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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A Lição Máxima do Cristo


A Lição Máxima
do Cristo
Rodolfo Calligaris
Reformador (FEB) Outubro 1961

            A ocupação da Palestina pelo império romano, nos albores de nossa era, ensejava constantes motivos de irritação para os judeus.

            É que ali, como em todas as regiões que havia conquistado, a soldadesca romana impunha aos vencidos uma dependência odiosa e intolerável, tantas as humilhações e os vexames por que os fazia passar.

            Era comum, por exemplo, um oficial romano dirigir-se de um ponto a outro da Judeia ou da Galileia e, nessas viagens, obrigar os camponeses judeus que trabalhavam no campo a interromperem seus afazeres para carregar-lhe pesados fardos, montanhas acima.

            Da mesma forma, quem saísse de casa, com um destino qualquer, nunca poderia ter a certeza de que chegaria ao local desejado, pois se lhe acontecesse encontrar, pelo caminho, algum representante das autoridades dominantes, poderia ser obrigado a retroceder ou a mudar completamente de direção, para levar uma carta ou prestar qualquer outro serviço que lhe fosse exigido.

            Tentasse alguém reagir contra essas arbitrariedades e conheceria logo o preço de sua ousadia: o sarcasmo e crueldades inomináveis. É de calcular-se, portanto, a amargura com que os judeus tinham de curvar-se em homenagem às bandeiras romanas, sempre que as viam passar conduzidas pelas tropas do César, e com que ardor aguardavam o dia em que pudessem sacudir o jugo romano.

*

            Certa feita, achava-se Jesus ensinando o povo, nas cercanias de uma cidade que era sede de uma guarnição romana, quando a vista de uma companhia de soldados fez que seus ouvintes evocassem a amarga lembrança do opróbrio que pesava sobre Israel.

            O Mestre relanceou o olhar pelos que o circundavam e, em suas faces, viu estampado, de forma indisfarçável, o anseio de vingança que se aninhara em cada coração.

            Percebendo que todos o fitavam ansiosamente, esperando fosse ele aquele que houvesse de lhes dar o poder, a fim de esmagarem o opressor, contristou-se, pois bem diferente era a sua missão, e, retomando a palavra, ordenou-lhes com brandura:

            "Não resistais ao mal; mas, se qualquer vos bater na face direita, oferecei-lhe - também a outra. E se alguém vos obrigar a caminhar uma milha, ide com ele duas."

            Será que, expressando-se desta maneira, estaria o Cristo endossando as violências com que a tirania militar da época se acostumara a supliciar os vencidos?

            Certamente que não. O que ele quis ensinar, nessa oportunidade, como aliás o fez durante toda a sua vida terrestre, foi que, malgrado a regra estatuída por Moisés - "olho por olho e dente por dente" - a Lei Divina, que viera revelar, proibia terminantemente as desforras, as vinditas, por serem contrárias ao sentimento do Amor.

            A corroboração de ser este o verdadeiro sentido de suas palavras, ele mesmo a forneceu quando logo em seguida sentenciou:

            "Tendes ouvido o que foi dito: amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo; mas eu vos digo: amai a vossos inimigos, fazei bem ao que vos tem ódio e orai pelos que vos perseguem e caluniam."

            Compreende-se, pois, à luz da doutrina cristã, que ninguém será justificado na vingança. Aos indivíduos ou às nações que transgridam os mandamentos da Lei Divina lhes será dado o ensejo de se corrigirem.

            A oportunidade e a importância desses princípios estabelecidos pelo Mestre ressaltam ainda hoje. Fosse permitido a cada qual fazer justiça por suas próprias mãos, agindo ao sabor de sua vontade pessoal, e a vida em sociedade seria muito difícil, tais os desmandos e excessos que se verificariam.

            Talvez se indague: pessoalmente, teve o Cristo ocasião de exemplificar tão sublime ensinamento?

            Sim! Foi oprimido e não abriu a boca; cuspiram-lhe na face e não revidou o ultraje; ofereceu as costas aos açoites sem malquerer os que o feriam, e, através dos séculos, chega até nós, da cruz do Calvário, a oração que proferiu por aqueles que lhe davam a morte:

            "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!"



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