A Reencarnação no Brasil
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Junho 1961
Há no Brasil diversas escolas
espiritualistas que ensinam a doutrina reencarnacionista e a propagam. São
rosacrucianos, teosofistas, ocultistas de diversos matizes; todos nesse ponto
se acham de acordo com os espiritistas, embora em outros pormenores possam
divergir do Espiritismo.
O que não poderíamos conceber,
porém, é que houvesse igualmente católicos que preguem com entusiasmo a
reencarnação, da qual estão perfeitamente convencidos. É inconcebível essa
conciliação, porque a Doutrina Católica nega a reencarnação e ensina o dogma
das penas e prêmios eternos depois da morte.
Tivemos, no entanto, o ensejo de
ouvir, na Associação Brasileira de
Imprensa, uma longa conferência de uma dama da melhor sociedade carioca,
que nos afirmou repetidamente que é católica, mas tem certeza da reencarnação,
considerando-a perfeitamente demonstrada.
Enumerou muitos fatos que realmente
são incompreensíveis sem a reencarnação.
Parece-nos evidente que essa ilustre
senhora, ao ensinar a doutrina reencarnacionista, já não é católica, está
enganada ao supor-se e dizer-se católica. Já é uma ex-católica; porque lhe
seria logicamente impossível crer ao mesmo tempo em duas coisas que se
contradizem reciprocamente, que são diametralmente opostas uma à outra: penas
eternas e salvação universal.
Ela já deixou a Igreja, embora
continue a tomar parte no culto, a frequentar o templo, a receber sacramentos,
a contribuir moral e economicamente para a manutenção de uma Igreja na qual ela
não pode mais crer, porque já ousa pensar por sua própria conta, o que é
proibido ao católico.
Outros “católicos” há em situação
ainda pior do que essa dama: são os “católicos” materialistas: pessoas que se
dizem católicas, mas não creem na sobrevivência da alma ou disso não cogitam.
Que força apavorante exercem as
tradições! Como é forte a nossa inércia mental! Tais pessoas seguem uma
tradição supersticiosa velha, já inoperante para elas.
Felizmente temos uma Providência que
cuida sabiamente de nós e nos salva de nossa própria inércia. Chega o dia em
que somos despertados pela dor e começamos a série interminável de
interrogações tormentosas: porque gozamos e porque sofremos? afinal, que somos?
porque somos tão diferentes uns dos outros? porque nosso fado diverge tanto?
porque uns vivem pouco e outros longamente? porque há homens que nascem para
uma vida de martírio longo, anormais, enfermos, pobres, enquanto outros nascem belos,
perfeitos, felizes e morrem em plena juventude? porque os homens são tão
diferentes dos
outros animais?
As mínimas coisas da Natureza
ocorrem dentro de determinadas leis: a gota d'água que cai da nuvem e pela
evaporação volta a ser nuvem, está obedecendo a leis naturais, como o satélite
girando em torno de um planeta e o planeta descrevendo seus círculos em volta
do Sol. A semente que já foi flor e virá a ser árvore, o pássaro que constrói
seu ninho e cuida de sua prole, estão obedecendo a leis naturais que regulam a
vida; mas essas leis são complexas: o pássaro se alimenta de sementes e de
insetos, interrompendo a vida de outros seres menores do que ele e por seu
turno ele serve de alimento a outros animais que lhe são maiores. A vida física
se nutre de vida, sempre exercitando qualidades e adquirindo faculdades que não
são físicas, são espirituais: inteligência, energia, vontade, etc.
Se tudo ocorre de acordo com leis
sábias da Natureza; se o mínimo ossinho de nosso corpo ou do corpo de um
batráquio tem uma função “legal” que
lhe foi preestabelecida, é evidente que tudo no Universo obedece ao
planejamento de uma Inteligência superior que em tudo se manifesta; logo,
também o homem existe, vive e progride executando um planejamento inteligente.
E ele goza e sofre seus próprios pensamentos: há pensamentos que lhe despertam
sensações agradáveis, eufóricas, e outros que lhe causam sensação de angústia.
Quanto ao corpo, o homem é uma série
complexa de máquinas ou aparelhos sabiamente conjugados uns com os outros em
seu funcionamento para manifestar a vida, e esses aparelhos ou máquinas são
iguais, ou quase iguais, em todos os homens, demonstrando, porém, evolução
através dos tempos, tornando-se sempre mais perfeitos e delicados. Se quanto ao
corpo os homens são iguais uns aos outros, coisa completamente diversa ocorre
quanto à inteligência e ao sentimento: enquanto uns chegam à culminância do
saber e da virtude, outros permanecem analfabetos e insensíveis, e entre esses
dois extremos
há uma vasta escala de graus de inteligência e virtude.
Então o homem não é só corpo, é uma
inteligência evolutiva que se manifesta pelo corpo e esta inteligência nos
demonstra os mais variados graus de progresso moral e intelectual, revela-se um
Espírito no caminho evolutivo. Temos, por força dos fatos, que aceitar a velha
doutrina reencarnacionista, como já fez a dama “católica” a quem nos referimos
no início desta desalinhavada palestra; mas para isso será preciso abandonar
velhos erros doutrinários, como é a monstruosa doutrina das penas eternas, que
é negação muito grosseira da inteligência e do poder do Criador. A perdição
eterna das pobres criaturas
de Deus seria um erro de planejamento na Criação.
Os porquês angustiantes das
criaturas humanas as conduzirão à doutrina reencarnacionista de salvação universal,
e o Brasil está tomando dianteira nessa pista de corrida evolutiva, graças à
vasta divulgação do Espiritismo kardequiano nas terras de Santa Cruz.
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