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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Jesus

 

Jesus

por Prof. C.S. Marques Leite

Reformador (FEB) Janeiro 1919

             Os séculos rolam, arrastando o Progresso, proclamando novos princípios, novos costumes, novas leis, novas crenças, novos credos, novas seitas: tudo evolui, tudo se transforma, dentro do cadinho audacioso da Ciência Humana; as gerações se multiplicam na ânsia, no desespero, na agonia em busca da Miragem da Perfectibilidade; os homens se digladiam em torno das ambições insaciáveis, e, em nome do próprio progresso, que eles exultam, destroem, quais feras hidrófobas, pelo fogo, pelo veneno, pela loucura diabólica do Terror – nas terras, nos mares, nos ares, - a Obra da Civilização; todos os interesses se chocam em lutas sem tréguas, todas as paixões surgem indômitas de sede de sangue, de extermínio, todos os vícios tripudiam sobre os corações, como chacais sobre as presas!..

            Só JESUS viverá, eternamente, no seio de todas as revelações universais, puro, imaculado, até que a sua SUBLIME PARÁBOLA, dita no Hortus, após a sua aparição aos APÓSTOLOS, se verifique!..   

            Só JESUS – dominará e vencerá, porque ELE – é a VERDADE SUPREMA!...

            Só a crença em JESUS – Filho de Deus – salvará a Humanidade, porque a semente generosa e sã, do cristianismo, está guardada na arca do triângulo luminoso e divino, que o Homem, com todo o seu vão poder, procura afastar do seu caminho: - FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE!

            -JESUS, ouve o grito angustiado das multidões ignaras, famintas, alucinadas, perdidas, neste NOVO SAARA DE DOR, errantes, sem rumo, como que a pressagiar a reprodução da era em que Vós pregáveis, por parábolas, a PALAVRA DE DEUS!

            No dia de hoje em que o VOSSO NOME é proferido por todas as bocas, crédulas ou hereges; dia em que o mundo comemora o NATAL DO CRISTO – símbolo inegualável, intangével, do PODER SUPREMO, do BEM, da VERDADE e da FÉ, neste dia que brilha cada vez mais virtuoso e triunfante, no seu poder inteiramente divino; neste dia, que fala da PAZ, do AMOR, da UNIÃO; baixai, Jesus, sobre a TERRA a VOSSA CLEMÊNCIA e enviai aos homens uma Legião de Anjos, cujas espadas de Fogo, dominem para sempre esses FARISEUS DA CIVILIZAÇÃO, cobrindo o mundo com o manto suavíssimo da Paz, fazendo renascer,moça e forte, a Fé no coração humano, ensinando à MULHER que ela deve basear a sua VIRTUDE, o seu AMOR, nos princípios cristãos, para que reflita a dedicação e o bem nessa pureza inconcebível de MARIA!...

            Tudo nos revela a aproximação da volta de Jesus...

             A época é perfeitamente igual a dos bárbaros, no tempo de Pilatos, a diferença é apenas no cenário: - a degeneração é talvez maior porque se apresenta acobertada pelos faustos lumiantes de uma proclamada civilização, falha de moral, porque não assenta o alicerce em Jesus!..

            Glória a Jesus...  


terça-feira, 21 de dezembro de 2021

A influência do mundo espiritual

 

A Influência do Mundo Espiritual

por Luiz Gomes da Silva

Reformador (FEB) Abril 1944

             “Ai de vós escribas e fariseus hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas e não omitir aquelas. - Condutores de cegos! Coais o mosquito e engolis o camelo". - Mateus (cap. 23 e vs. 23 e 24).

            Aos que, nos Centros Espíritas, dirigem sessões práticas, não lhes escapa da mente os fenômenos de que foram testemunhas. Já nos foi dado observar que os espíritos desencarnados, envoltos na sua maldade, quando encontram ambiente propício, são capazes de desarmonizar famílias, dissolver lares e sociedades, levando os homens à prática do crime, do roubo e do suicídio, assim como a fazer ou dizer coisas que, momentos depois, se envergonham de haver dito ou praticado.

            Allan Kardec, no "Livro dos Médiuns", página 292, narra nos o seguinte fato bastante interessante: “um homem, nem moço, nem bonito, sob o império de uma obsessão era constrangido por força irresistível a pôr-se de joelhos diante de uma moça por quem ele não tinha nenhuma inclinação, e pedi-la em casamento. Outras vezes, sentia nos ombros e nas pernas uma pressão enérgica que o obrigava, apesar de todos as forças, a pôr-se de joelhos e a beijar o chão nos lugares públicos e à vista da multidão. Tinha plena consciência do ridículo que praticava contra vontade e sofria horrivelmente com isso.”

            Foi sob essa má influência que Pedro negou Jesus. O mesmo se passou com Judas, que não pode resistir à tentação dos espíritos das trevas, traindo o Mestre, depois do que caiu em si e, ao refletir sobre o ato abominável que havia praticado, dominado pelo remorso, enforcou-se.

           Quantos médiuns lamentam não ter atendido aos nossos conselhos e aos rogos dos espíritos superiores que, a exemplo de Jesus, não cessam de recomendar o “orai e vigiai para não cairdes em tentação.”

            Quem não está sujeito à tentação dos maus espíritos?

            Quem pode vangloriar-se de lhes resistir se eles veem em nós as partes mais fracas sobre as quais podem agir seguros de alcançar êxito?

            Num mundo como o nosso, em que campeia desenfreadamente o orgulho, o egoísmo, o sexualismo e a vaidade; em que predomina a hipocrisia e onde a lisonja se personifica em elogios, invadindo os nossos meios espíritas, com poderá dizer que não cairá na armadilha que os espíritas das trevas nos armam? Trabalhamos durante muitos anos com uma senhora médium, por intermédio da qual se manifestavam espíritos que haviam sido padres. Estes deram-nos provas de que no espaço estavam formados em grupos para atacar os adeptos da Terceira Revelação, movendo-lhes uma guerra sem tréguas.

            O chefe de um grupo procurou por todos os meios lançar a discórdia em nosso meio; não fosse o auxílio dos espíritos superiores e do médium vidente, que desmascaravam as artimanhas do espírito ao mistificar-nos, nós o tomaríamos por um santo, tal era a sua astúcia. Depois de nove meses de luta, esse espírito, com muitos do seu grupo, rendeu-se perante a grandeza de Deus e tornou-se um dos nossos amigos.

            A luta foi árdua. Ainda estávamos no meio da tormenta, quando perguntamos ao espírito porque os irmãos do espaço nos moviam aquela guerra. Porque não iam combater o chamado baixo Espiritismo, ou sejam as sessões de macumba, que tanto mal causam a humanidade? Respondeu-nos o espírito, numa gargalhada sarcástica: “és bem trouxa, pois, não sabes que eles nos ajudam em nosso trabalho, fazendo que seja lançado o descrédito sobre o Espiritismo? Eles trabalham a nosso favor. A nossa missão é outra, é a de lançar a discórdia entre os espíritas. Conhecemos os seus pontos fracos e isto nos basta.” – A médium era analfabeta e não podia improvisar tal resposta. A rapidez com que o espírito se expressava não dava tempo de o médium ajuizar uma resposta repentina e com tanta lógica. Quais serão os nossos pontos fracos a que o espírito se referia, senão esses que dão margem a discórdias entre nós? Todos nós somos médiuns. Uns de incorporação e outros inspirados.

            Às manifestações recebidas pelos primeiros são atribuídas aos espíritos, porém com os inspirados já não sucede o mesmo, pois assumem a responsabilidade de tudo quanto dizem em suas conferências e palestras. Se erram, ninguém lhes perdoa. Em outubro do ano passado, no Centro Espírita Santa Isabel, comemorava-se a data natalícia de Allan Kardec, quando o orador oficial, que então tantos aplausos havia recebido, foi infeliz ao referir-se ao codificador de nossa doutrina. – Note-se que ele não conhecia as obras de Roustaing.

            Em vista do ocorrido, o presidente do Centro chamou-o em particular e fez-lhe ver que havia errado. A influência dos espíritos patenteia-se perante os que estudam o Espiritismo, se que, entretanto, tudo o que nos sucede lhes deve ser atribuído, Um dos nossos confrades, criatura bastante inteligente, é inimigo número um de Roustaing, sem que tenha lido suas obras, porém, em uma festa realizada no Centro Espírita de que é presidente, fez uma palestra e no decorrer desta percebia-se que mudava de opinião, sustentando ser fluídico o corpo de Jesus. Até hoje persiste ele na ideia de que o corpo do Mestre era de carne e osso. Felizmente, todos os espíritas presentes eram tolerantes e sabiam que os ataques contra as obras de Kardec ou de Roustaing, quer partam dos espíritos desencarnados ou encarnados, nada valem contra o valor das mesmas, por serem elas fruto dos superiores do além e não dos homens. Os que estudam o Espiritismo sabem que os bons ou maus pensamentos dos assistentes exercem grande influência sobre os oradores, de tal forma que, se estes perderem o fio da conferência, podem dar margem à interferência dos espíritos das trevas e daí dizermos que o conferencista não foi feliz nos pontos que abordou. Oremos pelos que erram e em segredo façamos lhes ver a verdade.

            Sejamos tolerantes e não imitemos os que se regozijam com os que não se cansam de ridicularizar Roustaing e exasperam-se quando alguém, inconscientemente, desmerece a grandiosa missão de Allan Kardec. Já é tempo de darmos provas da nossa compreensão.

            Deixemos os grandes vultos do Espiritismo, no além, em paz, para deles só nos lembrarmos, do que tenham feito de bom e, assim, nos ocuparmos com coisas mais nobres do que menosprezar Kardec e Roustaing, só porque não podemos compreender nem assimilar os ensinos belíssimos contidos em suas obras. Saibamos resistir à tentação dos espíritos das trevas, que insuflam nosso orgulho com o objetivo de nos arrastar para polêmicas desagregadoras da família espírita e, desse modo, verem a sua obra destruidora coroada de êxito. É nosso dever trabalhar pela união de todos os espíritas. Jamais consintamos que, sob falso pretexto de pontos de vista secundários, nos separem do Amor Fraterno.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Na fase do entendimento

 

Na fase do entendimento

A Redação

Reformador (FEB) Março 1977

            Seriam três, segundo “O Livro dos Espíritos”, os períodos distintos que balizariam o desenvolvimento das ideias espíritas. O da curiosidade, nascido da fenomenologia dos raps ou das mesas girantes, passara rápido, mas, o segundo, do raciocínio e da filosofia, da meditação séria, apenas começara. Viria, depois, inevitavelmente, o terceiro período, da aplicação e das consequências.

            Ultrapassado o primeiro, e substanciado o período seguinte na monumental Codificação do Espiritismo, o Mestre Allan Kardec, sabiamente, à base do raciocínio e da filosofia, pois, daí em diante, a fé seria raciocinada – para poder “encarar face a face a razão, em todas as épocas da Humanidade -, expõe algo do que caracterizaria a Doutrina: “O essencial está em que o ensino dos Espíritos é eminentemente cristão; apoia-se na imortalidade da alma, nas penas e recompensas futuras, na justiça de Deus, no livre-arbítrio do homem, na moral do Cristo.” (Ob. cit. questão 222.) “O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da religião.”  “Os que dizem que as crenças espíritas ameaçam invadir o mundo proclamam, ipso facto, a força do Espiritismo, porque jamais poderia tornar-se universal uma ideia sem fundamento e destituída de lógica.” “Não vos espanteis da rapidez com que as ideias espíritas se propagam. A causa dessa celeridade reside na satisfação que trazem a todos os que se aprofundam e que nelas veem alguma coisa mais do que fútil passatempo.” “(...) as consequências do Espiritismo são tornar melhor o homem e, portanto, mais feliz, pela prática da mais pura moral evangélica ...” (Ob. Cit., Conclusão.)

            Superiormente sistematizada a Doutrina dos Espíritos, concluído o segundo período de maturação das ideias que o futuro complementaria continuamente, surgia o 31 de março de 1869. E, cessada a atividade do Missionário lionês, na crosta planetária, abria-se o último dos períodos apontados, definitivo, o da aplicação e das consequências, da vivência dos ensinamentos de Jesus Cristo, em espírito e verdade, que ele soube tão bem antever e perlustrar, na sua condição de lúcido vanguardeiro de uma Nova Era. Tornar-se-ia melhor o homem e mais feliz, seguindo o roteiro das almas para a gloriosa imortalidade.

            Allan Kardec não deixou de esclarecer que o segredo da força que faria triunfar o Espiritismo, a causa de sua propagação residem no fato que ele, melhor compreendido na sai essência íntima e no seu alcance, “tanger a corda mais sensível do homem: a da sua felicidade, mesmo neste mundo. Enquanto a sua influência não atinge as massas, ele vai felicitando os que o compreendem”. (Id. ib.)  

            No estudo da questão 160 de “O Livro dos Espíritos”, Emmanuel distinguiu os mesmos períodos como de aviso, chegada e entendimento. Considera que Allan Kardec estabeleceu rumos, criando obrigações e definindo responsabilidades, ao encetar a obra do entendimento, “que esclarece a posição da Doutrina e do fenômeno, como quem separa o trigo da vestimenta de palha”. Reporta-se, em seguida, ao fato de que a edificação espiritual obedece “à cronologia da mente”, motivo por que se veem, ainda hoje, tantos que permanecem na faze do aviso, a par de muitos que estacionam na da chegada, entre a esperança e a convicção. E pondera, finalizando, que nos achamos na fase do entendimento, na qual precisamos saber concretizar os princípios da fraternidade, esparzir o socorro moral às consciências e levar a luz ao coração do povo, pois o Plano Espiritual atinge o Plano Físico, visando a reunir todas as criaturas e habilitá-las “para a continuidade do serviço de hoje, no grande futuro ou no grande além”... (“Seara dos Médiuns”) , 2ª Ed., pp. 95-96, FEB).

            Os espíritas, portanto, no derradeiro quartel do século XX, não ignorarão o grande desafio de tornar o Consolador mais e mais acessível às massas, em toda a parte, fazendo eco à palavra do Alto. Se o “conhecereis a verdade, e a verdade vos fará livres” (João 5:32) interessa a cada adepto do Espiritismo, como ser eterno, não interessará menos a quantos mais aspirem pela mensagem da Codificação Kardequiana.  


Antologia Ubaldiana - 16

 

ANTOLOGIA UBALDIANA - 16

 A GRANDE SÍNTESE 

CAPÍTULO 70. AS BASES PSÍQUICAS 

DO FENÔMENO BIOLÓGICO

             A causa, o princípio das coisas, reside no seu próprio íntimo. Os efeitos estão no seu exterior. Cada fenômeno tem um tempo próprio relativo, que lhe estabelece e mede o ritmo de transformação, tem sua velocidade do devenir. A sucessão que, no tempo, passa de causa a efeito, é também uma sucessão de desenvolvimento, que vai do âmago à superfície; é uma dilatação do princípio, em sua manifestação. Assim é o psiquismo. Vedes esse íntimo impulso manifestar-se em toda parte: primeiro na direção da química da vida, mediante a formação do plasma, por seu crescimento, reprodução e evolução; depois na construção dos órgãos internos que, com seu funcionamento orgânico, permitem manter-se vivas as unidades superiores dos órgãos externos, que lhe asseguram a nutrição e a defesa, a vida e a evolução; por fim, na direção geral, impressa em toda essa máquina, sob o impulso do instinto e da razão. Aqui transparece evidente o psiquismo. Em vossas classificações zoológicas, reunis os seres por afinidade morfológica. A anatomia comparada indica-vos órgãos homólogos. Essa homologia vos dá a perceber os parentescos e, com base nessas semelhanças, agrupais plantas e animais em ordens, gêneros, séries e espécies. Não podeis agir doutra maneira, porque partis do exterior e da forma. Isso está certo, porque parentesco de formas significa parentesco de conceito genético, afinidade morfológica e afinidade do princípio animador do psiquismo. Mas não basta. Esses agrupamentos seriam mais compreensíveis se concebidos em sua causa, em seu impulso íntimo determinante, mais do que apenas como forma exterior. É preciso introduzir o fator psíquico na interpretação de todos os fenômenos biológicos, aprofundando a química orgânica no campo super-orgânico do psiquismo diretor; é mister criar uma ultrazoologia e botânica, que estude o conceito e os parentescos entre os conceitos, as afinidades psíquicas, mais do que as orgânicas, e a evolução do pensamento animador das formas. 

             Há três tipos de natureza: 

             O reino físico (mineral, geológico, astronômico) que compreende a matéria.

            O reino dinâmico (as forças) que compreende as formas de energia.

            O reino biológico psíquico (vegetal, animal, humano, espiritual) que compreende os fenômenos da vida e do psiquismo.

            Esta é a trindade das formas de vosso universo. As classificações zoológicas e botânicas não devem ser classificações de unidades orgânicas, mas de unidades psíquicas. É preciso enfrentar objetivamente o psiquismo da vida, a parte mais ignorada e negligenciada por vós, tomando-o como critério nas classificações e o fio condutor da evolução da espécie; observando-o, não mais na construção e funcionamento dos órgãos particulares, mas no movimento que o psiquismo imprime a toda a máquina; coordenando todos os seus atos para metas exatas, que revelam uma vontade exata com proporções de meios ao fim, com lógica e presciência profundas. É unicamente neste campo que reside a solução do mistério dos instintos, a explicação da técnica da hereditariedade, da sobrevivência, da evolução.

            Essa é uma direção inteiramente nova que deveis dar à biologia, à fisiologia e à patologia; uma orientação de acordo com o mais amplo conceito unitário, sem o qual todos os fenômenos, vistos por um único aspecto incompleto, vos parecerão mutilados e inexplicáveis. Sempre que o efeito aproxima-se do psiquismo animador, vos encontrais detidos diante da muralha do incompreensível. Agora as classificações estão feitas; a anatomia vos é conhecida; conhecido é o mecanismo químico da vida; está na hora de descer mais fundo no campo das causas. Mais do que da paciência do coletor de observações, a ciência precisa agora da síntese da intuição; além de gabinetes, de microscópios e telescópios, precisa acima de tudo de grandes almas, que saibam olhar desde seu próprio íntimo, até o âmago dos fenômenos; e saibam sentir, através das formas, a misteriosa substância que nelas se oculta.

            Não é mais tempo de negar um princípio tão evidente. Vimos que toda a evolução, da estequiogênese para cima, dirige-se para as formas do psiquismo, pois para ele se orienta o progresso fenomênico do universo, qual meta racional de todo o caminho. Na massa de fatos coletados e acumulados há um impulso que não se pode deter, uma direção que não se pode mudar. No psiquismo sobrevive o princípio elétrico da vida. Com efeito, tudo o que vive, ou se atrai, ou se repele; traz um sinal de amor ou de ódio; quer e tende irresistivelmente a fundir-se ou a destruir-se. Em cada forma, há um quid psíquico, um motor: é a substância da vida, é a vontade de viver que a sustenta, uma tensão que plasma e guia, um poder que dirige e arrasta a vida. Tirai esse princípio e ela logo cai. Além da aparência da forma vos indico essa substância, que lhe é a causa, desloco e aprofundo o conceito da evolução darwiniana. Vós parais nela diante da realidade exterior, da evolução das formas, do último efeito estampado na matéria. Eu penetro na realidade, partindo da concatenação evolutiva dos efeitos até a concatenação evolutiva das causas. Para mim não é essencial observar as formas que evoluem, a não ser  para seguir as causas que evoluem. Passo do conceito de evolução das formas biológicas, ao de evolução das formas determinantes; passo do estudo da evolução dos tipos orgânicos, mortos, ao estudo da evolução dos tipos psíquicos vivos e atuantes. O conceito darwiniano completa-se, assim, indo da série de organismos para uma “sucessão lógica de unidades dinâmicas”. 

             De agora em diante a ciência deve dirigir-se para esse centro, sem o qual a máquina da vida não se movimenta, não existe meta, e num instante se arruína, caindo à mercê de princípios menos elevados. Como pudesteis crer que um organismo perfeito e complexo, qual o corpo humano, podia manter-se e funcionar sem um psiquismo central regulador? Não basta dizer qual a química da respiração, da assimilação e da circulação; nem verificar o perfeito entrosamento de todas as engrenagens que presidem a essas três funções básicas. Nas profundidades do metabolismo celular existe a presciência do instinto, que realiza por si, sem intervenção da ciência; esta, por vezes, custa a compreender. Há não apenas maravilhoso ritmo de equilíbrios, mas resistências deles a desvios; há autodefesa orgânica, feita de sabedoria imersa nas profundidades do subconsciente; há uma medicina mais profunda que a humana, porque sabe vencer, muitas vezes, apesar dos ataques desta. A elevação térmica do processo febril, a fagocitose, o equilíbrio bacteriológico mantido entre amigos e inimigos, num ambiente saturado de micróbios patogênicos, a contínua reconstrução química dos tecidos, e mil outros fenômenos, fazem pensar numa vontade sábia que conhece e quer essa ordem. Quanto mais o organismo estiver no alto, mais é delicado e vulnerável; mais se torna difícil, por sua complicação, sua sobrevivência; o psiquismo supre, progredindo paralelamente na perfeição das defesas.

             A função cria o órgão e o órgão cria a função. O sistema nervoso criou o funcionamento orgânico e o dirige; o funcionamento orgânico reforça, desenvolve e aperfeiçoa o sistema nervoso. O psiquismo caminha paralelo à evolução dos organismos. Existe uma evolução, nas formas da luta e da seleção, que cada vez se tornam mais psíquicas e poderosas. Há  passagens no funcionamento orgânico, há metamorfoses químicas, que vos escapam e caminham, dirigidas apenas pelo fio condutor desse psiquismo. Na assimilação do intestino, as substâncias desaparecem de um lado, para reaparecerem do outro, completamente transformadas. Para explicar isto não basta o mecanismo da osmose. O alimento digerido todo junto, depois de haver atravessado a grande sala das desinfecções que é o estômago, em contato com as vilosidades do intestino no tubo interno que digere, passa através das paredes deste para os vasos sanguíneos. Nesse processo de diálise, a substância absorvida muda sua natureza química. O processo é tão delicado e em relação tão direta com o sistema nervoso e psíquico central, que uma impressão o altera. Isso é fato da experiência comum. Depois há a viagem do sangue para a distribuição do alimento absorvido, para ligar todas as partes num banho de vida. Com a respiração, o ar cede seu oxigênio e com ele a potência de um raio de sol; o sangue o pega para levá-lo a queimar-se e consumir-se lá embaixo no dinamismo celular dos tecidos e dos órgãos, para depois ressurgir em seu psiquismo. Que laboratório químico! Nele, a cada instante, restabelece-se o equilíbrio. Por sístoles e diástoles vai e volta o impulso da vida, circula o suco energético reconstrutor; a cada instante ferve o trabalho reparador da permuta; multidões de esquizomicetos viajam e param, aninham-se e acorrem, fazem paz ou guerra, levando saúde ou ruína. 

             Por meio desse refinamento evolutivo, que culmina no espírito, ao lado da progressiva desmaterialização das formas, o futuro se prepara à preponderância transbordante do psiquismo e prepara um banquete energético extraído de um raio de sol. Sem luta nem assassinatos, repousareis saciados de eflúvios solares, absorvendo diretamente seu dinamismo. Isto acontece em planetas mais evoluídos que o vosso, mas para vós, constitui um futuro ainda distante. Estômago e sangue formaram-se em vós como são agora, e através de idades incalculáveis, portanto, oferecem uma resistência proporcional para manter-se em sua linha atávica de funcionamento. Nem mesmo a venenosa síntese artificial das substâncias alimentares é própria para libertar-vos do animalesco circuito da química intestinal. Nem a introdução direta dos princípios nutritivos no sangue é trabalho adequado para vossa medicina de superfície, grosseira e violenta.

 


Antologia Ubaldiana - 15

 


ANTOLOGIA UBALDIANA - 15

 A GRANDE SÍNTESE

CAPÍTULO 67-  A ORAÇÃO DO VIANDANTE

             Alma cansada, abatida à margem da estrada, para um instante na eterna trajetória da vida, larga o fardo de tuas expiações e repousa.

             Ouve como está plena de harmonias a obra de Deus! O ritmo dos fenômenos irradia doce e grandiosa música. Por meio das formas exteriores, os dois mistérios, da alma e das coisas, observam-se e se sentem. Das profundezas, o teu espírito ouve e compreende. A visão das obras de Deus produz paz e esquecimento; diante da divina beleza da criação, aquieta-se a tempestade do coração; paixão e dor adormecem em lento e doce canto sem fim. Parece que a mão de Deus, através das harmonias do universo, acalenta, qual brisa confortadora, tua fronte prostrada pela fadiga aí se detém como uma carícia. Beleza, repouso da alma, contato com o divino! Então o viandante deprimido se reanima, com renovado pressentimento de sua meta. Não parece mais tão longa a jornada, tão comprida, quando se para um instante para dessedentar-se numa fonte. Então a alma contempla, antecipa e se alivia na caminhada. Com o olhar fixo para o Alto, é mais fácil retomar em seguida o caminho cansativo.

          Na estrada dolorosa, para, enxuga tua lágrima e ouve. O canto é imenso, as harmonias chegam do infinito para beijar-te a fronte, ó cansado viandante da vida. Ao lado do trovão das vozes titânicas do universo, murmuram num sussurro de beleza as delicadas vozes das humildes criaturas irmãs: “Também eu, eu também sou filha de Deus, luto e sofro, carrego o meu peso e busco minha vitória. Também eu sou vida, na grande vida do Todo”. E tudo, desde o fragor da tempestade, até o canto matutino do sol, do sorriso do recém nascido ao grito dilacerante da alma, tudo, com sua voz, revela-se a si mesmo e sintoniza com as vozes irmãs; tudo exprime seu mistério íntimo; cada ser manifesta o pensamento de Deus. Quando a dor atinge as mais íntimas fibras de teu coração, ouves uma voz que te diz: DEUS; quando a carícia do crepúsculo te adormece no sono silencioso das coisas, uma voz te diz: DEUS. Quando ruge a tempestade e a terra treme, uma voz te diz DEUS! Essa estupenda visão supera qualquer dor.

             Para, escuta e ora. Abre os braços à criação e repete com ela: “Deus, eu te amo”! Tua oração, não mais admiração amedrontada pelo poder divino, agora é mais elevada: é amor. Oração doce, que brota como um canto que a alma repete, ecoa de fraga em fraga por toda a terra, de onda em onda pelos mares, de estrela em estrela pelos espaços infinitos. É a palavra sublime do amor que as unidades colossais dos universos repetem contigo, em uníssono com a voz perdida do último inseto que, tímido, esconde-se entre a grama. Parece perdida; no entanto, Deus a conhece também, recolhe-a e a ama. No infinito do espaço e do tempo, somente esta força, essa imensa onda de amor, mantém tudo compacto em harmônico desenvolvimento de forças. A visão suprema das últimas coisas, da ordem em que caminham todas as criaturas, dar-te-á sozinha um sentido de paz; de verdadeira paz, de paz profunda, de alma saciada, porque percebe sua mais elevada meta.

             Assim Deus Se afigura-te ainda maior do que em seu poder de Criador, afigura-se te na potência de Seu amor. Explode, ó alma! Não temas! O novo Deus da Boa-Nova do Cristo é bondade. Não mais os raios vingativos de Júpiter, mas a verdade que convence, o carinho que ama e perdoa. O abismo infinito que olhas assustado não está para engolir-te, nas trevas do mistério, abre-se cheio de luz e, no âmago, canta sem fim o hino da vida. Lança-te afoito, porque nesse abismo reside o amor. Não digas: “não sei”, dize antes: “eu amo!”

             Ora! ora diante das imensas obras de Deus, diante da terra, do mar, do céu. Pede-lhes que te falem de Deus, pede aos efeitos a voz da causa, pede às formas o pensamento e o princípio que a todas anima. E todas as formas se aglomerarão em redor de ti, estender-te-ão seus braços fraternos, olhar-te-ão com mil olhos feitos de luz e o eterno sorriso da vida te envolverá como uma carícia. Essas mil vozes dirão: “Vem, irmão, sacia teu olhar interior, busca força na visão sublime. A vida é grande e bela, mesmo na dor mais atroz e tenaz é sempre digna de ser vivida”. Tomar-te-ão pelo braço, gritando: “Vem, atravessa o limiar e olha o mistério. Vê: não podes morrer jamais, jamais morrer. Tua dor passa,  com ela sobes e fica o resultado. Não temas a morte nem a dor:  não são o fim, nem o mal, são o ritmo da renovação e caminhos de tuas ascensões. A vida é um canto sem fim. Canta conosco, canta com toda a criação, o canto infinito do amor”.

             Ora assim, ó alma cansada: “Senhor, bendito sejas, sobretudo pela irmã dor, porque ela me aproxima de Ti. Prostro-me diante de Tua imensa obra, mesmo se nela minha parte é esforço. Nada posso pedir-Te, porque tudo já é perfeito e justo em Tua criação, mesmo meu sofrimento, mesmo minha imperfeição transitória. Aguardo no posto de meu dever a minha maturação. Repouso em Tua contemplação”.

             Responde, ó alma, ao imenso amplexo, verdadeiramente sentirás Deus. Se a inteligência dos grandes se prostra e venera, curva-se diante do poder do conceito e de sua realização, e se aproxima do Divino pelas cansadas vias da mente, o coração dos humildes atinge a Deus pelos caminhos da dor e do amor. Sente-O pelas estradas dessa sabedoria mais profunda.

             Ora assim, ò alma cansada. Descansa a cabeça em Seu peito e repousa.

 


sábado, 18 de dezembro de 2021

Evangelização 1, 2 e 3


Evangelização – parte 1

por Geminiano Barboza

Reformador (FEB) 1º de Junho de 1916

             Bendita seja a Providência! Mil vezes bendita a Justiça de Deus!

            Neste momento rude e doloroso para o nosso mundo; nesta angustiosa fase da vida do nosso planeta, em que a alma humana se contorce e geme sob o peso de inumeráveis tribulações, eis que nos chega aos ouvidos o confortante eco de vozes animadoras. 

            É a “grande evangelização” que se propõe generalizar por toda a Terra; é a nova cruzada que se agita e se expande, a bem da dilatação dos santos Evangelhos. Exultemos.

            Parece que o infernal troar dos canhões mortíferos; o quadro lúgubre das devastações de cidades e dos campos transformados em “matadouros”, rubros ou impermeáveis por sucessivas camadas do sangue das vítimas da “cegueira humana”, e a visão das montanhas de cadáveres mutilados – segundo as notícias que a tantos meses nos transmitem o telégrafo e a imprensa; parece, dizíamos, conseguiram despertar na alma humana os sentimentos cristãos então subjugados pelos interesses, aniquilados pelas paixões e adormecidos pelos embustes.

            Por toda parte onde não domina a guerra, promove-se a propagação do ensino evangélico; isto é: distribui-se o “Pão do Espírito”.

            No momento em que isso escrevemos, comissões peregrinas visitam países, refundem elos de confraternização cristã, estabelecem bases para a propaganda ativa, criam íntimos laços fraternais, consolidam enfim o alicerce da “Grande Obra” do futuro.

            Dirão alguns dos nossos irmãos, mais ou menos radicais, mais ou menos sistemáticos: - “Que temos nós com isso, se somos espíritas e eles evangelistas?... A nós outros o que interessa é a propaganda espírita, não a evangélica.”

            A estes, porém, e tão somente a estes, respondemos:       

            Qual é a doutrina mater, a alma do Espiritismo, senão aquela mesma que deflui dos Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo?

            Perguntai à maioria dos espíritas atuais de onde se transladaram para o Espiritismo e ficareis sabendo que as “fontes” que mais têm contribuído aqui no Brasil para a grandeza numérica do novo Credo são: Catolicismo e Evangelismo.

            E, uma vez que tratamos de doutrina, consenti que em nome dela lancemos aqui esta triste verdade, que deve ser conhecida, para ser tomada na devida consideração: - Reina ainda em nosso meio muita falta de crença e consequentemente muita falta de luz; por isso que, para o espírita, a crença é a lâmpada que gera a luz.

            Como deveis saber, o que dá firmeza à crença é a fé esclarecida, porque a fé cega é inconsistente e fanática.

            Ora, a fé esclarecida só se obtém por meio do estudo e da meditação, pelo exercício do pensamento e perfeita volição (decisão).

            Bem sabeis vós, como há por aí homens que se dizem espíritas e praticam o Espiritismo em flagrante desacordo com a doutrina.

            Por que assim procedem?... Porque não estudam.

            Assim sendo, é naturalmente lógico que vão ter a um dos estremos do triângulo fatal: - a obsessão, o fanatismo ou a degeneração. E disto existem, infelizmente, muitos exemplos.

            Voltemos, porém, ao ponto capital deste ligeiro estudo, que tão palpitante se nos apresenta.

            Já havemos dito e repetimos sempre que nos pareça necessário: o Espiritismo tem suas bases firmadas nos Evangelhos. Que o subordinemos à Nova Revelação, quer o separemos dela, o seu fundo religioso é sempre evangélico.

            Mas, se é verdade que o Espiritismo está destinado à delicada missão de Religião do futuro, certamente a Revelação Evangélica é parte complementar do Espiritismo; é, logicamente, parte integrante desse TODO como a alma é parte integrante do homem.

            Esta ordem de ideias faz-nos crer que: todo homem que firme seu estudo espírita no elemento religioso, não só reconhecerá na Nova Revelação o complemento essencial da doutrina espírita, mas também a porta essencial da mesma, porque constitui a parte científica e porque ali está realmente constatada a promessa do Divino Mestre quanto ao Consolador:

            - “Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco.” (S. João cap. 14 v. 16)

            Prosseguindo, completa Jesus aquele pensamento no versículo 26:

            “- Mas, o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, ele nos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”

            A propósito, lembraremos a advertência daquela insinuante parábola:

            “- Nada há encoberto que se não venha a descobrir e nada há oculto que se não venha a saber.”

            Pois bem: aquelas ponderações e advertências dão hoje testemunho do Consolador na Revelação Evangélica recebida pelo nosso irmão Roustaing.

            O Divino Mestre, porém, em sua santa sabedoria, em sua presciência celestial, pressentindo desde logo a contestação futura, a repelir o fruto da sua profecia, que é o mesmo fruto do seu Amor, cercou-o de sólidas garantias, expressando-se por diferentes modos, para tornar bem claro e completo seu pensamento divino envolto naquelas eloquentes parábolas.

            Por isso, encontramo-lo ainda em outro local do mesmo texto vertido nestes termos:

            “- Quando, porém, vier o Consolador, aquele Espírito de Verdade, que procede do Pai, que Eu vos enviarei da parte do Pai, ele dará testemunho de mim.”

            “- E também vos dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio.”

            Bem sabemos quanto é difícil e arriscado dar interpretação ao pensamento profundo e sublime do humilde profeta de Nazaré, confiamos, porém, na magnanimidade do próprio Jesus, que bem conhece qual a intenção que nos impele a esse tentame de tanta responsabilidade.

            A Revelação da Revelação, que é a mesma que denominamos Revelação Evangélica, é de fato o Consolador prometido, que ficará eternamente conosco. Por isso fala de todas as coisas que o Cristo houve por bem ocultar durante sua passagem pela Terra, porquanto a humanidade não as poderia ainda compreender, nem havia oportunidade para tais revelações.

            Mas nem por isso deixou de declarar o Divino Mestre que:

            “-Tudo é dado a seu tempo.”

            Assim, pois, no tempo previsto e predito, o Espírito de Verdade, que simboliza a legião de Espíritos Bem-aventurados que constituem o Apostolado invisível, veio depositar nas mãos do homem esse erudito “tratado” da ciência espiritual extraído dos textos evangélicos, explicados com clarividente sabedoria.

            E, de fato, essa obra sublime, tantas vezes superior à concepção humana, tão refratária ao apagado registro do nosso pobre entendimento, fala-nos do Cristo como Ele falara do Pai; e, explicando o que eram os mistérios, faculta proveitosa noção de “ciência universal” - emanação direta da Sabedoria Divina. Dando testemunho do Cristo, ensina a conhecer Jesus na sua excelsa grandeza celestial - não como sendo Deus, mas como fiel intérprete do pensamento e da vontade do Criador.

            A Revelação Evangélica, extraída dos textos sagrados  por Espíritos competentíssimos como sejam os próprios Evangelistas, teve de fato o testemunho dos Apóstolos e de Moisés, um dos signatários. E assim é que, após a assinatura dos Arautos da Revelação, lê-se essa significativa anotação: “- Com assistência dos Apóstolos”.

            Por que vinham os Apóstolos assistir aos Evangelistas no desempenho da sua missão reveladora?...  Porque “das palavras de Jesus nem uma só se perde.” Eles davam testemunho do Divino Mestre, para que completa fosse a verificação da profecia do Filho de Deus, para que pudesse o “Senso humano”, em suas investigações, descobrir a Verdade.

            A Revelação é assim a fina emanação dos Evangelhos, de onde tirou a essência; a parte integrante do Espiritismo, de cujo corpo é a alma.   

            Por conseguinte, todo o espírito sincero, que deseja progredir deve beber instrução naquela opulenta fonte de sabedoria, a fim de fazer-se apto ao bom desempenho de sua árdua missão: - EVANGELIZAR.

            E eis que chegamos ao ponto culminante do presente estudo: a evangelização.

            Para o espírita, Jesus é o Divino Modelo, Jesus é o Divino Mestre, Jesus é o Divino Pastor.

            Pois bem: - Como Modelo, deixou o seu exemplo; como Mestre, deixou o seu ensino; como Pastor, mantém vigilância e observa atento quais as ovelhas que ouvem a sua voz e procuram encaminhar-se ao Aprisco do Senhor.

            Por isso mesmo, parece-nos de real importância relembrar sempre algumas das suas preciosas advertências, como estas:

            “- Eu sou o caminho, a Verdade e a Vida.”

            Em boa lógica, diz-nos o nosso Salvador: procurai-me e descobrireis a Verdade e esta vos conduzirá à Vida.”

            “ - As ovelhas do meu rebanho ouvem a minha voz e o seguem-me.”

            Sabemos quanto foi Jesus humilde e dócil, em atenção ao Pai Celestial, pelo santo amor que lhe votava, procuremos imitá-lo e Ele reconhecerá que somos seus amigos.

            “- O meu preceito é este: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei.”

            A lógica deste preceito é tão clara, tão pura, tão bela, que apenas temos que deplorar nossa incapacidade moral para o exercício de preceitos como este. Por isso mesmo maior deve ser nosso empenho na remodelação dos sentimentos.

            Meus amigos, o momento é de ação, porque as palavras de Jesus convertem-se em fatos. Apliquemo-nos ao amor espiritual, esse amor que reabilita o Espírito, e teremos glorificado no amor nosso Divino Mestre.

Evangelização – parte 2

por Geminiano Barboza

Reformador (FEB) 16 de Junho de 1916

             Esse prurido evangelista da parte dos cultores da “letra” da Escritura é providencial, é valioso concurso prestado aos nossos sucessores.

            Bem sabeis que a Seara é grande e os operários poucos. Bem conheceis a parábola de Jacó.

            Nada sucede no mundo sem causa.”

            É isso mesmo.

            São chegados os tempos da “grande evangelização”. Mas, os espíritas discutem ainda a autenticidade de Revelação Evangélica, em vez de estudarem os Evangelhos em Espírito e Verdade, a fim de se habilitarem à prática do ensino espiritualista na sua forma definitiva.

            A disseminação do ensino dado sobre a letra é, pois, o desbravamento do caminho por onde seguirá de futuro o Espiritismo, no desempenho de sua grande missão.

            Convém que não esqueçamos o encadeamento da orientação religiosa, cujo “marco inicial” é Moisés. Sabeis que Jesus teve o seu caminho aparelhado por João Batista e que o ensino material precedeu o espiritual, como devia ser, segundo as leis naturais e as condições do elemento humano; de outro modo tornar-se-ía impraticável. O próprio Jesus cedeu ao império das circunstâncias. Não convinha a menor violência contra a consciência humana nem forçar a evolução natural do homem. Doutrinou, pois, Jesus, segundo a letra. Porém, escrito está:

            “- A letra mata, o espírito vivifica.”

            Mas estará a humanidade a modo de receber o ensino evangélico em Espírito e Verdade?

            Seria absurdo afirmar, quando vemos ainda entre nós tanta relutância na aceitação da Nova Revelação, como se quizéssemos imitar os escribas e fariseus em relação ao Messias.

            Não obstante, as profecias continuam  a verificar-se. O primeiro “Ai” do Apocalípse está evidenciado, porquanto o seu eco repercute por toda parte. E isto lembra-nos mais esta parábola profética.

            “- Porque se levantará nação contra nação “reino contra reino”; e haverá terremotos por diversas partes e fome. Essas coisas não serão mais do que o princípio  das dores.” (v. Marcos, cap. 13, v. 8)

            E após várias considerações, pondera o Mestre amigo, no versículo 23:

            “- Estais vós, pois, de sobreaviso, olhai que vos preveni em tudo.”

            O Evangelho de S. Mateus, porém, é neste assunto um tanto mais explícito.

            - Vede cap. 23, versículos 3 a 13; e o versículo 14, que assim se exprime:

            “- E será pregado este Evangelho do Reino, em testemunho a todas as gentes, e então chegará o fim.”

            Nada há, pois, a estranhar que, chegados os tempos, viesse o Consolador “ensinar todas as coisas”; isto é: dizer as coisas que Jesus dissera porque o “Senso humano” não as poderia ainda compreender nem suportar.        

            Dado o Consolador, começam as manifestações dos fatos característicos do período inicial da fase adventícia. E logo ao começo do século vigente torna-se tumultuária, agitada e ameaçadora a situação do planeta, revelando em fatos consecutivos um regime anormal que cada vez mais se agrava. Mas o momento atual define-se categoricamente; as profecias convertem-se em fatos. O primeiro “Ai” do Apocalípse ecoa sobre a Terra.

            Há, entretanto, a considerar que, muitas das ovelhas do Senhor distanciaram-se por demais do caminho do Aprisco; e no campo das idéias equívocas em que se internaram não se apercebem do perigo iminente em que se internaram não se apercebem do perigo iminente que as ameaça, porque, preocupadas com as coisas de sua predileção, não veem que o seu “dia” extinguiu-se e que estão em plena noite.

            Essa é a noite da consciência desviada da Luz da Verdade e assim transviada da senda do bem.

            É urgente, pois, fazer chegar a luz aos que estão em trevas.

            Se o Divino Mestre manda dar de graça o que de graça nos foi dado, agitemos o facho divino, para que se derrame a luz por toda a parte e possa aproveitar a todos. Façamos ouvir a voz do Bom Pastor, transmitindo-a como recebemos.

            Tudo parece indicar a oportunidade do testemunho evangélico pela disseminação da doutrina do Divino Mestre.

            Se muitos de nossos irmãos se preparam para a grande pregação, “dentro da letra”, preparemo-nos também nós para a grande evangelização em Espírito e Verdade.

            Não negligenciaremos, meus amigos, porque, quando todo o mundo estiver de posse de uma boa noção do ensino evangélico, facilmente colherá o Espiritismo adeptos em profusão por toda a parte.

            A propaganda espírita será tanto mais eficaz quanto mais evidenciar a supremacia dos Evangelhos.

            Já sabemos que o fim máximo, o objetvo principal da missão espírita é a regeneração da espécie humana, pelo doutrinamento e pelo exemplo.

            Ora, devemos convir que o doutrinamento evangélico, segundo a Nova Revelação, isto é - em Espírito e Verdade, constitui uma nova ciência, que determinaremos “espiritualista”, porquanto define o Espírito e instrui sobre sua origem, seu destino e seu fim.

            Porém, embrionária como se acha ainda a nova ciência, visto como não foi compreendida ainda a Nova Revelação, pelo natural receio que em muitos há despertado, urgente se faz atrair a atenção da família espírita em geral para as páginas daquele “compêndio” da Ciência  Universal, cujo estudo se impôs, porque todos devemos conhecê-lo.

            Por mais inverossímil que pareça, esta é, entretanto, uma das fulgurantes lições que a Revelação oferece - a persuação da ciência universal - suprema conquista do Espírito.

            Ora, de duas uma: ou o Espírito evolui para a perfeição, e neste caso terá de elevar-se tanto em “sabedoria” quanto em “pureza” – como ensina a doutrina e a Revelação confirma: - ou o Espiritismo pode exonerar-se do labor da aprendizagem, e neste caso, a própria doutrina espírita nos vem ilidindo quando nos fala de perfeição e pureza.

            Mas vós, espíritas, estais, com justa razão, convencidos de que, a doutrina dada a Allan Kardec, venerando Mestre, é realmente verdadeira em seus princípios fundamentais.

            O que é preciso definir é isto: - a Kardec foi dado o ensino preliminar, a Roustaing foi dado o ensino superior do Espiritismo; a um foi dado a filosofia espírita, ao outro a ciência espiritual, o primeiro foi o fundador, o segundo o confirmador do Espiritismo. Dias virão em que essas verdades penetrarão em cheio na consciência de todos os espíritas.

            Quanto a nós, já sentimos cheia nossa alma dessas imponentes verdades; razão por que abraçamos com igual respeito, com igual carinho, com igual amor, a doutrina de Kardec e os Evangelhos de Roustaing.

            E é essa convicção que nos impede a convidar nossos irmãos a esse batismo de luz que por aquele meio nos envia o Divino Mestre como enviara outrora aos Apóstolos o Espírito Santo.

            Já são tantas as vezes, meus amigos, que nos havemos feito ingratos para com o nosso Criador e o nosso Redentor; sejamos desta vez um pouco mais prudentes, quando vemos já em ativa aplicação as leis reinvidicadoras do Direito Divino.

            Nós somos os servos, Eles são os Senhores... Ora, os espíritas exaltam a bondade infinita do Criador (e nisto fazem muito bem, porque constatam a verdade que se vem revelando desde Abraão), mas, se um espírita duvida da mesma bondade infinita do Senhor, dando por apócrifa a obra do Espírito Santo, faz nuito mal, pois além de outras falhas revela falta de fé.

            Refleti bem.

            “- É pelo fruto que se conhece a árvore.”

            Isto, que os Evangelhos ensinam, igualmente nos ensinam os espíritos.

            “ - A letra mata, e o espírito vivifica.

            Assim dizem os Evangelhos e igualmente  os espíritos.

            “-Tudo é dado a seu tempo.” – Jesus o disse os Espíritos confirmam.

            Aí temos, meus amigos, três importantes dados, excelentes padrões de aferição perante o “senso espírita.”

            Por conseguinte, sabendo o espírita que a bondade de Deus é infinita; que é ilimitado o Amor do Divino Mestre; sabendo que “os tempos são chegados” e que – “das palavras de Jesus nem uma só se perde”; por que duvidar da assinatura dos Evangelistas, da probidade de Roustaing e, consequentemente, da autenticidade da Revelação?

            Em que consiste a incompatibilidade da Revelação perante o critério, a lógica, a razão e bem assim perante a doutrina espírita? - Vagas pretenções; idéias preconcebidas.

            Entretanto, a advertência do Cristo é clara:

            “- Não é o discípulo mais que o Mestre, nem o servo maior que seu senhor.”

            Ora, os arautos da Revelação alegam que as Verdades evngélicas foram mandadas restabelecer “à ordem do Divino Mestre e vontade do Pai.” Logo, temos aí o “Mestre e o “Senhor”.

            E basta:                                                    

            O que, porém, não basta é o ensino espírita truncado, incompleto, desviado do seu curso. A responsabilidade espírita é tremenda; por isso mesmo, a sua orientação deve ser a mais perfeita e segura.

            O momento é de ação e a ação deve ser espiritualista, com a mais viva expressão evangélica, como convém nesses dias de marcha acelerada da evolução do planeta, em que as profecias se convertem em fatos.

            É tempo de lançar as sementes evangélicas por toda a seara de Jesus.  

           Evangelização – parte 3

por Geminiano Barboza

Reformador (FEB) 16 de Julho de 1916

 

            O excesso de prudência tem arrastado muita gente a erros deploráveis.

            O excesso de zelo tem motivado lamentáveis crimes.

            Em tudo, enfim, é sempre mal o excesso, porque no excesso está o perigo; mas esse perigo pode ser evitado pela  prudência sensata e criteriosa que pôe peias no excesso.   

            Vigiai e orai (recomendou o Divino Mestre) para não cairdes em tentação, porque o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca.”

            E disse!...

            Quanto mais dilatamos o pensamento  pelo vasto campo de orientação que se nos depara naquela advertência, tanto mais forte sentimos a necessidade de estudar os Evangelhos em espírito e verdade.

            De fato, meus amigos, os espíritas têm necessidade de permanecer vigilantes e conservarem o pensamento em prece... Os inimigos são muitos e as tentações inúmeras. Um momento de distração basta para sermos colhidos por uma cilada... Há, pois, necessidade de vigiar sempre, sempre e manter a prece no coração.

            O espírita não deve esquecer jamais que: a facilidade da obsessão corresponde à facilidade do desmando; e isto evidencia o valor da prece e da vigilância.

            Mas não pairam aí nossas necessidades morais; o espírita precisa submeter-se à disciplina doutrinária, isto é: elevação moral, sentimento de humanidade, docilidade de coração etc., a fim de ser amparado, guiado e auxiliado eficazmente.

            Se assim houvessem os escribas procedido, talvez tivessem reconhecido o Messias, com o auxílio de João Btista, cujas palavras foram bastante expressivas em relação ao Cristo, quando interrogado pelos sacerdotes enviados pelos judeus, supondo ser ele o Messias prometido.

 

            “- Eu sou voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías”:

            Isto disse o Batista, depois de haver dito que não era Cristo; nem Elias nem profeta. Mas, também lhes havia dito João outras coisas que lhes podia esclarecer. Eles, porém, não ligaram importância, porque esperavam alvíçaras mais positivas, porquanto interpretavam a Escritura “ao pé da letra”.       

            O próprio Jesus em muitas de suas parábolas, deixara transparecer a originalidade do seu ser; e os atos maravilhosos que pratica ra davam fiel testemunho da essência s

            Mas, os sábios de então, o Sumo Pontifice, os doutores da igreja, os escribas e fariseus, não viam no Rabino mais que um ousado impostor, um mago aventureiro, um embusteiro audaz, um aliciador de homens, subversor da ordem e contraventor das leis.

            Procederiam de boa fé?...

            Alguns talvez; a maioria não. Verdade é que se achavam todos sob o domínio da confusão proveniente do conflito entre os fatos e a Escritura; e por mais que consultassem a “letra”, não conseguiram tirar a conclusão lógica das Escrituras conjugadas com as lições dos fatos... Por que?... Porque não eram sinceros, mas hipócritas sofismadores, cínicos exploradores da boa fé alheia.

            De costas voltadas para a Luz, como se haviam colocado, tornara-se para eles inacessível à Verdade. E, assim, reduziram a “servo indigno” o que era o seu Senhor; converteram em asqueroso réu o seu Juiz Supremo.

            Não obstante, a Missão terrena do Filho de Deus    fora consumada, coroada  pela Resurreição, que é a glorificação  do Filho no Amor do Pai e a glorificação do Pai no triunfo do Filho.

            Elevado Jesus ao seio do Pai; baixou o Espirito Santo sobre os Apóstolos, a fim de consolidar o Apostolado; foi fundada a igreja cristã, que tantos beneficios trouxe ao mundo enquanto durou aquela virtuosa plêiade de homens simples e bona, que eram o sustentáculo da Verdade Messiânica.

            Na Terra, porém, tudo é relativo e efêmero. Os Apóstolos tiveram de volver ao amoroso seio do Divino Mestre e um novo Apostolado se foi constituindo a seu modo. E dentro em breve, os novos levitas crismaram a igreja de Jesus e surgiu em seu lugar a Igreja Católica Apostólica Romana.

            Começou aí a nova orientação, a nova erudição religiosa: surgiu a hierarquia eclesiástica, vieram os concílios e com eles as novas criações – os dogmas, os sacramentos, as relíquias, os mistérios da igreja e, enfim, todas as criações hoje vulgarizadas e escudadas na eterna ameaça do imperioso preceito: “Fora da Igeja não há salvação.”         

            Entretanto, os Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo jaziam sequestrados; as advertências do Divino Mestre eram esquecidas; os ensinos religiosos eram dados calculadamente, trasfigurados, sofismados e até controvertidos.

            Mas, paremos aqui, não devemos ir mais longe; o sentimento de piedade impõe-se e aliás não somos delatores. Esse estado de coisas, porém, perdura ainda, pode ser averiguado.

            Não é pretensão nossa condenar a igreja, que sabemos de antemão condenada por quem de direito; queremos apenas demonstrar a razão do equívoco, da confusão, da insensibilidade, da cegueira, endim, que lhe faz ver no Espiritismo tão perigoso elemento para o bem estar da humanidade, como via a igreja judaica, na doutrina do Cristo, elemento perigoso ao bem estar do povo israelita.

             A razão é simples, meus amigos: as idéias e sentimentos são análogos, não pode deixar de haver analogia na prática.

            Nós, porém, não somos juízes, deixemo-los. Mas, aproveitemos os exemplos que de lá veem, não para incentivo nosso, mas para escarmento; portanto, averiguado está: em corações corruptos não se aninham sentimentos nobres; em inteligências votadas à pervenção não se abrigam pensamentos puros; pelo mesma razão porque – “não põe Deus e a Verdade nos lábios do mentiroso.”

            Por conseguinte, os espíritas, cuja responsabilidade é bem maior, porque – “muito se pedirá a quem muito se houver dado” -  os espíritas devem tributar sinceramente a mais elevada consideração às advertências do Divino Mestre.

            Os primeiros Apóstolos preservavam-se do mau fermento, preservaram na fé, conservaram-se fiéis aos preceitos e advertências; - triunfaram das perrfídias do mundo. Os escribas, porém, insuflados de sabedoria, tradições e idéias, tombaram vencidos pelas paixões.  Os sucessores dos Apóstolos, graças à sua ciência reformadora, arrastaram a igreja à falência moral; e os seus continuadores atuais, em nome das tradições e da infalibilidade da Igreja, declaram guerra ao Espiritismo.

            Em face de tais exemplos, qual deve ser a orientação dos espíritas?... A mesma dos eribas?... A dos católicos ortodoxos?

            Não, meus amigos, a dos Apóstolos, que sustentaram a orientação do Nazareno, iluminados pelo Espírito Santo.

            E não possuem os espíritas a palavra do Espírito Santo dada por escrito na Terceira Revelação?... Sejam, pois, os espíritas criteriosos, para que idéias equívocas não venhm perturbar a placidez do “espírito de doutrina” que deve manter a pureza do nosso ambiente. Nada de paridarismo, porque, segundo afirmou S. Paulo, o fundamento é só um: Nosso Senhor Jesus Cristo.

            Ora, sabeis que o Divino Mestre enviou aos Apóstolos o Espírito Santo, conforma prometera. Por que duvidar do Consolador trazido pelo Espírito de Verdade, que importa também promessa sua?...

            Pois não manda Ele aos novos escolhidos os seus mensageiros a lhes aclarar o entendimento, robustecer a fé e confortar a alma?

            Que mais resta a exigir para erguer nossa crença?... A presença do próprio Jesus?... Novo prodígios e milagres?... Mas, então não somos espíritas, semos friseus boçais... Não merecemos a oferta magistral do Consolador.

            Erguei-vos, ó almas cristãs que estais de boa fé; erguei-vos à altura do conceito que a magnanimidade do Altíssimo houve por bem dispensar-nos em cumprimento da promessa de seu amado Filho.

            O Evangelho recomendado aos espíritos é o Evangelho comentado e explicado em Espíritoe Vedade pelos Espíritos do Senhor; desprezá-lo equivale renunciar o próprio Jesus, cuja palavra relembramos:

            “- Quem me despreza, despreza Aquele que me enviou.”

            Em suma: a ordem atual, segundo orientação dos mensageiros do Além, é o estudo dos Evangelhos, é a disseminação da doutrina evangélica.

            Porém, esses mesmos mensageiros dizem mui claramente:

            Estudai os Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo em Espírito e Verdade.”

            Ora, não havendo por enquanto outra obra que possa ser assim classificada senão a Revelação Evangélica recebida pelo nosso prestigioso irmão Roustaing, para ela, creio, devem convergir nossas vistas.

            Vós outros, porém, não sois crianças abandonadas; possuis mediunidade e viveis sob a auspiciosa direção de vossos guias e protetores; se a voz da consciência não é bastante, consultai-os.