há necessidade de franqueza na orientação que adotamos, para que o Espiritismo não venha a enfraquecer-se e desmoralizar-se como certas religiões decaídas, que são eloquentes     nas pregações evangélicas, mas estéreis na observância dos postulados do Cristo. O verdadeiro espírita não sacrifica de modo algum o seu semelhante. Trata-o com respeito, jamais abusando da sua autoridade sobre ele. Não se presta a explorá-lo de nenhuma forma, mas busca seus serviços eficientes e deve remunerá-los com justiça, porque,  conforme o disse Alexis Carrel, com absoluta propriedade, “a civilização não tem como finalidade o progresso da ciência e das máquinas,  mas sim o do homem”. Do mesmo modo, “a vida não tem como finalidade a riqueza cada vez maior de uns com o consequente empobrecimento cada vez maior de outros", Desse desequilíbrio surgem as misérias sociais, que estimulam a ambição nociva, o egoísmo deletério, a insensibilidade moral, o materialismo cru, desumano e cruel.




            Contrariando o espírito do Evangelho, a sociedade contemporânea despreza a pessoa humana e só considera o indivíduo quando integrando massas. Como pessoa humana, cada vez o indivíduo vale menos, porque a mentalidade ultra materialista somente se interessa por equipes, grupos, coletividades. Citamos novamente Alexis Carrel: “É também devido à ignorância do indivíduo que a sociedade moderna atrofia os adultos. O homem não suporta impunemente a forma de existência e o trabalho uniforme e estúpido imposto aos operários das fábricas, aos empregados de escritório, a todos aqueles que têm de assegurar a produção em massa. O indivíduo encontra-se isolado e perdido na imensidade das cidades modernas. É uma abstração econômica, uma cabeça de gado num rebanho. Perde a sua qualidade de indivíduo, deixa de ter responsabilidade e dignidade. Do meio da multidão emergem os ricos, os políticos poderosos, os bandidos de grande envergadura. Os outros são apenas poeira anônima. O indivíduo conserva, pelo contrário, a sua personalidade,  quando faz parte dum grupo em que é conhecido, duma aldeia, duma cidadezinha, onde a sua importância relativa é maior e dela pode esperar tornar-se, por sua vez, cidadão influente. O desconhecimento teórico da individualidade provocou a sua desaparição.” ("O homem, esse desconhecido", páginas 311-312, ed. port., 1940).




            Fiel ao espírito evangélico, o Espiritismo busca revalorizar o homem, dignificando a pessoa humana, procurando salvá-la do deperecimento na vida social, ao mesmo tempo que lhe oferece meios de melhor se conduzir na vida terrena. A tendência dos regimes em luta no mundo de hoje é para o aniquilamento da individualidade, a fim de que apenas prevaleça o conceito de grupo, de massa, de coletividade. Mesmo entre aqueles que trombeteiam ideias de liberdade, o indivíduo está cada vez mais enredado em conceitos delimitadores da sua expressão como pessoa humana,  porque, lembramos ainda Carrel, "o homem moderno caiu numa completa indiferença por tudo, exceto pelo dinheiro". Esta verdade impressionante abrange, infelizmente, a Humanidade inteira. E, assim, os que agem dessa forma, negligenciam as coisas do espírito.




            Somente a exemplificação evangélica reconduzirá o homem à paz, à compreensão, à fraternidade. E nada melhor para levar-nos à mais completa familiaridade com o Evangelho do que o Espiritismo cristão, que não é sectário, não tem ostentação, não promete paraísos nem ociosidades; que não busca dominações nem postos de mando no mundo profano, mas ensina a criatura humana a ser compreensiva, conscientemente tolerante, esclarecidamente humilde, com suficiente força moral para renunciar e levar o perdão, esquecendo ressentimentos e ódios, e a viver bem com os seus semelhantes. Sem liturgia, sem clero, sem afastar-se da simplicidade demonstrada e seguida pelo Cristo, muito cedo substituída pela pompa afrontosa, de pretensos "discípulos" e "vigários". O Espiritismo aceita em seu seio quem quer que seja, mas adverte que as responsabilidades de cada um crescem muito, porque a leviandade e o superficialismo não se coadunam com a legítima personalidade espírita. O profitente espírita tem de ser necessariamente um vigia de si mesmo, mais do que vigia dos outros. Tem de realizar qualquer sacrifício para abandonar atitudes materialistas ou de fingido espiritualismo. Quem não tem forças para corrigir-se a si mesmo, jamais poderá ser verdadeiramente espírita, porque a finalidade do Espiritismo é reformar o homem, transformando-o, para melhor, integrando-o cada vez mais no Evangelho, para aproxima-lo realmente de Deus. É uma doutrina de autoeducação ou reeducação, conforme o caso.




            Para nós, sentir é compreender; compreender é interpretar. Algo que faça vibrar o nosso sentimento, toca diretamente à razão, fazendo-nos refletir sobre causas e efeitos de um sentir determinado. Essa oportunidade de reflexão conduz-nos à compreensão, caminho direto para a interpretação de fatos que, de outra forma, passariam despercebidos ao nosso espírito. Por isto é que afirmamos: "sentir é compreender; compreender é interpretar".

            O estudo dos textos evangélicos, tão bem comentados em "O Evangelho segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, leva-nos à tarefa cotidiana de apurar os nossos sentimentos, para que nos tornemos cada vez mais acessíveis, mais humanos, mais cristãos. O Espiritismo é a ponte que permite a cada homem passar do lado mau para o lado bom e do lado bom para o lado melhor. Não é necessário falar a todo instante em Jesus e dar à voz inflexões lamentosas para aparentar identificação com o Evangelho. Jesus não precisa estar nos lábios, mas no coração dos homens. Não são as palavras que definem o bom cristão, mas os atos de todos os instantes de sua vida.



            Você já estudou "O Evangelho segundo o Espiritismo”? Se não o lê, comece hoje mesmo a estudá-lo, Se já teve a felicidade de lê-lo com absoluta atenção, renove seu estudo, porque há nele sempre alguma coisa mais para a edificação de nossa alma. Não há explicação mais clara e simples, nem mais racional para o Evangelho do Cristo, do que a oferecida pelo Espiritismo.





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