Respigas
da História
Túlio Tupinambá /Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Novembro 1961
De quando em quando é interessante
rever páginas marcadas de livros lidos, respigando aqui e ali conceitos que merecem
divulgados.
Segundo A. S. Turbeville, "a Inquisição medieval foi essencialmente uma
instituição ideada pelo Papado e por ele dominada; mas, na França, de todas as
maneiras, teve que contar com o poder da Coroa". Na Espanha, a
Inquisição adquiriu requintes satânicos. Embora muitos defensores da Igreja
afirmem que esta não teve papel saliente no sacrifício de milhares e milhares
de hereges, demonstra a História que semelhante argumento não passa de um
artifício. Onde quer que a Igreja estivesse forte, forte estava a Inquisição.
Diz o autor citado, in "A Inquisição Espanhola":
"Em 1232, Gregório IX publicou uma
bula ("Declinante"). dirigida ao Arcebispo de Tarragona,
ordenando-lhe a busca e o castigo dos hereges compreendidos em sua diocese. É
digno de nota que essa bula parece ter sido publicada sob a influência de um
espanhol, Raimundo de Peñafort, o maior dominicano de sua época, o qual gozava
de grande poder na corte papal e foi até o principal inspirador da política de
perseguições seguida por Gregório e, portanto, o criador original da Inquisição
medieval. No ano seguinte, Jaime, aconselhado pelos eclesiásticos reunidos em
Tarragona, promulgou uma lei que castigava com o confisco de seus bens a todos
os senhores que protegem herege", etc. A matança de não cristãos,
muçulmanos e judeus, foi terrível. Enquanto precisavam do dinheiro dos judeus,
estes eram tolerados e até protegidos pelos Reis
Católicos Isabel e Afonso. Logo, porém, que ficou decidida a expulsão dos
mouros, já não se fazia necessário o auxilio financeiro dos judeus e estes
seguiram o mesmo caminho. Os Reis Católicos usufruíam as vantagens possíveis. A
Igreja via tudo e era como se nada visse...
"Torquemada - diz Turbeville -,
que bem depressa se tornaria famoso como primeiro Inquisidor, instigava
constantemente a Rainha Isabel sobre o dever de livrar os seus domínios da
corruptora presença dos crucificadores do Cristo. É bem conhecido o episódio de
que, ao correr o rumor de que os judeus seriam expulsos, o Dr. Isaac Abravanel e
outro rico judeu ofereceram 300.000 ducados com a esperança de evitá-la. O Rei
Fernando achava que deviam aceitar a oferta, quando repentinamente se
apresentou Torquemada diante dos soberanos, com um crucifixo nas mãos e
exclamando: "Eis aqui o Crucificado a
quem o malvado Judas vendeu por 30 moedas de prata! Se elogiais esse
acontecimento, vendei-o por maior preço!"
Nem o famoso Padre Antônio Vieira
escapou à Inquisição. Esclarece Antônio Baião, em "Episódios dramáticos da
Inquisição Portuguesa" (3 volumes): "No dia 1° de Outubro de 1665,
deu entrada nos cárceres de custódia da Inquisição de Coimbra o maior vulto do
Portugal de então, o jesuíta Antônio Vieira. Recluso durante 44 dias, tanto
gemeu e penou que não teve outro remédio senão pedir que o transferissem para o
seu colégio ou o internassem em qualquer convento de religiosos. O cárcere do
Santo Ofício de Coimbra era húmido e frio, muito exposto ao vento norte, e
Vieira tinha sido preso ainda convalescente. Lá dentro tivera três ameaças de
recaída, com febre e hemoptises, e, quando assim era no outono, que faria em
chegando os rigores do inverno?!"
Mas, porque Vieira fora preso? Outro
jesuíta, Martim Leitão, "lente de véspera de teologia, no Colégio Santo
Antão, já em 19 de Janeiro de 1649 o havia denunciado porque, em conversa com
ele e com o Padre Francisco Soares, lente de prima de teologia do colégio de
Coimbra, o célebre doctor eximius dissera possuir dois livros de profecias, um dos
quais intitulado "Vates", que ele não lia por não serem católicos."
Vieira foi várias vezes acusado de
haver feito "proposições avançadas". “E a 13 de Abril de 1660, o
jesuíta André Fernandes, bispo do Japão, era intimado a mostrar no Santo Ofício
o escrito do Padre Antônio Vieira, intitulado "Esperanças de Portugal", que este lhe remetera do Maranhão.
Com efeito, no dia 16 era o manuscrito remetido à Inquisição com uma carta em
que André Fernandes dizia que o seu autor "falou só segundo sua opiniam ou afeiçam, que lhe avaliar ao Bandarra
por profeta de EI-Rey Dom Joam, como a outros de EI-Rey Dom
Sebastiam".
Tal foi a base do inquérito e da acusação inquisitoriais."
Depois de preso, mais duas denúncias
foram feitas contra Vieira. E ainda o "interrogaram
vagamente se tinha escrito alguma coisa acerca da ressurreição de certa pessoa
defunta e de vários sucessos futuros em que tinha de intervir a dita pessoa
defunta, ressuscitada antes da Ressurreição universal." (1)
(1) Grifo de Reformador
A sentença foi proferida em 23 de
Dezembro de 1667 e ele "privado para
sempre de voz ativa e passiva e do poder de pregar, e recluso no colégio ou
casa de sua religião que o Santo Ofício lhe assinar, de onde, sem ordem sua,
não sairá", etc.
São "as histórias que a
História conta". E não estamos mais do que colhendo trechos, aqui e ali.
Iríamos longe, muito longe, porque assunto não falta, e bem atraente.
Eis porque concordamos com Léon
Tolstoi, que diz : "A verdade não
pode entrar na alma humana senão pela razão; portanto, os que creem reconhecer
a verdade graças à fé, e não à razão, atribuem a esta um papel contrário à sua
natureza, o de julgar com toda a independência para saber em que doutrina, que
se faz passar por certa, se deve crer. A razão não pode julgar o que é preciso
crer ou não crer, mas pode, e este é seu verdadeiro papel, comprovar a exatidão
do que afirma."
Diante disto, cresce de expressão a
frase de Allan Kardec, em "O Evangelho segundo o Espiritismo": "Fé inabalável só o é a que pode encarar
frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. "
Essa é a fé que o Espiritismo faz
nascer no espírito do homem esclarecido e iluminado pela razão, Essa é uma das
forças que tornam o Espiritismo invencível.
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