Reencarnações
Abonadas
por Martins Peralva
Reformador (FEB) Julho 1961
Quantos de vós fostes abonados,
aqui, por generosos benfeitores,
que buscaram auxiliar-vos, condoídos de vosso
pretérito cruel?
- (Preleção de Telésforo - "Os Mensageiros", cap.
VI)
Um dos pontos da Doutrina Espírita
que os livros de André Luiz vieram elucidar, com simplicidade
e clareza, é o das reencarnações que se processam sob a responsabilidade de Amigos
dos reencarnantes, ou seja, das “reencarnações abonadas” para nos servirmos de
uma definição adequada ao conhecimento geral.
Exemplifiquemos.
Suponhamos exista, na Erraticidade,
alguém desejoso de reencarnar, para a retificação de erros ou resgate de
débitos que lhe estejam afligindo a consciência, mas, pelos mais diversos motivos,
não encontra um lar que o receba para a bênção do recomeço.
O Espírito, ansioso por uma nova
oportunidade, atormentado e inquieto, prossegue, todavia, na procura de uma
família que o queira, possa ou deva acolher. As portas, contudo, se lhe fecham,
indiferentes umas, hostis outras. Como procede, nestes casos, o Espírito que tantas
oportunidades desperdiçou, que tantos abençoados ensejos malbaratou?
O único recurso é a luta pela
intercessão de amigos.
A tábua de salvação é a busca de
almas queridas, incansáveis na ajuda e prestas no socorro, que se compadeçam do
seu estado, que se apiadem do seu problema.
Tais almas, movidas pelo Amor,
interferem junto a Entidades Superiores, assumindo, destarte, a
responsabilidade pelo bom uso da reencarnação que vai ser concedida, por
misericórdia, ao necessitado.
Abona-a, como alguém que, nas
operações normais da Terra, avaliza um título a favor de terceiro, ou lhe dá
uma fiança de qualquer natureza.
Atendido, assim, em sua pretensão
reencarnatória, volta o Espírito ao mundo.
Recebe um novo corpo, para o
abençoado serviço da redenção e do progresso.
A dádiva de um lar, traduzindo
proteção e reconforto, lhe é mais uma vez dispensada.
É recepcionado, entre sorrisos de
esperança, por novos genitores, irmãos, familiares e amigos.
Renasce, enfim...
Há um aspecto, entretanto, que não
pode, nem deve ser omitido: com o reingresso da Alma “nas correntes da vida
física», não cessa a responsabilidade do intercessor”.
Não desaparece o seu endosso, como
não se extingue, nas operações bancárias, a responsabilidade de um aval com a
simples operação do desconto de uma promissória.
Permanece, inalterável, com as
prerrogativas da lei, o vínculo da responsabilidade comum, da coobrigação, da
solidariedade: o “pacto-adjeto” moral.
O abonador fica comprometido na
Espiritualidade, uma vez que se empenhara, junto aos
Departamentos Planejadores das Reencarnações, para que o evento se
concretizasse, para que o perdulário doutros tempos fosse atendido.
A intercessão, em quaisquer
circunstâncias, humanas ou divinas, implica sempre em responsabilidade.
A posição de quem assim retorna ao
mundo é bem delicada, pois envolve Alguém, respeitável e digno, que se vinculou
ao seu comportamento, ao seu destino.
Alguém que se condoeu da sua
infelicidade. Que movimentou relações, que utilizou seu prestígio.
Que pediu, e, pedindo, assegurou aos
Maiores do Espaço que a nova oportunidade, dificilmente obtida, seria bem
aproveitada.
Quem assim reencarna, portanto, sob
a responsabilidade de Alguém cuja nobreza e respeitabilidade facultaram a
concessão, assume o compromisso moral de palmilhar os caminhos terrestres com
mais cuidado, com mais firmeza.
Em oração e vigilância, para não
ceder às tentações.
Deverá caminhar com segurança, para
que o objetivo seja alcançado: o aproveitamento integral da oportunidade.
Se fracassar, o Abonador responderá,
moralmente, pelo fracasso.
Quem sabe estaremos nós - e o
confrade e amigo que nos lê - com a atual experiência evolutiva vinculada ao
nome de Alguém, de Alguém que não podemos nem devemos decepcionar?!
Quem sabe na Espiritualidade se
encontra Alguém, apreensivo e aflito, acompanhando nossa vida e nossos passos,
inseguros e trôpegos, chorando as nossas quedas ou alegrando-se ante as nossas
atitudes acertadas?!
O companheiro que nos esteja a ler,
perguntar-nos-á, sem dúvida: Como proceder, então, ante tal incerteza?
E a resposta, ver-se-á, não é tão
difícil, como parece.
O cumprimento de nossos deveres, em
face do próximo, representa absoluta garantia de que estaremos fazendo Alguém
sorrir, feliz, no Plano Espiritual.
O afeiçoamento de nossa vida à moral
cristã.
A aquisição do conhecimento
doutrinário, o serviço de auto regeneração, sincero e constante.
Uma coisa é certa, porque
racionalmente doutrinária e misericordiosamente evangélica: os nossos
Abonadores não exigem mais do que lhes possamos oferecer, na pauta das nossas
realizações íntimas.
Esperam, simplesmente, que, não
esquecendo compromissos, permaneçamos no Bem; na Moral, no Estudo edificante .
O esforço para fugirmos ao Mal e
aderirmos ao Bem é levado em conta pelos benfeitores espirituais.
Sabem eles que a soma dos pequenos
esforços dar-nos-á, um dia, a vitória que almejamos e pela qual estamos lutando
com toda a força de nosso coração: a supremacia do interesse espiritual sobre o
material.
É tão infeliz e lastimável o
comportamento do homem que, aqui na Terra, põe em má posição um avalista, um
fiador, quanto o do Espírito que, recebendo o tesouro de uma “reencarnação
abonada”, coloca aquele que por ele se responsabílizou em situação melindrosa
perante os Instrutores da Vida Mais Alta.
A “reencarnação abonada” é um
problema moral muito sério e que a literatura de André Luiz aclara com muita
segurança e objetividade.
Deve merecer a nossa atenção.
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